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Delito de Opinião

Separadas à nascença?

Pedro Correia, 11.04.25

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Mariana Mortágua e Inês de Sousa Real no debate de ontem na CNN Portugal. Mais do que um frente-a-frente, foi um tête-a-tête.

 

O mais relevante diálogo que travaram ocorreu logo a abrir.

Foi assim:

Mariana - Muito boa noite, Inês. Cumprimento-a pela escolha da roupa, que é muito parecida com a minha. Ainda bem, quer dizer que temos bom gosto.

Inês - Cumprimento também a Mariana e felicito-a também pela escolha.

 

Uma de amarelo e preto, a outra de preto e amarelo. Mal se deu pela diferença.

Napoleão em Lisboa?

jpt, 28.10.24

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Passo pela televisão, desatento percebo que continuam a debater os "desacatos" na Grande Lisboa, e ouço um tipo clamar contra "este pequeno Napoleão que tomou Lisboa...", uma "boca" de acinte óbvio.
 
"Quem é este gajo?", pergunto. Ao que a minha companhia responde "é o tipo do BE na Assembleia". Rio-me, nem enojado. Ao ver o chefe parlamentar dos comunistas identitaristas a gozar com a estatura física de Carlos Moedas. Não por naquilo reconhecer qualquer ofensa. Mas sim pela imbecil contradição com a exigência que têm para com os outros, essa que apela ao discurso "correcto", envernizado. Mas neles quebra-se-lhes o verniz, sempre... Talvez por isso sigam tão... minguantes.

Extremismo contra os «ricos» e o «lucro»

Pedro Correia, 22.10.24

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Vejo Mariana Mortágua sempre de ar carrancudo, como se tivesse eternas contas a ajustar com o mundo. Brada agora contra o «discurso extremista» de Luís Montenegro. Imputação patética, quando da banda oposta há quem acuse o primeiro-ministro de «vender-se ao PS».

É extraordinário que pretenda dar lições de anti-extremismo, a pretexto do recente congresso do PSD. Sendo coordenadora do Bloco de Esquerda, precisamente o único partido parlamentar que recusou fazer-se representar na reunião magna dos sociais-democratas. Gesto extremista. Como se sentisse asco em imaginar-se ali. Sem cumprir regras de elementar cortesia democrática. Ao contrário do que fizeram PS, Chega, IL, PCP, Livre, CDS e PAN. 

Nada mais natural nela, aliás, do que a exibição do extremismo. Quando dispara contra os «ricos», quase cuspindo tal palavra. Quando diaboliza o «lucro», palavra interdita no léxico bloquista - como se preferissem o seu antónimo, prejuízo. Quando menciona a «direita» com desprezo visceral que lhe franze ainda mais o cenho.

Comparada com ela, Catarina Martins tornou-se modelo de moderação: não por acaso, a actual eurodeputada chegou em tempos a aludir ao suposto carácter «social-democrata» do programa do Bloco. Frase que jamais imaginaríamos proferida pela sua sucessora na sede da Rua da Palma.

 

Mas afinal o que propõe o «extremista» Montenegro?

Acordo imediato com Madrid para o pagamento da utilização da albufeira de Alqueva por agricultores espanhóis e a garantia de caudais mínimos no Tejo - bandeiras ambientalistas. Reforçar o policiamento de proximidade e ampliar o recurso a sistemas de videovigilância no combate ao crime - medidas que o trabalhista Keir Starmer pôs em vigor no Reino Unido. Lançar um projecto de reabilitação da Área Metropolitana de Lisboa que tem como primeiro pólo um denominado Parque Humberto Delgado - o mais célebre dissidente do salazarismo. Conceder a 150 mil doentes o acesso aos medicamentos hospitalares em farmácias de proximidade - promessa da defunta geringonça que ficou por cumprir. Garantir a universalidade do acesso ao ensino pré-escolar - antiga reivindicação da esquerda parlamentar. Duplicar as verbas de apoio às vítimas de violência doméstica - causa que o próprio BE abraça.

Conclusão: fez bem Mortágua em ordenar aos seus camaradas para nenhum deles comparecer em visita ao congresso laranja. Podiam ficar contaminados pelo «extremismo». E sair de lá tão «sociais-democratas» como Catarina Martins.

Hecatombe

Pedro Correia, 11.06.24

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Sorriram, pularam, bateram palmas nas noite eleitoral. Tudo um bocado patético, na vã tentativa de iludir a realidade. Que foi esta: o Bloco de Esquerda afundou-se nas eleições europeias.

Caiu de terceira para quinta força política.

Perdeu mais de metade da percentagem obtida no anterior escrutínio, em 2019 - de 9,8% para 4,3%.

Perdeu metade dos deputados que tinha em Bruxelas - só elegeu a cabeça de lista.

Perdeu quase metade dos votos - tombando de 325 mil para 167 mil.

Se isto não é hecatombe, não sei o que será uma hecatombe.

