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Delito de Opinião

Não acerta uma

Pedro Correia, 10.07.24

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Ventura com Orbán: diz-me que aliados escolhes, dir-te-ei quem és

 

Desde que fez um brilharete nas legislativas de 10 de Março, conseguindo eleger um grupo parlamentar com 50 deputados, André Ventura tem andado em evidente desatino. Não acerta uma.

O mais recente disparate protagonizado pelo líder do Chega foi a súbita mudança de família eleitoral. Decidiu abandonar a bancada da Identidade e Democracia, trocando-a pelo novíssimo grupo Patriotas Pela Europa, que tem como figura tutelar o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. 

Problema: Ventura tomou esta iniciativa no dia em que Orbán abraçava em Moscovo o agressor da Ucrânia, agindo como cavalo de Tróia do ditador russo na União Europeia. Não podia haver pior ocasião para pôr o Chega a reboque do partido governamental da Hungria. «Um passo extraordinariamente perigoso para a Europa», como sublinhou El Mundo em editorial.

Quatro dias depois, os russos bombardearam Kiev, destruindo grande parte do maior hospital pediátrico ucraniano. Numa vaga de ataques que causaram pelo menos 38 mortos, incluindo quatro crianças. Novos quadros de horror, somados a tantos outros nesta criminosa violação do direito internacional que se prolonga há 29 meses.

Agora é oficial: Ventura, amigo do melhor amigo de Putin no espaço comunitário. Parceiros no Parlamento Europeu, cúmplices e compinchas, enquanto a Ucrânia sangra e sofre. 

Diz-me que aliados escolhes, dir-te-ei quem és.

Derrotado em 3091 freguesias do País

Pedro Correia, 13.06.24

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André Ventura não fazia a coisa por menos: anunciou aos quatro ventos que queria vencer as eleições europeias.

Inchou de tal maneira, tal como sucedeu à rã na fábula, que confundiu desejos com realidades. Sem perceber a diferença.

O tira-teimas aconteceu a 9 de Junho: fracassou em toda a linha. No país inteiro, ninguém apostou no Chega em lugar algum.

Perdão: Ventura conseguiu ser primeiro numa freguesia portuguesa. Gondoriz, no concelho de Arcos de Valdevez. Por apenas quatro votos.

Nas restantes 3091 freguesias só registou derrotas. 

A montanha-russa

Pedro Correia, 08.05.24

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Instaurar queixa-crime contra o Presidente da República por suposta «traição à pátria», como ontem André Ventura anunciou com base em putativos pareceres jurídicos de pai e mãe incógnitos, é ideia a tal ponto demencial que terá suscitado estupefacção até entre deputados do Chega.

Ventura está na política em loop contínuo: entra em ansiedade se permanecer um par de horas sem surgir na televisão. Ontem partilhou as prioridades noticiosas com José Castelo Branco - outro astro das pantalhas, agora suspeito de violência doméstica. Isto permite-lhe desviar atenções dos temas europeus, cada vez mais incómodos para o seu partido - que se prepara para integrar uma família política na Eurocâmara (o Grupo Identidade e Democracia, da ultra-direita) onde abundam os apoiantes de Putin. E ocultar as posições pró-Moscovo do candidato que escolheu para encabeçar a sua lista às eleições de 9 de Junho.

Mas tamanho frenesim não se explica apenas por estas considerações de mero cálculo político. O líder do Chega foi-se viciando em descargas de adrenalina próprias de quem se embriaga com as alucinantes reviravoltas da montanha-russa. Acabará por ser vítima delas: outros o forçarão a experimentar o seu próprio veneno populista, em dose redobrada. Mais cedo do que tarde, como se verá.

O Chega

Paulo Sousa, 12.03.24

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Depois de uma longa noite eleitoral, todos acabamos por ser surpreendidos por algo que já sabíamos que podia acontecer. Fez lembrar a “Crónica de uma morte anunciada”, não sobre a morte do Santiago Nasar, mas sobre a quadruplicação dos mandatos obtidos pelo Chega.

A análise desta surpresa anunciada pode ser feita sobre diferente aspectos, que aqui tentarei abordar.

Quando o autoproclamado Salvador de Portugal, por vontade de Deus, começou a aparecer na actualidade política, os apoios que ia recebendo não eram mais do que votos de protesto. As sociedades, tal e qual como têm sempre indivíduos que povoam o que designamos por margens, têm sempre dentro de si gente capaz de votar num palerma, não pelo que diz, mas apesar do que ele diz. E fazem-no por se quererem associar ao incómodo que este causa à maioria.

