Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Aprender até morrer

Fugas e evasões

Maria Dulce Fernandes, 09.09.24

5544884_orig-768x512-1.jpg

Hoje aprendi que a população de Alcoentre não está minimamente preocupada com a fuga dos detidos, coisa que consideram "normal", por já ter acontecido diversas vezes.

Foge-me a ideia para a célebre fuga dos PIDEs em 1975 e a grandiosa evasão de mais de 120 reclusos em 1978.. Diz quem é de lá e se lembra, que alguns foram ao café da aldeia tomar uma bica e regressaram à cela pelo mesmo buraco por onde saíram.

Parece que já naquela altura a dita esquerda andava a dormir, isto dito e cantado, pela esquerda vigente. Fica aqui a lembrança.

Aprender até morrer

O ananás e a líbido

Maria Dulce Fernandes, 01.09.24

ananas.jpeg

Hoje aprendi que "o ananás invertido é um símbolo internacional que, há décadas, é utilizado para indicar discretamente o interesse em trocar de parceiros ou participar em atividades swinger".

É absolutamente extraordinário que uma pessoa com a minha idade, razoavelmente informada, desconhecesse este importante pormenor frutícola, recentemente relançado numa superfície comercial, por quem tenciona angariar parceiro(s). 

Gosto muito de ananás, por ser uma fruta aprazível ao gosto e possuir efeito adstringente, colocando-se no primeiro lugar do pódium dos alimentos a ingerir após lauta refeição. 

Desconhecia-lhe as demais capacidades cupidíneas e daqui por diante vou tratar de ter muito cuidado com a colocação dos ananases no carrinho de compras do supermercado, para não me subentenderem a libertinagem assim tão descaradamente.

Aprender até morrer.

Pensamento da Semana

Ana Cláudia Vicente, 21.05.23

Captura de ecrã 2023-05-14, às 19.09.30.png

"Vão surgir muitos problemas no Mundo e vão surgir muitos problemas em Portugal, e é bom que, de vez em quando, nos possamos encontrar, possamos ver o que é que se passa e possamos encontrar um caminho para o futuro, o que nem sempre vai ser fácil. Pelo contrário, vai ser sempre muito complicado, com várias opiniões se encontrando, porque estamos, em todo o Mundo e aqui, naquilo que se chama um período de transição.
Agostinho da Silva (1906-1994)
(“25 de Abril e o futuro”, Assembleia da República, 25-04-1989)

[(c) Binary Code Pixels, Allan Swart, 2016]

 

Um período de transição. Para quê? Para onde?

Nem tempo, nem capacidade de inteligir basta(ria)m para o entender, diria o professor. Então como agora, só a genuína curiosidade em saber (a coexistência entre sonho e objectividade) garante abertura ao que se poderá seguir. Ao futuro. 

Penso muitas vezes na importância que dava, no que ia partilhando, à combinação entre impulso de descoberta e prudência, entre entusiamo e observação cautelosa, calculada. Pergunto-me se ainda guardamos, como povo, o reflexo de hesitação/interrogação ante o que nos é apresentado como novo. Talvez não, não sei, pelo menos olhando para o modo ligeiro como subestimamos o senso dos que agora são tidos por não-instruídos, mas que permanecem atentos a pormenores que escapam aos oficialmente escolarizados.

Que país está pronto para o futuro?

 

Este pensamento acompanhou o DELITO DE OPINIÃO durante toda a semana

B-a-ba

Maria Dulce Fernandes, 24.07.22

22331574_3lCU3.png


Não me lembro de ter contado que comecei a falar com 6 meses (foi há tanto tempo!).
Não fui aquilo a que na altura se chamava um bebé Nestlé, não tinha aquele atractivo olhar azul cristalino e bochechas rosadas, encimados por fulvos e brilhantes caracóis. Era uma trinca-espinhas normal com grandes olhos castanhos e cabelo da mesma cor, que nasceu com o condão de repetir tudo o que ouvia desde tenra idade.
Claro está que em competição com uma arara decerto não levaria a melhor, mas rezam as crónicas que falava pelos cotovelos e que desde que pronunciei a minha primeira palavra - guardanapo - nunca mais me calei. A Mãe contava orgulhosa que houve entrevistas à família para o jornal local e que com 10 meses contei para um gravador de bobina (inovação tecnológica da altura) a história do Lobo e dos Sete Cabritinhos, recostada no sofá vermelho da avó com o livro no colo, virando as páginas e modulando as respirações e os compassos de espera, como uma verdadeira profissional da oratória Grimiana.
 
Como é óbvio, não tenho qualquer recordação dos meus tempos de vedeta de bairro e se algo me ficou do meu génio oratório, foi a paixão pelas palavras, sobretudo pela palavra escrita. 
Mesmo nos meus anos académicos, a minha retórica era largamente suplantada pelos jogos de letras, que os meus dedos faziam deslizar pelo papel como pequenas peças de puzzles coloridos e harmoniosos, num bailado singelo e preciso, até formarem o desenho que a minha imaginação pintara.
 
Lembro-me como se fosse hoje da mala castanha com fivelas, do estojo de madeira com uma tampa deslizante que fazia as vezes de régua e que continha um lápis, uma borracha e um apara-lápis, lembro-te tão bem da sebenta cor de papel pardo com um estudante na capa, do caderno de duas linhas e da Cartilha Maternal João de Deus. 
As letras eram velhas conhecidas, como desenhos e formas. A sua sonoridade, o valor de cada uma e a ciência de saber juntá-las em dissílabos e polissílabos, formar palavras, frases, parágrafos e textos, foi a cartilha do b-a-ba que me ensinou. 
 
