Frases de 2025 (22)
«Afastei-me quando podia dividir, volto agora para unir.»
António José Seguro, hoje, no lançamento da sua candidatura à Presidente da República
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«Afastei-me quando podia dividir, volto agora para unir.»
António José Seguro, hoje, no lançamento da sua candidatura à Presidente da República
Não há nada que mais me divirta do que assistir a antigos ministros de António Costa a atacar a candidatura presidencial de António José Seguro, precisamente o único socialista que até agora teve a coragem de assumir uma candidatura. Isto depois de os governos em que participaram terem conduzido o PS e o país ao abismo em apenas oito anos, enquanto que o seu líder partiu alegremente para um exílio dourado em Bruxelas, o que não o impede de querer condicionar por interpostas pessoas as escolhas do seu partido. É assim que primeiro surge Mariana Vieira da Silva a dizer que há dez anos que não se conhece uma ideia a António José Seguro. Depois vem o seu pai, José Vieira da Silva, a dizer que António José Seguro não tem o perfil desejável para ser apoiado pelo PS. Dá gosto ver uma tão grande convergências de posições entre pai e filha, apesar da diferença de gerações, o que talvez se possa explicar pelo facto de terem estado os dois ao mesmo tempo nos governos de António Costa, situação que causou perplexidade até no Parlamento Europeu. O que cabe perguntar é porque é que nenhum dos dois se candidata à presidência da república ou até a líder do partido, em vez de se manterem como treinadores de bancada. Enquanto o PS continuar neste estado não vai longe.
António José Seguro será o candidato presidencial apoiado pelo PS.
Leitura complementar:
De volta (3 de Julho de 2023)
O regresso de Seguro (2 de Novembro de 2024)
António José Seguro regressou ontem ao palco mediático em longa entrevista à TVI-CNNP que pôs fim ao silêncio de uma década marcada pela sua ausência da vida pública. Entretanto dedicou-se ao ensino universitário e à vida empresarial num empreendimento agrícola da região Oeste. O afastamento fez-lhe bem: vincou nele as virtudes da moderação, do consenso, da abertura ao diálogo. Em evidente contraciclo com o crescente radicalismo da política portuguesa.
O PS parece ter encontrado o seu candidato presidencial. É mais forte do que possa parecer a alguma gente que se foi viciando em posições extremistas. Alarga o espaço do partido e desliga-o do pior da sua herança: os anos Sócrates.
Convém não esquecer que Seguro foi um dos raros socialistas que nunca prestaram vassalagem ao "animal feroz". Sabendo-se o que hoje sabemos, isto favorece-o mais que nunca.
António José Seguro regressa, após longo interregno. E a dizer coisas acertadas. Como estas: «Não basta batermos no peito para dizer que somos desta ou daquela ideologia. É importante que a prática esteja de acordo com os valores e princípios dessa ideologia e, sobretudo, com os resultados.» Palavras que podem ter vários destinatários. Entre eles, António Costa.
Em Maio, Seguro já tinha avisado: tenciona voltar aos palcos políticos. As dúvidas dissiparam-se: vai mesmo andar por aí.
É um nome a ter em conta na próxima campanha presidencial.
Despediu-se dos jornalistas com um «até breve» e entrou no carro: foi quanto bastou para enervar alguns companheiros de partido. Apesar de se manter há quase sete anos em silêncio, cumprindo o que prometeu ao perder a eleição interna no PS contra António Costa.
O palco escolhido por António José Martins Seguro, de 59 anos, para este regresso aos noticiários fez pleno sentido: surgiu como discípulo e herdeiro político de António Guterres, de quem foi ministro-adjunto no tempo em que os socialistas venciam eleições por toda a Europa – Tony Blair no Reino Unido, Lionel Jospin em França, Gerhard Schroeder na Alemanha – e governavam ao centro.
Na apresentação de uma biografia do actual secretário-geral da ONU, há quatro dias, Seguro fez o elogio de Guterres: «Nunca procurou a vitória pela vitória. Procurou a solução para o problema, compreendendo a posição do outro.» Qualquer comparação com os dias de hoje na política portuguesa não será coincidência.
