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Delito de Opinião

Discordâncias perigosas

João Pedro Pimenta, 16.05.24

Do que conheço, não tenho qualquer boa impressão de Robert Fico, uma espécie de Orbán de esquerda e putinófilo confesso. Espero obviamente que sobreviva ao atentado à bala, coisa que tudo indica que vá acontecer, porque isto de disparar sobre governantes não é lá grande método de os tirar do poder (e crime é crime, seja lá contra quem for). Para mais, o atirador confessa que disparou contra Fico por "discordar dele", um argumento muito abalável e digno desta época de discussões desbocadas e intolerantes nas redes sociais. Parece que é membro de grupos literários, o que altera de forma perigosa a máxima de José Mário Branco "a cantiga (neste caso a literatura) é uma arma"

Mas, e já sabendo que Fico fica mesmo entre nós, há uma certa ironia nisto tudo: é que um seu anterior governo caiu em 2018 precisamente por ligações perigosas ao assassínio de um jornalista de investigação e da sua noiva e as coisas nunca ficaram completamente claras, uma coisa chocante mesmo em democracias algo imaturas e a tender para o iliberal. Obviamente que o jornalista discordava do governo. Discordar tem vindo a ser uma coisa perigosa na Eslováquia dos nossos dias.

O Sri Lanka e o estado do Ocidente

jpt, 22.04.19

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Não há muito para dizer sobre os terríveis atentados no Sri Lanka que a imprensa não tenha já relatado (ou venha a relatar, acontecida que foi há pouco outra explosão) - talvez lembrar que nos últimos dias houve um ataque do ISIS no Congo, e que a "insurgência" islamita em Moçambique se vai disseminando para sul. Entre tantos outros países onde formas super-agressivas de islamismo político se vão disseminando, isto para além das habituais formas de ditaduras políticas e intolerância sociocultural - os militantes "activistas" e "identitaristas", bem como os Estados europeus, são completamente excêntricos ao autoritarismo religioso do Islão, patente nas formas inaceitáveis de tratamento da apostasia e de perseguição dos ateus, bem como da perseguição e discriminação de minorias religiosas. Tanto nos países de maioria muçulmana como nas práticas das populações muçulmanas residentes na União Europeia "dos direitos humanos". Alguém se interroga sobre como actuam os líderes religiosos muçulmanos em Portugal (e na UE) face aos que querem abandonar a sua religião, como pregam sobre o assunto, que pedagogia da tolerância praticam, que modalidades institucionais instauram? De facto, a liberdade de culto, um dos valores fundamentais conquistados na Europa é posta em causa no interior de núcleos crescentes da população sem que isso seja apontado pela maioria dos intelectuais dos países europeus (algemados aos pós-marxismo identitarista) e sob o silêncio (timorato) dos Estados. 

Um dos grandes problemas é o do negacionismo do processo em curso. Trata-se de uma "guerra civil" islâmica, uma "guerra santa" endógena, uma enorme conflitualidade interna ao islamismo, uma religião política por excelência, talvez a mais política de todas, promovida pela desvairada violência do "integrismo", querendo esmagar (converter ou exterminar) outras correntes. Aquilo  que é um "ur-fascismo", para usar a problemática definição de Umberto Eco. Mas também, concomitantemente, de uma "guerra santa" contra os cristãos (e também contra os hindús, mas mais calma em termos de atentados ainda que a conflitualidade latente entre Índia e Paquistão não augure nada de bom neste domínio). É tendencialmente uma guerra universal, inegociável, pois os "integristas" tudo querem, não há como negociar.