A liberdade em marcha-atrás

Mortágua em 2024 desmente o Louçã de 2008

Pedro Correia, 21.05.24

 

Mariana Mortágua lidera um movimento favorável à supressão da liberdade de expressão no reduto onde ela deve estar mais salvaguardada: a sala das sessões da Assembleia da República, sede da soberania nacional.

Uma frase de mau gosto debitada por André Ventura na sexta-feira de manhã desencadeou uma onda de exclamações inflamadas contra o presidente da Assembleia da República por não ter mandado silenciar aquele deputado. Aguiar-Branco declarou, pelo contrário, que advoga um conceito muito lato, nada restrito, da liberdade de expressão. Pelo mais louvável dos motivos: não tem vocação para censor.

Faz muito bem. O contrário é que seria preocupante, tratando-se da segunda figura do Estado.

Era o que faltava, neste ano em que celebramos o 50.º aniversário do 25 de Abril, os cravos murcharem ao ponto de alguns quererem transformar o presidente da AR num mestre-escola a distribuir reguadas pelos meninos irreverentes ou num velho regedor de aldeia pronto a suprimir expressões indecorosas. Como se a liberdade em Portugal andasse em marcha-atrás.

 

Acontece que o presidente da AR não pode censurar nenhum deputado. O mandato popular confere-lhes, em absoluto, o direito a não serem perseguidos judicialmente pelas opiniões que emitem em sede parlamentar.

Nem poderia ser de outra forma. Concordemos ou discordemos do que dizem, todos representam a nação, eleitos pelos portugueses. Se exprimirem opiniões que detestamos, mais ainda devemos garantir que possam continuar a emiti-las.

Esta é uma trave mestra da democracia liberal. 

 

Não me espanta que a coordenadora do Bloco de Esquerda pretenda silenciar quem discorda dela: o radicalismo que imprimiu ao partido, desfazendo o legado de relativa moderação de Catarina Martins, é o corolário disto.

Nem sequer me surpreende que um cortejo de «personalidades da música e do entretenimento» tenha logo saído em defesa da lei da rolha. E que uma organização intitulada SOS Racismo, que nenhum português elegeu, exija aos gritos a demissão de Aguiar Branco. Dando razão a Ricardo Araújo Pereira, quando em 24 de Abril escrevia no Expresso: «A frase, tão popular, "a minha liberdade acaba onde a dos outros começa" é curiosa porque, fingindo ser sensata, costuma ser usada para justificar vários atropelos à liberdade. Normalmente, quem a profere não está mesmo a falar dos limites da sua liberdade. A minha formulação "a minha liberdade acaba" faz parte do logro. É sempre da liberdade dos outros que se trata.»

Já me espanta um pouco mais que uma dirigente socialista que respeito, como Alexandra Leitão, navegue nas mesmas águas. Ao ponto de, nessa manhã de sexta-feira, quase ter intimado Aguiar Branco a retirar a palavra ao líder do Chega. Como se o presidente da AR tivesse alguma tutela sobre aquilo que os restantes 229 deputados afirmam, no pleno uso da liberdade que a Constituição lhes faculta.

 

Neste lamentável episódio, Mortágua faz o papel de José Sócrates, que em 11 de Julho de 2008, no mesmíssimo local, exigiu a Francisco Louçã - fundador e então deputado do BE - que tivesse «tento na língua». Enquanto bradava: «Eu não confundo a liberdade com a liberdade de insultar.» E perorava sobre «o excesso de liberdade que põe em causa a liberdade dos outros.» Nada mais triste.

Levou réplica sem demora.

«Entendo que qualquer vertigem censória nunca passará neste parlamento. Eu direi sempre aqui, na minha bancada e neste parlamento, tudo aquilo que quero dizer. E se algum dia alguém lhe disser a si para ter tento na língua, eu estarei a defendê-lo. A grandeza da democracia é defender também o direito de opinião de todos, sem excepção.» 

Palavras de Louçã nessa sessão parlamentar, ripostando a Sócrates em defesa intransigente da liberdade de expressão. Palavras que mereciam aplauso antes e continuam a merecer aplauso agora.

Que diferença. Que degenerescência do Bloco de Louçã para o actual bloco censório de Mariana Mortágua. Pronto a silenciar os outros - hipocritamente, em nome da liberdade.

Ausentes

Pedro Correia, 03.04.24

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BE e PCP decidiram ontem não comparecer à cerimónia de posse do XXIV Governo Constitucional, no Palácio Nacional da Ajuda.

Esta ausência simultânea dos dois parceiros do PS na defunta geringonça revela muito. Nada abonatório para ambos os partidos, que ocupam hoje apenas nove dos 230 assentos na Assembleia da República.

Falta de estatura institucional, falta de sentido de Estado, falta de espírito democrático, falta de ética republicana.

Legado positivo de António Costa

Pedro Correia, 15.03.24

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Desde que se amigaram com o PS para formar a geringonça, PCP e BE perderam 25 deputados.

Em 2015 tinham 36, somados: 19 bloquistas, 17 comunistas.

