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Delito de Opinião

Confirmado

Sérgio de Almeida Correia, 27.01.22

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"Mr. Johnson has crumbled because he repeatedly failed to tell the truth to Parliament and the nation about Downing Street´s bacchanals. First he declared tht his staff did not hold parties. When that was disproved, he denied knowing about them. When it emerged that he had been at one, he said he had not realised they counted as parties. And when it was claimed that he had been warned they did, he seemed to suggest that he misunderstood the rules his own government had drafted. It is a pattern that stretches back to his time as journalist, when he lied to his editors; to when he was an editor, when he lied to his proprietor; and to when he was a shadow minister, when he lied to his party´s leader." (The parable of Boris Johnson, The Economist, January 22nd 2022).

Está assim confirmado o que há uns anos aqui se escreveu.

Pelo que, fiquemos, então, com o depoimento de Larry, the cat, prestado algures nas redes sociais e sem a identidade de quem com oportunidade recolheu o seu testemunho, enquanto o seu dono não é tosquiado.

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O confinamento britânico

jpt, 05.01.21

Ao jantar juntou-se a família, em zoom - seria o aniversário da nossa matriarca, morta há dias. A notícia - já esperada - caiu durante o convívio: o Reino Unido entra em confinamento. Tenho sobrinhos - hoje no meu ecrã - lá imigrados. E a minha filha ali estuda e agora, aqui a meu lado, só pode lamentar todo este longuíssimo processo que lhe amputa a formação real.
 
Boris Johnson falou. Proclamou o confinamento. Referiu os seus conteúdos em traços gerais. E anunciou o vastíssimo programa de vacinação (em Fevereiro contam ter os 4 grupos prioritários já vacinados), o maior da história britânica. Ele não é, como todos saberão, um interseccionalista ou marxista cultural. Nem abordou a situação com mecanicismo restritivo.
 
Talvez que sendo Boris Johnson a assumir agora estas medidas, e este discurso, isso possa calar os patetas da direitalha, esses que julgam que ser "liberal" é contestar a dimensão desta pandemia e as medidas restritivas que esta impõe. Que lhes demonstre o quão medíocres intelectualmente vêm sendo, dia-a-dia, nestes meses. E, mais do que tudo, lhes mostre a ignomínia que é a, explícita ou implícita, campanha anti-vacina do Covid-19 que alguns - como essa Maria José Morgado, para além de punhados de patetas facebuqueiros - andam por aí a fazer. Uma miserável indecência sobre a qual já botei. E à qual agora volto, apontando o dedo.
 

Figura internacional de 2019

Pedro Correia, 03.01.20

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BORIS JOHNSON

Nem por ser já esperada deixou de constituir uma das vitórias eleitorais mais marcantes da cena política de 2019. Boris Johnson, que começou por chefiar o Executivo britânico sem passar pelas urnas, limitando-se a receber a pasta de Theresa May, conduziu em 12 de Dezembro o seu Partido Conservador ao maior triunfo eleitoral desde 1987, passando a dispor de uma sólida maioria absoluta na Câmara dos Comuns, ao contrário do que acontecia com a sua antecessora. Tem 365 assentos parlamentares - 39 acima do patamar da maioria absoluta.

O seu estilo excêntrico - mesmo para os padrões britânicos - e a linguagem acutilante que cultiva como imagem de marca levaram alguns, mais distraídos, a considerá-lo uma réplica de Donald Trump. Nada mais errado. Desde logo, Johnson tem impecáveis credenciais académicas e pedigree intelectual. Foi aluno na Escola Europeia em Bruxelas, depois em Eton e Oxford, diplomou-se em Estudos Clássicos, é um reputado biógrafo de Winston Churchill. Exerceu o jornalismo em periódicos conceituados: The Times, Daily Telegraph e The Spectator (sendo editor deste último). Antes de ascender à chefia do partido e do Governo, em Julho de 2019, destacou-se como presidente da Câmara de Londres (2008-2016) e ministro dos Negócios Estrangeiros (2016-2018).