Nesse âmbito temos o supremo problema de que o "ocidente", ao confundir democracia com "multiculturalismo" - versão secularismo, à qual em Portugal Rebelo de Sousa deu carta de corso logo que tomou posse, diante do silêncio ignorante e estuporado da classe intelectual e dos políticos (dos jornalistas já nem se fala) - não coloca o problema tal e qual ele existe. Começa isso por não o nomear, em requebros e meneios que são verdadeiramente suicidários. O exemplo do dia, tonitruante por vir de quem vem, é a forma como Obama e Clinton se referiram às vítimas dos horríveis atentados no Sri Lanka. Repare-se bem nisto: se há um mês o desgraçado morticínio numa mesquita neo-zelandesa foi enunciado pelo ex-presidente americano como uma agressão à "comunidade islâmica" (e não aos "Adoradores do Profeta" ou aos "Adoradores do Pedregulho"), agora os atentados são por ele (e pela sua ex-vice) considerados como atingindo os "Adoradores da Páscoa" (e não a "comunidade cristã"). Nesta vergonhosa pantomina retórica reina o substrato negacionismo, o propósito de não identificar, sonoramente e com exactidão, os alvos: os cristãos.

O inimigo é, evidentemente, o ur-fascismo islâmico. Mas é evidente que Obama, e os tantos "Adoradores do Obama", são perigosos. Chamberlains actuais, nada mais do que isso.

Os atentados no Sri Lanka.

Luís Menezes Leitão, 21.04.19

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Visitei o Sri Lanka em 1997. Nessa altura o país vivia imerso num conflito de décadas entre o Governo da maioria budista e o movimento separatista hindu Tigres de Libertação do Tamil Eelam que defendia a criação de um Estado separado “eelam” no território Tamil no Nordeste da Ilha. Por isso as deslocações dos turistas eram feitas sob rigorosas medidas de segurança com detectores de metais em todos os sítios turísticos.

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Apesar disso passei a considerar o Sri Lanka o melhor destino turístico que já visitei. Pode passar-se de uma metrópole magnífica como Colombo a uma cidade tipicamente inglesa na montanha como Nuwara Elyia. Pode fazer-se um safari fotográfico na selva ou subir às ruínas históricas de Sigiryia no alto da montanha. E pode-se ver a herança portuguesa em Galle no litoral.

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No Sri Lanka o Islamismo e o Cristianismo são religiões sem grande representação. Alguma coisa muito séria se passa por isso quando existe um ataque desta ordem por parte de um movimento islâmico ao cristianismo neste país. Assiste-se hoje a uma escalada preocupante nos conflitos religiosos a que urge pôr termo.

Mais inseguros e menos livres

Pedro Correia, 11.09.17

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Dezasseis anos depois, a tragédia continua.

Pelo menos mil pessoas já morreram por efeitos secundários dos atentados, nomeadamente a inalação de poeiras e cinzas tóxicas. Outras duas mil terão provavelmente idêntico destino num prazo máximo de cinco anos. E só 1641 despojos mortais das 2753 pessoas assassinadas a 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque foram devidamente identificados: cerca de 40% dos cadáveres nunca foram resgatados.

 

Foi um dia concreto, não uma data abstracta. Por isso quantos o vivemos nos lembramos bem onde estávamos e o que sentimos quanto tudo aconteceu.

Falo por mim: nunca mais conseguirei esquecê-lo. As vidas de muitos de nós mudaram naquela terça-feira. Todos recordamos as emoções que nos assaltaram, a profunda angústia ao observar aquelas imagens terríficas, a impotência perante o terror.

Os atentados quase simultâneos nas Torres Gémeas, no Pentágono e no voo 93 que se despenhou na Pensilvânia tiveram o impacto de uma revolução. Algo de nós ficou ali para sempre, fixado nas imagens daqueles condenados sem remissão.

Cada um deles podia ser qualquer de nós.

 

Depois do 11 de Setembro nada voltou a ser como dantes. É uma data que traça uma linha fronteiriça na história universal: o terror inscrito nos mais banais gestos do nosso quotidiano. Com alguns direitos fundamentais a cederem contínuo terreno de então para cá.

Entre a liberdade e a segurança, a esmagadora maioria das pessoas prefere hoje a segurança. Compreende-se, de algum modo: é o instinto de preservação da espécie a funcionar.

Mas ficámos com o pior de dois mundos: nos últimos dezasseis anos tornámo-nos muito mais inseguros e muito menos livres.

