O caso Evo Morales
Esta descrição que Evo Morales faz do seu vôo atribulado por diversos Estados europeus enche de vergonha qualquer cidadão europeu minimamente consciente. Não se compreende como é que um avião de um Chefe de Estado estrangeiro pode ver rejeitado o sobrevôo ou mesmo a aterragem no território de vários Estados europeus por mera suspeita, pelos vistos infundada, de que no avião se encontrava Eduard Snowden, cuja captura é exigida pelos Estados Unidos. Aliás, mesmo que essa suspeita se confirmasse, alguma vez seria admissível a revista do avião e a prisão do referido Snowden, sabendo-se que a aeronave de um Estado é considerada território desse Estado?
A posição mais hipócrita foi neste caso a portuguesa. Primeiro alegou "razões técnicas" para não permitir a aterragem, e agora Portas diz que não queria "importar" Snowden. Mas que importação se verificaria se o avião fosse abastecido e seguisse viagem? A vassalagem aos Estados Unidos é de tal ordem que o Estado Português se sente obrigado a invadir o avião dum Chefe de Estado estrangeiro, logo que ele aterra em Portugal, apenas porque tal lhe foi pedido?
Esta atitude foi de uma irresponsabilidade sem precedentes. Noutros tempos poderia mesmo ser considerada um "casus belli". Portas estava convencido que as nossas escassas relações com a Bolívia lhe permitem fazer essa desconsideração ao seu Chefe de Estado, mas é evidente que vai ser surpreendido com uma reacção geral dos países sul-americanos em defesa de Evo Morales. Espanha já percebeu o filme e pediu apressadamente desculpas. Mas em Portugal vamos continuar a fazer uma triste figura.