Michael Jackson, não, obrigada!
“Então Maria Dulce, bem disposta?” "Nem sei, Sr. Doutor, estou nervosa” "Mas nervosa porquê?” "Porquê? Então o senhor no meu lugar não…” ainda ouvi alguém pedir a segunda unidade de propofol.
E veio a máscara verde, e apaguei. Creio que por duas horas, que poderiam ter sido dez. Numa marquesa ao meu lado, alinhavam-se uma série de rolos castanhos de diversos tamanhos, onde haveriam de me deitar de borco, para me poderem retalhar as costas e extirpar a nocente ruptura que me impossibilitou o andar. Não dei pela intubação traqueal.
Acordei abruptamente como se todo o corpo estivesse em polvorosa e a primeira lembrança é de muita náusea e muita gente. Tentavam que me deitasse, mas parece que tinha ganho superpoderes e não foi fácil manter-me deitada. Voltei a apagar.
Acordei agitada, com a sensação de que estava num iglu. Alguém ligou um edredão insuflável e de repente estava numa espreguiçadeira sob o sol calmo do meu Alvor, e assim fiquei numa atenta modorra até me subirem para o quarto.
Pelo que fui ouvindo dizer, apanhando frases dispersas aqui e ali, naquele éter de cortinas e sons de aparelhos de séries de TV, estou em crer que este meu despertar foi um filme. Depois de tanto ler sobre as maravilhas do propofol, que se diz proporcionar a quem o utiliza um sono tranquilo, sem sonhos e com um acordar relaxado, não esperava nada menos do que isso mesmo. Mas não. Comigo não funcionou. Como tal não segundo essa falácia.
Michael Jackson, não, obrigada!
(Imagens Google)