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Delito de Opinião

Tenham juízo

José Meireles Graça, 11.09.20

Um amigo socialista pouco carregado (isto é, cor de rosa pastel e não choque), há dias ecoava uma colega de profissão que se queixava de que o PS, não obstante o cartaz de progressista, feminista e modernaço, não apoiava uma mulher para a Presidência. E dava-lhe razão, lembrando o descaso a que foi votada Maria de Belém nas últimas eleições, a benefício de uma completa nulidade palavrosa, qualificação minha, como Sampaio da Névoa (não, não grafei mal).

A queixa é sintomática. O mulherio anda nervoso e, se até há pouco se limitava a querer igualdade para níveis semelhantes de competência, agora reclama a obrigatoriedade de quotas em lugares de direcção, para já em empresas públicas e privadas cotadas, salvo erro, depois em grandes privadas e finalmente em todas, que não há cá ninhos. Se forem de esquerda, as queridas não precisam de desculpas, é imperioso impor justiça, igualdade e mais um par de botas até que as empresas fiquem de joelhos, altura em que devem ser salvas pelo Estado, pelo expediente de as nacionalizar. Se forem, ou se dizerem, de direita, há que rapar de um dos estudos – há dúzias – que demonstram, preto no branco, que em havendo mulheres na direcção, e não apenas homens, o desempenho da organização ganha com isso. Claro que, com interesse e recursos, se podem fazer estudos a demonstrar o contrário e até o contrário do contrário – pessoas ingénuas julgam que os estudos se fazem para entender o real, e não para o modificar, e que a distinção entre correlação e causalidade é fácil de estabelecer, ou que essa preocupação sequer existe; e que na escolha dos factores que influenciam um determinado fenómeno se selecionam os mais relevantes.

Elas votam, são maioria, e as pessoas que andam na política, e não simplesmente a comentam, têm as orelhas arrebitadas e o olho arregalado para topar a tendência. E a tendência é essa – mulherio a bem ou a mal, e se o resultado for que apareçam umas cómicas a asneirar, como a querida Jo, nada de mais: cómicos a asneirar é o que nunca faltou.

Depois, já há países onde o apoio à mulher foi mais longe, e onde menos pesam os handicaps daquela condição (maternidade, sobretudo) e as adoradas, donas da liberdade de escolher sem excessiva penalização financeira, fogem de certas profissões tipicamente masculinas e escolhem outras, que não eram para ser, mas afinal são, tipicamente femininas.

Esclareci o meu amigo, ou melhor, a amiga dele, que com justiça não me ligou pevas, que o PS não é misógino, mas nem Maria de Belém nem agora a pasionaria Gomes, de Estremoz, davam garantias ao regedor do PS de não lhe tolherem as mãos. Elas não, mas Marcelo sim. Daí que o PS apoie Marcelo, não venham cá com teorias da conspiração. E, com o coração apertado por ter defendido o PS, fui rezar um Acto de Contrição, e julgo-me absolvido.

Bem bem, temos portanto duas mulheres candidatas, que se dá o caso de serem duas abominações:

Marisa é uma carta batida e rebatida do Bloco, uma agremiação que os comunistas justamente desprezam por ser de revolucionários de pacotilha, e o resto do país, salvo alguns jovens e outros eternamente, por lhe parecer que os dirigentes têm acne, nas trombas ocasionalmente bem giras e nas ideias;

E Ana Gomes, que tem banca montada no negócio do combate à corrupção, que quer combater a golpes de declarações bombásticas, sempre poupando o principal agente facilitador da corrupção no país, que é o Estado omnipresente, e os seus camaradas, que entende terem, como o seu admirado Sócrates, um par de asas nas costas. Isto e causas sortidas, incluindo internacionais, decerto por achar que como usa sapatos de salto não se nota que se está a pôr em bicos de pés.

Restaria, para gente com a cabeça em cima dos ombros, Marcelo e o candidato da IL. E corre por aí uma tese peregrina segundo a qual a vitória de Marcelo é uma vitória da direita porque este, no segundo mandato, vai mostrar as suas credenciais de PPD e pôr o PS em sentido.

Claro que não vai. Para isso seria preciso que não fosse, mas é, um socialista que vai à missa, como Guterres, que aliás diz admirar, Deus lhe perdoe, e que tivesse para o país alguma ideia que vá além do ar do tempo e da preservação da estabilidade, que confunde com a sua popularidade, julgando ambas valores a defender.

