Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Constituições do Mundo (5)

Brasil: Constituição de 1988

Pedro Correia, 08.02.23

BB.png

 

«A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

- a soberania;

- a cidadania;

- a dignidade da pessoa humana;

- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

- o pluralismo político.

Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.»

 

«São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.»

 

Artigos 1.º e 2.º da Constituição da República Federativa do Brasil

E ninguém o leva a sério?

Sérgio de Almeida Correia, 10.01.23

2.-brasil-1536x1022.jpg(créditos: Ponto Final)

Portugal deve enviar as suas forças especiais para estabilizar e reassumir a soberania do Brasil”. “Tiveram 200 anos de recreio e é hora de acabar com os fugitivos de Portugal para o Brasil e vice-versa para se fugir à extradição”, lê-se na publicação, que é acompanhada de uma imagem das Armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, que vigorou entre 1815 e 1823. (...) “[E]m respeito pela democracia, Lula da Silva deve ser nomeado Presidente do Governo local e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nomeia o Governador-Geral do Brasil e assim a Polícia Judiciária Portuguesa deverá estar pronta e atenta para caçar os fora-da-lei e demais foragidos em polícia única nas duas margens do Oceano”.

 

Amigo de José Cesário e da conselheira Rita Santos, mandatário de Pedro Santana Lopes, eleito para a assembleia municipal de Proença-a-Nova, membro da Comissão das Relações Internacionais do PSDcontinua de vento em popa.

Não sei por que raio, em Portugal, tirando o PSD, ninguém o leva a sério. Mas talvez Montenegro o queira incluir na próxima lista de deputados, quem sabe se pelo círculo do "fim do mundo". Se, entretanto, é claro, não lhe derem outro destino, não o nomearem para a TAP ou o Presidente da República não o chamar para seu conselheiro.

Este país tem cada vez mais falta de humoristas capazes na política, mas olhem que este é dos bons. Em S. Bento, sempre nos faria rir. 

Não passarão

Pedro Correia, 09.01.23

101699614-supporters-of-brazilian-former-president

Brasília, 8 de Janeiro de 2023

 

Falanges mobilizadas pelas redes ditas sociais - cada vez mais instrumentalizadas por poderes ocultos - replicaram, em Brasília, o que as suas homólogas fizeram há dois anos em Washington. Vandalizando as sedes dos três poderes - legislativo, executivo e judicial. Com o aplauso aberto ou encapotado de alguns intelectuais orgânicos, que sonham ver a "rua" derrubar as "elites". Mesmo que as tais "elites" sejam sufragadas pelo voto. Ou sobretudo quando isso acontece. Porque esta gente tem um ódio visceral aos mecanismos da democracia representatitva (que lhes serve quando os deles ganham) e ao Estado de Direito em geral.

Em Janeiro de 2021 na capital norte-americana, ontem em Brasília: acção mimética, obedecendo a um padrão comum. Com uma diferença, apesar de tudo. O "comandante-em-chefe" daquela tropa fandanga, incluindo gente com vocação homicida, não estava longe. Ao contrário do autor moral da baderna brasileira, agora gozando férias em Miami, a confortável distância dos seus capangas.

A estes e a outros - dos separatistas catalães aos "coletes amarelos" em França - há que responder, sem complexos, com a força moral do Estado de Direito. Sempre superior a qualquer "regime" alternativo que proponham fanáticos, extremistas e desvairados de todos os matizes.

Nós, portugueses, sabemos muito bem o que isso é. Também tivemos um cerco ao Palácio de São Bento, onde funcionava a Assembleia Constituinte. Lá dentro estavam 250 deputados eleitos por sufrágio universal. Entre eles Adelino Amaro da Costa, Diogo Freitas do Amaral, Vítor Sá Machado (CDS), Carlos Mota Pinto, Emídio Guerreiro, Helena Roseta, Francisco Pinto Balsemão, Marcelo Rebelo de Sousa, Mota Amaral (PSD), António Barreto, António Arnaut, Jaime Gama, José Medeiros Ferreira, Manuel Tito de Morais e Sophia de Mello Breyner Andresen (PS).