Não acertam uma (actualizado)

Pedro Correia, 19.08.17

Mais um atentado.

Luís Menezes Leitão, 26.07.16

Hoje foi mais um atentado, agora em Rouen, em relação a um padre que rezava a missa, e que foi degolado por assaltantes pertencentes ao Estado Islâmico, em frente aos seus fiéis. Um acto de barbárie e ódio só comparável aos tempos do nazismo. Mas pelos vistos na Europa vai tudo continuar em estado de negação. Até quando os dirigentes europeus persistirão em ignorar que a Europa vive uma verdadeira guerra religiosa, declarada por fanáticos, que não hesitarão em combater até á morte contra os valores europeus? Ontem as pessoas em França tinham medo de ir a espectáculos públicos. Hoje passaram a ter medo de entrar numa igreja. Lentamente o Estado Islâmico vai destruindo a Europa, perante a complacência dos governantes europeus.

O horror em Nice.

Luís Menezes Leitão, 15.07.16

Há uma diferença muita clara entre os Estados Unidos e a Europa no que respeita aos atentados no seu território. Os Estados Unidos sempre entenderam que o ataque no 11 de Setembro foi um acto de guerra, a que teriam que responder pela mesma forma. E a verdade é que conseguiram controlar ataques posteriores no seu território. Já na Europa insiste-se em ver as situações como meros atentados terroristas, que por isso se vão sucessivamente repetindo.

 

Os ataques em Paris, Bruxelas e Nice são verdadeiros actos de guerra e é nesse sentido que têm de ser encarados. A escolha de Nice para ser alvo de um atentado no 14 de Julho não é inocente. Exprime o ódio dos autores do atentado à Nação Francesa e ao seu dia nacional. E escolhe para atacar não apenas uma zona turística importantíssima na Riviera Francesa, mas especialmente o território que mais recentemente pertence à França. Nice só é território francês desde 1860, sendo que antes era pertença do Reino da Sardenha. O ataque a Nice simboliza assim um ataque ao Estado francês e às suas fronteiras actuais.

 

Há muito que se sabe que esta gente quer destruir os Estados europeus, que consideram inimigos do Califado que pretendem instalar em território europeu. Mas a Europa não parece ter consciência do perigo que a ameaça. Ainda há dias Hollande falava em levantar o estado de emergência em França, que agora se viu forçado a prorrogar. Enquanto não se reagir militarmente contra estes fanáticos, terminando de vez com o Estado Islâmico, os atentados terroristas continuarão a multiplicar-se em solo europeu.

A Europa derrotada (2).

Luís Menezes Leitão, 28.03.16

Este post do João André demonstra bem o estado em que a Europa vive. Contra os terroristas, não se combate, informa-se. Para além disso, é preciso tomar "medidas excepcionais", que "não adianta[m] muito", para "tentar transmitir a imagem de se estar a fazer alguma coisa". Quanto ao resto, o que interessa é ir buscar razões. As razões para a explosão não são um bando de criminosos ter-se decidido pura e simplesmente fazer explodir, matando uma série de vítimas inocentes. Não. "As razões para esta explosão se encontram no nosso presente e no nosso passado. Encontram-se nos cruzados de há mil anos e nos modernos (ou pelo menos percebidos como tal) que estupidamente ignoraram o xadrez geopolítico da região. Estão na pobreza de quem sofre todos os dias e na riqueza de quem lhes dá os meios para se irem explodir. Estão em muitos mais pontos que muita gente bastante mais informada e inteligente […] já apontou". 

 

E enquanto a gente bem informada e inteligente discute, o controlo de fronteiras foi reinstituído. Não há problema, pois há sempre o Google Maps. O direito à manifestação também desapareceu. Mas quem é que poderia esperar que a polícia fosse capaz de proteger 100.000 manifestantes, quando "ainda existirão terroristas não identificados, activos e livres"? Não interessa que a população pague impostos para poder dormir descansada. O que interessa é discutir profundamente o problema do terrorismo nas suas raízes milenares. Até lá, vivamos felizes, sequestrados na nossa Europa, sem direito à deslocação ou à manifestação, devendo mesmo permanecer fechados nas nossas casas. Tout va bien dans le meilleur des mondes.