A eleição deste irrequieto nativo do signo Gémeos, nascido há 55 anos em Manhattan e que só em 2016 renunciou à cidadania norte-americana deveu-se em boa parte à sua promessa de solucionar de vez o impasse em torno do Brexit. Johnson é um entusiasta da saída definitiva do Reino Unido da União Europeia, que deverá consumar-se em 2020. Ao contrário de Jeremy Corbyn, o seu rival do Partido Trabalhista, que manteve posições muito ambíguas nesta matéria. O que talvez explique o terramoto eleitoral do Labour: em Dezembro, obteve o pior resultado desde 1935.

 

O DELITO DE OPINIÃO elegeu Boris Johnson como Figura Internacional do Ano na votação mais apertada de 2019. O chefe do Governo britânico superou apenas por um voto (nova contra oito) a activista sueca Greta Thunberg, que liderou a batalha mediática à escala mundial contra as alterações climáticas num ano que suportou o mês de Julho mais quente desde que há registos credíveis e em que a Islândia viu desaparecer o primeiro glaciar.

O terceiro lugar do pódio, com cinco votos, coube ao primeiro-ministro etíope  Abiy Ahmedy, distinguido com o Prémio Nobel da Paz pelos seus esforços para «alcançar a paz e a cooperação internacional», justificou a academia de Oslo. Em alusão ao seu protagonismo na obtenção de um acordo de paz entre a Etiópia e a Eritreia, pondo fim ao tenso impasse que permanecia entre os dois países, envolvidos num sangrento conflito no final do século XX.

Houve ainda dois votos isolados. Um em Juan Guaidó, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, reconhecido por mais de cinco dezenas de países (incluindo Portugal) como líder legítimo do país, embora Nicolás Maduro ainda ocupe o Palácio de Miraflores. O outro voto recaiu em John Bercow, o carismático presidente cessante da Câmara dos Comuns, que ganhou fama planetária pelo modo peculiar como presidia aos debates - começando pelo seu inconfundível "grito de guerra": «Order! Order!»

 

Figuras internacionais de 2010: Angela Merkel e Julian Assange

Figura internacional de 2011: Angela Merkel 

Figura internacional de 2013: Papa Francisco

Figura internacional de 2014: Papa Francisco

Figuras internacionais de 2015: Angela Merkel e Aung San Suu Kyi

Figura internacional de 2016: Donald Trump

Figura internacional de 2017: Donald Trump

Figura internacional de 2018: Jair Bolsonaro

Boris para o fim-de-semana

jpt, 30.08.19

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(Texto longo, muito mais com o registo de conversa para blog individual mas já que o botei aqui o replico, até porque vamos para o fim-de-semana)
 
Não tenho grandes vínculos com o John Bull. Algum, broken, conhecimento da sua língua. E poucos britânicos contemporâneos realmente me marcaram - Berlin, Leach, Naipaul, Page, Popper, Richards, nenhum deles, e por diferentes razões, um verdadeiro arquétipo appointed by Her Majesty, com a óbvia excepção de Sir Edmund (esta agora foi à João Carlos Espada ...). Mas atrevo-me a opinar, e justifico-o: há mais de uma década que lá tenho família mui próxima queridos amigos, daqui a semanas a minha adolescente filha ali irá cursar a universidade.
 
O que se passará não será uma desgraça para a Grã-Bretanha, e daqui a uns tempos nem se lembrarão das angústias havidas. Mas esta finta ao parlamentarismo é politicamente significante, demonstrativa do processo europeu actual, sinal que vivemos "tempos interessantes". E é ainda mais significante que tal não aconteça na Grécia, Espanha ou Portugal, recentes democracias, ou nas ainda mais recentes das ex-(quase)colónias do Urso Soviético, algumas um bocado trapalhonas. Brota exactamente no cerne histórico da democracia parlamentar. Sinto que isto terá muito mais impacto do que a saída da Grã-Bretanha da União Europeia. "Tempos (ainda mais) interessantes" aí vêm.
 