Hoje restam-lhes 9 (5 do BE + 4 do PC). Quatro vezes menos.

 

Eis o mais visível legado político da geringonça: praticamente a extinção da esquerda radical.

Neste caso, um legado positivo de António Costa - sou o primeiro a reconhecer.

«Atenta às questões dos trabalhadores»

Legislativas 2024 (12)

Pedro Correia, 28.02.24

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Nada mais conveniente, para os partidos com fraquíssima representação parlamentar, do que integrar manifestações alheias para aparecerem na fotografia, fingindo que os poucos afinal são muitos. Consultar a agenda diária de manifestações e colar-se a elas: eis uma forma fácil e expedita de fazer política.

Nestes dias iniciais de campanha eleitoral das legislativas de 2024 o campeão desta chico-espertice tem sido Rui Tavares. No sábado conseguiu aparecer um par de vezes nos telediários integrando-se em duas concentrações populares em Lisboa: uma no Rossio, de repúdio pelos dois anos de agressão da Rússia à Ucrânia; outra na marcha contra o racismo e a xenofobia, na Alameda D. Afonso Henriques. 

Exibiu-se em qualquer dos eventos, transmitindo assim a mensagem subliminar de que toda aquela gente apoia o Livre. 

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A mesma táctica tem vindo a ser seguida por dois outros partidos muito carentes de votos: o PCP e o Bloco de Esquerda.

Aproveitando um protesto dos trabalhadores da empresa multinacional Teleperfomance, também em Lisboa, Paulo Raimundo e Mariana Mortágua surgiram na primeira fila. Com a certeza de que picariam o ponto nos noticiários da noite.

O secretário-geral do PCP lá se ajeitou com o megafone para debitar banalidades, proclamando-se «solidário» com os trabalhadores. A porta-voz do Bloco nem necessitou de megafone, sem ficar atrás do comunista ali na caça ao voto. 

A diligente repórter da RTP deu uma ajudinha. Dizendo isto: «Porque é ao lado dos trabalhadores que o Bloco quer estar.» Enquanto mostrava a bloquista enxugando uma furtiva lágrima de comoção. E culminou a peça desta forma: «Atenta às questões dos trabalhadores, Mariana Mortágua promete que as condições dignas de trabalho vão estar num entendimento à esquerda pós-eleições.»

Linguagem carregada de tintas épicas: pedia sonorização a condizer. Pena não se terem escutado os acordes d' A Internacional. Até a mim daria vontade de chorar.

Sob o signo do Cupido

Legislativas 2024 (5)

Pedro Correia, 09.02.24

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Mariana Mortágua e Rui Tavares "debateram" ontem na SIC Notícias. Debate é força de expressão: parecia antes um rendez vous, tantas foram as miradas enternecidas que dirigiram um ao outro. E as frases plenas de concórdia, harmonia e fraternidade universal. Nem houve um sussurro crítico ao PS.

«Temos objectivos comuns», sublinhava o porta-voz do Livre. «Temos diagnósticos comuns», afiançava em coro a coordenadora do Bloco de Esquerda. Como se estes dois partidos pudessem fundir-se a qualquer momento.

Esperava-se um frente-a-frente, saiu um tête-à-tête. Sob o signo do Cupido, talvez por estar tão próximo o Dia dos Namorados. Entre Mariana Tavares e Rui Mortágua. Amor é cego e vê, como diz o verso da canção. Coisa mais linda não há.

Com o Irão?

jpt, 28.09.22

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Há dias aqui deixei ligação à minha análise do Chéquia-Portugal (0-4): na qual me limitei a expressar a minha estupefacção pela ausência de uma acção simbólica dos jogadores em solidariedade para com Mahsa Amini, a iraniana assassinada pela polícia por não cobrir devidamente os cabelos, e para com os inúmeros iranianos entretanto assassinados nos protestos subsequentes. Tal como referi algum espanto pelo silêncio do jornal da SONAE, carregado de identitaristas activistas, bem como dos sempre tão solidários em causas anti-americanas BE e LIVRE, que não se aprestaram à mobilização de arruadas contra estes factos. Em parte é compreensível, consabida que é a soez hipocrisia destes esquerdistas de "campus" e avenças... Mas o mesmo não se esperaria dos nossos jogadores, lestos a ajoelhar-se por uma morte masculina americana, mas agora prontos a encolher os ombros diante de inúmeras mortes iranianas. Por isso titulei o postal com um "O Futebol Não É Para Mulheres!".
 
Fica agora a notícia que os jogadores da selecção do Irão têm a coragem de afrontar a sua vil ditadura, simbolicamente usando casacos negros sobre o equipamento. Está dado o mote - não a@s esquerdalh@s lus@s, que continuam algo silenciosos face a estas ocorrências, encerrados na sua vilania de prosápia identitarista. Mas sim aos jogadores da bola... 

