'Artitectura': os mal-amados (22)
Torre Montparnasse,
Paris (França)
A Torre Montparnasse (também chamada Torre Maine-Montparnasse), no bairro de Paris com o mesmo nome, foi erguida num terreno preparado em 1969. A primeira pedra surgiu em Abril de 1970, a obra ficou concluída em 1972 e a torre foi inaugurada em 1973. Tudo isto apesar da intensa polémica levantada logo de início.
Com efeito, já vinha dos anos 30 a contestação ao posicionamento da velha Gare Montparnasse e aos problemas de trânsito que ela gerava. Depois da II Guerra Mundial, com o país a recuperar e com a entrada em vigor do plano director da cidade em meados da década de 50 — que visava dar outro arranjo a toda a zona e facilitar o trânsito crescente — surgiram os primeiros projectos para uma torre assente no lugar da gare, torre vivamente criticada a partir de então pela altura excessiva que era proposta.
Em 1968, o projecto existente era apoiado por André Malraux, então ministro da Cultura de Georges Pompidou, o que contribuiu decisivamente para que a construção fosse em frente sem apelo nem agravo.
Os primeiros sinais no terreno começaram a ver-se ainda nesse ano e, no ano seguinte, 1969, o projecto final incorporava um centro comercial e a continuidade da grande polémica pública era definitivamente ignorada pela decisão das autoridades: a torre ocuparia mesmo o lugar da antiga gare, conforme a concepção dos arquitectos Jean Saubot, Eugène Beaudouin, Urbain Cassan e Louis Hoym de Marien.
Porém, os quatro arquitectos, ainda em 1966, já tinham estado envolvidos na construção da nova Gare Montparnasse, a algumas centenas de metros da anterior, e na desactivação e destruição da Gare de Maine, o que sugere um jogo de influências a favor da torre e dos seus autores.
Assente em fundações constituídas por um total de 56 pilares de betão armado que atingem os 70 metros abaixo do solo, parte deles com um diâmetro de 3,5 metros, a obra obrigou a construir um forte separador igualmente em betão armado no subsolo, a fim de proteger a linha muito próxima do metropolitano que passa em Maine e Montparnasse.
Com cerca de 210 metros de altura do chão ao topo, a torre foi o prédio mais alto de Paris e de toda a França durante vários anos, além de ter sido o edifício comercial ou de negócios mais alto da Europa até 1990, ano da inauguração do conhecido edifício Messeturm (à direita), em Frankfurt (Alemanha).
A Torre Montparnasse tem 7200 janelas em 40 mil metros quadrados de fachadas. No interior, contam-se seis andares abaixo do solo, que incluem um parque de estacionamento público, e 58 andares do piso térreo ao topo, com uma área média de 1700 metros quadrados cada piso. No total, são 30 mil metros quadrados destinados ao comércio (as lojas do centro comercial) e cem mil metros quadrados de escritórios (12 mil a 13 mil escritórios).
Além de cinco monta-cargas, a torre possui 25 elevadores destinados a diferentes grupos de andares. O mais rápido deles faz os 196 metros entre o rés-do-chão e o 56.º andar em 38 segundos, o que permite subir da rua ao apreciado restaurante panorâmico Ciel de Paris (à esquerda) a uma velocidade de 22 quilómetros à hora. Mais acima fica a cobertura (por cima do 58.º e último andar), que é um terraço (em baixo) com uma vista soberba a toda a volta sobre a cidade de Paris. Para cima do centro comercial, a entrada de visitantes está limitada precisamente ao restaurante no 56.º andar e ao terraço.
Há tempos, numa dessas top-listas editadas por marcas e títulos reconhecidos, a Torre Montparnasse aparecia em segundo lugar entre os edifícios mais feios do mundo. A mal-amada torre domina a cidade, estorva a harmonia urbana e está condenada a morrer sem deixar saudades. Mais: a destruição e substituição dela até já tem sido incluída em programas eleitorais de alguns candidatos à presidência do município da capital.
Entende-se que lhe destinem um fim inglório, visto que o edifício está situado num dos bairros típicos de Paris e consegue ser, simultaneamente, descomunal e desenquadrado, escuro e sinistro, omnipresente e indisfarçável. E também se entende por que motivo os parisienses gostam de subir ao seu terraço de tempos a tempos: é o único sítio onde os olhos se estendem sobre a cidade-luz sem verem o panorama invadido pela odiada torre...