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Delito de Opinião

Eu Sou o Desconforto!

jpt, 30.11.19

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"Eu sou o desconforto" (falta ao título jornalístico o óbvio ponto de exclamação) não é apenas o catasfioresco trinado "rio-me de me ver tão bela neste espelho". É mesmo uma proclamação bíblica, a sublinhar uma desmesurada autopercepção.

Desde Bruno de Carvalho que o país não tinha uma personagem destas. A imprensa delira, as redes sociais fervilham. Alguns demagogos (ainda) rejubilam. Vem aí o Natal. Depois o delírio continuará. Até (nos) cansar.

 

Bruno de Carvalho

jpt, 06.07.19

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Ainda que apoiado pelo "institucional" jornal Expresso (a razão pela qual o jornal preferido da "classe média" Bloco Central político-económico apoia este homem é algo difícil de entender, se não se tiver uma interpretação economicista) Bruno de Carvalho acaba de ser definitivamente expulso do meu clube, na Assembleia-Geral do Sporting hoje decorrida. No último ano houve momentos em que o julguei personagem dramática. Mas afinal nem isso, tamanha a rábula que vem interpretando. Ainda assim esta perversa personagem - que a quase todos nós sportinguistas seduziu e exaltou -. ainda consegue, após todos estes desmandos e desvarios, receber apoio militante, e mesmo exasperado, de 30% dos associados.

É uma legião, sem calções, de gente disponível para quem a saiba arrebanhar. Esperem pouco, que alguém aparecerá. E não terá que ser do mundo da "bola". Nem sobre coisas da "bola".

 

Bruno: algo está podre na república

jpt, 15.11.18

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Quem me vê a blogar no És a Nossa Fé poderá confirmar: botei que me fartei (literalmente) a favor de Bruno de Carvalho. E depois botei que me fartei contra Bruno de Carvalho - porque o homem "se passou", porque mostrou uma horrível concepção de exercício do poder associativo, porque eu terei aberto a pestana. Dito isto: é totalmente inadmissível que um homem - por suspeitas de participação num crime acontecido há seis meses, entretanto desprovido dos meios institucionais que facilitariam a reprodução de actividades similares, e publicamente disponível para depor - seja detido num dia para prestar declarações, interrogado apenas duas dias e meio depois e liberto quatro dias após a sua detenção. Alguma coisa está errada, algo está podre na república.

E não, a lei não serve para justificar isto. Os funcionários públicos, juristas e polícias, não podem configurar assim as suas práticas. Isto é uma vergonha, um ocaso. Antes um Mustafa que um polícia ou um jurista deste tipo. Vou repetir: antes um Mustafa que um polícia ou um jurista deste tipo.

 

Deputação

Pedro Correia, 20.07.18

A que propósito é que o chamado "núcleo de deputados sportinguistas na Assembleia da República" recebe com pompa o presidente destituído do Sporting Clube de Portugal, no Palácio de São Bento, dando-lhe um crédito que ele não justifica nem merece? Será que os senhores legisladores não têm mesmo mais nada para fazer?

Afinal nunca foi sportinguista

Pedro Correia, 24.06.18

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Sendo as evidências o que eram, e depois de tudo quanto se passou - todos os atropelos à legalidade, todas as aldrabices que se iam acumulando, todas as promessas violadas ao sabor das conveniências, todos os atentados grosseiros à identidade leonina - o que verdadeiramente me espanta é verificar que Bruno de Carvalho ainda conseguiu recolher ontem quase 30% dos votos dos associados leoninos.

Enganados até ao fim pelo homem que, já ia muito adiantada a madrugada de hoje, em nova insónia partilhada com o ecrã digital que lhe serve de mau conselheiro, assume enfim a verdadeira face: afinal nunca foi sportinguista. As expressóes de ódio, ranço e asco ao clube e aos associados que bolçou neste mais recente texto da rede social a que está agarrado revelam bem isso. Expressões indignas de um sportinguista, que só concebemos na boca e na pena de um inimigo do nosso clube.

 

Expressões que recordo aqui, para memória futura:

«Não consigo mais sentir este Clube... Não sou mais do Sporting Clube de Portugal.»