António José Seguro liderou o PS durante três anos, quando mais ninguém se dispôs a fazê-lo. Era o tempo em que António Costa assobiava para o lado alegando não poder ser autarca em Lisboa e secretário-geral no Rato. Três penosos anos devido ao estado de emergência financeira no país. Um período muito difícil para o PS enquanto partido da oposição num quadro político dominado pelo memorando imposto pela Comissão Europeia e subscrito pelos socialistas, ainda com José Sócrates no poder. Três anos em que, mesmo assim, o PS registou três vitórias eleitorais – nas regionais açorianas, nas autárquicas e nas europeias.
Num duro debate com Costa, quando enfim se enfrentaram naquele quente mês de Setembro de 2014, Seguro fez-lhe a pergunta crucial: «Porque é que não te candidataste há três anos?»
Ficou sem resposta. Mas qualquer um a conhecia: Sócrates deixara uma pesada herança. No Verão de 2011, os socialistas acabavam de sofrer uma traumática derrota nas legislativas e apenas valiam 18% nas intenções de voto.
Seguro, que nunca integrou o séquito de Sócrates, inverteu esta tendência. E legou ao partido o mais exemplar processo de democracia registado numa força política portuguesa, contra o aparelhismo dominante. Naquela eleição interna participaram 150 mil pessoas – não só militantes mas também simpatizantes. Outro teria arregimentado um sindicato de votos para se perpetuar no poder. Ele preferiu ir a jogo com regras transparentes. Perdeu para Costa. Mas ganhou perdendo.
Não fez sombra ao sucessor: renunciou de imediato ao lugar de deputado, saiu do Conselho de Estado, leccionou na universidade e publicou a tese de mestrado em livro, intitulado A Reforma do Parlamento Português. Reapareceu para deixar um sério alerta contra os extremismos: «É fundamental ter comportamentos éticos que sirvam de exemplo ao conjunto da sociedade, haver rigor na gestão dos dinheiros públicos e responder aos problemas concretos das pessoas.»
Deixando aquele “até breve” no ar. Cada um interprete como quiser.
Texto publicado no semanário Novo
Foto Manuel de Almeida/Lusa
António José Seguro fez ontem anos. Mas recebeu a prenda de aniversário na véspera, com uma enchente na sessão de apresentação do seu livro que ultrapassou certamente as melhores expectativas, tanto do autor como dos responsáveis da sua editora, a Quetzal.
Cheguei à Universidade Autonoma à hora assinalada, 18.30. Já não consegui entrar no duplo auditório, cheio até à porta. Outro auditório, em que foi instalado um plasma destinado a acompanhar a sessão, encheu também. E o corredor e vestíbulo anexos transbordavam de gente à procura do livro e de uma oportunidade para rever o ex-líder socialista.
Muitos não conseguiram. À hora aprazada os exemplares postos à disposição do público pela editora já se tinham esgotado. Veio outra remessa, que voou igualmente em poucos minutos. E teve de vir uma terceira para muitos enfim adquirirem a obra, aguardando um autógrafo.
Bem à portuguesa, não tardaram as piadas. "Ao menos este livro tem compradores reais, ao contrário do que sucedeu com outro", dizia alguém, logo suscitando gargalhadas em redor. O ambiente era de confraternização e bonomia. "Isto vale mais do que uma sondagem", anotava um ex-deputado socialista.
Não havia apenas gente do PS. Apareceram o ex-Presidente da República António Ramalho Eanes, apontado por Seguro como figura exemplar da democracia portuguesa. E sociais-democratas como Pedro Santana Lopes, Aguiar-Branco, José Matos Correia, Duarte Pacheco. E democratas-cristãos como Mota Soares, Diogo Feio, Nuno Magalhães. Comunistas no activo, como António Filipe, que tive o prazer de cumprimentar. E ex-comunistas, como Cipriano Justo. E Luís Fazenda, do Bloco de Esquerda. Além de vários independentes, como António Bagão Félix, Luís Moita, Henrique Monteiro, João Bilhim e Viriato Soromenho-Marques, um dos apresentadores do livro.
Mas, claro, a grande maioria dos presentes vinha das fileiras socialistas - políticos no activo ou antigos deputados e ex-dirigentes federativos: não via muitos deles há anos, falei com vários como se nos tivéssemos encontrado de véspera. Francisco Assis, Jorge Coelho, Alberto Martins, Álvaro Beleza, Carlos Zorrinho, José Magalhães, Manuel Machado, Vítor Baptista, António Braga, Ricardo Gonçalves, Fernando Jesus, Jamila Madeira, António Galamba, Óscar Gaspar, Manuel dos Santos. Ferro Rodrigues não faltou. Do Governo estavam os ministros João Soares e Manuel Caldeira Cabral, e os secretários de Estado José Luís Carneiro e Jorge Seguro.
