A fraqueza dos presidentes
As transições dos presidentes americanos bem sucedidos costumam corresponder a tempos um pouco mais instáveis. O último ano de Barack Obama não está a fugir a esta regra, muito visível desde o fim da Guerra Fria, mas que já se verificava nos ciclos anteriores. No seu oitavo ano de poder, o presidente não pode ser reeleito e é politicamente débil. Muitos congressistas também vão a eleições e estas viragens de ciclo costumam fazer muitas vítimas, pelo que ninguém quer correr riscos. Claro que o primeiro ano do novo presidente também pode ser instável, mas os líderes populares tendem a encurtar esse período problemático.
O fenómeno talvez possa explicar parte dos desafios que estão a surgir à liderança americana do mundo, por exemplo a aparente agressividade russa no Báltico, os ensaios de mísseis da Coreia do Norte, o aumento das rivalidades no Mar da China, o interesse de Moscovo no Médio Oriente. Neste último, o verdadeiro motivo será a tentativa de limitar a produção de petróleo, sem ligação aos ciclos americanos.
Com a América menos envolvida em questões externas e mais atenta às suas próprias eleições, é natural que os poderes rivais tentem fazer testes de vontade política. O próximo presidente será provavelmente Hillary Clinton, com grande experiência internacional, o que contribuirá para uma rápida acalmia, mas existe a possibilidade de tudo correr de forma diferente. Os outros três candidatos com possibilidades (Donald Trump, Ted Cruz e Bernie Sanders) são populistas com ideias que levarão ao isolamento da América e ao recuo da sua política externa. Trump representa um fenómeno novo e fez promessas eleitorais que darão origem a conflitos com aliados e a mudanças estratégicas imprevisíveis. Se vencer, será testado sem quartel por todos os poderes que contestam a hegemonia americana. Veremos mísseis a voar, incidentes de fronteira e retórica bélica.