Para enfrentar este aparente futuro muito haverá para pensar, e definir. Primeiro do que tudo, perceber quais são os problemas. Entre estes estão as formas de recrutamento dos colectivos das lideranças políticas. Num momento em que as capacidades de influenciar o rumo das sociedades se esvaem, em que a soberania efectiva se esgarça, devido à economia mundial e não aos projectos políticos agregadores, quem surge na política? Para simplicar, o problema não é Boris Johnson, nem o "mágico" Steve Bannon. O problema é o tipo David Cameron (quem?). Estes pequenos projectistas de cabotagem  que são recrutados, ascendem, influenciam, e se impõem, gente às vezes sans foi ni loi (como diriam os normandos) mas sempre sem rumo. Grassam, por todo o lado. E não por uma qualquer "crise" de valores, mas devido ao funcionamento do espaço político.
 
Por cá leio vários a defender o gambito de Boris Johnson. Dizem, pressurosos, que é uma acção positiva, tendente ao respeito pelo voto, o resultado do referendo. Correcto. Mas o parlamento também foi votado, donde este argumento é uma óbvia contradição, um pensamento a la carte. É legal, aplaudem. É. Mas não parece nada legítimo. E os ilustres doutos deveriam saber a diferença nada ténue entre os termos. Não haja dúvidas, o encanto com que esta medida de Boris Johnson é acolhida mostra, grita, uma coisa: os seus apoiantes (lusos e não só) não gostam de parlamentos.
 
E o júbilo diante desta versão boreal da Jangada de Pedra do comunista Saramago mostra bem que os seus apoiantes não gostam da União Europeia, querem-lhe a pele. Não a querem melhorar (intensificar ou aligeirar, redireccionar ou estancar), querem-na finda. Nunca percebi qual a razão de portugueses defensores da economia de mercado e da democracia parlamentar tanto detestarem a União Europeia. Talvez tenha sido aquela legislação adversa aos galheteiros públicos. Ou talvez seja a questão da (i)migração. É sempre interessante, no sentido de espantoso, ver doutos portugueses insurgirem-se contra os direitos dos emigrantes. Pois mostra bem que não vêm para além da ponta da respectiva pilinha, perorando que vão num país de emigrantes. Mas não deve ser por causa desta temática da (i)migração. Pois se o fosse discutir-se-iam mudanças nas regulamentações europeias: o livre-trânsito interno, a apetência por mão-de-obra exógena, etc. Mas esse não é o motivo, é apenas o pretexto. 
 
Desde o anúncio da trivela Johnsoniana li vários locutores lusos aplaudindo-a. Insisto, é gente que, de facto, não gosta do parlamentarismo e não gosta da União Europeia. Um destes dias estarão a perorar contra a NATO - de facto já o fizeram quando Trump chegou ao poder e polemizou sobre a organização. Pode-se sorrir e dizer que têm uma agenda política parecida com a do BE e a do PCP! Ou podemos ser um pouco mais analíticos, na senda das teorias da conspiração, e pensar que são teclados putinescos.
 
Mas de facto não são nada disso. São apenas uns ultramontanos "à antiga", uns reaccionários do piorio. Lendo-os - nas redes sociais - vê-se que muitos defendem novas alternativas políticas, como a Iniciativa Liberal, o partido do comentador Ventura, o Aliança (do agora desnorteado Santana Lopes, a fazer tristes figuras de "ocupa"). Eu não estou a dizer que o Iniciativa Liberal (no qual se calhar votarei) ou o Aliança (no qual teria votado se estivesse em Portugal nas últimas eleições) defendem estas posições. Estou a dizer que no seu interior têm estes núcleos, que poderão ser pequenos mas são audíveis - doutos num país de "doutores".
 
Assim, no registo de conversa que é o deste postal (e, a bem verdade, o de todos os postais), o que é necessário é recrutar boas lideranças políticas nos partidos democráticos, gente com algum tino e cuja ambição não seja apenas voluptuosa. E que tenham algum tipo de projecto, nacional e internacional. Um "desígnio", para usar um termo que os seguidores do pensamento de Inês Pedrosa abominam. Seja nos partidos democráticos tradicionais, seja nestes novos. Que não venham Camerons. E cameronzinhos. Que se defenda a democracia parlamentar dos gambitos, trivelas e fintas adversários. E que se defenda a União Europeia, modificando-a, intensificando-a, aligeirando-a, imigrando-a ou não.
 
