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Delito de Opinião

O meu fim de ano - I

Paulo Sousa, 06.01.25
Passei o meu fim de ano por Coimbra. Quando de casa vou para norte, é a primeira cidade que se apanha, sendo que Leiria é ainda uma extensão do “estar em casa”. Essa proximidade faz da cidade do Mondego um local onde já passei muitas vezes, mas insuficientes para a conhecer com o vagar que merece.
Na rota das Grandiosas Bibliotecas, que já alimentou uma rubrica aqui no DO, nunca ter visitado a Biblioteca Joanina era uma falha grave, que urgia ultrapassar.
O bilhete de acesso tem várias opções e escolhemos a combinação que incluía a Biblioteca, o Palácio Real, a Capela de S. Miguel e o Laboratório Chimico. A primeira paragem foi a Biblioteca que, segundo consta, é preservada por uma colónia de morcegos. E digo, segundo consta, pois nunca nenhum visitante os viu. Se non è vero, è ben trovato, a história é interessante e, confirmo, os resguardos que supostamente cobrem as mesas durante a noite, para as proteger os dejectos destes mamíferos voadores, estavam lá dobrados sobre as mesas.
Não tenho fotos desta biblioteca, pois tal não é permitido. Bem sabemos como os flashes aceleram o envelhecimento dos materiais fotografados, mas ali a proibição é total. Não é permitido fotografar, nem filmar, ponto final. Devido a esta irritante medida imposta, em última instância pelo Magnífico Reitor, partilho aqui algumas fotos minhas da série de  Grandiosas Bibliotecas.
 
Biblioteca Nacional Austríaca

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Biblioteca Nacional de França

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Biblioteca da Universidade de Budapeste

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Biblioteca Joanina

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25 + 25 Maravilhosas Bibliotecas

Paulo Sousa, 22.09.24

Após ter publicado as primeiras 25 bibliotecas desta série, seguiram-se mais 25 extra numa sequência que já terminou. Domingo após Domingo, quase dei uma volta ao mundo em bibliotecas. Foi uma viagem incrível.

As bibliotecas enquanto espaços onde se guardam livros, conhecimento, imaginação e arte, são lugares especiais no mundo dos humanos. Antes da escrita, as palavras eram apenas ar. Antes dos livros, essas sequências de curtos instantes de ar em deslocação, não passavam de um ser alado. A palavra escrita é, antes de qualquer outra coisa, o desenho de um sopro de ar. As palavras já tinham sido registadas na pedra, em barro, madeira ou metal, mas só depois da invenção do papiro no antigo Egipto, é que finalmente, nessa forma de livro, foi possível torna-las num objecto flexível e preparado para a viagem e para a aventura.

Depois disso, seguiu-se um imenso percurso de escrita, de estudo, de enganos, de correcções, de descobertas que levou a nossa espécie das cavernas até aos confins do universo. Sem livros nada disso teria sido possível. Na minha primeira participação no Delito de Opinião, então apenas como convidado, escrevi sobre as minhas memórias do acto de ler e de como a leitura poderia estar a sofrer uma mudança.

No livro de Umberto Eco "Não contem com o fim dos livros", este escritor italiano recorda que quando se começou a guardar textos em suporte digital, não faltou quem antecipasse o fim dos livros. Quem precipitadamente avançou com essa triste profecia, em pouco mais de uma década, já tinha diferentes computadores, de diferentes versões e capacidades, guardados de forma a poder aceder ao que desde então tinha sido escrito em digital. Enquanto isso, os livros continuam disponíveis, sem necessitarem de electricidade, sem nunca descarregarem a bateria e sem partirem o écran se com eles lidassem com falta de cuidado.

Graças a esta série de publicações sobre bibliotecas, há uns meses atrás, numa curta ida em Paris, dei por mim a saltar refeições para poder visitar as duas bibliotecas aqui referidas, a Biblioteca Nacional de França e a Biblioteca Saint-Geneviève. As duas merecem bem o desvio e a BNF chega a ser emocionante. A Saint-Geneviève só pode ser visitada, para se conhecer o espaço, num único dia da semana. Soube disso por ali ter chegado num dos dias em que a entrada era reservada a leitores. Não contive o meu desapontamento e expliquei ao funcionário que demoraria bastante tempo até ter outra oportunidade de ali voltar para visitar aquele lugar especial. Prontamente, sugeriu que me tornasse leitor e, a aparente impossibilidade, fez com que hoje tenha no meu espólio pessoal um cartão de leitor da Biblioteca da Sorbonne. Foi um belo desenlace que não teria ocorrido sem esta série de publicações.

Na minha terra há uma extensão da Biblioteca Municipal de Porto de Mós. A minha amiga Catarina, amiga da escola primária, assegura o funcionamento do espaço e ainda divide o seu tempo com a Biblioteca principal na sede do concelho. Contacto-a sempre que um livro me desperta um interesse especial. Prontamente verifica se este faz parte do espólio e trata de todos os procedimentos até que eu o possa desfolhar. A última encomenda que lhe fiz, e que já estou a ler, é “O infinito num junco” de Irene Vallejo, já aqui ecomendado no Delito pelo Pedro Correia. Fala de livros e de bibliotecas. Estou a adorar.

25 Maravilhas - Edição extra XXV

Paulo Sousa, 15.09.24

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Biblioteca Nacional de Buenos Aires, Argentina

 

Sobre Jorge Luis Borges, que chegou a ser director desta Biblioteca.

“Um amigo do escritor conta que uma vez percorreu a Biblioteca Nacional de Buenos Aires com ele. Borges movia-se entre as prateleiras como o seu próprio habitat. Abraçava cada uma das estantes com o olhar, já quase sem vê-las nitidamente. Sabia onde estava cada livro e, ao abri-lo, encontrava logo a página precisa. Perdendo-se nos corredores forrados de livros, deslizando por entre lugares quase invisíveis, Borges abria caminho na escuridão da biblioteca com a dedicada precisão de um equilibrista.”

O infinito num junco, de Irene Vallejo