Lá popular é – Cristina Ferreira também. E estabilidade tem garantido – a estabilidade da mediocridade que tem feito Portugal deslizar com pertinácia para os últimos lugares do desenvolvimento na UE. Mas o caderno de encargos para um Presidente que fosse eleito pelo Parlamento, com a Geringonça, desenharia Marcelo. Porquê então a maçada de uma eleição directa, e ainda por cima com a possibilidade, mesmo que remota, de a duas voltas?

Sobra o candidato da IL, que ninguém conhece (nem eu, e mais talvez devesse, por ser do Porto e circular em meios que não me são alheios) e precisava, para vencer a falta de notoriedade, de ter uma personalidade espectacular e abrasiva, ou alguma espécie de auctoritas, que julgo não tem. E, voltando ao princípio do post, é homem, que o diabo o carregue.

Então, tiro algum coelho da cartola? Tiro sim senhor, embora dele ninguém se tivesse lembrado e, por razões várias, incluindo o ser tarde, ninguém se vá lembrar.

Assunção Cristas não deixou, como dirigente do CDS, grandes saudades: por falta de consistência em algumas posições, por uma direcção errática, por parte do eleitorado ter dado à sola para o Chega e a IL, e por não ter sabido calçar os sapatos de Portas, que de toda a maneira ficariam sempre apertados ou largos.

Nada que a desqualificasse para fazer uma boa candidatura à Presidência. Não se lembraram decerto, os que a apearam, porque se a achassem muito boa não a tinham apeado, e os outros porque entenderam talvez que a sua derrota era demasiado recente ꟷ e de toda a maneira muitos não a apreciariam excessivamente.

Porém, eles são eles e eu sou eu, que me estou bem nas tintas para uns e outros.

E talvez, senão com toda a certeza, Marcelo seja invencível, como um cantor reles que vende muitos discos.

Mas haverá alguém que, sem ter a alma ancorada à esquerda, ache que Assunção não seria mulher para se medir com uma bloquista com a cabeça cheia das caraminholas da seita, e uma socialista com modos, e opiniões, de justiceira de Freamunde? Tenham juízo.

Fora da caixa (5)

Pedro Correia, 09.09.19

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«O programa do Bloco é social-democrata.»

Catarina Martins, em entrevista ao Observador (2 de Setembro)

 

Não sei o que terá acontecido a ambas. Tão duras, enérgicas e rebarbativas na campanha para as eleições europeias, tão doces, etéreas e cândidas nesta caminhada para as legislativas.

Convenço-me de que as duas se abastecem de sabedoria junto do mesmo tipo de guru. Alguém que lhes sussurra: limem arestas, falem com voz pausada, sorriam muito na pantalha. Mesmo que Rio vos mire com desprezo, mesmo que Costa vos triture com metralhas verbais.

E elas assim fazem: Assunção Cristas, outrora émula da brava Padeira de Aljubarrota, surge-nos com maviosos trinados de rouxinol; Catarina Martins, que já se assemelhou à indomável Maria da Fonte, parece agora estagiar para Madre Teresa de Calcutá.

Os gurus pós-modernos recomendam-lhes: não caiam na tentação do azedume, que provoca inúteis rugas de expressão e afugenta a clientela eleitoral. Pratiquem a castidade ideológica, previnam-se contra tentações radicais. 

Serão conselhos presumivelmente sábios. Mas receio que a coordenadora do BE ande a exagerar nas práticas revisionistas que a tornam quase irreconhecível. Confessar-se «social-democrata», nesta altura do campeonato, pode tresandar a eleitoralismo desbragado junto das pituitárias mais sensíveis.

E que diria o velho Trotsky, mentor da primeira geração de dirigentes do Bloco? «Ao prolongar a agonia do regime capitalista, a social-democracia conduz somente à decadência ulterior da economia, à desintegração do proletariado, à gangrena social», uivava o velho áugure num dos seus textos doutrinários que moldaram o pensamento do doutor Louçã.

Os resíduos trotsquistas são hoje uma curiosidade arqueológica no BE. Não me admirava que o neoguru de Catarina lhe recomendasse ao ouvido, insuflado de espírito feelgood: «Na próxima entrevista diga que o seu autor de cabeceira é Paulo Coelho.»

