Frases de 2023 (25)
Boaventura Sousa Santos, justificando assim a criminosa invasão da Ucrânia por Putin
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Boaventura Sousa Santos, justificando assim a criminosa invasão da Ucrânia por Putin
Sei que os meus amigos têm acompanhado com interesse os meus postais sobre temas gastronómicos. [Adenda para o Delito de Opinião: postais que coloco principalmente no meu mural de Facebook e alguns também no meu blog individual]. Assim sendo aqui regresso a essa matéria. Hoje com uma receita de maionese retórica, bem do agrado dos comensais... "alternativos".
"Os Princípios e as Práticas"
... comecei a analisar a crescente prevalência e maior visibilidade do poder cru em relação ao poder cozido [eu, jpt, detesto esses ditos "emoji" e por isso prefiro assinalar esta grosseira "apropriação cultural" da dicotomia do grande Lévi-Strauss com uns valentes !!!] tendo-me centrado numa das manifestações deste fenómeno, da vitória sobre o adversário ao extermínio do inimigo. Continuo agora a análise, centrando-me na segunda manifestação, a híper-discrepância (sic) entre princípios e práticas.
Uma Híper-Discrepância (sic)
A discrepância entre princípios e práticas é talvez a maior especificidade da modernidade ocidental. Qualquer que seja o tipo de relações de poder (capitalismo, colonialismo e patriarcado) e os campos do seu exercício (político, jurídico, económico, social, religioso, cultural, interpessoal), a proclamação dos princípios e dos valores universais tende a estar em contradição com as práticas concretas do exercício do poder por parte de quem o detém. O que neste domínio é ainda mais específico da modernidade ocidental é o facto de essa contradição passar despercebida na opinião pública e ser mesmo considerada como não existente. (...)
Este mecanismo de supressão das contradições reside no que designo por linha abissal, uma linha radical que desde o século XVI divide a humanidade em dois grupos: os plenamente humanos e os sub-humanos, sendo estes últimos o conjunto dos corpos colonizados, racializados e sexualizados.
Se é verdade que a contradição entre princípios e práticas sempre existiu, ela é hoje mais evidente do que nunca. (...)"
Boaventura Sousa Santos, "Os princípios e as práticas", Jornal de Letras, 17 de Novembro de 2021, p. 30.
Boaventura Sousa Santos publicou no "Público" (pelo menos) dois textos de opinião dedicados à invasão russa da Ucrânia. Nada do que neles escreveu diverge das concepções que nas últimas décadas vem pronunciando sobre as diversas matérias do mundo, e que tão queridas e aclamadas vêm sendo em nichos da intelectualidade portuguesa: uma filosofia da história de teor conspiratório, crente na "mão invisível" que tudo causa e comanda, a omnipotência dos omnimalevolentes Estados Unidos da América; um método particular, o manuseio por cardápio das realidades históricas (ditas como apenas "construídas" pelos observadores) para sustentar um discurso apresentado como progressista e que se embrulha como democrático - ainda que refute a "democracia formal"...
Nestes dois últimos textos essas condições estruturais lá estão patentes, mais uma vez. A sua paupérrima deriva pela monocausalidade, intelectualmente indigna - convém notar que até chega a dizer que a dissolução guerreira da Jugoslávia em 1991 se deveu a que os EUA não queriam que subsistisse um país europeu do Movimento dos Não-Alinhados (em 1991!!!), um perfeito dislate. Disparatada mundividência que o leva agora à simples responsabilização dos Estados Unidos da América, da NATO e das democracias liberais europeias pelo advento da guerra russo-ucraniana. E uma verdadeira hipocrisia, ao anunciar que desde há muito existia a necessidade de extinguir a NATO para fazer uma força militar europeia conjunta - sendo óbvio, sem ser necessária grande especulação, que se isso tivesse acontecido nas últimas três décadas, decerto que sob influência maior do par franco-alemão e implicando grande aumento de despesas na Defesa, Boaventura Sousa Santos e todos os seguidores viriam constantemente criticar esse esforço armamentista capitalista, imperialista e anti-democrático.
Enfim, e por mais que se possa discordar destas opiniões, nada do que ali surge é surpreendente para quem costume ler o autor. Aparentemente é mais do mesmo... Ainda assim esta abordagem, verdadeiramente descabida, à invasão russa abanou o "Público". Daí o violentíssimo editorial de anteontem, escrito pelo seu director Manuel Carvalho, ripostando explicitamente ao mestre conimbricense, coisa rara pois afrontando quem há tanto tempo segue do jornal colunista. E o título diz quase tudo, naquilo da "miséria moral"..., que abarca, é certo, outros componentes do eixo russófilo mas que, é evidente, se centra naquele autor.
Será de esperar que esta auto-crítica do jornal se possa alargar, afrontando outras derivas internas de extremo racialismo, também elas surgidas em roupagens "pós-modernas" e, ainda, "pós-coloniais". Que em nada perdem face ao seu velho mestre no que respeita à superficialidade demagógica e ao constante demonizar das sociedades democráticas. A ver vamos...