A turba sequestradora da extrema-esquerda, dizendo representar o "povo" contra os "políticos burgueses", vomitava o mesmo ódio à democracia liberal que escorre hoje da matilha bolsonarista

A estes agora, no Brasil, há que dizer sem tibiezas: não passarão. Como não passaram os de sinal contrário, entre nós, em Novembro de 1975.

 

Cerco_Assembleia_Constituinte_1975.jpg

Lisboa, 12 de Novembro de 1975

A Democracia a funcionar?

Maria Dulce Fernandes, 08.01.23

image-1.jpg

Será que já vimos uma triste situação de onde este desrespeito pela Democracia no Brasil foi tirado a papel químico Ou estarei apenas a ser troca-tintas e a ver mal as cores de fundo?

Não é à toa que o deposto (ou derrotado) se tenha refugiado onde pudesse dar largas ao despeito, ao desrespeito e à incipiência que sempre o acompanhou.

Desde cerca das 18 horas está a passar em directo na SIC Notícias. A polícia tira fotos aos manifestantes, conversa com eles, deixam-nos entrar, invadiram os três poderes, vandalizaram tudo, rasgaram, partiram... pelos comentários dos jornalistas não vai ser fácil de resolver.

Lula falou. Estava nervoso e "estalinistas radicais (fanáticos?)" saiu-lhe naturalmente. Ficou atrapalhado, emendou "estalinistas, não" e ficou ainda mais nervoso. Mas não falou mal. Falou o necessário. Leu um decreto-lei que pôs em prática naquele momento, retirando o poder militar e policial ao governador do distrito federal, e assinou-o. Neste momento a polícia de intervenção já está no terreno, bastante organizada, por sinal. Os bolsonaristas não estão a oferecer qualquer resistência, apesar de terem sido encontrado diversos engenhos explosivos dentro dos edifícios. 

https://www.dn.pt/internacional/manifestantes-bolsonaristas-invadem-congresso-e-seguem-para-o-palacio-do-planalto-15621352.html?utm_source=push&utm_medium=mas&utm_term=15621352

Outra vez Lula da Silva

jpt, 02.01.23

marcelolula.jpg

Desde que o PT chegou à presidência do Brasil aquele país alargou-se por África e outro mundo afora, era a época dos militantes da virtude no reforço do "Sul-Sul", dos crentes do culto aos BRICS - a China sempre nos modos deste Xi, a Rússia já de Putin, a África do Sul no rumo de Zuma, Ramaphosa e quejandos, a Índia do afinal Modi e o nosso cálido "país irmão"... Olho para 20 anos atrás, recordo o meu cenho franzido diante daquilo, e interrogo-me se sou serei eu o deficiente, pois "portador de cepticismo", ou, se pelo contrário, serão apenas parvos os que então (e hoje) tanto se entusiasmavam com aquela "alternativa" dita desenvolvimentista...
 
Mas não vi qualquer defeito naquilo da economia brasileira se extroverter para África. É certo que dos grandes investimentos em Moçambique bem ouvia - e muitos anos antes de qualquer um de nós saber da existência do juiz Moro - histórias das articulações dos macrogrupos económicos com a elite PT e a família elementar do presidente obreirista... Mas isso eram (e são) os problemas daquele país, onde a corrupção do sistema político é endémica e não típica de uma qualquer linha ideológico/partidária. De facto, o que me mais me irritava era o folclore "afro" da abordagem brasileira - entenda-se bem, em África os portugueses armam-se das lérias da comunhão "lusófona" e os brasileiros entoam a sua cançoneta da irmandade feita da sua "africanidade". Todos desafinam...
 
Enfim, quase nada sei do país e nunca cuidei de me aprofundar nisso. Li poucos escritores (Machado de Assis, Nassar e mais alguns), ouço um punhado de cantores (facilitados pelo imediatismo da apreensão que a língua comum dá). E noto que apenas um pensador me marcou - José Guilherme Merquior, um intelectual monumental que tão infelizmente morreu com apenas 50 anos, tanto deixando por iluminar. E, já nesta idade, tenho uma muito querida amiga, dois grandes amigos e conheço ainda, com simpatia algo vaga, não mais de meia dúzia de brasileiros. Ou seja, ao longo da vida o país foi-me indiferente - à excepção da floresta - e assim continua...
 
