No tempo do era uma vez, as donzelas eram belas, castas e prendadas, conquistavam o coração dos seus amados, encantados ou encantadores, e depois dum sem número de peripécias, angústias, terror e sofrimento, acontecia o final feliz, selado com um beijo do verdadeiro amor e eram felizes para sempre, tudo isto enquadrado num cenário idílico, com maravilhosos pores do sol, passarinhos a chilrear e arcos-íris no céu.
Quem não gosta dum final feliz?
Eu, que sou o paradigma da chorona carpideira, em tudo o que é filme, série, mini-série, novela, cartoon, livro, revista e jornal ou caderninho de Sudoku, e que deveria receber a medalha de honra e mérito na categoria de melodrama, eu, que “num dia daqueles” vibro com as histórias das Floribellas desta vida e gasto resmas, paletes de lenços de papel, torço sempre para que a princesa fique com o sapo e vivam felizes para sempre, com uma trupe fandanga de girinos atrás.
Como diria Lavoisier, na natureza nada se perde, tudo se transforma, e os tais finais felizes, à força de se renovarem, reinventarem e estarem sempre in, acabam muito mais in-felizes, do que se pretenderia.
No espaço dum mês servi de ombro amigo, tia emprestada, psicóloga, médica, expert em coisas do coração, confidente e mentalista, não a duas, mas a dois piquenos de coração estraçalhado, cujas princesas encantadas os arquivaram na categoria de sapos, e deram às de Vila Diogo, deixando-os a afogar as mágoas, ou melhor, a afogarem-se nelas.
Já não há donzelas como antigamente! Onde é que param as pálidas e etéreas criaturas, tão dependentes, tão frágeis como dentes de leão ao vento? Muitas estão na Universidade, outras trabalham; umas criam novas amizades com interesses em comum mais cativantes, outras puxam pelos galões de Femmes Fatales, entram numa onda de curtir a vida e originam verdadeiras cenas de faca e alguidar que, declamadas por João Villaret, fariam do Fado Falado uma cantiga infantil.
Eles, os que deveriam cavalgar meio mundo, armadura resplandecente e montados num corcel branco para proteger as suas donzelas, revelam-se criaturas invertebradas, fracas e tristes, quais D. Quixotes montados em paus de vassoura, que escorraçados pelas Dulcineias, ficam sem força até para dar um espirro.
Quando acabam os argumentos, ou partem para a ignorância, ou recorrem á compaixão. Coisa triste de se ver...
O que me dói mais é ver gente que não sabe estar, que não sabe ser gente sequer! Eu sou daquelas que antes quebrar que torcer e nunca, mas nunca me haviam de ver rastejar atrás de quem me enxotou. Diz Pascal que o coração tem razões que a própria razão desconhece, mas então e se a razão do coração não tem razão nenhuma?
Será possível que aquele fogo que arde sem se ver a que chamamos amor se resuma a uma reles anedota de novela de cordel?
Esta gente doida sabe lá o que é o Amor!
(Imagens Google)