Revi amigos de longa data, como o Aloísio Fonseca e o Carlos Pires. E cumprimentei também com gosto o Luís Bernardo, um dos maiores experts portugueses em comunicação: raras pessoas conhecem tão bem o PS por dentro como ele.
Entre a multidão nem consegui falar ao editor. Mas o meu amigo Francisco José Viegas só podia estar satisfeito. Vou a muitas sessões de lançamento de livros e garanto-vos que não é vulgar haver uma atmosfera como esta - em número e diversidade de pessoas, e em genuíno interesse pela obra, que condensa o essencial da tese de mestrado do ex-secretário-geral socialista na Autónoma, sob o título A Reforma do Parlamento Português.
Seguro mereceu esta prenda de aniversário antecipada: corredor de fundo em vez de velocista, é um dos políticos com mais qualidades humanas que conheço. O abraço que por falta de tempo não pude dar-lhe nesse início de noite de quinta-feira segue agora aqui.
Com António José Seguro, os socialistas ganhavam poucochinho. Com António Costa, perdem muitinho.
Fizeram-lhe bem as punhaladas.
António Costa tem-se esforçado. E os resultados estão à vista. Quase um ano depois, o PS praticamente iguala as sondagens que obtinha no tempo do líder anterior, António José Seguro. Falta apenas meio ponto percentual para atingir os 38% de Seguro em Maio de 2014, o mês em que Costa anunciou que pretendia derrubar o antecessor. Tudo porque a vitória do partido nas europeias, com 3,7% de avanço sobre a coligação PSD/CDS, lhe tinha "sabido a pouco".
Lamentavelmente, esse avanço encolheu entretanto: de acordo com o barómetro da Eurosondagem, o PS só reúne hoje mais 2,8% do que a soma dos partidos da actual coligação (26,7%+8%). Uma diferença que, aliás, se insere na margem de erro da sondagem.
Saberá a pouco? O melhor desta vez é fazer a pergunta a Seguro. Para variar.
Ouvíamos há um ano a frase que pus em título a propósito do anterior secretário-geral socialista, proferida com insistência por uma multidão de sábios comentadores políticos.
Finalmente Seguro abandonou o Largo do Rato e agora tudo mudou.
Todos aqueles que ainda há ainda bem pouco criticavam duramente António José Seguro por pretender romper com o "legado" de José Sócrates no Partido Socialista metem a partir de hoje, oficialmente, a viola no saco. Incluindo Ferro Rodrigues, que há escassas três semanas tributou um rasgado elogio a Sócrates no plenário da Assembleia da República. Incluindo Ascenso Simões, que há menos de um mês exigia ver a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo a reluzir na lapela do ex-primeiro-ministro.
Seguro só cometeu um pecado, fatal em política: teve razão antes do tempo.
Foto Daniel Rocha/Público
António José Seguro Seguro renunciou hoje ao lugar de deputado na Assembleia da República depois de ter decidido sair do Conselho de Estado. Tudo em consequência da recente eleição interna em que saiu derrotado.
Abandona a cena política amargurado, certamente. Mas tem desde logo um motivo para se orgulhar: lega ao PS o mais concorrido processo de participação eleitoral de que há memória numa força política portuguesa, alargando a escolha do líder (embora erradamente, a meu ver, designada de "candidatura a primeiro-ministro") a militantes sem quotas em dia e a cidadãos sem filiação partidária.
Este processo, em que se inscreveram 150 mil pessoas, torna-se a partir de agora não apenas património do PS como do conjunto da política nacional. Algo apenas semelhante ao já ocorrido no Partido Socialista Francês nas primárias de 2011, que mobilizaram quase três milhões de eleitores e serviram de trampolim para a chegada de François Hollande ao Palácio do Eliseu um ano depois, e nas primárias de 2013 do Partido Democrático italiano, ganhas pelo actual chefe do Governo, Matteo Renzi.
Nem o Partido Socialista Operário Espanhol, na sua campanha interna do Verão passado, foi tão longe.
Bastaria isto para ficar como marca positiva do mandato de Seguro no Largo do Rato. Estou convencido, aliás, que os restantes partidos em Portugal caminharão inevitavelmente na mesma direcção: precisam de abrir-se à sociedade, não podem continuar fechados sobre si mesmos. A começar pelo PSD.