Cada vez mais colados a Putin

Pedro Correia, 17.09.22

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O PCP arrogou-se ontem o direito de desautorizar os legítimos órgãos políticos da Finlândia e da Suécia. Em Maio, os dois países nórdicos decidiram solicitar a adesão à NATO, no pleno exercício da sua soberania. Em consequência directa da agressão da Rússia de Putin à Ucrânia iniciada a 24 de Fevereiro.

Para que a adesão se concretize, tem de ser ratificada pelos parlamentos dos 30 Estados membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Portugal foi um dos últimos a fazê-lo, algo lamentável: só faltam Eslováquia, Hungria e Turquia.

Muito pior - embora nada surpreendente - foi ver o partido da foice e do martelo atrever-se a contestar tal adesão na Assembleia da República para de novo se ajoelhar perante o ditador russo, saudoso do tempo da URSS, quando orava virado para Moscovo.

 

A líder parlamentar do PCP rejeitou categoricamente a integração daqueles dois países na NATO, organização a que Portugal pertence, argumentando que isso «aumentará a tensão» na Europa. Uma vez mais, sem um sussurro de condenação das atrocidades russas nestes mais de duzentos dias de invasão da Ucrânia.

Pelo contrário, Paula Santos mencionou o «processo de alargamento da NATO para Leste» como causa imediata da guerra. Coincidindo com a narrativa oficial do Kremlin.

 

A ratificação passou no hemiciclo, com o apoio da esmagadora maioria dos deputados, merecendo o voto favorável de seis partidos ali representados: PS, PSD, Chega, IL, PAN e Livre.

Mas o PCP não ficou sozinho: foi acompanhado no voto contra pelo Bloco de Esquerda, que desta vez deixou cair a máscara. 

 

«A história da NATO é uma história de guerra e da agressão contra os povos», bradou a deputada bloquista Joana Mortágua. Falando, também ela, como se Portugal não integrasse esta organização. E fazendo coro natural com Mariana Mortágua, sua irmã gémea e parceira de bancada parlamentar.

Lembro que em Fevereiro, na SIC-N, Mariana rendeu-se de tal maneira às posições russas que chegou a justificar a iminente agressão à Ucrânia, ainda antes de se consumar, porque Putin estaria a «sentir o seu espaço vital a ser ameaçado» - argumento similar ao das hordas nazis na invasão da Polónia que originou a II Guerra Mundial.

A posterior retórica desalinhada do BE foi meramente táctica, como a votação de ontem confirmou. No momento da verdade, comunistas e bloquistas convergiram no chocante desrespeito pela autodeterminação da Finlândia e da Suécia.

Gostaria de saber como reagiriam se deputados destes países, adoptando a mesma lógica, colidissem com decisões soberanas do parlamento português.

A aceitabilidade vigente

jpt, 01.03.22

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Face ao que se passa na Ucrânia dir-se-ia secundário atentar no que algumas figuras proeminentes de pequenos partidos portugueses têm proclamado a esse respeito. Mas será importante entender (até "para mais tarde recordar") o que vêm dizendo, tão demonstrativas são essas declarações das mundividências que têm e dos anseios políticos que perseguem. Não para estabelecer postulados meramente moralistas mas para sublinhar a sua fobia à democraticidade, que transparece nas suas manipulações da História, e a qual convém explicitar até pela sua influente presença na comunicação social (televisão e jornais ditos "de referência") - muitíssimo maior do que o efectivo peso eleitoral dos actuais partidos comunistas -, na qual promovem uma chã propaganda falsificacionista. Mas também para sublinhar a absurda ausência de crivo crítico sobre as aleivosias que vão botando, embrulhada numa carnavalesca máscara dita "diálogo democrático" mas que nada mais é do que colaboracionismo.

Esta incompetente colaboração com os locutores destas aleivosias chegou agora a um ponto quase inacreditável. Na sequência da invasão russa da Ucrânia o secretário-geral do PCP criticou Putin, reclamando - em declarações tornadas oficiais pelo seu partido - o respeito pela "notável solução que a União Soviética encontrou para a questão das nacionalidades e o respeito pelos povos e suas culturas". Sabia-se que a ex-deputada Rita Rato - à qual a estrutura do PCP fez herdar a direcção de um museu estatal - desconhecia o tema "Gulag". E que o ex-deputado tatuado Miguel Tiago é um negacionista do Holodomor. E todas essas ignomínias intelectuais são acolhidas como meras idiossincrasias dos comunistas locais. Mas temos agora o desplante total do PCP e do seu secretário-geral, de um vil negacionismo anunciando como "notável" (no sentido de "virtuosa") a política soviética face às "nacionalidades" (muitas vezes ditas "minorias étnicas).