Ontem Lula da Silva regressou ao poder. É verdade que durante as suas presidências houve um enorme retrocesso da pobreza, efectuou-se uma urgente redistribuição de recursos numa sociedade imensamente desigual. E - o que é o verdadeiramente fundamental - muito se reduziu o criminoso abate amazónico. Sucede a um boçal afascistizado, um troglodita político - o qual, muito mais grave do que tudo o que a gritaria das "identidades" apregoou, e assim até escondeu, foi um gravíssimo epifenómeno da indústria assente na desflorestação.
 
Por isso tudo é bom que Lula da Silva tenha ganho. Foi eleito resvés, dada a preferência que obteve no eleitorado do "interior" (nordestino), pobre, inculto, desapossado pela desigual redistribuição social e geográfica dos recursos, ostracizado até. Só não querendo ver é que não se nota a similitude, em abstracto, com a recente eleição de Trump..., o que deixa ver como as "análises" são acima de tudo ladainhas advindas das simpatias dos locutores, nuns casos louvando as "massas", noutros casos invectivando a plebe, crente.
 
Por cá muitos desgostam de Lula da Silva, lamentam a sua ressurreição. Muito disso advém da associação do brasileiro com o nosso Sócrates - bem patenteada durante anos, em visitas oficiais e privadas, em apoios, em amizades proclamadas. E só não viu quem era Sócrates quem não quis ver, só não percebeu o tom que ele deu ao regime quem não quis. Clientelismo, nepotismo, corrupção, ataque à separação de poderes, esbanjo de recursos públicos, ataque à liberdade de imprensa, tudo isso foi Sócrates - e com a cumplicidade de alguns e a conivência de imensos. O PS tudo fez para fazer esquecer isso - o que lhe permitiu nomear um Presidente da Assembleia da República que goza connosco a propósito de Sócrates, encher o Parlamento Europeu com gente próxima de Sócrates, encher o governo de ex-governantes de Sócrates (e quando um é apanhado a esconder alguma corrupção as pessoas ainda se surpreendem...). Pois o histriónico Sócrates pode ter caído mas o regime não mudou, é preciso ser "parolo" (para citar o inaceitável Santos Silva) para não o perceber.
 
Por isso tudo, este convite para o empossamento que Lula enviou a Sócrates - em nome de uma qualquer "amizade pessoal" - é uma agressão, vil, a Portugal. E uma proclamação de que afinal não somos um "país irmão" mas sim, quanto muito, um "país sócio" para quaisquer trapaças que pareçam lucrativas. E o nosso esvoaçante Presidente deveria ter sinalizado isso. Apresentar-se, algo obrigatório como chefe de Estado, e com gravitas, nisso enfatizando a percepção da ofensa havida. Mas, claro, apaixonado por si mesmo foi-se a banhos...
 
Quanto ao Brasil? Atrevo-me a um conselho, de facto dado aos meus três queridos brasileiros: que se ouça esta "Sozinho" de Peninha cantada por Caetano Veloso e o seu interlúdio falado. E perceba-se que é falso que original e versões primevas sejam as melhores. A canção pode ser muito melhorada, tornada outra mesmo. Façam-no agora. E nisso controlem estes desafinados.
 

Caetano Veloso - Sozinho (Ao Vivo No Rio De Janeiro / 1998)

Lula

Sérgio de Almeida Correia, 02.01.23

22413351_VNQUB.jpeg

Lula não é, à partida, um nome simpático. O molusco cefalópode não é um bicho atractivo no seu aspecto viscoso e fusiforme, com a enorme massa visceral que faz parte do seu corpo, colocando-se entre a cabeça e os tentáculos. Confesso, porém, que, quando frescas, jovens, viçosas e macias, aprecio saboreá-las. 