António Costa falhou o primeiro passo na construção da unidade do partido quando ontem à noite, no discurso da vitória eleitoral, ignorou o nome de António José Seguro. Esta omissão não honrou as melhores tradições do sistema democrático, onde tão importante como saber perder é saber ganhar.
O futuro secretário-geral precisará dos seguristas para construir a nova maioria que ambiciona. Inútil fazer charme para fora das fronteiras do PS enquanto não assegurar a unidade interna.
Concorde-se ou discorde-se da sua actuação e do seu estilo, Seguro liderou o partido durante mais de três anos muito difíceis, em que mais ninguém se dispôs a fazê-lo. Três anos muito difíceis devido ao estado de emergência financeira em que Portugal se encontrava. Três anos muito difíceis para o PS enquanto partido da oposição num quadro político dominado pelo memorando negociado e assinado pelos próprios socialistas quando ainda eram governo, antes do mandato de Seguro. Três anos em que, apesar disso, o PS registou três vitórias eleitorais -- nas regionais açorianas, nas autárquicas e nas europeias.
Há uma tendência crescente para a perda de memória na política portuguesa. Até por isso convém ir lembrando alguns factos essenciais. Como estes.
1. Foi o terceiro. E o último. E, de longe, o pior debate dos três que opuseram os "candidatos a primeiro-ministro" nas hostes socialistas. Com António José Seguro e António Costa falando grande parte do tempo em simultâneo, em tom exaltado, sobrepondo os discursos. Não sei o que se passou convosco: eu não consegui perceber várias frases que proferiram no estúdio da RTP. João Adelino Faria, o moderador, tinha consciência disso mesmo e tentou aplacar os ânimos. Infelizmente sem sucesso.
2. Custa entender tanta animosidade pessoal num partido onde grande parte dos militantes ainda utiliza o termo "camarada": cada vez mais se conclui que as diferenças entre os candidatos são de estilo, não de fundo. Um aspecto aliás realçado pelo guarda-roupa digno de Dupond & Dupont: apresentaram-se ambos de fato cinzento escuro e gravata vermelha. Com pouca convicção, Costa tentou gracejar a propósito deste assunto, lembrando que partilham o fervor benfiquista. Nos primeiros minutos, ainda trocaram umas amenidades de salão.
3. Mas Seguro não estava para graças. Visivelmente mais tenso, e com uma linguagem corporal muito rígida, o secretário-geral socialista abriu hostilidades, procurando percorrer o trilho do frente-a-frente inaugural, em que saiu vencedor: «Há uma crise no PS provocada pelo António Costa.» Estava dado o mote para o despique verbal que preencheria o resto do debate. Com uma diferença digna de registo: desta vez Costa foi a jogo. Coube até ao autarca de Lisboa a frase mais contundente deste despique travado sob os holofotes da estação pública: «Se tu tivesses tido um décimo da agressividade que tens contra mim na oposição a este governo, este governo já tinha caído.»
4. Ficou a sensação de que Seguro se apercebeu, naquele preciso instante, que se arriscava a perder o confronto -- o que de facto viria a acontecer. Mas teria perdido só à tangente se não tivesse ensaiado então uma fuga para a frente, cometendo o erro de mencionar um episódio dificilmente perceptível pelos telespectadores relacionado com o advogado Nuno Godinho de Matos, apoiante de Costa, na frustrada tentativa de associar o rival a interesses obscuros. Saiu-lhe mal o tiro, que o fez descer ao nível do diz-que-disse próprio das conversas de barbeiro.
5. O autarca exibiu um gráfico de sondagem demonstrando a preferência que lhe dedicarão os eleitores num hipotético confronto eleitoral com Passos Coelho. Seguro contrapôs com o barómetro do Expresso que «dá ao líder do PS maior popularidade» entre os políticos portugueses (assim mesmo, falando de si próprio na terceira pessoa).
6. E lá voltou o jogo do empurra, em versão déjà vu. Seguro: «Tu só vens agora disputar a liderança do PS porque terminou o memorando. Que eu não assinei nem negociei, mas honrei. Mas tu eras o nº 2 dessa direcção que subscreveu esse memorando. Agora é fácil fazer oposição.» Costa: «Agora é que é difícil fazer oposição.» Seguro: «Consegui trazer o PS das derrotas às vitórias.» Costa: «Tu deves estar desde pequenino a sonhar ser secretário-geral do PS.»