A Europa derrotada.

Luís Menezes Leitão, 27.03.16

Nesta crónica, Alberto Gonçalves está cheio de razão. Neste momento, trava-se uma guerra contra a Europa e a Europa já a perdeu. O Estado Islâmico pode estar a recuar na Síria, devido ao apoio de Putin a Assad, mas mantém a Europa refém de qualquer atentado, como se viu em Paris e em Bruxelas. E os cidadãos europeus mostram-se incapazes de qualquer resistência. Mesmo uma simples marcha contra o medo em Bruxelas é proibida pelas autoridades do país, para convencer os cidadãos que devem ter é medo e esconder-se em casa. Um simples jogo de futebol, que deveria ter lugar em Bruxelas, é transferido para Leiria, talvez o sítio mais seguro que se conseguiu encontrar no continente europeu.

 

Mas perante esta captura da mais elementar liberdade dos cidadãos europeus, a resposta a que todos assistimos no espaço público é a um discurso desculpabilizador dos atentados e quase sempre culpabilizador do Ocidente. George W. Bush, o petróleo e o capitalismo são os grandes responsáveis pelo surgimento destes terroristas, que de outra forma andariam por aí a cantar loas à harmonia universal. Mas é curioso que, quando se vê os comunicados desta gente, os referenciais são muito mais antigos: há um sonho de restauração do califado e um ódio às cruzadas, que ocorreram há mil anos. Na verdade o seu objectivo é apenas fazer a Europa recuar mais de mil anos. E neste enquadramento, a resposta a que se assiste no espaço público faz lembrar as discussões bizantinas sobre o sexo dos anjos, enquanto Constantinopla era invadida.

A Europa insegura.

Luís Menezes Leitão, 22.03.16

Por razões profissionais viajei para Bruxelas na quinta-feira passada, regressando na sexta-feira. O avião da TAP das 7h05m é extremamente usado por quem tem assuntos a tratar em Bruxelas e é habitual encontrarmos políticos e gente conhecida no avião. A quinta-feira passada não foi excepção. No meu avião viajavam também Passos Coelho e António Vitorino. No aeroporto de Bruxelas ainda encontrei Marinho e Pinto e tivemos tempo para uma breve conversa no aeroporto.

 

Nesse dia havia a cimeira entre a União Europeia e a Turquia e Bruxelas parecia uma cidade em estado de sítio. Logo à saída do avião fomos identificados por funcionários do aeroporto, o que foi a primeira vez que vi acontecer dentro do espaço Schengen (ainda existirá?). No aeroporto encontravam-se soldados sempre de metralhadoras empunhadas. Apanhando um táxi para o centro da cidade, o espectáculo era o mesmo: todos os edifícios públicos estavam guardados por soldados em posição de combate. Uma simples cimeira parecia afinal justificar que uma cidade se preparasse como se fosse para receber a invasão de um exército inimigo.

 

Lá consegui deslocar-me ao sítio da minha reunião de trabalho, apesar de várias ruas estarem cortadas. No regresso ao hotel, tentei apanhar um táxi, mas o motorista convenceu-me a desistir da viagem, dizendo que levaria horas com os engarrafamentos. Optei por isso por ir a pé, apesar de a distância ser enorme. À volta, a cidade parecia habituada a este sistema. As pessoas faziam as suas corridas pela rua, as esplanadas e os restaurantes estavam abertos e a cidade, com a sua magnífica Grand Place, resplandecia ao pôr-do-sol. E permanecia a habitual arrogância dos habitantes flamengos, recusando que na sua capital um estrangeiro se lhes dirigisse em francês. Mas não deixava de se sentir um medo latente nas pessoas, como que esperando um ataque a propósito da cimeira.