Eu conheço quem, por sentir que rapidamente fica fora de uma conversa sobre política, economia ou outro assunto mais elaborado, se contente com explicações simples sobre assuntos complexos. Daí até acharem piada ao tipo que comentava o futebol a dirigir-se em directo a Cavaco tratando-o por tu, vai apenas um passo. Muita desta gente, designada por Hilary Clinton como “os deploráveis”, vive nas periferias, fora da bolha mediática, trabalha, paga impostos, tem pouco poder de compra, vai de madrugada para a porta do Centro de Saúde para conseguir uma consulta, espera anos por uma cirurgia, não sabe se a maternidade onde era suposto os seus filhos nascerem irá estar aberta, não consegue colocar os seus filhos numa creche, irrita-se com muitos dos apoios sociais que sustentam as pastelarias a servir pequenos-almoços, farta-se de saber de casos de corrupção sem consequências e acha que os políticos são todos iguais. Todos menos o Ventura, que é maluco e manda umas bocas. E todos eles têm o direito a um voto.

Alguns dos portugueses que acham isto são jovens em início de vida. Não conseguem rendimentos que lhes permitam tornar-se independentes. Desde que se lembram de ser gente que se fala em crise. Desde sempre a economia está estagnada. Sabem que continuamos a ser ultrapassados por países que há poucos anos eram mais pobres que nós. Os mais interessados já sabem que no dia, que erradamente julgam muito longínquo, em que se reformarem terão apenas direito a menos de 50% do último ordenado. Todos conhecem um, ou vários, colegas da escola que emigraram e que no verão regressam à terra nos seus carros vistosos de matrícula da Suíça ou do Luxemburgo. Para eles, todo este mal-estar social tem um nome e chama-se Socialismo. Quem duvidar disso, verifique o perfil etário dos votantes do PS. Quem conhecer gente desta, portugueses como eu, olhará para o trajecto eleitoral dos últimos anos do PCP e conseguirá antever o futuro do PS. Quem não conhecer gente como esta, um dia irá ser surpreendido por mais uma “Crónica de uma morte anunciada”.

As causas da esquerda são também irritantes. A revolução sexual foi chão que deu uvas já nos tempos dos pais deles e não querem saber das causas ditas fracturantes para nada. Cada qual faz o que entende com a sua vida e o que os realmente incomoda são os sacanas com dinheiro a brincar com a justiça para evitar serem julgados.

O tempo avança em movimentos pendulares. Ser de esquerda é tão natural para uma parte da geração que assistiu ao início do regime como o contrário será no ciclo que, entretanto, já começou. Lembro-me perfeitamente do optimismo e dos ganhos objectivos que os portugueses sentiram no tempo que se seguiu à adesão à CEE e da forma como os governos de então conseguiram cavalgar aquela onda, mas muita desta gente ainda não era viva nessa altura. O desaproveitamento da anterior maioria absoluta do PS é como um pico de uma evolução no desapontamento com este regime.

Existe um factor regional que explica alguma da distribuição geográfica dos votantes no Chega. O país fundado a norte por uma aristocracia nobiliária não é igual ao sul dos concelhos, criados por cartas foral ao ritmo da reconquista. José Mattoso mostrou-nos isso n”O essencial sobre a formação da nacionalidade”. Vimos isso nos tempos do PREC, com uma fronteira informal em Rio Maior, e continuamos a ver o mesmo em cada acto eleitoral. Na Guerra Civil do século XIX, já os liberais se concentravam no norte, enquanto os miguelistas (anti-liberais) reuniam os seus maiores apoios a sul. A antiga tradição comunista no Alentejo faz parte do mesmo fenómeno, tal e qual o que acontece agora ao Chega.

Temos assim duas camadas sobrepostas de apoiantes de Ventura, a dos descontentes com os inconseguimentos de Abril, e da predisposição sociológica regional.

Este tipo de partidos não são novidade na Europa nem no mundo democrático. Se Trump é o mais conhecido dos lunáticos populistas democraticamente eleitos, não podemos esquecer o laboratório sempre precoce no lançamento de novos fenómenos políticos que é a Itália. Berlusconi foi o primeiro deste género que, entretanto, alastrou. Nas democracias europeias que já se viram a braços com o populismo de direita o primeiro impulso foi levantar a cerca sanitária. O resultado desta táctica foi o crescimento destes partidos e em nenhum deles a democracia foi posta em causa.

Nos casos da Hungria e Polónia verificaram-se ingerências políticas na justiça, mas foi no Portugal governado pelo PS, com MRS como Presidente, que o Caso Manuel Vicente foi enviado para Angola. E, arrisco, o Caso Influencer terá um desenvolvimento conveniente, em decisões e no calendário, às ambições políticas de António Costa. Será giro de ver como as exigências de asseio político para a entronização do próximo Presidente do Conselho só serão possíveis de cumprir depois de dar uns safanões no Ministério Público.