Ora, isto é tudo o que não se pode dizer de Lula. Não do cefalópode, mas do operário metalúrgico que pela terceira vez, depois de libertado da prisão e politicamente ressuscitado, tomou posse como presidente do Brasil. Este Lula não tem seguramente a elegância, a beleza, os olhos ou o bambolear gingão de uma garota de Ipanema ou do Leblon. Não é fresco, nem jovem, nem viçoso, nem consta que seja macio. 

Bem pelo contrário, este vem já curtido por dois mandatos anteriores, por vários escândalos ou situações menos claras, processos judiciais, prisão e, perdoe-se-me a expressão, muita "sacanagem" que também lhe saiu ao caminho, como foi a de um tal Moro de triste memória, que aparentemente impoluto e incorruptível usou técnicas de cafajeste, atropelando a lei ao jeito bolsonarista para levar a água ao seu moinho, até ser politicamente recompensado, o que de nada lhe serviu. 

Não sendo neste velho samba-enredo apreciador do personagem Lula – o derrotado Ciro Gomes faz muito mais o meu estilo de político –, admito que, todavia, esses possam ser os seus grandes trunfos no mandato que ontem iniciou, desde que tenha sabido aprender com os erros passados.

Dele não se espera que enverede pelo populismo boçal do seu antecessor, nem que se comporte como uma elegante misse, distribuindo sorrisos e carícias à direita e à esquerda como forma de manter equilibrado o difícil presidencialismo de coligação – uma particularidade brasileira – em que vai ser obrigado a acomodar-se e mover-se para poder governar e dar aos brasileiros aquilo que tanto desejam e merecem.

Se o vice-presidente Alckmin, seu opositor nas presidenciais de 2006, e agora investido em funções que poderão ser essenciais para garantir os necessários apoios nos trade-off do Congresso, com o Senado e a Câmara dos Deputados, poderá ser um trunfo precioso, só o tempo o dirá.

Registo, para já, a forma como foi recebido e investido, a clareza das suas palavras nos discursos proferidos, que não permite segundas interpretações e lhe condicionará o mandato, bem como a presença, no que foi um record, de dignitários estrangeiros à sua posse.

E quanto a este ponto não posso deixar de sublinhar a forma como o Brasil, depois do modo indigno e humilhante como se comportou nos últimos anos o tropa-trolha que ocupou o Palácio do Planalto, voltou a cumprimentar, antes e depois da posse, e a tratar e receber o Presidente português. Não por ser Marcelo, mas apenas porque lá esteve em representação de Portugal, num gesto que também não passou despercebido aos milhares de brasileiros que vivem no nosso país.

E também a referência carinhosa que lhe foi feita pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sem soberba ou complexos coloniais, imbuído do espírito que devia, deve, sempre presidir às relações entre dois países que partilham a mesma herança secular, a língua, muitas vezes as paixões e até os defeitos.

Não será fácil reerguer um país que caminhava a passos largos para o desmantelamento das suas estruturas, e ao mesmo tempo devolver a esperança e o pão aos favelados da vida, reentrando no caminho da normalidade, devolvendo dignidade ao Estado e às instituições, cumprindo o desígnio de desmatamento zero da Amazónia, reerguendo os alicerces do estado de direito, da legalidade e da justiça, reforçando a autoridade do estado federal, a segurança de pobres e ricos, de brancos, pretos, amarelos e mestiços, qualquer que seja o seu credo, opção ideológica ou preferência sexual.

O Brasil é demasiado grande, diferente (bastou ver o minuto de silêncio por Pelé e o Papa Bento XVI, que antecedeu a posse, ou ouvir o episódio da caneta de Lula vinda do Piauí) e importante no contexto mundial para poder ser governado à balda, distribuindo "propina" a torto e a direito, escondendo o lixo debaixo do tapete ou promovendo o garimpo ilegal.

Lula da Silva tem uma hipótese única de ser recordado pelas melhores razões. Oxalá que não a desperdice, porque também não consta, mesmo sendo Deus brasileiro, que Este esteja disposto a escrever uma segunda vez sobre linhas tortas.

Não deixe o samba morrer, moço.  

