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Delito de Opinião

Revista da "imprensa"

jpt, 29.08.24

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O gigantesco CR7 está com 899 golos oficiais (e avança que quer chegar aos 1000...). Na Liga dos Campeões o Sporting irá jogar com o Manchester City e com o Arsenal - e ou seremos arrasados ou, caso contrário, o Amorim partirá para sempre... Os gajos do marketing da Mercadona conseguiram um grande trunfo sexual - e eu há anos a puxar pelo "Queen Margot" do Lidl e nem uma garrafa grátis consegui, uma injustiça. Hugo Soares, o jotão do PSD, não consegue distinguir Trump dos outros, mas o professor Ventura consegue. Pinto da Costa, proto-moribundo, diz que "Bruno de Carvalho foi injustiçado". É já consabido que a culpa da "troika" foi de Albuquerque - e entretanto ninguém se lembra que a avó do neo-Costa, Palla de seu nome, dizia, ufana, que "qualquer um seria melhor primeiro-ministro do que o último", isto quando Sócrates, o penúltimo, era o 44 de Évora e a urna de Campo de Ourique ainda não tinha sido necessária, bons velhos tempos em que o "democrático" "Observador" ainda não se prostituía ("manda os teus textos para o Observador", dizem-me os palhaços andantes...). Por falar em putas, o Ocidente é uma puta, Orban é um democrata, e a culpa da guerra da Ucrânia é mesmo dos filhosdaputa ocidentais, diz no Delito de Opinião.

O que me vale é que não vou aos ananases do Mercadona, fico-me sozinho. Onanista, que ainda verto... Junto ao Queen Margot. Esse do Lidl. Alemão, ocidental, filhodaputa.

Faltam bombeiros no SNS e urologistas nos incêndios

Sérgio de Almeida Correia, 22.08.24

Durante meses, anos, li, vi e ouvi cascar forte e feio na herança deixada pela governação socialista. E cascavam bem. Com razão.

Eu também cascava. E de tal modo que aquele senhor que chegou a Lisboa com o anti-ciclone dos Açores, devido a um pequeno problema de literacia, me colocou do lado das baixas. 

Eram hospitais e centros de saúde insuficientes, urgências fechadas, médicos ausentes, enfermeiros em fuga, um Serviço Nacional de Saúde que não dava respostas, grávidas que pariam em todas as esquinas menos nas maternidades.

Na Administração Interna era um pavor. Nunca havia meios aéreos suficientes, faltavam bombeiros. O país ardia. Perderam-se vidas e bens sem qualquer justificação.

Chegou depois o governo do Ribadouro, aquele que temos, e que iria resolver todos os problemas e mais alguns.

Medidas em barda. Promessas ainda mais. Programas para sessenta dias. Uma alegria.

Bastou chegarmos a Agosto. Abrir os jornais e ouvir as responsáveis por esses dois ministérios botarem faladura.

Não há soluções milagrosas, eu sei, mas ao ver o Professor Marcelo no areal de Monte Gordo, o presidente do Governo Regional da Madeira descansado e em banhos no Porto Santo, enquanto a Madeira arde e o seu aeroporto, os ventos e o fogo ganham repercussão internacional, em texto e imagens, refugio-me a escutar, quase diariamente, as ministras da Saúde e da Administração Interna.

A forma segura, cândida e tranquila como estas almas enfrentam os problemas nas suas áreas de acção, estou certo que darão a Luís Montenegro motivos mais do que suficientes para sorrir e estar amplamente satisfeito com as suas escolhas.

Importa é que agora sejam abertos concursos para contratar mais uns urologistas para combater os incêndios.

E, talvez, também para mais uns bombeiros. Para a Saúde. A ver se estes resolvem os problemas das escalas, dos constrangimentos, das urgências, das más interpretações. Enfim, a ver se colocam ordem no caos do SNS e se não continuamos a ir de trapalhada em trapalhada, como aconteceu com os antecessores.

Já quanto às "pessoas que menstruam"... este é um problema para a jovem Balseiro e o deputado Vitorino se entenderem.