«Hoje deixei de ser para sempre sócio e adepto deste Clube.»

«Esqueçam os associados pois nunca vão mandar neste Clube... Vão ser sempre fantoches desta elite que só permite entrar quem se render aos seus interesses.»

«Vocês não contam para nada neste SCP que é de Viscondes....»

«Não quero fazer parte de um conjunto de cretinos que não valem o ar que respiram. Não me quero mais aproximar de uma elite bafienta e mal cheirosa que sempre dominou o Sporting Clube de Portugal!»

«A minha carta de suspensão vitalicia de sócio segue segunda-feira e nunca mais seguirei sequer os eventos desportivos do Clube.»

 

Mostrou enfim a verdadeira face. A de um desequiilbrado. A de um mitómano. A de um sociopata. Sai pela porta dos fundos, sem honra nem glória nem dignidade. Insultando o clube que devia ter servido e os sócios a quem jurou lealdade e competência.

Tudo menos Leão.

Só me espanta como é que podia haver ainda tanta gente convencida de que fizesse parte da solução alguém que era o maior dos problemas.

O fim da telenovela.

Luís Menezes Leitão, 24.06.18

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Durante meses o país seguiu com interesse a telenovela do Clube de Alvalade. Foi uma intriga bem enredada, onde houve de tudo: moções de confiança, acusações de crimes de terrorismo, demissões colectivas, destituições recíprocas de órgãos do clube, criação de órgãos transitórios, providências cautelares, processos disciplinares com suspensões preventivas, etc., etc.. Mas a telenovela acabou abruptamente ontem, com o presidente a ser destituído pelos sócios por 71% dos votos, precisamente os mesmos sócios que há quatro meses lhe manifestaram total confiança por 90% dos votos, mesmo depois de ele fazer uma cena semelhante às que tem feito nos últimos dias. Para o fim ser em beleza, o presidente que há dias declarava ser o maior adepto do clube, já comunicou que vai afinal abandonar o clube. Não se sabe se isto significa que vai para um mosteiro ou se pretende candidatar-se a presidente de outro clube. Livra!

 

No mesmo período em que decorria esta telenovela, a América declarou uma guerra comercial à Europa, com a Europa a ripostar. Ao mesmo tempo a crise dos refugiados provocou uma divergência profunda entre os vários países europeus, com a Itália e Malta a recusar receber barcos humanitários, enviados para Espanha e a Hungria a aprovar uma lei que criminaliza o apoio humanitário aos refugiados. A própria chanceler Angela Merkel pode cair por causa da sua política relativa aos refugiados. Quanto a América, a presidência mostrou a sua brutalidade nestas questões, com o próprio Trump a ser forçado a recuar na sua política de separação de famílias.

 

Em Portugal a geringonça já viu melhores dias, a execução orçamental está com problemas, e as greves multiplicam-se, sem que o governo consiga dar solução aos protestos. Quanto à oposição, parece que é neste momento o PSD que adopta uma atitude bipolar, não sabendo se quer ser muleta do governo ou manter-se na oposição.

 

Mas ninguém no país reparou em nada disto, preferindo seguir a telenovela Bruno de Carvalho. Está assim claramente demonstrado o poder que o futebol tem de manipulação das massas, coisa que Salazar já tinha percebido com a sua teoria dos três Fs. A esse apelo do futebol não escapa nenhum português, nem sequer eu próprio. Por isso vou terminar esta análise para ir assistir aos jogos do Mundial.

Apocalipse Já

jpt, 15.06.18

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(Texto escrito para o És a Nossa Fé. É longo, que me desculpem, mas é catarse da tristeza. E forma de suspender o blogar. Pelo menos por uns tempos. Não quero escrever em público neste meu "estado de alma" abalado, sempre propenso a exageros intimistas).

 

Eu era adolescente mas ainda me lembro, de modo algo vago. Há quase 40 anos surgiu uma das melhores campanhas políticas, o dístico “Eu não tenho culpa, não votei AD”. Pois, de repente, no meio daquela crise, ninguém assumia ter apoiado o governo maioritário. Certo, houve uma réplica, o “Eu sou AD, eu trabalho”, outro dístico – antes das redes sociais as pessoas afixavam nas roupas, usando-as como “murais” -, pujante mas com menos sucesso.