E proclamam uma aleivosia destas, sem rebuço, 66 anos depois do XX Congresso do PCUS, 30 anos após a queda da URSS. Sabendo-se bem os dramáticos atropelos feitos às populações daquele país (ver p. ex. aqui um rol dessas acções de perseguição a "nacionalidades", sendo que existe vasta literatura historiográfica sobre este assunto. E sobre o genocídio na Ucrânia ver, para seguir bibliografia portuguesa, este estudo). E é esta falsificação da História que o PCP e os seus dirigentes continuam a promover, apoiados por militantes e simpatizantes mais ou  menos intelectualizados, essa "parada de idiotas úteis" como bem os define Paulo Batista Ramos, sempre acolhidos no "jornalismo de referência" - como nota o Pedro Correia, exemplificando com o "Público" de hoje, jornal cuja activíssima célula "decolonial" se esquece de atentar numa barbárie destas.

A placidez da recepção a esta proclamação negacionista é tão absurda que me parece necessário um contrafactual para a explicitar, desnormalizando-a. Imagine-se que o partido CHEGA ou o seu presidente Ventura, sobre os quais se exige uma "cerca sanitária", desencadeia proclamações basto elogiosas sobre o colonialismo em África - não será assim tão descabido esperar isso pois lembro-me que, in illo tempore, no do frenético bloguismo "liberal", o prof. Arroja clamava que os escravos africanos levados para América tinham com isso beneficiado, pois passando a gozar de melhores e mais longas vidas, argumento muito a la XVIII e até inícios de XIX... Fujamos ao nosso colonialismo, sempre temática sensível. Imaginemos que, por algum motivo, a liderança do CHEGA elogia o "notável" regime colonial na Namíbia ou as "notáveis" virtudes civilizatórias da Bélgica de Leopoldo no Congo

Que então se diria, entre aqueles para cá da "cerca sanitária", sobre essa abjecta falsificação da História? Louvaríamos (seguindo o ror de elogios que recobriu o sec.-geral Sousa aquando do seu recente problema de saúde) a "face granítica" de "homem honrado", "simples", "franco", "simpático", "empenhado", "humilde" do locutor dessas aleivosias colonialistas? Com toda a certeza que não, e decerto que cairia o Carmo e a Trindade entre os entusiásticos "decoloniais". Então a que propósito é que se aceita com simpatia esta comunista falsificação, ainda por cima sobre assuntos similares que nos são historicamente mais próximos e que, evidentemente, se estão a refractar na actual crise europeia?

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Mas estes quadros mentais não se esgotam no PCP. Há dias vi um excerto televisivo no qual a deputada Mariana Mortágua algo sumarizava as causas desta crise ao invectivar o governo ucraniano de "corrupto" e "neonazi" - sendo que este é um tópico recorrente, e lembro que já há três anos o activista anti-discriminações Ba reduzia os ucranianos a nazis, ante o silêncio das hostes identitaristas, quantas outras vezes mui especiosas em questões de epítetos... -, reproduzindo qual um desses "idiotas úteis" a propaganda moscovita. E ao falar sobre o assunto logo amigo mais atento me recomendou a audição deste programa Linhas Vermelhas

Convém ouvir - e até bastarão os primeiros cinco minutos. Em primeiro lugar, e num plano mais geral, é um espantoso exemplo desta perversão normalizada na imprensa portuguesa, a atribuição aos políticos do papel de animadores/comentadores. Ou seja, o primado da reflexão sobre as realidades actuais não é destinado a jornalistas, a investigadores, a profissionais especialistas, a académicos, a membros das associações da sociedade civil, etc. Mas sim aos políticos. Isso é uma dupla perversão: se quantas vezes nos queixamos da falta de qualidade da "classe" política como é possível que isso não se reflicta na pobreza da análise generalista que os políticos trazem? E é evidente que os políticos em actividade têm uma análise do real em função das agendas partidárias, o que ainda mais a empobrece, por defeito de enviesamento e, quantas vezes, de autocensura.

E estes breves minutos iniciais são disso exemplo paradigmático. Nas vésperas da invasão russa Mortágua nega a possibilidade dessa ocorrência, atribuindo os alvitres dessa possibilidade a mera propaganda ocidental e aos discursos de alguns líderes (Biden, Johnson) - tamanho o seu aprisionamento a um visão anti-"ocidental", de facto avessa às democracias liberais. O vigor das suas certezas ali proclamadas são um evidente, enorme e até acabrunhante sinal de incompetência para aquela mera tarefa de "comentário político" sobre a actualidade internacional. Mortágua torna-se ali ridícula. Mas não será decerto por isso afastada daquele palanque de propaganda político-partidária. 

Mas muito mais relevante do que isso é o conteúdo da sua argumentação. Critica Putin e seus anseios. Mas algo justifica a sua política devido a uma contextualização (a la carte) do processo daquela região, uma típica historicização que se pretende legitimadora. Invoca a condição "humilhada" da Rússia e a sua necessidade de um "Espaço Vital". Isto é tão boçal que custa a crer - pois é a pura  recuperação do argumentário da Alemanha nazi, a questão da "humilhação" com o tratado de Versailles e a necessidade de abranger um Espaço Vital (a apropriação nazi do Lebensraum de Ratzel). Chegámos a isto, em Mortágua a repulsa pelas imperfeitas democracias liberais é tamanha que "compreende" o seu agressor imediato através de termos, ideais, com esta genealogia. E temos então a tão "respeitada" e tão "competente" deputada da "esquerda" tão "identitarista" (e nisso "multicultural") a valorizar a necessidade do Lebensraum...