Boa sorte, Brasil.

Lula da Silva ou Bolsonaro?

jpt, 16.10.22

araca.jpg

Há 3 anos fui convidado para ir falar na universidade de Aracajú, capital do Sergipe. Surpreendido (nem nos Olivais me querem ouvir) logo aceitei. Lá perorei. E adorei - explico-me, logo que na primeira alvorada saí da pensão exclamei "porra, isto parece Quelimane!!!", e senti-me em casa, qual filho pródigo e tão arrependido, no meio do coco-lanho e a suar em bica.
 
Enfim, vejo que agora Aracajú recebe assim Lula da Silva. Deste nada gosto, do seu "pós-imperialismo" "africanista", da devastação amazónica que incrementou. Mas ainda assim é melhor do que o outro. E em termos amazónicos - que são mesmo os únicos que me interessam, pois estou-me nas tintas para o resto lá do país deles - também. Apesar dele próprio. Ponham lá esse tipo. E controlem-no.
 
Adenda: Sobre Bolsonaro o que tinha para botar botei-o há anos, quando ele brotou. Sobre as simpatias, quantas vezes encapuçadas de mero desdém, que a sua candidatura colheu no centro e na direita portuguesa - dislates que então exemplifiquei com Pedro Borges de Lemos, um "militante do CDS" entretanto transferido para o CHEGA, e Rui Ramos, muito conhecido historiador que não transitou para o CHEGA, no meu "A propósito de Bolsonaro"; e com Assunção Cristas, então presidente do CDS e que também não transitou para o CHEGA ("Cristas e o Brasil"). E ainda sobre a única questão que me é realmente importante relativamente ao Brasil, a ecológica ("Bolsonaro e o clima") - a qual, por razões do imenso atraso cultural português, tende a ser desprezada pelos muito rústicos "conservadores" do rincão.

A Independência do Brasil

jpt, 07.09.22

184038.jpg

Cumprem-se hoje 200 anos da independência do Brasil. É tonitruante o relativo silêncio, qual murmúrio, em Portugal sobre o assunto - publicações, filmes, documentários, congressos? Nem mesmo o recordar, trazendo para os escaparates, do que foi sendo bem feito sobre essa época. Razões para tal haverá, desde a pequenez (ultramontana) que ao processo ainda sente como "perda" - e que na senda deste Ventura de agora ainda chamará "terroristas" aos Tiradentes - e o patético (identitarista) que se quer "desculpar" da História, a ver se nisso pingam uns subsídios extra para as ONGs e centros de investigação que controlam.

Enfim, deixo aqui memória desta interessante "Oceanos", n. 44 (2000), com  alguns artigos interessantes sobre portugueses no Brasil independente, que foi coordenado pelo antropólogo Robert Rowland - estou a folhear/reler hoje, como celebração...

E deixo um desejo sincero aos meus (poucos) amigos e amigos-FB brasileiros. O de que daqui a 200 anos o Brasil tenha evoluído o suficiente para que os seus problemas já não sejam culpa do colonialismo português. Será difícil, pois até agora não conseguiram libertar-se disso. Mas talvez venha a ser possível...

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 07.09.22

22352256_ZlA44.png

A 7 de Setembro assinala-se O Dia Internacional do Ar Limpo para o Céu Azul.

"Esta data visa reforçar a necessidade de cooperação internacional para alcançar um ar mais limpo.

A poluição representa um dos maiores riscos ambientais para a saúde humana e uma das principais causas evitáveis de morte e doença a nível mundial. Assim o tema é «Ar saudável, Planeta saudável».

O aumento da qualidade do ar que respiramos faz parte dos objetcivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, sendo por isso uma prioridade mundial.

O Dia Internacional do Ar Limpo para o céu azul foi proclamado pela ONU em 2019."

Ar Limpo é um mito. O ar que respiramos está cheio de resíduos com que o homem continua sistematicamente a envenenar a atmosfera. Ou são fumos de fábricas, de fogos, ou radiação de experiências, ou escória radioactiva do cemitério de lixo que gravita em volta da terra, ou metano proveniente de explorações agro-pecuárias, ou...