 

O que se passa no Sporting Clube de Portugal é um pouco o mesmo. A “crise” não o é mas sim um descalabro. Um Apocalipse, Já. E todos nós vamos organizando a nossa amnésia, numa espécie de “Je ne suis pas Bruno”. Mas a realidade é que Bruno de Carvalho foi reeleito o ano passado, nas eleições mais concorridas do centenário clube, com a maior percentagem de votos de sempre, se em eleições com listas concorrenciais. Foi sufragado pelos sócios, aclamado pelos adeptos. Alguns desgostosos com o seu estilo. Mas poucos, muito poucos, opondo-se ao conteúdo. Crentes, lúcidos, que “a forma é conteúdo” – e refiro o meu querido amigo Miguel Valle de Figueiredo, sportinguista profundo, meu co-bloguista, que desde o surgimento de BdC me causticou pelo meu estuporado apoio à personagem.

 

Explicações para a ascensão do “brunismo” serão várias. As internas ao agora dito “Universo Sporting” são óbvias: o apoucamento do clube nas últimas décadas, a míngua de títulos no desporto-rei, a redução das suas modalidades, e também o desbaratar do património fundiário e a profunda crise económica. E um dado sociológico: num clube popular (e pouco importa se o mais popular, como inventou Sousa Cintra, se o segundo ou o terceiro do país), o “único clube “de Portugal”” como tanto fazemos questão de dizer, notou-se que esta decadência fosse gerida (gerada?) por uma auto-reclamada elite social, os agora ditos “croquettes” (de preferência com os dois “tt”s), a panóplia de “notáveis”, uma espécie de plutocracia, transumante entre o clube e o eixo construção civil-banca. E os efeitos da crise económica, o estrondo na banca nacional e a aflição na construção, apontaram (e devidamente, na minha opinião) o quanto de espantalho tem essa aparente elite, a sua “solidez”, “competência” e “seriedade”. No país, e muito em particular no clube. Daí a ascensão de Godinho Lopes (que, de facto, não pertence a esse meio social). E logo de seguida, ruptura ainda mais radical, o “Bruno”, homem das massas. Ou seja, homem das claques, para falar em termos clubísticos.

 

Tudo isto catapultado pela vontade, até insana, de ganhar títulos. Os quais, o que tanto piora a coisa, tão habituais são nos “outros”, os vizinhos, benfiquistas e portistas, esses sempre “ferindo-nos” com a sua festa cíclica, a sua alegria esfuziante. Invejamo-los, o que nos apouca, amesquinha. Mesmo que não o confessemos.

 

Títulos que são o corpo do ideal de “sucesso”, tão difundido nos finais de XX. E que é desesperante, pois a esmagadora maioria de nós não consegue ter “sucesso”, palpável, festejável, “trofeuizável”, que seja reconhecível, saudado, até invejado pelos outros. Aguentamos a merda do dia-a-dia, uma ou outra alegria, uma festarola, uma pequena promoção, um bónus no salário, uma bela refeição, a praia na Tailândia ou um escaldão na Manta Rota. E, quanto muito, uns laivos de felicidade, um filho que cresce, um neto que encanta, uma mulher que sorri, no acto ou mais ao longe, um qualquer feito, naqueles que gostam do que trabalham ou vão com hóbi. Ou alguma placidez, talvez. Por isso este anseio de títulos da “bola”. Não para esconder algo. Mas para celebrarmos este algo, e que parece pouco, que nos coube.

 

E mais o são num país que se futebolizou, desde os “a geração de oiro” do prof. Queiroz, do Euro-04, tudo catapultado no frenesim da imprensa multiplicada (rádios privadas nos 80s, jornais desportivos diários, televisões privadas nos 90s) e agora histriónica pois moribunda. E a explosão da internet, e das redes sociais (como este blog). Quem vive ou viveu no estrangeiro perceberá bem melhor que tudo isto, todo este futebolismo, não é a regra nem o hábito generalizado.