Enfim, há anos tanto se gozou quando Cavaco Silva trocou Mann por Morus, tal como quando Santana Lopes se atrapalhou com Chopin, anódinas asneiritas. E agora a camarada Mortágua avança o Lebensraum contra os norte-americanos e a União Europeia? E a atoarda passa incólume. E ainda bem que não é apanhada como dislate, até aparvalhado. Pois não é apenas isso, mas sim denotativa da malvadez da deputada, dos seus perversos desígnios políticos.

Uma manifestação diante da embaixada russa

jpt, 28.02.22

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Ontem houve uma manifestação em Lisboa diante da embaixada russa, convocada por seis partidos e que congregou gente variada - nisso incluindo ucranianos (e não só) residentes, que haviam estado numa outra manifestação no Terreiro do Paço.
 
Lá fui, acompanhando alguns velhos amigos - todos nós com parco historial nestas demonstrações. Ao fim de umas duas horas retirei-me, já algo exaurido com tamanha actividade física. E nessa via, ali à Rovisco Pais, na rectaguarda dos manifestantes, deparei-me com este núcleo do BE (que recordo através de foto encontrada em mural alheio), uma rapaziada de aspecto juvenil-rebelde polvilhada de um punhado de velhotes barbudos e vestes descuidadas, tal e qual eu (só que mais carecas).
 
Ao vê-los sorri, num murmurado "olha, estes afinal vieram!" - pois o BE não se associara à manifestação, porventura porque uma Mortágua já sumarizara a posição do partido: é duvidoso que o governo ucraniano tenha apoio popular, está cheio de neonazis e é corrupto, deixando assim implícito que será descabido o suporte a uma autonomia soberana que o sustente. Mas ainda assim, e pelos vistos in extremis, os activistas do BE lá avançaram, pintalgaram um pano com um símbolo do partido com as cores da bandeira dos tais neonazis, e uns dizeres alusivos.
 
Nas cercanias do tal destacamento encontrei uma queridíssima amiga, a qual não via há alguns meses (vale a pena ir às manifestações, comprovei isso). Logo ficámos de conversa, projectando o nosso futuro comum. E nesse sorridente entretanto melhor atentei nos tais dizeres bloquísticos, ali nada ondulantes na calmaria.
 
E logo me ocorreu que quando daqui a algum tempo, mais ano ou menos ano, os EUA voltarem a pôr a tropa na poça, estes hipócritas comunistóides sairão à rua, convocando eles próprias as manifestações e abancarão na primeira fila com dísticos de "abaixo o imperalismo". Sem sentirem a urgência de a este pluralizar nem de aludir a outras malevolências...

Da estupidez na política

Pedro Correia, 04.02.22

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Foto: Leonardo Negrão / Global Imagens

 

Quem pôs fim à geringonça foi primeiro o BE, ainda em 2019, e depois o PCP, a reboque do anterior.

Ambos chumbaram o Orçamento do Estado para 2022, aliados a todas as direitas. Enquanto diziam demonizar o Chega, juntavam os votos a esse partido.

Sabiam todos, por terem sido avisados, que esse chumbo - inédito na democracia portuguesa - conduziria o País a eleições antecipadas.

Não quiseram saber: embarcaram num voo cego ao abismo.

 

O PS engordou nas urnas - passando da maioria relativa à maioria absoluta.

O Chega multiplicou por 12 o número de deputados.

A bancada do PCP ficou reduzida a metade e perdeu o próprio líder parlamentar, excluído pelos eleitores.

O BE viu partir 79% dos deputados: tinha 19, ficou apenas com cinco.

 

Bloquistas e comunistas estavam à beira do precipício. Deram um passo em frente. Confirmando o aforismo de Einstein: «Duas coisas são infinitas - o universo e a estupidez humana.»

Costa, sorridente, agradece. E Ventura também.

Ainda os insultos a Ferro Rodrigues

jpt, 23.09.21

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(Homem com altifalante, Correio da Manhã, 10 de Agosto de 2014)

Levantou celeuma o episódio dos recentes insultos a Ferro Rodrigues proferidos - enquanto o Presidente da Assembleia da República almoçava com família e próximos colaboradores - por um grupo de adversários das vacinas contra o COVID-19. Li e ouvi vários exigindo averiguações e processos jurídicos contra os manifestantes. Muitos negaram - como se nisso agravando a situação - o carácter espontâneo afirmando-lhe dimensão organizada e até tutelada. E foi notório que vários implicitaram ou explicitaram ser aquilo o "ovo da serpente", um ataque inaudito à democracia. Nisso exigindo-se um procedimento criminal. Ouvi mesmo, num programa de produção de opinião política, a secretária-geral adjunta do PS e dois antigos dirigentes do PSD e do CDS clamarem por um processo contra os manifestantes, afirmando um "crime público" e até criticando, ainda que moderadamente, Ferro Rodrigues por não ter apresentado queixa.