Regressando aos demais casos europeus, estes partidos só regrediram quando se envolveram na governação. Foi então que os seus apoiantes verificaram que afinal os temas complexos não têm soluções simples e todas as promessas feitas não se distinguiam das suas boas intenções. No momento seguinte, desiludidos com os populistas, regressaram à abstenção e aos partidos tradicionais, entretanto mais acordados sobre os reais problemas dos cidadãos. Eu, que nunca votarei no Chega, acho que, mais tarde ou mais cedo, acabaremos por assistir ao seu envolvimento num governo português. Graças aos tratados europeus, que nos garantem alguma decência democrática, conseguimos sobreviver a tanto desmando e irresponsabilidade nas últimas décadas, que não serão as palermices do quarto pastorinho afundar a nossa democracia.

E termino com a constatação de uma das características que fazem da democracia um sistema político com menos defeitos que os demais. O processo eleitoral garante válvulas de escape sociais. Sem elas, um destes dias seríamos surpreendidos com manifestações de desagrado bem mais graves do que ver um milhão de portugueses a votar num palerma.

Traidor, idiota útil, prostituta política

Legislativas 2024 (7)

Pedro Correia, 14.02.24

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Os debates, num registo frente-a-frente, têm sido entre líderes de partidos. Mas certos jornalistas que deviam moderá-los, em vez de se apagarem o mais possível, procuram concorrer com os políticos em fome de palco. Fazendo lembrar aqueles árbitros que roubam protagonismo aos jogadores em partidas de futebol exibindo cartões de várias cores a torto e a direito enquanto apitam a cada 30 segundos. Numa tentativa desesperada de serem o centro das atenções.

Infelizmente isto não acontece só nos estádios: passa-se o mesmo nos estúdios. Na segunda-feira de Carnaval, na RTP, o moderador do debate entre Luís Montenegro e André Ventura fez tudo para se evidenciar. E, de algum modo, concretizou o objectivo: naqueles 39 minutos conseguiu interromper 121 vezes os candidatos! Quase em partes iguais, com o presidente do PSD a ver as suas frases 61 vezes cortadas por João Adelino Faria, enquanto o mesmo sucedeu 60 vezes ao presidente do Chega.

«Quando estamos os três a falar, ninguém nos ouve», lamentou a certa altura o pivô da RTP. Num involuntário exercício de autocrítica, pois era incapaz de se calar enquanto os dois políticos se confrontavam.

«Temos muito pouco tempo», foi outra das suas frases, dignas de cronometrista. Além da bengala verbal «muito bem» que já se transformou numa espécie de senha no canal público de televisão. É raro o jornalista que ali não usa e abusa dela, mesmo totalmente fora de contexto. Já ouvi alguns dizerem «muito bem» até quando se fala de guerras, massacres, catástrofes climáticas ou epidemias. Vale para tudo.

 

Quanto ao debate em si, nos escassos momentos em que Faria deixou os participantes completarem três frases, a ideia dominante foi esta: o Chega funciona como aliado objectivo do PS. Daí ter sido eleito, durante toda a legislatura que agora termina, como interlocutor preferencial de António Costa nos confrontos parlamentares - imitando o precedente inaugurado em França, na década de 80, pelo socialista François Mitterrand com a ultra-direita de Jean Marie Le Pen.

Os socialistas, cá como lá, alimentaram o ovo da serpente. Na expectativa de assim neutralizarem a direita moderada, sua rival directa nas urnas. Em França, o tiro saiu-lhes pela culatra: o Reagrupamento Nacional, liderado pela filha de Le Pen, tem hoje 89 deputados na Assembleia Nacional enquanto o PSF não conseguiu eleger mais do que 24, entre 577 lugares, nas legislativas de 2022. Tornou-se um partido irrelevante.

 

Neste confronto na RTP, Montenegro fez o que lhe competia. Desmascarando a irresponsabilidade do Chega, que exige agora o direito à filiação partidária e o direito à greve aos elementos das forças de segurança sem avaliar as consequências do que propõe. E esclareceu que só as 13 medidas mais emblemáticas do pacote de promessas eleitorais do partido da direita populista custariam cerca de 25,5 mil milhões de euros se fossem postas em prática - o equivalente a 9% do PIB anual português.

Contas que aparentemente Ventura não fez: embatucou ao ouvir isto, ficando sem resposta. 

Argumentou como? À maneira dele: com insultos.

Acusou o PSD de «traição», de «espezinhar as forças de segurança», de «enganar os pensionistas há 50 anos», de ser «uma prostituta política». Montenegro, para ele, é «o idiota útil da esquerda» - representante «de um sistema que nos tem dado corrupção, tachos e bandidos à solta».

 

Eis o caudilho do Chega, uma vez mais, a funcionar como guarda avançada do PS. Nem lhe passaria pela cabeça chamar alguma vez «prostituta política» a António Costa...