 

Enfim, tudo isto e muito mais nos trouxe ao “Bruno”. Ao nosso apoio, ao meu apoio, de anos, até há alguns poucos meses. Cri que no clubismo (que não na política) este afrontar, em modo populista, da plutocracia seria positivo. E serviria até como exemplo, aviso, para essa tal política. Para um bem geral, do clube, e português. Engano total. Erro crasso, de avaliação, de reflexão. De cumplicidade, estratégica que tenha sido, com o mal. Pois Bruno de Carvalho é tudo aquilo que anunciava ser, personagem típica que é. Ainda mais ilógico do que será de esperar deste tipo de líderes, populistas abrasivos. Pois em formato incompetente, agora feito cinzas pelas chamas que ateou.

 

O resultado económico e desportivo deste desgraçado período será abissal. As perdas são (e serão) brutais, em cima das enormes dificuldades que o clube vivia. Pior ainda nesta nova era de futebol-negócio. Acabadas de mudar as regras de redistribuição de rendimentos na Liga dos Campeões, algo inserido nesta lenta marcha para uma Liga Europeia de clubes. O fosso entre participantes e não-participantes, entre elite e “pequenos”, cada vez será maior. Ao colapsar agora, ao perder terreno (e tanto) neste preciso momento, o clube compromete, talvez definitivamente, para sossego dos rivais, a entrada nesse universo clubístico. É a estocada final na decadência.

 

Mas ainda maiores serão as perdas morais. Os clubes, mais do que todos os outros grupos, são “comunidades imaginadas”*. Porque a nossa adesão, a dos simples milhões de adeptos, é desinteresseira, deles nada queremos para nós próprios, nem remissão de pecados, nem orientações para a vida, nem entreajudas, e muito menos benesses, remunerações. Queremos comungar, participar, “torcer” por um bem que imaginamos comum, “nosso”. E que é “etéreo”, nada palpável – para além de umas taças e umas medalhas, acumuláveis como mero arquivo -, feito de símbolos, heróis quase divinos (Peyroteo, Agostinho, Lopes, Chana, Theriaga) de que ouvimos os mais-velhos falar ou recordamos de um desvanecido passado.

 

E é essa comunhão imaginada que arde agora. Não só por causa de Bruno e seus sequazes. Mas ao ler os seus inúmeros apoiantes, no seu mural de FB (muito censurado) e em tantos outros locais. Imensa gente, com um português escrito muito básico (o que não é maldade mas é característica), vociferando, repetindo até à náusea teorias da conspiração, teses de campanhas urdidas por um feixe ilimitado de agentes maléficos contra o Sporting, e seu presidente (agora suspenso).

 

Vinte anos de África, e a minha profissão, fizeram-me conviver com ideias muito parecidas: o mal, a falha, a perda, se (a)parece imponderável, inescrutável, inopinado, é dito efeito de feitiço alheio, acção maldosa de algum “vizinho”. Entre nós, séculos e séculos de cristianismo queimaram (literalmente) as crenças no feitiço. Elas subsistem, mas não dominam o quotidiano. Mas esse modo de explicar o indesejável inesperado tem este formato, a crença não num vizinho feiticeiro mas numa panóplia, difusa, esconsa, de agentes coligados para fazerem(-nos) o mal. Não “Foi Deus”, muito menos “o Demo”, nem o “feiticeiro” ou “os espíritos antepassados”. Foram “Eles”, homens vivos, agindo na sombra.

 

E penso, que “comunhão imaginada” posso ter com esta gente? Que assim pensa? Como partilhar símbolos, valores, emoções, se os entendemos tão diferentemente? A estes e, decerto, que a tudo o mais que seja significante. Como manter a ficção, a imaginação? E como manter, ainda mais difícil o é, qualquer comunhão com os nazis, os claqueiros, os boçais holigões, que ululam “Sporting” durante as suas verdadeiras missas de adoração ao Demónio, fazendo do estádio o seu perverso templo. Para nosso gáudio, animados com a encenação e o apoio “à equipa”. Que comunhão ter? Como continuar a imaginá-la? Como crer, aceitar, naqueles que me dizem neste momento de crise, “somos todos sportinguistas”, “há que manter a união”. Em nome de quê?