Sobre isso aqui botei o "Mulher com Altifalante", recordando processos similares ocorridos há meia dúzia de anos, e que não vêm sendo considerados pelos produtores de opinião como o primeiro passo na escalada para o fascismo. E li ontem um texto muito interessante, muito informado, de Carlos Guimarães Pinto: "Lágrimas de Blocodilo". É uma memória preciosa, até porque explicita fenómenos similares aos que aconteceram agora com Ferro Rodrigues mas com implicações políticas muitíssimo maiores.

Transcrevo um excerto: "Insultar ou ameaçar durante uma visita oficial ou atividade política já é condenável, mas fazê-lo enquanto a pessoa está num momento da sua esfera privada é muito mais grave porque rouba à pessoa o direito a ser mais do que político. Reprimir esse direito é uma forma desumana e antidemocrática de condicionar a ação política.

Este caso fez-me lembrar outro já com nove anos. Passos Coelho saía de casa com a sua mulher e filha de cinco anos quando um grupo de pessoas que o esperava à porta de casa se aproximou deles para o insultar. Chamavam-lhe assassino por causa das portagens na Via do Infante (que estariam a causar acidentes mortais na EN125). A filha, assustada pelos insultos, começou a chorar. Tal como no caso de Ferro Rodrigues, a segurança pessoal evitou males maiores. Nessa altura, poucas vozes se levantaram à Esquerda para condenar o sucedido. Pelo contrário, no ano seguinte o BE publicitou um novo protesto à porta da casa de Passos Coelho. O responsável pela organização do protesto acabaria eleito deputado pelo BE. A intrusão violenta na esfera privada não só não foi condenada como foi institucionalizada, incentivada diretamente por um partido e o seu organizador promovido dentro desse partido. Nessa altura acharam que valia a pena insultar e intimidar um pai que levava a sua filha à praia por causa de uma portagem. O organizador tornou-se deputado em 2015, aprovou vários orçamentos, mas a portagem continua a existir. Não se lhe conhecem protestos junto à casa de férias de Costa a chamar-lhe assassino por manter a portagem."

O texto peca por não nomear o indivíduo a que alude - o que é nítido eco de um traço cultural português, o de elidir o "nome dos bois". Eu não me lembrava destes episódios, naquela época vivia no estrangeiro e ter-me-ão escapado. Por isso fui agora procurar informações sobre o assunto. E pelo que percebi o putativo organizador dessas arruadas insultuosas, depois elevado a deputado, chama-se João Vasconcelos. Será ele um agente do fascismo? Têm a palavra os indignados.

O dinheiro não cai do céu

Paulo Sousa, 26.05.21

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O sentido deste provérbio popular, que explica que sem trabalho não se consegue nada, foi desonestamente deturpado na última campanha do BE. Assim, este partido da esquerda aburguesada pretende defender a criminalização do enriquecimento ilícito. Até aí tudo bem, mas em vez de meter a foice em seara alheia, que é como quem diz, em vez de deixar os provérbios populares para o seu Mestre Jedi, o camarada Jerónimo, devia apostar naquilo em que os seus criativos são bons, e que é em produzir soundbites sonantes, e isto não é soundbite sonante, mas apenas um provérbio corrompido.

Nesta infeliz campanha, de forma a transmitir que por de trás do dinheiro há sempre ilicitude, o BE faz por ignorar a possibilidade de se ter dinheiro como resultado de trabalho, esforço ou talento. Esta é a forma enviesada como vêem o mundo.

Este provérbio seria uma óptima resposta a muitas das medidas que defendem e que se encaixam na velha política de querer acabar com os ricos. Quisessem antes acabar com os pobres e não teríamos um quinto da nossa população abaixo do limiar da pobreza, nem aceitaríamos que um terço dos pobres tenha trabalho regular. E tudo por não se querer olhar para o que é bem feito noutras paragens, onde o dinheiro também não cai do céu, mas as políticas públicas permitem que a riqueza cresça e quando o bolo é maior há mais para dividir.

Assim, governados por esta visão deturpada, faz-se por ignorar que para demasiados portugueses a prosperidade só é possível pela emigração.

Discurso de ódio

Paulo Sousa, 22.11.20

Já por várias vezes me referi aqui ao Dr. Ventura como tendo um discurso javardo.

Já entendemos que o método dele passa por se armar em corajoso descarregando uma atoarda para no dia seguinte dizer algo muito mais contido, piscando assim o olho aos descontentes não javardos. Desta forma procura angariar simpatias a estes dois segmentos do eleitorado simultaneamente .

Não quero fazer análise política para desatar a fazer as contas a quem dá jeito ter um "javardo de serviço" no espaço público, mas basta ver a atenção que o poder lhe dá para ser fácil concluir que cada minuto que se fala das javardices do líder one men show do Chega é um minuto a menos que se fala do destrambelhamento com que se tem lidado com a chegada deste vírus diabólico.