O novo ópio do povo

Pedro Correia, 28.08.19

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A TVI, no seu canal informativo, prometia ontem conceder destaque a Assunção Cristas, entrevistada por um jornalista da casa e alguns especialistas em diversas áreas incluídos entre os participantes nesta emissão, transmitida em directo. Sob o título genérico «Tenho uma pergunta para si» (o abuso do redundante pronome "si", que me soa sempre a nota de música, reflecte o empobrecimento da nossa linguagem comunicacional).

Tentei fixar a atenção nesta entrevista, mas desisti a meio. Porque me pareceu desde o início que se destinava apenas a despachar agenda e aliviar um fardo. Decorria tudo num tom tão impaciente, como se houvesse urgência máxima em retirar a presidente do CDS do ar, que obrigou uns e outros a falar em ritmo anormalmente acelerado.

Assunção, pressionada pelo ponteiro dos segundos, parecia uma picareta falante, para usar a expressão que Vasco Pulido Valente colou noutros tempos a António Guterres. Os interrogadores de turno, quando demoravam um pouco mais a formular a pergunta, eram de imediato interrompidos pelo profissional da casa. O próprio Pedro Pinto, ao comando desta emissão tão frenética, parecia mais confinado à função de cronometrista do que de jornalista.

E afinal tanta pressa para quê? Para que o mesmo canal informativo da TVI desse lugar a três cavalheiros de calças de ganga a discorrer tranquilamente sobre os mais recentes rumores do chamado "mercado de transferências" da bola. Preopinavam em modo pausado, de perna traçada, como se estivessem no café e tivessem todo o tempo do mundo para perorarem sobre coisa nenhuma.

Foi a minha vez de recorrer ao cronómetro: cavaquearam das 22.36 às 23.57. Um dos membros deste trio já estivera em antena durante a tarde, entre as 17.58 e as 18.48, tagarelando sobre o mesmíssimo assunto.

Estranho critério jornalístico, estranho critério informativo - cada vez mais monotemático. Como se nada mais houvesse de relevante do que as tricas do futebol.

Alguém aí falou em ópio do povo? Se o fez, acertou em cheio.

Cristas e o Brasil

jpt, 26.10.18

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"J'ai vu des démocraties intervenir contre à peu près tout, sauf contre les fascismes" é daquelas frases de Malraux que vingaram na Readers Digest de hoje, a wikipedia (e aviso já que não aceitarei comentários invectivando Malraux por não ter criticado Chavez e Maduro).

 

Cristas anuncia qual seria o seu voto no Brasil. Uma inutilidade, poderia ter-se escudado na não ingerência. Mas opinou, igualando as candidaturas, como se se filiando na crescente simpatia pelo bolsonarismo entre locutores da direita portuguesa. Fez mal. É certo que a sua opinião é irrelevante naquelas eleições (que aparentam estar já decididas - ilustra-o o já velho Chico Buarque terminando em lágrimas o seu discurso num recente comício da candidatura de Haddad). Mas falhou a oportunidade para explicitar o conteúdo exigível ao arco do poder.

 

Será muito difícil a uma líder democrata-cristã sentir, e expressar, simpatia por uma candidatura conjunta de um socialista (de ala esquerda?) e de uma comunista (uma comunista latino-americana, decerto mais castrista do que berlingueriana, isto usando imagens para gente mais idosa do que Cristas). Mas três aspectos poderia considerar:

 

1. o primeiro é interno ao Brasil. O PT dominou o XXI daquele país, ganhando várias eleições presidenciais. Por criticável que seja a sua governação, por evidente que seja a sua degenerescência, por problemático que seja o seu programa actual, nesse período não usou o poder para terminar o regime democrático (para o minar?, porventura; para o terminar?, não.) e não tem uma maioria no fragmentado sistema parlamentar que lhe permita hipotéticas (reais?) veleidades de lhe subverter as características essenciais. Já Bolsonaro vem anunciando, até mesmo agora, uma semana antes, um conjunto de propósitos à total revelia da democracia (prisões, expulsões, "nomeem que mais ...").