O que significa, também, refutar, pontapear, o comunismo identitarista, sempre empenhado na demonização da tradição democrática europeia, invectivando o "ocidente", propondo-se a "rever conteúdos culturais", querendo traumatizar para, de facto, apoucar, nisso desfazendo.
 
No nosso país o primeiro passo para isto é simples: arranjar alguém para liderar o PSD, que anda aí aos caídos, decerto que muito devido à tralha militante. Já agora, convém que seja alguém que não surja, a um mês e picos das eleições, em abraços sorridentes ao sucessor de José Sócrates. E em começando por aí continue-se, despertando o CDS da sua condição hospitalar. Ou, porque não?, desliguem-no da máquina. 
 
Pois o estertor dos partidos democráticos, que até pode ter piada para quem ande cansado dos tropeções e aleivosias correntes na política, só terá um desfecho. Piores partidos, piores gentes, piores soluções.
 
Vamos seguir o caso britânico. Ou, como já muitos anunciam, vamos ver o caso inglês. Wait and see ...

A suspensão do Parlamento Britânico.

Luís Menezes Leitão, 28.08.19

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O precedente mais próximo de suspensão de um Parlamento de que me lembro foi quando Lenine, logo a seguir à Revolução de Outubro, mandou encerrar a Duma, fechando as portas e impedindo os deputados de entrar. Foi preciso o comunismo cair na Rússia para que esta voltasse a ter um Parlamento. Parece que o Brexit está a levar muita gente no Reino Unido a perder a cabeça.

Muito bem, Alemanha!

Cristina Torrão, 01.08.19

A Alemanha recusou tomar parte na “Operation Sentinel” de Trump, no Estreito de Ormuz. Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão declarou estar fora de questão seguir a estratégia de confrontação dos EUA, que pode levar a uma escalação perigosa do conflito (link em alemão). O governo alemão continua a considerar a via diplomática como a melhor forma de lidar com o problema.

Apoio a posição da Alemanha que visa, acima de tudo, preservar a união europeia e distanciar-se da linha conflituosa de Trump. Com Boris Johnson, a Grã-Bretanha mudou de estratégia, deixando de apelar a uma acção conjunta europeia, para se pôr sob a protecção dos EUA. Este país, no entanto, solicitou a colaboração alemã, numa óbvia tentativa de forçar a Europa a dançar sob a sua batuta (e a dividi-la). Esteve bem o governo alemão, ao declarar que, não chegando a diplomacia, a Alemanha só admitirá o envio de forças militares para o Estreito de Ormuz numa acção conjunta europeia, dispensando o comando norte-americano.

Enganos académicos

João Campos, 25.07.19

Tem sido interessante ler algumas defesas de Boris Johnson - sobretudo à direita, mas também uma ou outra à esquerda - por ele ser um "intelectual", um "académico", formado "em Balliol" (Oxford, vá), estudioso dos clássicos latinos e helénicos. A propósito disto ocorrem-me duas coisas mais ou menos óbvias. A primeira, que comparar o currículo universitário do novo primeiro-ministro britânico à mediocridade académica da nossa classe política não significará grande coisa - perante a "licenciatura" de Sócrates, o "currículo" de Passos Coelho ou o "português falado" de António Costa,  qualquer licenciado com um curso (qualquer curso) concluído com média de 12 nos quatro (três? cinco?) anos regulamentares que saiba a diferença entre um sujeito e um predicado parecerá um prodígio. E a segunda, quase tão evidente como a primeira, que um bom aluno não é necessariamente um bom profissional, seja na sua área de estudo ou em alguma outra. Dito de outra forma: Johnson até poderá ser um intelectual de primeira água (não faço ideia se o será), mas isso, por si só, será insuficiente para que seja um bom primeiro-ministro, ou até um primeiro ministro razoável. É um pouco como um fato de três peças: ao vesti-lo, um grunho até poderá parecer elegante, mas nunca deixará de ser um grunho. E, convenhamos: de grunhos licenciados e bem vestidos está este mundo cheio.