 

No dia seguinte à noite regressei a Lisboa, mas estava ainda no aeroporto de Bruxelas quando ouvi a notícia da prisão de Salah Abdeslan, o principal responsável pelos atentados de Paris. Apesar do tom triunfalista do anúncio, que a televisão procurava repetir, não me pareceu que as pessoas tivessem ficado minimamente tranquilas. Pelo contrário, o ambiente que se sentia era de que essa prisão poderia ser apenas um rastilho para novo ataque, como agora se verificou.

 

A principal função de um Estado é proteger e garantir a segurança da sua população. É manifesto que a Europa está a falhar rotundamente nessa função. Neste momento, necessita de pagar à Turquia para recolher os refugiados que todos os dias aqui chegam, e apesar de todos os meios de vigilância que coloca no terreno, não é minimamente capaz de proteger algo tão vital para a segurança das pessoas como o aeroporto e o metro no seu principal centro político. O que mais será preciso acontecer para que a segurança dos europeus seja protegida?

Freedom is not free.

Luís Menezes Leitão, 15.11.15

Hoje a França bombardeou territórios do Estado Islâmico, dando assim uma resposta militar ao que foi um verdadeiro acto de guerra contra civis inocentes. Essa resposta só faz, no entanto, sentido se for para preparar uma invasão terrestre. Por muito que evolua a tecnologia, uma guerra só se ganha colocando tropas no terreno e ocupando o território do inimigo.

 

Neste momento, a guerra é de facto a única defesa possível, perante uma horda de bárbaros, que atacou brutalmente o coração da Europa. E não vale a pena sonhar com uma resposta política ou lamentar estarmos a perder tudo o que tínhamos garantido na Europa. Não é a política que vai paralisar os futuros ataques, a não ser que essa política seja a rendição pura e simples, caso em que, aí sim, perderíamos de facto tudo o que temos. E só temos garantido aquilo que estamos dispostos a defender, por muito que isso nos custe. 

 

Há muito que os americanos sabem isso, que exprimem numa frase que diz tudo: "Freedom is not free". É bom que os europeus também o aprendam.

We will always have Paris.

Luís Menezes Leitão, 14.11.15

Se há cidade que simboliza a civilização europeia e o seu espírito de liberdade, essa cidade é  precisamente Paris, a Cidade-Luz. Há muito que é uma cidade que está no coração de todos os europeus e por ela muitos combateram, até com sacrifício da própria vida.

Nas guerras religiosas francesas, Henrique IV, enquanto chefe protestante, conquistou quase todo o território francês, mas foi-lhe recusada a entrada em Paris, que permanecia como bastião do catolicismo. Para ter Paris, não hesitou em converter-se à religião católica, tendo então pronunciado a célebre frase: "Paris vale bem uma missa" (Paris vaut bien une messe).

Na II Guerra Mundial, a principal humilhação que os alemães causaram aos franceses foi precisamente a conquista de Paris, não hesitando em desfilar junto ao Arco do Triunfo,  ultrage supremo desse símbolo da glória francesa. Quando o exército alemão começou a ser derrotado, Hitler quis destruir Paris, mas o governador alemão, Dietrich von Choltitz não lhe obedeceu, também fascinado pela beleza de cidade. A famosa pergunta de Hitler: "Paris já está a arder?" (Ist Paris verbrannt?) não teve a resposta que ele desejaria.

 

Há muito que acho que o Estado Islâmico está a desafiar todos os fundamentos da civilização europeia, numa barbárie sem precedentes, de que a destruição de Palmira é um triste símbolo. Quando se verifica, porém, um ataque no coração do continente europeu, mesmo na sua mais bela cidade, a resposta só pode ser uma: a guerra. E a mesma é inevitável, já que nenhuma contemporização se admite num caso destes. Como disse Churchill, a propósito da contemporização do governo de Chamberlain com Hitler: "Podiam ter escolhido entre a guerra e a vergonha. Escolheram a vergonha e terão a guerra".