Ventura berra tudo quanto for preciso para gerar títulos na imprensa e cliques nas redes sociais. Mesmo baixando cada vez mais o nível. Comparado com ele, o Tino de Rans faz figura de estadista.

Este debate confirmou que há sérios problemas de governabilidade à direita com o líder do Chega em cena. À esquerda, ninguém imagina uma peixeirada destas entre Mariana Mortágua, Paulo Raimundo e Pedro Nuno Santos.

Montenegro nunca governará com quem lhe chama idiota e traidor, nem se coligará com quem acusa o PSD de prostituição política. Há limites para tudo. De algum modo, beneficiou com a estridência insultuosa de Ventura: atraiu votos moderados, separando as águas. «Muito bem», como diria João Adelino Faria pela enésima vez, repetindo a bengala verbal tão em voga na RTP.

Afinal são mesmo todos iguais

Paulo Sousa, 13.01.24

O partido de um homem só, Chega, não se cansa de propalar que a sua pureza moral o coloca num patamar superior e isso lhe permite apontar os podres dos demais partidos, os partidos do sistema. Essa é a essência do populismo. André Ventura tenta fazer-se passar como o verdadeiro intérprete dos brados do povo português contra as elites corruptas. As sondagens dizem que tem sido bem sucedido nessa estratégia comunicacional.

Ontem, no último plenário da legislatura que agora termina, os partidos entenderam-se e, numa rara unanimidade, votaram o projecto de lei 999 que alarga os casos em que os deputados possam receber ajudas de custo. Pessoalmente, acho que os deputados não são assim tão bem pagos e todo o seu pacote remuneratório deveria ser reformado. É claro que este é sempre um assunto que proporciona bons soundbites e que por isso se torna delicado de alterar. Vai daí, os deputados de todo o hemiciclo escolheram a última sessão da legislatura para aprovar, em tempo recorde e sem debate no hemiciclo, uma alteração à forma como são remunerados. Mas atenção! Todos os deputados, excepto os do partido... não não, foram mesmo todos.

A Coelha Acácia

jpt, 20.09.22

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Longe vão os tempos em que quis usar blogs (ou "redes") para questiúnculas políticas, acima de tudo devido a, então quarentão, me ter deparado com a conivência e cumplicidade dos letrados lisboetas com o tétrico socratismo. Sigo agora neste aqui digital, já proto-sexagenário, entre algumas comezainas, um ou outro livro para o qual ainda me consigo concentrar, o meu Sporting, qualquer novidade moçambicana (lá de onde ficou o que de mim terá prestado). E, é certo, o revisitar da filmografia da Julia Roberts.
 
Ainda assim hoje atrevo-me a ir à política, mas agora sem acinte, pois na sageza etária resumo-me a que que cada um tenha as suas opiniões e as defenda com lisura. Mas, raisparta, tenho de me solidarizar com todos aqueles que anseiam por um líder coriáceo, até mesmo qual "capo", que venha a reengrandecer o Portugal pátrio, firme expurgando-o das aleivosias e estranhezas. E depois sai-lhes este tipo, a lamuriar-se em público, e mesmo num "até sempre", com a morte de um coelho! Isto só visto, pois tamanho cúmulo de ridículo se apenas contado ninguém acreditaria.

Ventura Strikes Again

jpt, 22.07.22

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(Fotografia de António Cotrim, Lusa)

O deputado Ventura clamou contra a chegada de estrangeiros - que não turistas, entenda-se - a Portugal. Entende-a como uma ameaça grave e um disparatado desperdício de recursos públicos. Para além de questões de princípios e do ordenamento jurídico internacional, será de olhar para os argumentos que costumam alimentar esta recusa dos estrangeiros (repito, que não dos turistas).  

Portugal tem apenas 5,4% de imigrantes. É um dos países da União Europeia que menos concede direitos de nacionalidade a estrangeiros. É, notoriamente, um dos países da União Europeia com menor fluxo de imigrantes (e a UE não é um dos maiores destinos de imigração - surge em 12º lugar neste documento, mas é uma posição algo artificial, mas é uma indicação que serve para matizar a ideia feita de ser o alvo primordial da mobilidade). É um dos países europeus com menor número de refugiados e de pedidos de asilo. Os estrangeiros residentes não têm elevada criminalidade. E a taxa de desemprego não está muito elevada.*

Já agora, e como quem não quer a coisa..., Portugal tem, pelo menos desde XIX, uma longa experiência de emigração (Brasil, América do Norte, Europa Ocidental, África, sucessivamente). E continua a tê-la - ainda que os propagandistas avençados pelo PS e os agitadores profissionais do BE continuem a reduzir a emigração em XXI a efeitos do satanismo liberal de Passos Coelho. Disso resulta termos centenas de milhares (pelo menos) de cidadãos emigrados e milhões de seus descendentes no estrangeiro - com direito a requerer a nacionalidade, se o entenderem. E é neste país, com este historial e este presente, que se botam estas tralhas.