 

Nestes dias tenho-me lembrado de um homem que conheci vagamente, amigo de amigos. Moçambicano luso-descendente, pertencente àquele núcleo de jovens portugueses que optaram por ficar no país após a independência, tantos deles cheios de esperanças voluntariosas, as próprias da juventude, dos homens e dos países. Há alguns anos, ele já sexagenário, doente e com alguns problemas económicos, segundo me disseram, há muito distante da família, recolheu-se em casa. Estendeu a bandeira na cama, não a moçambicana, não a portuguesa, nem a de algum partido político ou igreja, ou  algum estandarte militar, estes tão típicos daquela geração. Estendeu na sua cama a bandeira do Sporting, sobre ela se deitou, e fez-se adormecer para sempre.

 

É por isto, por este quase indizível, que há clubes, as tais comunidades imaginadas. Porque são imagináveis. E são-no porque existem, porque são reais. E por serem reais nelas nem todos cabem.

 

E é esta consciência que o “Bruno”, Bruno de Carvalho, me trouxe. E o não ter  percebido tão antes é-me um verdadeiro Apocalipse. Já!

 

O da minha razão, capacidade afinal tão incapaz, coisa para outros pouco importante. E o do clube. No molde que o conheci. O que imenso me entristece.

 

* "Comunidades Imaginadas" é o título de um livro de Benedict Anderson, sobre o nacionalismo. O livro é muito bom e a expressão generalizou-se.

Mais do mesmo

Pedro Correia, 15.06.18

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O costume: insultou jornalistas («vocês não são capazes de dizer a verdade»), destratou comentadores, enxovalhou os sócios («os associados do Sporting podem ter muitos defeitos mas já perceberam que as coisas não são assim como dizem»), fez autênticas piruetas verbais para quase considerar positiva a onda de rescisões de jogadores («se tiramos os jogadores, também há que tirar os salários, ora como os salários são elevados se calhar as coisas não são assim como dizem»), mostrou-se totalmente dissociado da realidade («estamos a negociar com jogadores belíssimos, sem problema nenhum»; «vou garantidamente ter uma equipa para lutar pelo título no futebol sénior masculino»).

Falou do seu assunto favorito: ele mesmo. Dizendo-se perseguido por todas as forças ocultas do universo. Eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu...

 

Nesta conferência de imprensa, que se prolongou por setenta minutos, disparou em todas as direcções sem jamais assumir a menor parcela de responsabilidade neste inédito descalabro do Sporting.

Suavizou de forma quase obscena a inaudita violência de Alcochete, com frases de chocante insensibilidade e de evidente chacota, procurando desvalorizar tudo quanto ali se passou: «No meio dos tremores, [Ruben Ribeiro] ia-me mandando corações verdes e abraços»; «[Rafael Leão] está com tremores terríveis, tremendos.»

 

Nada disse de minimamente credível sobre a decisão do tribunal que  acaba de derrotá-lo em toda a linha - considerando sem fundamentação legal as duas "assembleias gerais" que ele tinha convocado, em flagrante violação dos estatutos leoninos, e ferida de nulidade jurídica a nomeação da putativa "comissão de transição" da irrelevante senhora Judas.

Por ironia do destino, disse tudo isto na sala do Conselho Directivo tendo atrás dele as fotografias dos chamados "presidentes croquetes" que ele tanto odeia e que as turbas mais fanáticas que ainda se deixam guiar por ele tanto abominam.

Vi esta fotografia e não pude deixar de associá-la ao final do célebre romance Animal Farm, de George Orwell. Tanta "revolução" tonitruante para tudo terminar, em termos simbólicos, no ponto de partida.

 

 

Adenda: Faz hoje um mês que o centro de estágio em Alcochete foi invadido por quase meia centena de criminosos, que bateram em quem quiseram e destruiram o que lhes apeteceu. Nunca esqueceremos. Foi a página mais negra da história do Sporting.