Para quem não conseguir ler a imagem aqui deixo a transcrição da inusitada crítica ao colunista do jornal:
“A miséria moral da esquerda iliberal”
Manuel Carvalho 11.3.22, Público
Na ressaca eleitoral, Boaventura Sousa Santos invoca-se húmus teórico do Bloco de Esquerda e sentencia a sua actual coordenadora, numa invectiva que se quer letal pois assumindo-se qual Professor Sem Medo face a uma afinal assim até salazarenta Catarina Martins - esta agora decerto que duplamente dorida, pela derrocada nas urnas e pela tonitruante reprimenda do Founding Father.
Mas o que me é relevante não são as querelas sucessórias ali decorrendo. E sim as interpretações sobre o acontecido. O dr. Ba, aclamado activista avesso ao "apartheid" português - como nos classifica um teórico do "racismo sistémico" (ou "estrutural") -, já elucidara algumas das mudanças no painel parlamentar, explicitando-as como a ascensão de uma "Nova Direita" qual a suspeitosa "alt-right" mais ou menos global. A qual, no seu elevado parecer, se traduz agora numa vintena de monos parlamentares fascistas, racistas e neoliberais. Esta interpretação não diverge muito da generalizada entre bem-pensantes, particularmente propensos à interjeição "neoliberal", esse apupo simplório que acalenta a demonização de tudo o que não seja arreigadamente estatista.
Aliás, algo a latere, recordo o que após a votação me disse uma queridíssima amiga ("que nariz, que nariz..."): "esses betos [IL, entenda-se] em quem votaste são uma distopia anunciada". Respondi-lhe, algo desabrido (mea maxima culpa, piorada devido ao referido "que nariz..."), remetendo-a para a página do partido Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa, convocando-a a melhor reconhecer os traços da perfídia distópica, tão certeiramente denunciados pela Iluminista "esquerda" lusa. Mas recupero essa breve conversa porque me é exemplo de uma versão interpretativa sobre esta parcela da tal "alt-right", racista, fascista e neoliberal, portuguesa: a de que é um movimento de classe média alta, os tais "betos", assim nada desapossada mas apenas gulosa.
Ora o que agora é significante, e terá que ser integrado na análise sobre este movimento fascizante, é o contributo do Professor Sem Medo. O qual aparenta ter uma visão algo diversa. Pois Boaventura Sousa Santos enuncia as causas destes votos nos distópicos liberais. Para ele, estes não são votos ancorados em qualquer razão, numa avaliação mais ou menos ponderada da situação nacional e do seu enquadramento internacional, mesclando expectativas individuais com anseios para o país, num saudável patriotismo, mesmo que este erróneo ou até errático. Bem pelo contrário, os votos no tal partido distópico, são fruto da emoção, numa reacção irracional face à crise potenciada pela pandemia, sendo assim um fenómeno de "ressentimento" - um ressentimento de camadas sociais decerto que provocado por se encontrarem estas desapossadas, tanto em termos reais como de expectativas, presumo - que se reflecte num ressentimento invidual condutor das opções de voto, propiciador da adesão ao cruel culto do "darwinismo social".
Parece assim óbvio - e disso quero informar a minha queridíssima amiga, bem como alguns outros que com ela partilhem a interpretação do que vai acontecendo - que este distópico, fascista-racista-neoliberal, movimento de retórica liberal (a tal IL, recordo) não se limita aos tais privilegiados "betos". Ainda para mais se aceitarmos o óbvio, e tantas vezes repetido por sociólogos: isso de que Portugal continua a ser uma sociedade bastante estratificada, onde os privilégios de classe (os dos tais "betos") seguem impunes. Será, como o anuncia o Professor Sem Medo, um movimento irracional, desprovido de Razão, dos descamisados (ou, vá lá, "colarinhos brancos" puídos), ressentidos.
Há pois que actualizar, seguindo neste sentido, a interpretação do processo actual nacional. Pelos vistos é isto que a Sociologia nos ensina.
Há um mês, durante a campanha publicitária do seu novo livro, o jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos falou com leviandade sobre a "Solução Final" nazi, o extermínio dos judeus (e ciganos, etc.). Gerou-se um coro indignado - ver por exemplo o artigo de Irene Flunser Pimentel; e as respostas de JRS às críticas recebidas (também eu botei sobre o assunto) - com aquela leveza, a medíocre incapacidade de perceber a especificidade de Hitler e seus milhões de sequazes, a sua "normalização" que JRS assim promovia.