Ou seja, o paleio de Ventura nada mais é do que um animar das suas hostes (morcãs). É um aldrabismo, boçal. Um vácuo tonitruar de quem pouco ou nada tem para adiantar sobre a situação nacional e sobre o que é necessário avançar. Isto é uma bosta intelectual e um escarro moral. Aliás, é André Ventura.

 

*As estatísticas vão variando de ano para ano, e de fonte para fonte. Deixo estas ligações, encontradas em rápida pesquisa no Google. Se o meu objectivo fosse fazer um ensaio, a selecção de fontes estatísticas teria de ser mais cuidada, fundamentalmente em termos da sua coerência. Mas isto é um postal de blog, assim sendo mais do que suficiente a opção por fontes avulsas, desde que credíveis.

Santos vs Ventura

jpt, 13.01.22

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(Postal para o meu mural de Facebook)

Nesta madrugada li imensas referências ao debate entre o dr. Santos e o prof. Ventura, e muito elogiosas do presidente do CDS. Elogios esses plantados por gente de centro e direita, mas também por gente de esquerda, até personalidades públicas. Todos saudando não só a veemência aposta pelo dr. Rodrigues dos Santos como a cristalina distinção que fez entre uma direita democrática, comungando os "valores civilizacionais democráticos" e uma extrema-direita populista (e fascizante, também se diz), encabeçada pelo prof. Ventura - esse epifenómeno passageiro, como tanto insisto desde que o partido do prof. Rui Tavares, com o conúbio da "imprensa de referência" que lhe é tão simpática bem como ao PS, se quis através dele alavancar aventando escatologias. Tanto assim foi que, ainda enremelado, fui ver a gravação. Do debate ou, melhor dizendo, do embate retirei duas conclusões, uma abrangente e outra eventual: 

1 - Da questão abrangente: li imensas loas de gente de esquerda à democraticidade explicitada pelo presidente do CDS, que a reclamou ancorada no meio século de história do partido - e sabendo-se este como o tradicional partido da direita portuguesa (apesar do seu nome, marcado pelo ambiente ideológico nacional aquando da sua fundação). Dado esse coro de elogios será então de esperar que acabem as patacoadas que tantos botam regularmente (então nos aniversários do 25 de Abril torna-se um "meme") sobre o salazarenta direita, os fascistas do CDS e do PSD, enfim, que finde a constante invectiva demonizadora sobre aqueles (partidos e cidadãos) que não partilham nem ideário nem "imaginário" (como esteve na moda dizer) marxista ou "pós-marxista" (como é agora uso corrente). Que tenham aqueles que usam como escalfeta moral uma "identidade" de esquerda (por mais reaccionários clientelares que, de facto, sejam no exercício de cidadania e na luta pelo leite das respectivas crianças) consciência de que é uma estupidez execrável chamar "fascista" a Passos Coelho, Paulo Portas (ou Merkel, Bento XVI ou aos Borbón), como tanto gostam, e estar agora a saudar o tal "cristalino" apartar que Rodrigues dos Santos fez entre democraticidade doutrinária e a sua ausência. E julgo que alguns dos meus amigos-reais percebem que é deles que me estou a lembrar ("este Zezé está um chato do caraças, envelheceu mal, que o viu e quem o vê..."; "o Zé Teixeira é um ressabiado", "o José Teixeira é um.... fascista", já ouço). 

E para que não se pense que falo do passado, mesmo que recente, recordo que o socialista Ascenso Simões - a quem os académicos de vários centros de investigação e múltiplos intelectuais "decoloniais" tanto apreciarão dadas as suas propostas de teor urbanístico - acabou de fazer uma correlação cultural e moral entre as SS (nazis, para quem se esqueça) e Rui Rio. E é num partido que valoriza esta gentalha que eles se revêm (pelo menos como "facilitador" de subsídios). 

2 - Do eventual (événementiel, para ficar mais elegante): após o elogiado embate Ventura-Santos foi proclamado o KO técnico em favor do aguerrido lutador Santos. Enfim, cada cabeça sua sentença... É certo que Santos esteve bem, ao demarcar-se de codicioso Ventura, mantendo-se assim à distância dos seus lestos "punches". E mandou algumas "bocas" vigorosas, sonantes, tendo até havido "contagens de protecção" após dois ou três dos seus "cruzados" verbais (ficou-me na retina a sua excelente combinação do "desfile de cavalaria"). E, em especial, um impactante "gancho" (a alusão ao atrapalhado capitalista Vieira, de quem o prof. Ventura é, consabidamente, uma criatura), seguido de um poderoso "directo", na alusão à pantomina do catolicismo venturiano, que deixou o oponente encostado às cordas, atordoado e defendendo-se com frustres "jabs" sobre a vida interna do CDS enquanto gritava "maricón" ao adversário, tentando desconcentrá-lo enfurecendo-o. 