Acredito que tudo isto é mais prejudicial à saúde do que os vírus que nos assolam, com a única diferença que não mata de imediato, vai matando lentamente.

 

22353380_5Hw9E.jpeg

No dia 7 de Setembro celebra-se a Independência do Brasil

Faz hoje 200 anos, o Brasil tornou-se um país independente, sob a forma de império. A independência foi proclamada pelo príncipe D. Pedro, que subiu ao trono no Rio de Janeiro como imperador, mantendo-se também como herdeiro da coroa portuguesa.

Houve dois passos prévios neste percurso. O primeiro em 1808, quando a família real portuguesa, fugindo das invasões francesas, viajou para o Rio, onde se instalou a sede central da administração do Reino de Portugal e dos Algarves. Sete anos depois, em 1815, o Brasil foi também elevado a Reino, ficando assim equiparado a Portugal, embora mantendo o mesmo monarca, D. João VI. Desta forma, deixou de ser colónia.

Com o regresso de D. João VI a Lisboa, D. Pedro manteve-se no Brasil como príncipe regente. Quando estalou a revolução liberal no Porto, em 1820, e se levantaram clamores sobre o possível retorno do território brasileiro ao estatuto de colónia, o príncipe opôs-se. E acabou por liderar o processo de independência.

Em 1824, Portugal reconheceu oficialmente o Brasil como nação independente. Quando já D. Pedro tinha sido aclamado e coroado imperador, com o título de D. Pedro I.

O dia 7 de Setembro só se tornou feriado nacional do Brasil em 1949, por decisão do presidente Eurico Gaspar Dutra.

As comemorações da independência acontecem sobretudo nas grandes cidades e são marcadas por desfiles de elementos das forças armadas, com destaque para o que ocorre em Brasília, este ano contando com a presença do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, como convidado especial."

Não foi? Então as elites não continuam a mandar nos destinos do país, a governar-se e a desgovernar um povo imenso que vive no limite da miséria? É um dos países onde a disparidade é gritante, com uma favela a despencar de cada um dos  morros que rodeiam os condomínios privados. Com todos os seus recursos naturais, o Brasil poderia ser uma potência mundial, não fora a ganância. Nem ordem, nem progresso, apenas caos. É um país cuja estonteante beleza natural embala um povo alegre e doce, governado pela ganância de minorias patéticas.

 

22352566_M8tR7.jpeg

No dia 7 de Setembro comemora-se O Dia Dos Amantes de Cerveja

"Vamos todos cantar "99 Garrafas de Cerveja na Parede", porque é o Dia Nacional dos Amantes da Cerveja, neste 7 de Setembro. Hora de abrir canecas alemãs, jarras decorativas e garrafas de cerveja muito giras. A cerveja e o processo de fabricação da cerveja remontam aos tempos antigos em culturas de todo o mundo. Tornar-se mestre cervejeiro pode levar anos de aperfeiçoamento. Um requisito certo é o amor por esta arte. Hoje, comemora-se com uma cerveja gelada. Qualquer pretexto serve."

Depois do Dia da Cerveja, chega-nos o Dia dos Amantes de Cerveja, que celebra todos aqueles que se perdem na frescura de uma loira, morena ou ruiva, espumosa, amarga e boa como o abençoado lúpulo que a fez.

Nós, os que escolhemos a cerveja como bebida de eleição, podemos neste dia deliciar-nos com uma bela morena clara e misteriosa de 70°. 

Cheers!

(Imagens Dreamstime/Google)

Bolsonaro & Covid-19

jpt, 19.04.20

bolsonaro.jpg

A onda viral no Brasil cruza um conflito político, não entre Bolsonaro e o PT, como nós o vimos, mas derivado da fragmentação do feixe de anteriores apoiantes do presidente - potenciada pela polémica sobre a estratégia de combate ao covid-19. Bolsonaro manifesta-se hoje com os seus apoiantes (o magma das milícias que lhe são agora o apoio fundamental) explicitamente também contra o confinamento - algo que já o fez substituir o ministro da Saúde. Mas também contra a hierarquia militar, e contra a pluralidade de governos estaduais que se lhe vêm opondo. Bem como contra a assembleia. Algo vai quebrar no Brasil. E não me parece que vá ser por via eleitoral.