 

2. o segundo é global, a questão ecológica. Nos avessos a Bolsonaro isto nunca surge, poluída que está a "mente colectiva" pelas agendas neocomunistas, as do altergender vs cisgender, do racialismo e - neste caso em particular - do mulherismo. Se a ecologia não foi verdadeira prioridade do PT, Bolsonaro anuncia-se como campeão do seu desrespeito, em modalidades irreparáveis (direitos individuais e colectivos podem-se repor, a demência omnívora face à natureza é irreparável). Ora esta temática é hoje colossal. Apesar de grande silêncio no debate português, o que bem mostra o atraso cultural do país (ainda que os Erasmus já sejam geração de poder). É o equivalente ao debate nuclear (guerra atómica, energia nuclear) nos anos 70s e 80s, o ocaso da Guerra Fria. Ou até mais relevante, pois menos polarizado quanto a centros de decisão.

 

3. o terceiro é político, principalmente europeu. O pós-guerra deu-nos este sistema democrático ao qual os comunistas (nas suas diferentes versões) pertencem. Pode ser um oxímoro, podemos considerar que eles estão de corpo mas não de alma dentro da democracia. Mas em sendo-o é um oxímoro funcional, estruturante do sistema político com melhores resultados económicos e sociais - não será um "fim da história" mas é um belo momento da história. Em Portugal os anteriores a Cristas lembrarão Melo Antunes a cercear o extremismo anti-comunista considerando-os integrantes da democracia portuguesa e os mais lúcidos saudarão também a democraticidade do general Eanes, nesse mesmo sentido. Mas será de lembrar que nessa mesma era a DC italiana (uma das matrizes do CDS) teve a grandeza estratégica de fazer um "compromisso histórico" com o PC. E foi este regime europeu englobante que trouxe para as interacções democráticas os grandes PCs europeus (Berlinguer, Marchais, Carrillo - o tal de "eurocomunismo"), e foi integrando os maoístas, enverhoxistas e 68ístas nos PS locais e nos ecologistas. Ora deste sistema amplo, deste "arco do poder" representativo consagrado no pós-guerra não constam, por definição, os fascismos. Exigem-se "cordões sanitários" em seu torno, para preservar os regimes democráticos. Há excepções, e fala-se de Finni, integrado nessa primeira bolha populista moderna, mas esse mau sinal estava subordinado ao peculiar (mas não fascista) Berlusconi e correlacionou-se à desagregação do sistema partidário italiano. E falarão do partido da Liberdade holandês ou do Interesse Flamengo, mas esses são muito mais movimentos soberanistas (e independentista no caso belga) do que fascizantes. E mesmo assim são integrados nestes peculiares regimes de coligações governamentais que são verdadeiros estudos de caso de concatenação política. De facto, os fascismos mais ou menos explícitos são ostracizados, como o foi Haider pela comunidade da Europa e pela sua Comunidade Europeia. Tal como esta coisa bolsonara de agora o parece dever ser ... Fernando Henrique Cardoso, sábio e conhecedor como nenhum de nós, di-la outra coisa que não fascismo, fruto desta nova era, um "transfascismo" se se quiser. Porventura será, mas tem todas as características que extravasam o primado do estado de direito e a democracia liberal. 

 

Nesta declaração de neutralidade, desnecessária ainda por cima, Cristas mostra que nada disto apanha ou considera. Mostra-se sensível aos discursos de direita assanhada que já por ali pululam - muito pela analogia que se faz entre o podre PT e o degenerado PS socrático do qual este costismo recusou apartar-se (Augusto Santos Silva na tétrica declaração de que não faz "julgamentos éticos" quando é de avaliações políticas que o seu partido, e o país, necessita; um governo actual onde as pastas estratégicas estão nas mãos de gente que foi dos governos socratistas ou de seus admiradores ferrenhos). Mas essa analogia, que é grosseira, e mesmo que não o fosse, não é o fundamental. Cristas foi incapaz de dizer "não" a essa extrema-direita (ainda para mais agora que tanto se frisa que "um não é um não") e deixou-se, em ademane de "coquette", dizer-se namorável, se com melhores modos alheios.