Os "inimigos"

Pedro Correia, 09.06.18

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O Sporting é dos sócios. Não é de Bruno de Carvalho.

 

Se é vontade dos sócios convocar uma assembleia geral electiva, como sucedeu em Janeiro de 2013, abrindo caminho ao processo que culminou na eleição de Bruno de Carvalho, a Mesa da Assembleia Geral só tem de cumprir essa vontade no prazo estatutário.
Devolver a palavra aos sócios é sempre uma boa notícia. Só os sócios são soberanos no Sporting. Carvalho - que se imagina um Presidente-Sol - é apenas um assalariado da SAD. Muito bem remunerado, por sinal: recebe o dobro do salário do primeiro-ministro.

 

Claro que existe sempre a hipótese de os sócios do Sporting serem "inimigos" do clube. Não seria de espantar, dado o perfil psicológico do presidente leonino.

 

Primeiro os "inimigos" eram os clubes rivais.
Depois, foi a comunicação social - incluindo a que levou Carvalho em ombros durante anos, arrancando-o do anonimato.
A seguir, também os ex-dirigentes - incluindo quase todos os ex-presidentes vivos - passaram a "inimigos".
Sem esquecer os  ex-membros dos órgãos sociais da era Carvalho que renunciaram por discordâncias várias: todos se tornaram igualmente "inimigos".
E o Conselho Leonino, como é sabido, sempre esteve infestado de "inimigos".

 

Entretanto o "inimigo" chamou-se Marco Silva. Octávio Machado, outro "inimigo" - tanto que até foi desconvidado para o casamento que coincidiu com o aniversário do clube e forçou a alteração da data marcada para a "puta da gala".
Manuel Fernandes começou por ser "inimigo", depois deixou de o ser. Mas aposto que em breve será reposta a normalidade: voltará a sê-lo não tarda nada.

 

"Inimigos" são igualmente todos os actuais membros demissionários dos órgãos sociais: Mesa da Assembleia Geral em peso, Conselho Fiscal e Disciplinar quase inteiro (excepto um) e quatro membros do Conselho Directivo.
Todos "Inimigos".

Álvaro Sobrinho, o maior accionista privado da SAD, é um notório "inimigo".

Jaime Marta Soares, escolhido duas vezes por Carvalho para liderar a sua lista à presidência da MAG, passou-se para o "inimigo".

Jorge Jesus - o tal treinador que vinha devolver o título de campeão ao Sporting - tornou-se o mais dispendioso "inimigo". Tal como o seu preparador físico, em fuga do clube após ter sido atacado pelos jagunços em Alcochete - ele também "inimigo".

Assim como todo o plantel - com destaque para o capitão Rui Patrício, que apenas tem 18 anos de percurso futebolístico no Sporting e ostenta ninharias no currículo, como ser campeão europeu em título a nível de selecções e ter sido considerado o melhor guarda-redes do Euro-2016 em França.

 

Apoiantes indefectíveis da primeira hora - e de todas as horas -, como Eduardo Barroso e José Eduardo, são reconhecidos "inimigos".
À semelhança de Daniel Sampaio, ex-mandatário nacional da candidatura de Carvalho - outro que se passou para a barricada do "inimigo".

 

Ninguém ignora que o presidente da Assembleia da República, sócio leonino há 68 anos, é um dos mais insidiosos e perversos "inimigos" do clube.

E até o Presidente da República já demonstrou ser "inimigo".

 

"Inimigo", e dos piores, é o até agora director clínico do Sporting, Frederico Varandas, que acompanhou Carvalho em todo o mandato.

 

Só falta, de facto, decretar que os sócios são "inimigos".

E não serão mesmo?

 

Urge entrar em alerta máximo: o Sporting está infestado de "inimigos".

É preciso ter cuidado com os sócios, estabelecer um cordão sanitário em torno deles para não infectarem a solidez das instituições leoninas - isto é, do presidente do Conselho Directivo e os seis que restam acantonados em torno dele.

