Fora da caixa (2)
«Tanto me faz estar como não estar.»
Rui Rio, entrevistado pela TVI 24 (3 de Setembro)
O estatuto de ex-presidente do PSD é um dos mais ambicionados na política portuguesa. Dá um bocado para quase tudo - desde administrador não-executivo do grupo financeiro multinacional Goldman Sachs (Barroso) até comentador de futebol na TVI 24 (Menezes). Por isso não admira que Rui Rio ande obcecado por atingir tal meta. Na corrida eleitoral em curso dir-se-ia até que este é o grande objectivo que o anima.
Para lá chegar, deu ontem mais um passo decisivo. No suposto frente-a-frente com Assunção Cristas, em directo no Jornal da Noite da SIC - afinal um monólogo a duas vozes, onde era gritante (até pela linguagem corporal de ambos) a nula empatia ali reinante.
Sem necessidade, como todas as sondagens indicam, o ainda presidente do PSD tudo fez para afugentar ainda mais o que resta do seu eleitorado fiel. Posicionou-se no espaço já ocupado por António Costa: «Eu não vou disputar eleitorado à direita. Disputo mais eleitorado com o PS do que com o CDS.» E saudou como filho pródigo um trânsfuga que nas europeias de 2014, durante a governação PSD-CDS, aceitou figurar no tempo de antena socialista e em Junho de 2015 foi brindado com aplausos frenéticos na Convenção Nacional do PS ao atacar a coligação e exprimir a sua «plena confiança» em Costa.
Rio - que voltou a não proferir uma palavra sobre o anterior Executivo liderado pelo seu partido - dobrou-se em vénias ao trânsfuga, gabando-lhe o «currículo notável» e enaltecendo-o como «pessoa altamente respeitável na sociedade portuguesa». Acelera para a derrota com tão convicta pedalada que já ninguém duvida: conseguirá atingir a cobiçada meta.
Antevejo-o já como comentador no Expresso aos sábados e na RTP3 às quintas. Um futuro auspicioso.