 

O que lhe faltou, e assim sendo o que lhe falta, é a densidade de estadista. De perceber o que está em causa e ver lá à frente. Afirmar-se, e aos seus, como um motor de consenso democrático em torno de um modelo de regime. Aquilo que o socialista (de facto socialista, e isto vai sem acinte) Rui Tavares recordou há dias "No imediato, é preciso que a esquerda, centro e direita democráticas se unam contra os fascistas - chamem-lhes o que chamarem.".  É difícil isso, por muitas razões. Uma das quais é porque todos nós, avessos ao patrimonialismo socialista ou ao credo estatizante ou às agendas políticas pós-modernas/coloniais temos sido neste XXI constantemente "fascistizados" (homofobizados, racistalizados, lusotropicalizados, etc.). No mesmo processo de abaixamento intelectual que se vê agora na direita soberanista, apelidando os europeístas, as instituições democráticas e democratizadoras (por mais criticáveis que sejam) de "Bruxelas" como "estalinistas". Este tipo de radicalismo invectivador deixa máculas, dificulta articulações. E, como é óbvio, gasta as palavras - se quase todos nós fomos ou somos "fascistas" por uma qualquer razão como reforçar posições comuns contra outros "fascistas"? Mais, como delimitar esses ("trans)fascistas" de hoje?

 

Nada disto interessará a Cristas. Talvez mais preocupada com um ou outro deputado que poderá subtrair a um centro desnorteado, como o que vai agora. Incapaz de perceber que é agora o momento de afirmar o seu partido como trave. Até aproveitando os ventos deste tempo, sabendo-os depurar da pestilência que também transportam. 

 

E tudo isto, para além de Cristas, mostra também o final das "internacionais". Há algumas décadas as articulações partidárias internacionais tinham vozes mais ou menos comuns sobre os temas cruciais. Hoje estarão mais centradas na agenda parlamentar comum. Que nos dizem elas (quem são os seus presidentes? que relevância têm?) sobre tudo isto? Como articulam os seus partidos-membros e respectivos líderes? Que resta das ideologias? 

 

Adenda: no último fim-de-semana foi divulgado este filme com declarações de Bolsonaro. A uma semana das eleições, nas quais será vencedor promete colocar os apoiantes de Haddad ("petralhada") na "ponta da praia". Julguei que tal significasse expulsão (tipo "devolver às naus") mas nada disso: amiga, portuguesa mulher de direita, avisa-me que "ponta da praia" significa a base militar da Marinha na Restinga de Marambaia, em Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, um presídio de tortura e abate durante o regime militar brasileiro.

Negar a diferença, pelo menos de grau, entre este energúmeno e os malfeitores do PT e associados torna-se um bocado difícil. Que pensará a hierarquia católica portuguesa da líder do partido democrata-cristão que se demonstra relativamente neutral a este tipo de declarações?

 

 

 

 

Não, o PSD não pode dormir descansado.

Luís Menezes Leitão, 07.03.18

Estou no essencial de acordo com esta análise de Miguel Pinheiro. Estou, porém, frontalmente em desacordo com a sua conclusão. É verdade que o CDS desde sempre viveu num grande equívoco, que é o facto de o partido ter uma base eleitoral colocada claramente à direita, mas ter dirigentes que nunca assumiram esse cariz ideológico e, ou passaram a vida a lutar contra ele, como foi o caso de Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, ou rapidamente o abandonaram, como foi o caso de Lucas Pires. O CDS viveu sempre com o problema de os seus dirigentes não gostarem do seu eleitorado, e até quererem mudar de eleitorado. Já os eleitores gostavam dos seus dirigentes, mas não percebiam o seu posicionamento político.

 

Foi assim com Freitas do Amaral e Amaro da Costa, que nunca quiseram ligar o CDS à herança do antigo regime, impedindo-o de ter o papel que a Aliança Popular, e depois o PP, teve em Espanha. O CDS apenas assumiu esse papel uma vez, quando votou contra a constituição marxista, o que de facto lhe valeu uma enorme subida eleitoral, mas rapidamente abandonou esse posicionamento, fazendo uma coligação com o PS, coisa que os eleitores de ambos os partidos acharam absolutamente incompreensível. Hoje a história oficial do CDS renega Freitas do Amaral e louva Amaro da Costa, mas a verdade é que o posicionamento dos dois não era distinto, tendo sido até Amaro da Costa o artífice da coligação PS/CDS. Aliás o sonho do CDS na altura, com a denominada teoria das duas bossas, era partir o PSD em dois ou mais partidos, fazendo do CDS e do PS os dois esteios do regime. Isso nunca viria a concretizar-se em virtude de os ministros do CDS terem percebido que era insustentável governarem com o PS e de Sá Carneiro ter conseguido resolver a cisão dos inadiáveis. Foi assim que se formou a AD, como uma coligação de direita reformista, transmitindo uma mensagem clara em que todo o eleitorado do CDS se reviu com entusiasmo. O colapso da AD, com o abandono de Freitas do Amaral, gerou uma surpresa, com a vitória do nacionalismo liberal de Lucas Pires, quando toda a gente esperava a eleição de Luís Barbosa, mais de acordo com a linha tradicional do CDS. Lucas Pires, no entanto, seria derrotado por Cavaco Silva e demitir-se-ia, transitando do nacionalismo liberal para o europeísmo mais convicto. Chegou Adriano Moreira, mas foi incapaz de impedir a maioria de Cavaco Silva, que transformou o CDS no partido do táxi.