Incêndios na Amazónia

jpt, 26.08.19

amazonia.jpg

Mudei-me para Lisboa, regressei ao lar, agora reinstalei internet em casa, visito as redes sociais (e os muito mais interessantes blogs). Vejo que muitos discutem algo relativo aos incêndios na Amazónia. Muitos gritam contra Bolsonaro - são os mesmos que quando este apareceu o guinchavam contra os homossexuais, as mulheres e os negros, secundarizando a sua anunciada política amazónica. Na época isso não lhes era relevante, não estava nas suas agendas de bolso agitando-se. E outros, muitos, gritam contra os que gritam contra Bolsonaro - parece que a devastação da Amazónia já existia antes, descobrem, e isso sossega-os. Esganiçados, o que lhes interessa é criticar os esganiçados do BE e afins.

Mal comparado é como se eu aqui viesse escrever a anunciar que tinha um cancro e as pessoas se preocupassem com os hipotéticos erros ortográficos e até sintácticos do auto-comiserado postal.

As pessoas não são só insensíveis. São-no mas não só. Não são só estúpidas. São-no, e numa até incomensurável dimensão, por mais doutores especializados e analíticos que surjam. Mas não só. São, acima de tudo, más. Não maliciosas. São malvadas. São a Besta. Não umas bestas, que isso é óbvio que também são. São mesmo a Besta. Imunda.

E veraneam!

Um longo e lindo feriado

Pedro Correia, 07.07.19

Vinicius_Jobim_1[1].jpg

Rua Nascimento Silva, 107. Este endereço é conhecido de melómanos do mundo inteiro. Foi aqui que um poeta e um compositor revolucionaram a música, alterando-a para sempre.

O poeta era Vinícius de Moraes, o compositor era Antonio Carlos Jobim, o ano era 1958: desta genial parceria nasceu o disco Canção do Amor Demais, na voz de uma cantora de segunda linha chamada Elizete Cardoso. A diferença estava na qualidade das canções, que rompiam com a banalidade do samba-canção então em voga. E sobretudo em dois temas acompanhados ao violão por um tal de João Gilberto (que no disco figura apenas como instrumentista): “Outra Vez” e “Chega de Saudade”.

Nessa altura nenhum deles imaginava que estava a fazer história. Era o tempo das vozes potentes, cheias de vibrato, próprias para serem escutadas ao fundo de salões de baile – ninguém supunha que se cantasse de outra forma. Mas o baiano João Gilberto insistia em cantar “baixinho”, o que causava urticária nos especialistas do sector. Quando gravou “Chega de Saudade”, logo após a versão de Elizete, um desses especialistas, em São Paulo, partiu o disquinho de 78 rotações bradando: “Esta é a merda que o Rio nos manda!” 

 

g_scan16[1].jpg

Como tantas vezes acontece, na música e não só, este “especialista” nada percebia do assunto. “Chega de Saudade”, com a voz e violão de João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira, inaugurou uma era na música popular. A partir daí todos passaram a querer cantar assim. “Baixinho”, como quem sussurra ao ouvido.
Nascia a Bossa Nova. A origem da expressão permanece obscura. Noel Rosa usara a palavra bossa num samba de 1932 (“O samba, a prontidão e outras bossas / são nossas coisas, são coisas nossas”). E à entrada de um espectáculo realizado no auditório do Grupo Universitário Hebraico, ainda em 1958, uma funcionária escreveu a giz num quadro: “Hoje, Sylvinha Telles e um grupo bossa nova.” Sylvinha cantava em sintonia com João Gilberto. A expressão pegou, hoje todos a conhecem, usa-se e abusa-se dela. Mas a funcionária permaneceu anónima: se tivesse patenteado o rótulo, ganharia uma fortuna.
Estas e muitas outras histórias desfilam no delicioso livro Chega de Saudade, do brasileiro Ruy Castro. Ao longo de mais de 400 páginas, assistimos ao encontro de Vinícius e Jobim, somos apresentados a Dick Farney, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Luís Bonfá, o malogrado Newton Mendonça, Nara Leão, Elis Regina... Descemos aos botequins da Lapa, flanamos pelos bares de Ipanema. Começamos num Brasil onde “In the Mood” e “On the Sunny Side of the Street” eram êxitos nas rádios do Rio com títulos traduzidos foneticamente – “Edmundo” e “O Sobrinho da Judite”. E acabamos num Brasil rendido à sofisticada batida da bossa nova que conquistava os maiores nomes da canção universal: Lena Horne, Sarah Vaughn, Nat King Cole, Peggy Lee, Andy Williams, Perry Como, Tony Bennett, Violeta Parra.
E até Frank Sinatra se rendeu.

