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Delito de Opinião

Andrija dnevnik putovange, dan 2

André Couto, 19.08.09

Madrugada fora num Bar de Ljubljana as conversas foram-se sucedendo. É giro como nestes lugares onde as mais diferentes culturas desaguam os idiomas nunca são um problema. O Milos, nativo boémio da cidade que me acolhia, dava asas à sabedoria sólida de quem já ia para além dos sessenta. Sobre Portugal dizia que tem exactamente os mesmos complexos que a Eslovénia. Dizia, certeiro, que quando vamos a Paris nenhum francês nos pergunta se gostámos da cidade ou do País, ao contrário do que acontece em Lisboa ou Ljubljana. Uma questão de egos ou será que é a natural hospitalidade que caracteriza os portugueses e os eslovenos?

Das mulheres dizia serem a salvação do mundo e a única hipótese de este se safar. No fundo é tudo uma questão de eggs, hipóteses de procriar. Os homens têm milhares de milhões enquanto as mulheres vivem em media 450 ciclos férteis. Como tal as mulheres são mais cerebrais e protectoras da vida e dos projectos onde se envolvem, em contraponto com os homens que, dada a abundância, perdem o tino e acham sempre que o céu é o limite perdendo-se em batalhas e guerras estéreis que têm marcado e manchado a história. Mulheres ao poder? Por este motivo?

 

Zagreb fez-me lembrar Havana. Uma cidade de edifícios deslumbrantes mas na sua maioria bastante degradados. No entanto, ao contrário da capital cubana, em Zagreb já se nota um esforço de recuperação do parque edificado. Ao ritmo patente, alguns anos mais e dará cartas, merecidamente, entre as mais concorridas cidades europeias.

Andrija dnevnik putovange, dan 1

André Couto, 16.08.09

O dia 1 foi vivido na Eslovénia, em tudo a Irlanda desta zona da Europa. Destaco o verde impressionante do campo ao centro das cidades, as estradas sempre ladeadas por enormes árvores ou resplandecentes prados, tudo limpo e organizado, desenhado ao pormenor naquilo que certamente foram trabalhos urbanísticos sérios e precisos. A generalidade dos nossos governantes dos últimos 20 anos deveria estagiar aqui. Foi certeira a forma como aplicaram os imensos fundos comunitários que chegaram. Vias de comunicação q.b., aposta profunda no desenvolvimento de indústrias de ponta geradoras de mais valias a nível de balança comercial e um enorme desenvolvimento do turismo. Cada castelo, cada gruta, cada pequena atracção é aproveitada reclamando a atenção e o dinheiro dos turistas, sendo quase inevitável passar e gastar lá. O mais giro no meio disto é que nada de especial há para ver, exceptuando as Grutas de Postojna com longos 20 quilómetros de caminho, uma impressionante beleza que a natureza construiu durante milhões de anos.

Ljubjiana é o espelho do País. Uma cidade naturalmente encantadora, limpa e verde, cheia de gente prestável comunicativa e simpática mas sem nada de especial a reter.

Midas passou por aqui, sem oferecer nada, a Eslovénia oferece tudo e é esta a sensação com que saio daqui. Um país muito simpático e que recomendo, mas onde não se deve gastar mais do que um dia.

Vou fazer-me à estrada. Chegado a Zagreb, falar-vos-ei dos Milos.

Andrija dnevnik putovange, dan 0

André Couto, 15.08.09

O esforçado inglês dos italianos que por função se obrigam a trauteá-lo, porque dos outros nem uma palavra, será certamente um dos momentos cómicos a registar no fim desta viagem. Itália era uma mero ponto de passagem, mal aterrámos seguimos para a Eslovénia, o primeiro destino.

Chegámos a Postojna, 500 quilómetros depois, já a madrugada ia alta. Ainda assim fomos recebidos pelo Gabrijel que meio estremunhado não se coibiu a ficar "à palheta" connosco.

Tinha estado uns meses na Maia em tempos em que era motorista numa empresa dedicada ao turismo. Tendo estado em Portugal e trabalhado com portugueses disse-nos achar que os eslovenos e os portugueses são povos gémeos, apesar de não o saberem pela distância geográfica que os separa. Disse achar isso por afinidades históricas de capacidade de luta, contra inimigos internos e externos, e pela forma como a dimensão e meio envolvente os trabalharam. Prometeu-nos que iríamos conhecer os espanhóis em breve. Não percebi se era um elogio aos mesmos. Espero para ver.

Andrija dnevnik putovange, dan -1 *

André Couto, 13.08.09

Embarco amanhã rumo a Milão. Ao longo de quase três semanas esperam-me outras gentes e culturas. Os destinos, um de cada vez e com a vivência certa, serão Eslovénia, Hungria, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Croácia. Eventualmente Kosovo e Macedónia consoante o vento e o tempo fizerem valer as suas vontades, porque viajar exige o seu quê de liberdade, indefinição e improviso, going with the flow...

Na medida das contingências locais deixarei aqui breves crónicas de viagem. Mais do que maçar-vos com as minhas palavras, procurarei deixar testemunhos de outras línguas, histórias e religiões, retratos de paragens que, embora aqui ao lado, parecem infinitamente diferentes e distantes.

 

(* Crónicas de viagem do André, dia -1)