 

O CDS entrou então na fase de O Independente, caso em que pela primeira vez um jornal tomou conta de um partido, primeiro com a candidatura presidencial de Basílio Horta, e depois com o lançamento de Manuel Monteiro, em ambos os casos com Paulo Portas na sombra. O CDS assumiu então uma vertente populista e eurocéptica, tendo até mudado de nome para PP, posição que lhe rendeu muitos votos, mas a incapacidade de Manuel Monteiro em gerir o ascendente de Paulo Portas no partido ditou a sua queda. Não deixando de manter algum populismo, Portas fez passar o CDS de eurocéptico a eurocalmo, o que lhe permitiu ascender duas vezes ao governo em coligação com o PSD, com o interregno de Ribeiro e Castro. Hoje já ninguém se lembra do acrescento PP. Mas Portas teve a inteligência de se ir embora, após a formação da geringonça, apostando numa renovação com Assunção Cristas, ao contrário do que erradamente Passos Coelho fez.

 

Assunção Cristas não tem uma posição ideologicamente marcada, tendo sido a meu ver até a Ministra mais à esquerda do governo de Passos Coelho. Isso, porém, não significa que não dê ao eleitorado do PSD um voto de refúgio, em caso de escolhas desastradas de candidatos, como se viu em Lisboa, onde obteve 20% dos votos, o que foi decisivo para a desistência de Passos Coelho. Com isto Assunção Cristas mostrou que a regra de que o CDS não consegue crescer eleitoralmente à custa do PSD já não está em vigor. E por isso, ou o PSD apresenta uma proposta eleitoral clara, e com candidatos credíveis, ou pode obter mais uma derrota. Deixar Cristas a fazer oposição sozinha é um erro que se vai pagar muito caro.

Merece uma condecoração

Sérgio de Almeida Correia, 21.01.18

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Não tem sido muito falado, mas espero que o Comité Central do PCP, depois da ajuda dada pelo anterior líder do CDS-PP ao governo revolucionário do Comandante Maduro, tenha lá guardada uma Ordem de Lenine para premiar a camarada Assunção Cristas pelo notável impulso que tem dado à renovação das ideias herdadas do passado. Não é todos os dias que o Governo de António Costa tem uma ajuda destas: 

mais importante do que saber quem fica em primeiro lugar nas eleições, o que é importante é saber que partidos é que conseguem ter uma maioria parlamentar de, no mínimo, 116 deputados” 

O que vale é que o Ferrari do Vitória já entrou no cone de ar e sempre poderemos ter a certeza de que a realidade ainda é o que era.

O sorriso de Assunção Cristas

Pedro Correia, 29.09.17

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O mais interessante nestas eleições autárquicas é a recomposição de forças que se desenha à direita, tendo Lisboa por epicentro.

Assunção Cristas vai ganhar esse desafio porque fez a aposta certa: foi a jogo, centrou a parada no principal município do País (recuperando um palco essencial da história autárquica do CDS) e não descolou um milímetro da estratégia delineada: eleger o PS como adversário, convicta de que Fernando Medina não era imbatível, sem se deixar contagiar pelos dramas hamletianos que assaltavam o partido laranja.

 

Precisamente ao contrário do PSD, que foi ziguezagueando ao longo de todo este tempo. Hesitou na escolha do cabeça-de-lista, hesitou na estratégia, hesitou nas prioridades da campanha, hesitou na escolha dos candidatos ao executivo municipal, hesitou nos alvos programáticos.