A primeira vez que li sozinha uma notícia de jornal, inchei de orgulho. Toda a vizinhança ficou a saber que a Feira Internacional de Lisboa estava transformada numa galeria de arte infantil por ter em exposição os trabalhes de "O Natal visto pelas crianças", e quando perguntavam como sabia eu disso, retorquía toda lampeira: "Li no jornal, ora essa!"
 
Da cartilha depressa passei aos livros escolares que tinham capas patrióticas e crianças de braço estendido e sorrisos perfeitos, acrescentei ao material escolar um frasquinho de tinta permanente, uma caneta de aparo, um caderno pautado, um quadriculado e um de desenho, uma folha de mata-borrão e uma caixa com seis lápis de cor Viarco. Quando completei a quarta classe com vinte valores, o Pai ofereceu-me uma caneta Sheaffer numa caixinha forrada a cetim, que passou a ser o meu maior tesouro. Também me deu autorização para tirar livros das estantes e ler.
 
Mal ele sabia que acendera o rastilho da minha maior e mais explosiva paixão, aquela que dura e durará tantos dias quantos os que me forem permitidos andar pelas bandas de cá.

Uma lição de vida

Pedro Correia, 30.06.20

6661254_OKK4Q[1].jpg

Por vezes, no mais inesperado dos lugares, despertam inimagináveis vocações. Aconteceu com José Saramago, o que é um - entre tantos outros - aspecto memorável da sua biografia. Impossibilitado de prosseguir os estudos para além do curso profissional de serralharia mecânica na escola industrial Afonso Domingues, o jovem Saramago passava os tempos livres recolhido na biblioteca municipal de Lisboa, no Palácio Galveias, ao Campo Pequeno. Enquanto os seus parceiros de geração optavam por folguedos, bailaricos e comezainas, ele cultivava-se com esmero, persistência e determinação naquelas salas austeras que lhe propiciaram o equivalente à formação universitária que formalmente nunca chegou a ter.

O Nobel de 1998 recorda esse período num admirável prefácio escrito para o livro De Volcanas Llena: Biblioteca y Compromiso Social (Gijón, Trea, 2007). «Era um lugar em que o tempo parecia ter parado, com estantes que cobriam as paredes do chão até quase ao tecto, as mesas à espera dos leitores, que nunca eram muitos (...). Não posso recordar com exactidão quanto durou esta aventura, mas o que sei, sem sombra de dúvida, é que se não fosse aquela biblioteca antiga, escura, quase triste, eu não seria o escritor que sou. Ali começaram a escrever-se os meus livros», anotou Saramago, lembrando os dias, meses e anos ali passados.

Uma lição de vida.

Aprender Mar, aprender Portugal

Maria Dulce Fernandes, 10.06.19

Quando eu era pequenina, a Avó ninava a canção do Barquinho e eu choramingava: Pobre barquinho, que fez chape!!  no mar… 

 Mal damos pelo tempo passar e já estamos a aprender. Aprendemos a sorrir, a comer, a gatinhar, a falar... 

Num ápice, estamos a juntar números e letras, a aprender o B + A = BA e o 1 + 1 = 2.  

Aprendemos sobre Portugal, sobre os Primitivos, os Bárbaros, os Gregos, os Romanos, os Arabes e o al Andalus, osCristãos, o Condado Portucalense e a Reconquista

Aprendemos que do tempo das trevas nasceu uma luz imensa. 

Aprendemos principalmente sobre o mar e os marinheiros que montados em cascas de noz com mastros com as velas da Cruz de Cristo, cavalgavam as ondas por esses mares fora, sem medo do desconhecido, rasgando horizontes, enfrentando tempestades, colhendo para Portugal os frutos da imortalidade histórica. Aprendemos que não há vento que nos desvie nem onda que nos afunde. Aprendemos que o homem do leme nos levaria sempre a bom porto, enfrentando intrepidamente todos os mostrengos que lhe quisessem obstruir passagem:.

Não sei se é por estar a ficar (mais) velha, que me sinto nostálgica e derrotista, mas tem dias que estou a ver as notícias, sempre más, só tristezas, crimes, desgraças e corrupção e me pergunto por onde andará o Homem do Leme, um Homem do Leme. 

Temos andado á deriva por tanto tempo e não há ninguém com vontade e pulso firme para conduzir este barco através deste negrume de incontrolável turbulência, através deste mar de despudor e ignomínia.  

O Homem do Leme tornou-se no D.Sebastião da era moderna e voltará talvez numa manhã de nevoeiro. Só espero que ainda tenha visibilidade e visão para poder encontrar Portugal, mas tenho em mim que destas trevas não sairá qualquer faúlha, desde que a imoralidade a desvergonha e a incorrecção  se tornaram parte integrante da cultura moderna  

"... 

Dar-te-ei a nau Catrineta 

Para nela navegar. 

Não quero a nau Catrineta 

Que a não sei governar. 

Que queres tu, meu gajeiro, 

Que alvíssaras te hei-de dar? 

"Capitão, quero a tua alma 

Para comigo a levar 

...". 

 

Bom Dia de Portugal.