 

11483694[1].jpg

Em Dezembro de 1966, quando tomava um chope no seu bar predilecto – o Veloso, onde há quem jure que nasceu a sua “Garota de Ipanema” –, Jobim recebeu uma chamada telefónica. “Ligação dos Estados Unidos”, avisou o proprietário do botequim. Era Sinatra. Convidava-o a gravar um disco com ele. Sinatra/Jobim, como viria a chamar-se o disco, mostra-nos um Sinatra muito diferente do registo habitual, cantando à maneira de João Gilberto temas imortais como “Corcovado”, “Dindi”, “Insensatez” e “O Amor em Paz”.
“A última vez que cantei tão baixo foi quando tive laringite”, gracejou o intérprete de “Strangers in the Night” após as gravações. Valeu a pena: o disco foi um monumental sucesso de público e de crítica, ganhando vários prémios Grammy.
Outras gerações foram conquistadas pela magia brasileira: Eric Clapton proclama a sua adoração incondicional por João Gilberto, Sting nunca se cansa de enaltecer Jobim, Diana Krall e Karrin Allyson incluem temas de Vinícius e Jobim nos seus novíssimos reportórios.
A era da bossa nova, num mundo marcado pela guerra fria e pelo terror nuclear, foi “um longo e lindo feriado”, na síntese feliz de Ruy Castro. Quem diria que tudo começou no fio de voz de João Gilberto que enfureceu o tal expert de São Paulo?

 

Texto reeditado, a propósito da morte de João Gilberto, ontem, aos 88 anos

O bispalho de Bolsonaro

jpt, 05.04.19

No aniversário da tomada de poder surge um bispalho católico a fazer a apologia da ditadura brasileira - agora readmitida no panteão da cidadania por este Bolsonaro, o qual vai a Israel dizer que o nazismo "é de esquerda", para gaúdio dos facebuqueiros lusos (e decerto que espanto dos locais, mais preocupados com outras coisas ...).

Bispalho esse a fazer jus ao passado da "santa" madre igreja, usando o púlpito para expressar o seu desejo de  envenenar Caetano Veloso, ainda condenável pela sua canção "sessentaoitista", a do "proibido proibir". Um clamoroso ignorante - numa igreja que se ufana tanto dos seus pergaminhos intelectuais "jesuíticos" - incapaz de perceber o óbvio paradoxo da expressão. E, mais do que tudo, um revanchista, que 50 anos depois ainda tem frémitos de vingança contra o satânico cantor. "Eles não esquecem" ...

Um bispalho fascista, apoiante de um presidente fascista. Apoiado no nosso rincão pelo pelotão dos "redessociailistas" da disfunção eréctil, todos vomitando o fel da impotência. No bolsonarismo, mais ou menos explícito, reclamado, dos do "Chega", do "Aliança", sapudos teclando. E dos do "CDS". Sim, do "CDS" - o partido de uma Cristas que acha necessário apartar-se de um militante que chama "fufa" a uma deputada mas que não se demarca da escumalha (cristã, advogada bem paga, provavelmente lobista) do seu partido que por aí bolsonara.

Sim, há música satânica.  Mas não é esta. Pois "keep on rockin ..".  Ao avesso do satanismo desses bispalhos. E seus paspalhos. Flácidos.