Com a notória excepção das comédias românticas, e por vezes nem essas escapam, impressiona o facto de todos os filmes americanos serem sempre tão marcadamente políticos. Nem é preciso referir os casos evidentes dos dramas jurídicos, ou militares, ou detectivescos, ou policiais – o comentário institucional faz parte do DNA do cinema americano.
Ainda assim, atrevo-me a votar em “Being there” (“Benvindo mr. Chance” em português) como o melhor, e de certeza o mais premonitório, filme político de sempre. Peter Sellers interpreta supinamente o jardineiro de mente simples como uma criança, que nas voltas do enredo acaba consagrado como um formidável comentador político. Ao dizer na televisão coisas tão profundas como “First comes spring and summer, but then we have fall and winter.”, levanta um vendaval de análises, porque ninguém deixa de ver profundas alegorias no que ele profere literalmente.
Até este Dezembro de 2012 nunca entendi por que razão o realizador Hal Ashby arruína o filme com o plano final em que Chance caminha sobre as águas. Mas ao ver a prodigiosa esparrela do sr. Artur Baptista da Silva fez-se-me luz: o cineasta queria salvaguardar com aquele plano o carácter ficcional da sua obra, não fosse a realidade superar o resto.