Leio agora, pois basto partilhado nas redes sociais, um texto do renomado sociólogo Boaventura Sousa Santos, "maître à penser" de vastos feixes da intelectualidade portuguesa: "Trump não tomará cianeto". Que surge imensamente mais leviano, indo muitíssimo mais longe nessa "normalização" do nazismo, na sua "banalização". No artigo vem o habitual (no autor) ditirambo contra os EUA, e para isso ali se compara - em retórica de "analogia" - Hitler e Trump, Himmler e Pence, os passos ocorridos no final do regime nazi com este final da presidência americana.
Nem vale a pena comentar o conteúdo. Mas é interessante, pois relevante, notar o silêncio crítico que uma "coisa" destas colhe. Tantos contestaram José Rodrigues dos Santos e todos se calam diante de algo muitíssimo mais intenso nesta "naturalização" do nazismo. Um silêncio que é muito significativo deste "pensamento crítico" em voga: há quem não possa espirrar que logo é apupado. E há quem diga as atoardas que quer, que logo é louvado (e "partilhado"). Chama-se a este seguidismo apatetado "epistemicídio". Pois trata-se do genocídio da análise crítica.
Adenda: A ligação entre EUA e a Alemanha nazi é um tópico nos escritos de Sousa Santos. Veja-se este texto de 2019: "Os EUA flertam com o direito názi" (sic).
Já agora, e porque este vem a talho de foice, não deixa de ser notável que o consagrado académico escreve sobre este "flertar" (de novo, sic) entre EUA e o nazismo a propósito das invenções de "inimigos internos" e não surja agora no mesmo molde a associar António Costa ao nazismo - pois também este cultor da imagem do "inimigo interno", assim tratando os sociais-democratas que lhe são críticos. É notável mas não surpreendente ...
A Turquia, a Síria, o Irão e os EUA não alinham em referendos convocados à margem da legalidade internacional.
Já vieram, portanto, contestar sem rodeios a iniciativa de chamar os eleitores às urnas para validar o projecto separatista e a fragmentação da soberania de um Estado membro da Organização das Nações Unidas, com fronteiras reconhecidas pela comunidade internacional.
De Teerão vem uma condenação enérgica, concretizada desde logo num voto de rejeição aprovado pelo Parlamento iraniano.
Washington demarca-se desta "iniciativa unilateral".
Damasco não concede a menor validade à consulta referendária.
O líder turco admite até desencadear uma acção armada para travar o separatismo posto em marcha com este referendo.
O Presidente iraquiano, por sua vez, é categórico: a Constituição do país impede a separação de qualquer das suas parcelas territoriais.
Apenas o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, apoia e aplaude o referendo independentista no Curdistão.
Só ele parece ter sido sensível às teses de Boaventura Sousa Santos e José Pacheco Pereira.
BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS
Público, 11 de Maio de 2013
«Portugal tem a democracia basicamente suspensa.»
Face a alguma comoção gerada nas últimas horas relativamente aos critérios de atribuição de determinadas honras académicas, relembro que o Lula é Honoris Causa pela mesma Universidade de Coimbra em que Boaventura Sousa Santos é Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia.
«A vitória do Syriza teve o sabor de uma segunda libertação da Europa. A primeira ocorreu há setenta anos, quando os aliados libertaram a Europa do jugo alemão nazi e puseram fim ao horror do Holocausto. (...) A ortodoxia tremeu, e o tremor da sua bancada subalterna foi, como era de esperar, o mais patético. No caso português, indigno.»
Boaventura de Sousa Santos, na Visão (5 de Fevereiro de 2015)
Depois da tristeza que constituiu a perda da liderança do Bloco, estes são os dias felizes de João Semedo.
Depois da tristeza que constituiu a prisão de Sócrates, estes são os dias felizes de Mário Soares.
Depois da tristeza que constituiu o 'assassinato' dos Kouachi e de Coulibaly por parte da polícia francesa, estes são os dias felizes de Boaventura Sousa Santos.
Bom dia, senhor Terrorista. Espero que esteja tudo bem consigo, senhor Terrorista. Se me permite, senhor Terrorista, apresento-me. Sou agente das forças especiais francesas e estou aqui para o prender, senhor Terrorista. Mas não se enerve, senhor Terrorista. Estou certo que o senhor Terrorista tem imensas atenuantes que justificam ou até legitimam o incómodo que provocou aos caricaturistas do Charlie que acabou de despachar. Assim sendo, senhor Terrorista, não se importaria, gentilmente, de me entregar a sua arma? Ai, senhor Terrorista, que palavras tão feias que acabou de dizer. Ai, senhor Terrorista, não dispare assim a Kalashnikov que ainda acaba por me acertar. Olhe, ó senhor Terrorista, fazemos assim: eu tenho mesmo de disparar, mas vou fazer mira para a janela e o senhor Terrorista põe-se do lado da porta para eu não o atingir. E o senhor Terrorista pode continuar a disparar contra mim sem se magoar. Está bem, senhor Terrorista?
Ou, dito de outro modo, a desejável intervenção policial, segundo São Boaventura:
Boaventura Sousa Santos