7. Houve muito mais palavras do que ideias. Costa não deixou de levitar no reino das abstracções e Seguro agarrou-se à sua proposta de reforma eleitoral em jeito de tábua de salvação quando o País em geral e o PS em particular esperariam dele uma solução luminosa para combater alguma chaga social -- o desemprego, por exemplo. O autarca apressou-se a chamar-lhe «populista», rótulo de que se usa e abusa em Portugal. A verdade é que, em termos concretos, Seguro levou pelo menos esta proposta a debate enquanto o rival ficou em branco.
8. De resto, consonância total num pacote de pias intenções: Portugal precisa de crescimento económico; os funcionários públicos devem recuperar o rendimento perdido; reformados e pensionistas não podem continuar a ser as primeiras vítimas da austeridade. La Palisse certamente concordaria.
9. No apelo final ao voto, sem ironia, o secretário-geral sublinhou que o sufrágio do próximo domingo destinar-se-á a escolher «entre a continuidade e a mudança» no Partido Socialista. Assumindo-se -- sem ironia -- como expoente da mudança. Como se não estivesse há três anos em funções no Largo do Rato. Repto aos eleitores em jeito de quadratura do círculo: mudar para continuar ou continuar para mudar?
10. Do que consegui ouvir, não gostei. E reforço cada vez mais a convicção de que deste confronto intestino resultarão feridas difíceis de sarar no maior partido da oposição, como já aqui escrevi a 7 de Junho, chamando-lhe processo autofágico em curso. Tenho hoje razões ainda mais sólidas para pensar assim.
Leitura complementar: A funda e a esfinge; A janela e o cutelo.
1. Espero que os portugueses continuem a seguir com atenção o trajecto político de Marinho e Pinto. Admito que não seja fácil, tal a rapidez com que troca de fato e aparece num novo facto. Se há coisa que um cata-vento político mantenha é a coerência. Sempre a girar, nem dá tempo para avisar.
2. O Sol titula na primeira página de hoje que "Seguro prepara surpresa" e acrescenta que o secretário-geral do PS tem na manga uma "avalancha de entradas nos últimos dias". Aguardo confirmação da cartada. Oxalá que nenhum dos novos esteja já morto e que essa avalancha de entradas não seja mais um acto de homenagem dos sobrevivos. Pensava que a decisão de um indivíduo se inscrever como simpatizante ou militante de um partido era um acto solitário, uma decisão individual, eminentemente livre e racional, tomada no último reduto da solidão, no fundo da sua consciência. Tretas.
3. Carlos Moedas diz que lhe entregaram uma pasta "chave para o crescimento da Europa", depois do novo presidente da Comissão ter dito que as pastas chave foram entregues a mulheres. Não discuto pastas em função do sexo, matéria em que quer Junker quer Moedas estarão mais à-vontade. Penso, sim, que Moedas tem uma boa oportunidade para demonstrar que é bem melhor do que aquilo que aparentou ser no Governo de Passos Coelho. O interesse nacional obriga a que lhe seja dado o benefício da dúvida.
4. O trabalho efectuado tem sido registado. A disponibilidade e vontade de melhorar idem. E pessoalmente só tenho a dizer bem de quem lá trabalha e ali me tem atendido. De qualquer modo, não deixa de ser irónico que seja o antigo chefe de gabinete de Miguel Relvas a dar conta da situação a que se chegou no Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong: menos "treze funcionários nos últimos dois anos (incluindo uma chefia)" e dificuldades "materiais – com estações de tratamento de dados biométricos continua e reiteradamente avariadas – a acrescer à questão de 2014 ser justamente o primeiro ano coincidente com a renovação obrigatória dos documentos de identificação". Fica mais claro porque renovar um cartão de cidadão ou tirar um passaporte leva vários meses. A redução de funcionários não constitui novidade. A recorrência nas avarias da estação de tratamento de dados biométricos sim. Está visto que o secretário de Estado José Cesário, apesar das constantes viagens que faz a Macau, não é o homem indicado para efectuar as reparações nos consulados. Sabe-se que o MNE vive noutro mundo, mas Passos Coelho podia já ter compreendido isso. Perceber de canos não é o mesmo que saber de circuitos de alta tecnologia. A Cesário não se lhe pode exigir mais.