Sem tempo
Teresa Ribeiro, 25.07.10
Fazia sempre questão de a acompanhar até à escada, mas naquele dia ela insistiu para que se deixasse ficar na sala. Ele caminhava devagar e ela estava com pressa. Teimou. Às voltas com uma afasia que lhe tolhia o discurso e limitava drasticamente o vocabulário, enquanto a seguia pelo corredor até à porta, argumentou: "É que assim tenho-te mais tempo."
Avassaladora e pueril, porque feita com as palavras que talvez não lhe dissesse se ainda soubesse usar as palavras, esta declaração de amor fê-la sorrir, enternecida, mas não a demoveu. Tinha de ir, estava mesmo com muita pressa. Poucas semanas depois acabou-se o tempo e a pressa.