 

Neste momento, os mortos e feridos de Paris exigem que se termine de uma vez por todas com esta situação na Síria, que já causou um número excessivo de mortos e refugiados, e, quer se queira, quer não, para isso são precisos exércitos no terreno. Mas é a civilização europeia que neste momento corre perigo, podendo ter o mesmo destino da civilização romana, caída às mãos de um grupo de bárbaros. E, por muito dura que uma guerra seja, pelo menos que no âmbito dela continue a ser possível a um casal de apaixonados dizer: "We will always have Paris".

Os atentados em Paris e a falência definitiva do argumento da provocação

Rui Rocha, 13.11.15

Os novos atentados em Paris deixam em evidência o erro grosseiro que foi cometido pela generalidade das análises produzidas a propósito do ataque ao Charlie Hebdo. O acto terrorista foi discutido, nessa oportunidade, na óptica da retaliação à provocação dos cartoonistas. Ora, sendo esse o ponto de partida, a discussão estava inquinada desde o início, ainda que se defendesse então que nenhuma provocação justifica uma carnificina como a que ocorreu (e é certo que nem todos assumiram, sequer, essa posição e que alguns encontraram argumentos para responsabilizar as vítimas). A verdade é que o terrorismo, como agora voltamos a constatar, não tem justificação, apenas procura pretextos. Hoje, a pergunta que deve fazer-se perante uma nova carnificina, e que deixa claro o logro argumentativo em que então quase todos incorrreram, é a seguinte: qual a provocação que estas vítimas fizeram aos autores, sejam eles quem forem, dos atentados? Pois é. É por isso que a única posição possível perante este tipo de situações é uma condenação radical, incondicional e absoluta, sem necessidade de quaisquer outras considerações ou argumentos.

11 de setembro, 11 curtas-metragens

Patrícia Reis, 11.09.15

Onze curta-metragens sobre o 11 de setembro de 2001. Danis Tanovic e Ken Loach relacionam a data do atentado a outros acontecimentos. Tanovic lembra-se do dia 11 de julho de 1995, quando ocorreu o massacre em Srebrnica e Loach rememora que Salvador Allende foi deposto do governo chileno em 11 de setembro de 1973. Idrissa Ouedraogo opta por uma comédia reflexiva sobre Burkina Faso. Samira Makhmalbaf mostra uma professora que tenta explicar o ataque a um grupo de crianças. Sean Penn evoca a vida de uma viúva que morava à sombra das duas torres desabadas. Claude Lelouch descreve as reações de vários surdos ao evento ou que testemunharam o evento. Shonei Imamura recorre às memórias japonesas da Segunda Guerra Mundial e Mira Nair mostra os problemas das minorias étnicas. Amos Gitai dá a sua interpretação sobre o papel da mídia em uma informação de significado internacional. Alejandro González Iñárritu apresenta 11 minutos de preces na escuridão, enquanto Youssef Chahine reflete a perspectiva do Oriente Médio.

Depois de Boston, um voto de confiança na humanidade

Rui Rocha, 17.04.13

Boston. Fucking horrible. 

I remember, when 9/11 went down, my reaction was, "Well, I've had it with humanity."

But I was wrong. I don't know what's going to be revealed to be behind all of this mayhem. One human insect or a poisonous mass of broken sociopaths. 

But here's what I DO know. If it's one person or a HUNDRED people, that number is not even a fraction of a fraction of a fraction of a percent of the population on this planet. You watch the videos of the carnage and there are people running TOWARDS the destruction to help out. (Thanks FAKE Gallery founder and owner Paul Kozlowski for pointing this out to me). This is a giant planet and we're lucky to live on it but there are prices and penalties incurred for the daily miracle of existence. One of them is, every once in awhile, the wiring of a tiny sliver of the species gets snarled and they're pointed towards darkness. 

But the vast majority stands against that darkness and, like white blood cells attacking a virus, they dilute and weaken and eventually wash away the evil doers and, more importantly, the damage they wreak. This is beyond religion or creed or nation. We would not be here if humanity were inherently evil. We'd have eaten ourselves alive long ago. 

So when you spot violence, or bigotry, or intolerance or fear or just garden-variety misogyny, hatred or ignorance, just look it in the eye and think, "The good outnumber you, and we always will."

 

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