De facto Ventura surgiu com alguma petulância, típica do incumbente campeão desta categoria de pesos-leves, subvalorizando o jovem candidato, dono de um menor currículo pois no dealbar de uma carreira, e bastante preterido nas casas de apostas. Ainda assim algo se recompôs, readquiriu algum ritmo. E impôs um "directo", na alusão à participação sportinguista de Santos. Este, que seguia embalado no seu cadinho de golpes, coisa da sua inexperiência juvenil, foi ao tapete - acontecendo "contagem de protecção" -, e devido a golpe que teria sido de fácil defesa, do qual nem se protegeu nem foi assim capaz de ripostar (pois ao contrário do problemático "embrulho" Vieira, sobre a actual presidência de Varandas nada consta de ilegal, apenas uma saudável e louvável participação associativa numa instituição de utilidade pública). E, finalmente, Ventura aplicou, com mestria, um poderoso "uppercut" do qual Santos foi "salvo pelo gongo" no último assalto, naquela questão irrespondida sobre a proposta do CDS relativa à interdição dos responsáveis políticos transitarem para empresas das áreas que tutelaram (o CHEGA propõe um tonitruante impedimento perpétuo, que chama a atenção popular, o CDS uma sabática de dois anos, que ganha simpatia entre "quadros"). 

Mas dado que o combate foi decidido a pontos há que ter em consideração as penalizações. Pois Santos utilizou "golpes baixos" (abaixo da linha de cintura). Isso ao acusar Ventura de estar envolvido em casos de corrupção (tendo ilustrado com uma condenação por declarações, o que é outra coisa), o que é factualmente incorrecto. Será importante para todos aqueles agora laudatórios de centro e de direita, que enchem a boca com o "Estado de Direito", e para todos os de esquerda, que passaram (mais de) uma década a defender as tropelias do governamental PS sob José Sócrates (e com tantos destes actuais governantes e [euro]deputados socialistas), em nome da inexistência de processos, de provas e falando de "cabalas" da ressabiada "direita", apesar das óbvias e consabidas manigâncias socialistas de então, pensem bem se é aceitável este tipo de argumentação pugilista. 

Enfim, o meu voto? Renhida vitória por pontos do incumbente Ventura (a qual espero ter sido qual a de Pirro), devido às penalizações regulamentares sofridas pelo candidato Santos.

Calma e ponderação

Cristina Torrão, 04.01.22

Sei que vou de novo provocar a ira de comentadores habituais do Delito. Mas não me importo. O problema é deles, não é meu. Penso pela minha própria cabeça, tenho os meus princípios e as minhas convicções e não prescindo deles para agradar seja a quem for.

Depois do debate de ontem entre Rui Rio e André Ventura (que não vi, mas baseio-me no artigo aqui linkado), o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, acusou o líder do PSD de ceder ao populismo ao “negociar em direto e ao vivo” com o líder do partido Chega, André Ventura, admitindo até “ceder na proibição da prisão perpétua”.

Ora, lendo o artigo em questão, constatamos que isto é um verdadeiro exagero, roça mesmo a calúnia, já que o presidente do PSD rejeitou hoje qualquer coligação de Governo com o Chega, que considerou “um partido instável”. E, mesmo na questão da prisão perpétua, Rui Rio fez questão de separar os vários regimes de prisão perpétua que existem - citando o exemplo da Alemanha em que este tipo de pena é revisto ao fim de 15 anos sob forma de liberdade condicional - e afastando-se daqueles em que alguém pode ser preso por toda a vida.

Na minha opinião, Rui Rio esteve bem nestas declarações, mas deve ser ainda mais assertivo na sua rejeição a qualquer tipo de acordo com o Chega. Denominá-lo de partido instável é insuficiente! Ele tem de deixar claro que o Chega não é um partido aceitável, na nossa democracia, não dando azo a especulações como as feitas por José Luís Carneiro.

Também deve, por isso, resistir a qualquer tentativa de sedução por parte do líder cheguista, que diz estar disponível para “conversar” para afastar António Costa, embora insistindo numa presença no executivo. “Ninguém vota no Chega para ser muleta do PSD, para nós é preciso conversar para haver um Governo que afaste António Costa, o Chega está disponível para conversar no pós 30 de janeiro”. E não ligar a provocações do tipo: com o líder do Chega a acusar o presidente do PSD de querer ser “o vice-primeiro-ministro de António Costa”.

