Telmo Azevedo Fernandes, um dos fundadores de uma (cada vez menos) discreta organização, de nome Oficina da Liberdade, escreveu há dias o seguinte:
A LUSA diz que vai nascer um jornal digital "Setenta e Quatro", dedicado à investigação, que quer contribuir para reforço da democracia. Esqueceu-se de dizer que o respectivo director é afiliado do Bloco de Esquerda e, dos dois proprietários, um é deputado do BE e o outro a advogada que entregou na PGR uma longa fundamentação a pedir a ilegalização do Chega por revelar uma ideologia racista e fascista.
Pensei até que houvesse incompatibilidade entre a função de deputado e de accionista de um jornal...
Em todo o caso, fica abaixo transcrição dos princípios da entidade proprietária do jornal e foto de um dos accionistas etc. etc.
Lendo o resto, percebe-se que é mais uma folha de couve para a difusão do ideário lunático/gramsciano/troca-tintas do conselheiro frei Anacleto Louçã e sus muchachos. E como o vegetal é neste caso virtual, e supondo que não vai pagar os conteúdos, tratar-se-ia na realidade de um blogue.
Achei isto reconfortante: a ideia de que a blogosfera esteja decadente, suplantada pelas redes dos palpites sumários, em particular o esgoto a céu aberto que é o Twitter, desconsola; e se aos blogues se começar a chamar jornais on-line, nada a opor.
Por mim o assunto ficava por aqui, e nem retive o nome da coisa – com o Aventar, o Entre as Brumas da Memória e alguns poucos blogues mais, a que somo ocasionalmente as colunas de magistrados da opinião esquerdista como o meu estimado Daniel Oliveira, e outros não tão bem atamancados, já estou servido da minha dose hebdomadária de demagogias e demências sortidas, para mascar.
Porém, um amigo exilado com quem falo esporadicamente referiu de passagem o tal jornal, comentando: “Cheira-me que vai ser polígrafo 3”.
O amigo em questão interessa-se tanto ou mais do que eu pela terra que lhe deu o ser, mas não (ainda?) o estatuto que lhe convém pela formação e história de vida, e tem o cinismo (ele diria decerto, e infelizmente com razão, realismo) que às vezes me falta. De modo que arrebitei a orelha, sobretudo quando acrescentou “mas eu na tal carta digital vi menos censura e mais negócio. Criar uma linha bazuca para financiar ‘inovação’ na CS…”
Já escrevi sobre isso. E não me escapou a parte da propaganda bazuquiana sobre o investimento na comunicação social, mas não fiz a ligação. Fez ele: “O objetivo é esse. Impresa já la está. Agora venham mais uns amigos. Vamos ver quanto chove”.
Previsões meteorológicas, já se sabe, não são de fiar. Esta, porém, quer-me parecer que é absolutamente segura.
P.S.: Entretanto, o tal pasquim já tem site. Confere.