Mad Boris is going to Downing Street

João Pedro Pimenta, 25.07.19

Da primeira vez que ouvi falar em Boris Johnson ele estava a caminho de ser Mayor de Londres, derrotando o velho "Red" Ken Livingstone e dando pela primeira vez a metrópole aos tories. Na altura li declarações dele, como "votar conservador aumentará os seios das vossas mulheres e as vossas oportunidades de terem um BMW". Um tipo assim não se leva a sério, mas diverte (excepto para as inquisidoras do "heteropatriarcado branco", ao qual Boris comprovadamente pertence, e eu também, já agora). Depois seguiu o seu rumo, sempre com confusões à mistura, como quando venceu um concurso para o poema mais ofensivo a Erdogan, presidente turco (que entretanto já o felicitou no seu novo cargo, que remédio), onde tem também raízes, além da Rússia. Tornou-se depois no rosto do apoio ao Brexit, ganhando imenso capital político nessa barricada, que caiu por terra com a traição de Michael Gove, impossibilitando a sua ascensão à liderança dosconservadores e do governo britânico, deixando o caminho aberto a Theresa May. Até aí, eu julgava que ele seria inexoravelmente primeiro-ministro; depois fiquei convencido do contrário, mesmo quando o nomearam para os Negócios Estrangeiros. Afinal chegou mesmo lá.


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Boris Jonhson é uma personagem interessante e rica, digno de um biopic, muito diferente do vendedor de carros de beira da estrada que preside aos EUA, apesar do cabelo. Mas sinceramente preferia que não tivesse alcançado o posto que tanto ambicionou, para mais no delicadíssimo momento que o Reino Unido atravessa.

Um pormenor interessante, relembrado por Frederico Lourenço nas redes sociais: Boris é talvez o único, ou dos raríssimos, chefes de governo actuais com formação em Estudos Clássicos - grego e latim - pelo Balliol College da universidade de Oxford, o que pode ser uma boa notícia para todos os que lamentam o declínio do ensino das humanidades. Seja como for, é sempre bom um estadista de primeira linha que tenha aprendido grego clássico - e até que tenha aprendido com uma grega clássica.

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                     Boris Johnson ouvindo Melina Mercouri nos anos oitenta, quando ainda usava pente.

E vão três

Pedro Correia, 24.07.19

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O Brexit já enterrou dois chefes do Governo do Reino Unido, ambos conservadores: David Cameron, que convocou o referendo de 2016 comportando-se como aprendiz de feiticeiro, saltou do comboio em andamento, no rescaldo imediato desta consulta eleitoral; hoje, sem pompa nem glória, foi a vez de Theresa May abandonar a residência oficial em Downing Street sem ter solucionado um só dos problemas que o referendo suscitou. 

Um terceiro conservador, Boris Johnson, acaba de tomar posse - sem passar pelo decisivo teste das urnas nacionais. Com o reino cada vez mais desunido e rodeado de incertezas. Será capaz de corrigir a rota dos correligionários que o antecederam? A seu favor tem apenas as baixas expectativas que o rodeiam neste início de funções como 14.º primeiro-ministro empossado pela Rainha Isabel II. É muito pouco como carta de recomendação.

Biógrafo de Winston Churchill, o sucessor de Theresa May não ignora certamente uma das frases mais argutas do estadista que conduziu o destino das ilhas britânicas durante a férrea resistência às hordas nazis. «A política é a única guerra em que se pode morrer duas vezes», ensinou Churchill. Todos os governantes deviam ter esta citação sempre presente, do primeiro ao último dia dos seus mandatos.

Lançar a confusão e dar de frosques

Sérgio de Almeida Correia, 10.07.18

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(créditos: Kirsty Wigglesworth /Getty Images)

Há pouco mais de dois anos, num pequeno texto que aqui deixei chamei-lhe "the perfect English fool". Houve quem não gostasse do que então escrevi, mas no dia seguinte Lord Michael Heseltine, uma das mais sólidas referências do conservadorismo britânico, parlamentar desde 1966, figura de proa dos governos de Margaret Tatcher e John Major, acusava-o de ter dado origem à maior crise constitucional em tempos de paz que lhe fora dado assistir e de desbaratar as poupanças dos seus concidadãos.

Steph, com o seu traço genial, um ano depois, deu conta do modo como já via as consequências dos resultados eleitorais nas negociações para o Brexit.