Mas é o discurso de ódio que hoje me faz aqui escrever. Até que ponto podemos ficar indiferentes a uma figura pública que em discurso dirigido a quem o queira ouvir, venha apelar à morte de outros cidadãos, especificando que o critério de escolha se baseia na cor da pele?

Se dizer “Nós temos é de matar o homem branco” não é discurso de ódio, então não existirá discurso de ódio. É fácil de concluir que esta linguagem ultrapassa claramente o discurso javardo do Chega e fico a aguardar que alguém no espaço público tome uma posição sobre estas declarações do Sr. Mamadou.

A superioridade moral dos "pós-marxistas"

jpt, 20.11.20

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A monumental cacetada televisiva que Sérgio Sousa Pinto decidiu dar em Rui Tavares, antigo deputado do Bloco de Esquerda e agora líder do "Livre" - aquele partido que o advogado Sá Fernandes, ex-candidato do MDP/CDE, reclamou como o primeiro partido de esquerda que "não vem do marxismo" (qu'isto não há limites ...) - tem dado para rir, em particular pela sonsice patenteada por Tavares (ver o curto filme abaixo). Sobre isso do agora Livre, do BE e do PCP terem sido dirigidos no Parlamento Europeu por um consabido antigo informador da STASI, a temível polícia política da RDA, bem esmiuça Rui Rocha.

 

(Intervenção de Sérgio Sousa Pinto no "Grande Debate", 17.11.2020, RTP)

Mas ainda que a tal sonsice tavaresca tão mostrada possa irritar convém não esquecer uma outra coisa. É que a candidata presidencial Matias também faz parte deste pacote. Pois também ela se perfilou num grupo parlamentar capitaneado por um consabido esbirro. É, decerto, um excelente cartão de visita eleitoral.

Enfim, sobre as sempre reclamadas superioridades morais está tudo dito ...

O regresso da ideologia

Paulo Sousa, 24.09.20

A chegada da IL ao hemiciclo permitiu o regresso do saudável e saudoso debate ideológico ao espaço público.

Durante demasiado tempo, sempre que dois políticos se encontravam à frente das câmaras de uma televisão discutiam apenas a espuma do dia. Fora disso, o melhor que conseguiam era garantir que conseguiriam vedar as sempre incontinentes contas públicas, o que nunca foi mais de que uma redonda mentira.

Como já foi aqui referido pelo nosso colega José Meireles Graça, há poucos dias na SIC Notícias debateu-se a proposta da IL para a adopção de uma taxa única de IRS. Além da proposta em si havia como pano de fundo as declarações proferidas pelo Dr. Anacleto no seu programa da SIC. O deputado da IL, João Cotrim Figueiredo, acusou-o nas redes sociais de ter mentido e deturpado o conteúdo da proposta de flat rate. Esse foi o tema de arranque do debate. No decorrer da troca de argumentos o deputado bloquista enredou-se nas suas fintas semânticas e, provavelmente sem dar por isso, confirmou a mentira do seu chefe. Nada de novo para um conselheiro do Estado Português.

Olhando com atenção, dá para apreciar ainda a forma como o jovem delfim de Louçã afirma que esta proposta não é esta proposta, porque 'eu é que sei bem o que lhe vai na alma'. Esta é uma técnica que consiste na recusa do debate e avança para o julgamento moral. É populismo mas do bom. Se fosse usado pela direita seria asqueroso.

Eu, que gosto de enquadramentos históricos, gostaria de lembrar ao mano mais novo do Daniel Oliveira (aquele que faz rir) que nesta conversa ele assumiu a defesa da situação, ou seja, a defesa de um sistema fiscal que lhe permita (sem óculos escuros ele não consegue esconder a chispa) acabar com os ricos, mas que na prática nos empobrece a todos.

Já aqui referi que os partidos da esquerda unidos à volta do OE, constituem as forças conservadoras da actualidade. O BE e o PCP, os acólitos do PS, são tão coerentes como um apenas um revolucionário conservador poderá ser. Admito que tenham consciência do ridiculo, mas não conseguem resistir a uns biscoitos de reforço positivo.

Os irrecuperáveis vinte anos de estagnação económica, que marcarão estes anos da nossa vida, estão ligados a este modo de esmifrar a riqueza produzida pelos portugueses.

Li não sei onde que o debate político deverá trazer sempre à liça o passado, o presente e o futuro. Estes três diferentes tempos não deverão ter sempre o mesmo peso nas decisões, mas nenhum deverá ser humilhado. Os socialistas que há décadas nos governam são uns amantes obsessivos do presente. Eles desprezam o passado e odeiam o futuro. De facto, eles são os inimigos do futuro. Para os socialistas, em troca do poder imediato não existe nenhuma questão de princípio que não seja negociável. Manter o poder é a sua ideologia. É o seu alfa e o omega. Por ele, tudo.