Os sociais-democratas fizeram tudo mal: já com a líder democrata-cristã no terreno, em vez de formarem equipa com ela preferiram medir forças com o CDS - como se fosse esse o adversário e como se tal disputa interessasse um átomo aos eleitores de ambos os partidos. Isto enquanto o coordenador da campanha autárquica laranja admitia numa entrevista que tanto lhe fazia quem ficava à frente. Logo ali se percebia qual era o estado anímico daquelas hostes.

As esquerdas iam assistindo de camarote.

 

O PSD demorou meses a designar Teresa Leal Coelho - e a escolha só se materializou, tarde a a más horas, após diversas fugas de informação terem tornado evidente que se tratava da enésima opção, na sequência das sucessivas recusas de outros visados.

Repetia-se um filme já gasto como se fosse em estreia: ninguém na entrincheirada sede da São Caetano à Lapa parece ter extraído qualquer  lição dos fracassos anteriores do partido na capital, protagonizados por candidatos como Fernando Negrão e Fernando Seara.

 

O amadorismo dominou a caravana autárquica laranja em Lisboa do primeiro ao último dia. As intervenções da candidata nos debates televisivos foram desastrosas - ao nível dos cartazes com a sua imagem que foram sendo espalhados na cidade sem qualquer mensagem associada ao retrato.

Os resultados deste espectáculo confrangedor serão conhecidos daqui a 48 horas. À direita, não custa vaticinar, só Assunção Cristas terá motivos para sorrir.

Não pode valer tudo

Pedro Correia, 19.07.17

Felicito Assunção Cristas, que acaba de dar uma lição de dignidade cívica ao PSD: em política, mesmo nestes tempos de populismo à solta e demagogia desenfreada, não pode  valer tudo para qualquer chico-esperto conseguir notoriedade e sacar votos, enquanto o partido arrecada os salutares princípios da tolerância e da moderação num armário fechado a sete chaves.

Francisco Sá Carneiro, o fundador do PPD-PSD, não teria agido de modo diferente: o primeiro dever de um político é evitar dar palco a escroques.

Só vinte?

Sérgio de Almeida Correia, 11.05.17

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(créditos: Expresso)

A mim admira-me que sejam só vinte, porque bom bom era serem aí umas sessenta, ou umas oitenta, sei lá, de Santarém até Setúbal, cobrindo toda a área metropolitana de Lisboa e arredores. Se possível com uma extensão ao Aeroporto "Internacional" de Beja, em regime de PPP, para se poder encaixar a malta amiga, e com o aval da CGD. E depois entregar a gestão disso a Sérgio Monteiro. Quer-me parecer que desta vez faltou um pouco mais de rasgo na proposta de Assunção Cristas. Ninguém é perfeito.

Como diria um amigo meu, "isto promete uma remontada épica". Obrigado, António.

A Primavera está à porta

Sérgio de Almeida Correia, 15.03.17

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As declarações de Assunção Cristas e o silêncio do PSD deixam muito pouco espaço para outras interpretações. O Conselho de Ministros do anterior Governo nunca discutiu as questões da banca, nem sequer às quintas-feiras. Discutir a banca para quê? Artistas, marialvas e fadistas tinham mais que fazer. Enquanto os portugueses sofriam cortes nos vencimentos, viam os impostos subir, apertavam o cinto e emigravam, havia quem pusesse o dinheiro em bom recato com os vistos do companheiro Núncio. E os ministros reuniam-se para tomar chá, combinar privatizações, almoçaradas e jantares e alegremente trocarem tachos e panelas. Os Conselhos de Ministros do Governo de Passos Coelho, ficámos agora todos a saber pela voz de uma das protagonistas, eram uma espécie de reuniões da tupperware.

Despachado o Melo para Bruxelas, em Lisboa ficaram coelhinhos, melros e andorinhas.

O marketing é que dá sempre fruta

Teresa Ribeiro, 08.06.15

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É sempre mais fácil separar o trigo do joio com a ajuda de quem sabe. Esta notícia, que já tem uns dias, tinha-me passado despercebida e confirma uma velha desconfiança que eu tenho em relação à nossa simpática ministra da Agricultura, a de que é muito boa, sobretudo a fazer propaganda.

Como a Confederação Nacional de Agricultura sublinha, não basta dizer quanto se investe na agricultura, é preciso explicar como e depois apresentar resultados. Só os resultados validam as políticas, mas isso para efeitos de marketing não interessa nada.