 

Cautela, muita cautela: cada sócio pode ser um novo "inimigo".
Teme-se o pior se conseguirem impor a sua vontade.
O mal do Sporting é ter sócios. Quase todos potenciais "inimigos". Ou todos mesmo. Devia haver um artigo qualquer no regulamento para pôr-lhes fim. Só deste modo será possível exterminar tantos "inimigos".

 

Publicado anteriormente aqui.

O indeferimento liminar.

Luís Menezes Leitão, 09.06.18

Não tenho qualquer simpatia por Bruno de Carvalho e sempre achei, desde a sua eleição, que seria um péssimo presidente para o Sporting. Apesar de ser benfiquista, tenho pena de ver um clube histórico do nosso país no estado em que se encontra. Agora parece-me que a verdade tem que se sobrepor às mistificações que são apresentadas. Qualquer jurista sabe o que significa ler numa providência cautelar: "Pelo exposto, indefere-se liminarmente o presente procedimento cautelar. Custas pelo requerente". Pelos vistos há muito jornalistas e comentadores que ignoram esse dado elementar.

Primeiro o Bruno, depois o acessório

João Pedro Pimenta, 04.06.18

Eu sei que a crise do Sporting interessa muito aos portugueses e é motivo para especulações e discussões infinitas. Mas era mesmo preciso que a RTP abrisse o noticiário da noite de sexta-feira com a conferência "de imprensa" de Bruno de Carvalho num dia em que a Espanha e a Itália ganharam novos governos? Já nem falo das últimas medidas proteccionistas de Trump em busca da quimera do renascimento da indústria do aço no Midwest. Se isto são as prioridades de informação da televisão pública, então nem quero imaginar as das privadas. Na volta até são mais sensatas.

A perlenga

Pedro Correia, 19.05.18

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Duas horas de perlenga, atacando os jogadores e afagando as claques quatro dias após aquelas indescritíveis cenas em Alcochete: foi das coisas mais obscenas que tenho ouvido desde sempre no Sporting. Agravadas pelo cobarde ataque que fez à ex-mulher na sua "comunicação ao País" - o que demonstra como confunde já o clube, onde se imagina como Presidente-Sol, com a vida familiar. Com grosseiro e chocante despudor.

Esperei todo o tempo que ele dissesse qualquer coisa como isto: «Se vier a provar-se que membros da Juventude Leonina participaram nas agressões aos jogadores e na vandalização do nosso centro de estágio, vamos rever os apoios que concedemos a essa claque e tomar duras medidas punitivas contra os autores materiais e morais destes actos de lesa-desporto, em tudo contrários à ética leonina.»

Naturalmente, esperei em vão.

Num carro sem travões

Pedro Correia, 18.05.18

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Seis membros remunerados do Conselho Directivo do Sporting, contrariando todas as evidências e à revelia do mais elementar bom senso, insistem em agarrar-se com unhas e dentes ao umbral da porta. Quando até os mais exacerbados apoiantes de Bruno de Carvalho - Daniel Sampaio, Eduardo Barroso, José Eduardo, Fernando Mendes, Paulo Futre - apelam à saída do ainda presidente.

É um triste sinal da decadência deste consulado, que terminará os seus dias deixando um Sporting Clube de Portugal dividido como nunca, atingido com dolo na sua honra e no seu orgulho, e alvo de notícias em todo o mundo por motivos que não imaginávamos nos nossos piores pesadelos.

O patético sucessor de Godinho Lopes, rodeado dos últimos fiéis que lhe restam, pensa apenas em si próprio. Se pensasse nos superiores interesses do Sporting, ter-se-ia demitido ao fim da tarde de terça-feira. Assim faz questão de tornar ainda mais penosos estes últimos metros da recta final do seu mandato.

Há minutos, ouvi-o ler um papel onde constavam as expressões "sentido de responsabilidade", "coesão" e "união". Tudo o que este Sporting não tem. Tudo quanto Carvalho é incapaz de oferecer a esta centenária instituição gravemente ferida.

Apareceu sorridente e saiu sorridente, como se não tivesse a mais vaga noção do que sucedeu por estes dias. Veio dizer que continua a ter as mãos no volante, em alucinada fuga para a frente. Faltou-lhe acrescentar que guia um carro sem travões.