Volvido este tempo, os eleitores do Partido Conservador, os ingleses e o mundo em geral assistem estupefactos à continuação do deprimente espectáculo burlesco de Boris Johnson tendo por referência o Brexit.

Na carta de demissão que remeteu a Theresa May, a cada vez mais descalça primeira-ministra britânica, o despenteado de Eton escreveu que "[w]e are now in the ludicrous position of asserting that we must accept huge amounts of precisely such EU law, without changing it an iota, because it is essential for our economic health – and when we no longer have the ability to influence these laws as they are made. In that respect we are truly headed for the status of colony – and many will struggle to see the economic or political advantages of that particular arrangement".

Com a saída de David Davis, primeiro, e agora de Boris Johnson, é possível perceber o atoleiro em que o Reino Unido se encontra e que os custos do Brexit estão a ser incomensuravelmente superiores aos que a irresponsabilidade de tipos como Johnson e Farage prometia aos eleitores.

Se Johnson antes quis substituir o motorista do táxi que não sabia inglês, e o levava para onde não queria ir, por alguém em quem confiava e que falava a sua língua, agora que o GPS deixou de funcionar e a condutora está completamente aos papéis, a solução que encontrou foi a de abrir a porta e saltar do táxi antes deste se despenhar pela primeira ribanceira que apareça na escorregadia e sinuosa estrada a que ele, navegador, o conduziu com as suas sempre brilhantes tiradas. Como antes já fizera quando surgiu a hipótese de liderar o Partido Conservador.

Não conheço expressão inglesa equivalente, mas na minha terra chama-se a isto "dar de frosques".

Que, por sinal, era o que normalmente fazia o palhaço que na minha infância vestia o fato de idiota no final daqueles números de circo a que assisti. Só que neste caso a tragédia é real. E há quem no final limpará as lágrimas e pagará a conta pelos disparates dele e dos amigos.

Bons europeus!

Luís Menezes Leitão, 14.07.16

É como devem ser qualificados os Ministros dos Negócios Estrangeiros da França e da Alemanha (sempre o eixo franco-alemão) depois destas declarações sobre o novo Ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico. Chama-se a isto sentido de Estado, diplomacia e respeito pelos assuntos internos dos outros países. Só os anti-europeístas primários é que não vêem isto.

The perfect English fool

Sérgio de Almeida Correia, 28.06.16

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We are passengers locked in the back of a mini-cab with a wonky sat nav driven by a driver who doesn’t have perfect command of English and going in a direction, frankly, we don’t want to go.” - Express, 16 de Abril de 2016

"The crucial thing is that we are in a situation that we can’t control and at the moment. It is though I have got into an unlicensed mini-cab, and the guy does not know which way to go, he does not speak very good English, and we are going into a destination I can’t control. That is exactly what is happening now with the EU Grant." - The Sun, 19 de Junho de 2016

"There is now no need for haste” - The Guardian, 24 de Junho de 2016

 

Imediatamente antes do referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, o ex-Mayor de Londres e principal protagonista da campanha anti-europeia transmitia aos eleitores a imagem de que os ingleses eram passageiros de um táxi sem licença, do qual não podiam sair e que eram conduzidos por um motorista que não sabia para onde ir e não possuía um domínio adequado do inglês. Depois, voltou a repetir essa imagem várias vezes, a últimas das quais à beira do dia decisivo.

Agora que os seus compatriotas lhe fizeram a vontade e votaram pela saída, tendo ele uma oportunidade de mandar parar o táxi de imediato e sair no primeiro apeadeiro, Boris vem dizer, dando a imagem típica do populista arrogante e chico-esperto, que não há pressa em sair do táxi, não se importando de continuar às voltas dentro de uma viatura que não sabe para onde vai e a ser conduzido por esse mesmo motorista que não sabe falar correctamente o seu idioma.

Se não houvesse melhor imagem do que esta do táxi, a que fica da salganhada do referendo inglês é a de que em matéria de questões europeias qualquer idiota pode ir a votos e ganhar, mesmo que no fim não se distinga de nenhum daqueles que guiam o táxi. It's the democracy, stupid