Demonizar António Costa é uma radicalização bem ao jeito do líder da extrema-direita. Não seria, porém, digno de um candidato a Primeiro-Ministro, seria mesmo um grande erro, que lhe custaria votos essenciais. Afastaria eleitores indecisos, alguns que até já terão votado PS e que pensarão: "Costa até nem foi tão mau quanto isso, o melhor mesmo é deixá-lo continuar, em vez de ir o Ventura para o poder". Mas há outro aspecto que convém não ignorar: demonizar Costa é dar-lhe uma auréola de mártir. E, havendo pessoas que adoram mártires, lá fica o homem apetecível a muitos outros eleitores indecisos.

Esperemos que Rui Rio não ceda aos olhos de carneiro mal morto de Ventura, nem se deixe provocar pelas suas acusações. Desejo-lhe muita calma e ponderação!

 

Adenda: sendo as eleições a 30 de Janeiro, penso que vai sendo altura de nós emigrantes recebermos os boletins para a votação postal. Espero que não se repitam os erros de outros anos, em que os boletins são enviados tarde demais, ou nem chegam a ser enviados. Depois, acusem-nos de não ligarmos às eleições portuguesas!

O fascismo ao virar da esquina

jpt, 30.09.21

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No ressalto das eleições autárquicas li muitos (comentários em blog, comentários no meu mural de FB, postais de FB e twitter, textos de imprensa) horripilados com a quantidade de votos no CHEGA do prof. Ventura. Ouço gemidos pungentes, "tiveram 600 votos na minha freguesia", "1050 no meu concelho", "têm um vereador", etc. Foi assim criada uma alteridade escatológica, a Besta (Imunda). E proclamado que face a esses 4% momentâneos nos deveremos unir pois, como disse Niemöller (que alguns chamam Brecht), "quando o CHEGA veio buscar os ciganos, eu fiquei em silêncio (...), quando eles prenderam os subsídiodependentes, eu fiquei em silêncio" e por aí afora.
 
A razão desse imparável movimento, que em breve assumirá o poder com maioria absoluta, deveria ser-nos clara, até porque nos vem sendo anunciada na "imprensa de referência": é a malvadez ontológica da população portuguesa, emergida de um fundo sociocultural desde sempre ancorado num racismo extremo e numa total intolerância. Pérfidas características nas quais somos líderes mundiais, quando muito ex aequo, como o comprova o culto quotidiano que prestamos a Afonso de Albuquerque, Pacheco Pereira (o Duarte, não o José...), a Sá da Bandeira ou a Humberto Delgado (digo, Norton de Matos). E que agora sobreelevará o infausto Ventura e o seu partido.
 
E nisso, nesse remanso intelectual, seguem tantos de nós muito descansados. Sem lhes passar pela cabeça que a irritação do "Basta desta merda" que leva ao "Chega!" vive de banqueiros fraudulentos que se baldam à prisão após processos de décadas, de políticos com eles conluiados, de jornalistas clamando Super-Martas ou de académicos louvando o PEC4.
 
Arejemos isto. E abandonemos estes trastes opinadores. E a tal putativa Besta Escatológica finar-se-á.

Quando o justiceiro cala o bico

Pedro Correia, 24.05.21

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Luís Filipe Vieira foi recentemente à comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco, na qualidade (ou defeito) de segundo maior devedor desta instituição. Confessou que foi colocado na presidência do Sport Lisboa e Benfica por indicação de Ricardo Salgado, ficando ali como ponta-de-lança do banqueiro que já foi dono disto tudo.

«A minha ida para o Benfica não é apenas uma vontade e um orgulho da minha parte. Foi também um pedido de várias instituições financeiras interessadas na viabilização do clube», revelou.

Como favor com favor se paga, o "empresário" que dirige desde 2003 o SLB foi contraindo dívidas atrás de dívidas para financiar projectos de "investimento" cada vez mais duvidosos, contribuindo para o caudal de imparidades que levou à estrondosa queda do império Espírito Santo. No campeonato dos caloteiros, tornou-se vice-campeão. Com uma dívida superior a 400 milhões de euros que transitou para o Novo Banco.

Alguma vez ouviram André Ventura - o moralista, o justiceiro, o pregoeiro dos bons costumes anti-corrupção - sussurrar uma palavra que fosse contra o presidente do Benfica?

Pois, eu também não.

A chuvada eleitoral

jpt, 27.01.21

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A chuvada eleitoral de domingo, com o sucesso do Prof. Ventura, demonstrou a pertinência da velha máxima "o que é preciso é que se fale, mesmo que seja ... bem". Recordo o que já resmunguei: catapultado como "voz televisiva do Benfica" e, depois, "enfant terrible" de Loures, Ventura chegou aos 60 mil votos e foi resvés eleito deputado em 19. Breves minutos depois da sua eleição a então também nóvel deputação do Livre celebrou o seu sucesso eleitoral alcandorando-o a adversário fundamental, dando-lhe eco, sublinhando-o reforçando-o, como mera forma de se reclamar paladina do "antifascismo". Forma de encapuçar a estreiteza da agenda política própria e, acima de tudo, de ocupar espaço à "esquerda", onde o palanque legitimador do "antifascismo" vem sendo - e com legitimidade histórica, diga-se - ocupado pelo PCP e pelo PS. E de nisso também se apartar do BE, ao qual acabara de subtrair basto eleitorado e, também por esse novo estatuto "antifascista" reclamado, imensa atenção mediática. Pois a imprensa lisboeta, muito "gauchiste", assumiu com frenesim este novo conflito entre unideputações, novidade bem mais apetecível do que os já monótonos acintes entre os "big five".

