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Delito de Opinião

Bárbara escrava

Rui Rocha, 26.10.13

Ouvi contar, já não sei onde nem a quem, a história de uma mulher que saía todos os dias de casa para dar um passeio de táxi pelas ruas mais movimentadas de uma certa cidade. Ao taxista, sempre o mesmo quando não calhava estar estar de férias ou impedido por qualquer moléstia, afazer ou indisposição, caso em que ele próprio assegurava a substituição, pedia que circulasse devagar. Impondo calma à urgência do trânsito. Enquanto a viatura se distraía do ritmo urbano, a mulher, em pose majestática, sorria para todos os transeuntes, acenando-lhes com a mão aberta em suaves movimentos, tão laterais quanto abrangentes. Nos cerca de 30 minutos que durava cada viagem, mantinha-se em silêncio. Mas nunca parava de sorrir e de acenar, perante o espanto ou a indiferença daqueles com quem se cruzavam. No final da corrida, chamemos-lhe assim ainda que saibamos já que dificilmente a designação ficará bem a um percurso feito a tão baixa velocidade, pagava e regressava à sua casa real, modesta e frugal, levando para lá da porta a sua pose impassível, alheia a tudo. Dirão que esta é, obviamente, a crónica de uma falsa majestade. Respondo que o ponto essencial não é esse. Realmente, a pergunta a fazer  é aquela sobre a existência de verdadeiras histórias de princesas.