Depois foi o que foi: Ventura soube afrontar os ideais dominantes da imprensa sem com isso a afastar; enquanto a disparatada Moreira a afastou de vez, não só pelo seu patético conflito com o "pós-stasiano" Tavares mas, acima de tudo, pelo dislate de chamar a polícia para se proteger das perguntas da imprensa, arrogância - dela e do seu assessor dos saiotes - nunca vista na democracia portuguesa. Resultado: a imprensa democrática não lhe liga, condenando-a a um silêncio revelador da sua essência, mero apêndice de um PS tacticista. Enquanto persegue, enlevada, um Ventura que seguiu rampante, capitalizando as antipatias recebidas.

O disparatismo dos "bem-pensantes" urbanos mostra-se ainda mais no rescaldo das eleições presidenciais. Leio inúmeras declarações de nojo pelos compatriotas que se (a)venturaram - na senda das declarações do grande maître à penser Malato. Vão tal e qual, estes ululantes perdigoteiros, o prof. Ventura quando fala de ciganos. Como a parvoíce - que terá evidente substrato publicitário - da organização do festival Amplifest 2021 que anuncia  não querer como espectadores quaisquer votantes do Chega. Ou, pior ainda, a recepção jubilosa de alguns textos mais desequilibrados que surgem nas redes sociais, invectivando os recém-eleitores do Chega.

Para além da indecência e da parvoíce de muitas destas reacções, o seu fundo, consciente ou inconsciente, é traçar uma "cerca sanitária" vs. Chega, para a qual será necessário traçar uma população a encerrar, o "Eleitor Chega", e demonizá-la. De facto, "queimá-la" (simbolicamente, espera-se) e ostracizá-la (moralmente). Daí o afã em traçar-lhe, o mais lesto possível, um perfil unívoco: os tipos da "direita", aliás PSD/CDS; os alentejanos do PCP, como muitos referem - ainda que, de facto, o PCP não domine o Alentejo há já bastante tempo, mas tendo ali um peso eleitoral maior do que alhures.

O que me parece óbvio é que Ventura colhe votos em vários sectores - talvez não tanto no eleitorado PS, mais sociologicamente repousado. Antes do Natal jantei com amigo emigrado, cinquentinha viajado e culto, classe média, e que se situa naquilo a que os democratas chamam "centro-direita" e a esquerda revolucionária amiúde apelida(va) de "fascista". Ou seja, é um fluído apoiante do CDS. Dizia-nos ele, algo estupefacto naquela visita anual à "Pátria Amada", que "na minha família só eu e o meu pai é que não apoiamos o Chega", e avançava, até desencantado, que lhe era agora óbvio que todos esses seus parentes "não têm vínculo com a democracia", "são saudosistas do Salazar" ainda que sempre tivessem sido eleitores de CDS e PSD, até consoante os momentos.

Este é um detalhe, individual, que pode ilustrar os bons resultados de Ventura em alguns locais urbanos, como as zonas mais favorecidas da "Linha" - que é a que aludo aqui. Ao mesmo tempo, e porque estou em Palmela, mostro os resultados de um universo que não é alentejano rural e que mostra como num eleitorado que vota basto à esquerda, Ventura surge com bons resultados. Significará o que deveria ser evidente: que as pessoas votam consoante o tipo de eleições e consoante as mensagens que querem enviar ao poder - flutuando muito mais do que os ideologizados jornalistas, empenhados intelectuais públicos ou mesmo os meros drs. locutores nas redes sociais (como este jpt).

Ou seja, houve meio milhão de pessoas que decidiram ir votar num tipo que apareceu há pouco mais de um ano e que foi insuflado pela imprensa lisboeta e pelos movimentos demagógicos de extrema-esquerda. É uma amálgama de nossos vizinhos, que o fizeram por uma série diversa de razões. E decerto que o terão feito também devido à grande máxima da política: "o que parece é!". E tudo isto parece que está mal. Pode até nem estar tão mal como parece. Mas parece estar bastante mal. E feder. E o melhor seria reflectir sobre o "estado da arte" e sobre as formas de "exposição" dessa "arte". E não, nunca, isto de andar a demonizar os nossos vizinhos, co-fregueses.