Não sei se o Acordo Ortográfico de 1990 e o primeiro-ministro lhes darão alguma pista. Às vezes, como dizia um amigo meu, é só trocar a ordem das letras. Nada de grave. Se já se come com as mãos, se escreve com os cotovelos e se fala com os pés, alguma solução há-de haver. 

Não tarda e todo este cenário descrito há meses pelo Sarmentinho, incluindo o da dívida externa, a atingir valores astronómicos, estará resolvido.

Do arrivismo, escreveu um dos meus preferidos, que "junta a ausência de carácter à ausência de princípios", estamos nós bem protegidos com a gente que temos na política.

Estávamos antes e continuamos agora.

Bem-haja a todos. E continuação de boas férias.

Agosto é o mês de Gaius Octavius, ou de Augustus Caesar

Maria Dulce Fernandes, 01.08.24

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Agosto é o oitavo mês do calendário gregoriano. Foi nomeado em homenagem ao imperador romano Augusto César, em 8 d.C. O seu nome original era Sextilus, que significa “sexto mês” em latim, indicando a sua posição no antigo calendário romano.

Recapitulando um pouco: quando Júlio César chegou ao poder em 46 a.C., o calendário era confuso e precisava de grandes ajustes. Depois de consultar um astrónomo grego de nome Sosígenes, César ordenou as seguintes alterações ao calendário romano:

O calendário lunar seria substituído por um calendário solar. O ano teria 365¼ dias em vez de 365. O ano começaria em Janeiro e teria doze meses de duração fixa. Um dia extra seria adicionado a cada quatro anos no mês de Fevereiro. Os meses de Janeiro, Março, Maio, (os agora) Julho e Agosto, Outubro e Dezembro teriam 31 dias. Todos os outros meses teriam 30, excepto Fevereiro, com 28 ou 29. Para restaurar as estações nos seus devidos lugares, César acrescentou 80 dias ao ano em vigor no tempo dessas modificações. Assim, 46 a.C. teve 445 dias. Ficou conhecido como Annus Confusionus – O Ano da Confusão!

Voltando a este mês:

Augusto nasceu Gaius Octavius em 63 a.C.. Os historiadores referem-se-lhe como Octavianus. Foi adoptado por Júlio César. Em 27 a.C. Octavianus tornou-se Imperador (ou César, nome pelo qual passaram a ser conhecidos os imperadores romanos) de Roma. Mas só concordou que lhe chamassem Augusto, que significa “honrado” ou “reverenciado”.

Foi assim que este mês recebeu o nome. Em homenagem a Augusto.

É geralmente o mês mais quente do ano na maior parte dos países do hemisfério norte. É o mês de férias por excelência. As noites convidam à carícia das leves brisas e não só.

 

P.S.: Acredito que todos os nativos de Agosto sejam pessoas de bem, honradas e boas, e sem necessidade de reverências.

Fim de semana (7)

Pedro Correia, 22.08.21

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Casa onde esteve a Rainha D. Amélia em 5 de Outubro de 1910

 

A menos de 50 quilómetros de Lisboa, numa distância facilmente percorrida pela A8 e pela A21, a Ericeira é uma excelente alternativa à generalidade das praias algarvias por esta altura. Tem mais espaço, menos gente, muito menos confusão e proporciona férias mais em conta. Com uma gastronomia baseada no que o mar oferece - peixe e marisco para qualquer paladar. E uma deslumbrante orla de praias, entre a linha costeira de Torres Vedras (a norte) e de Sintra (a sul). 

Possui personalidade muito própria. Não se confunde com Mafra, sede do concelho, nem pretende rivalizar com ela, sabendo-se com atributos únicos. Faz questão em manter-se vila contrariando a moda, numa época em que quase todas as vilas ambicionam ser cidades. Cultiva ritos e tradições. Orgulha-se de ter sido a última povoação que abrigou a família real antes de rumar ao exílio, a 5 de Outubro de 1910. 

Mantém o seu ritmo muito próprio e uma original relação com o clima. Sabe que ali o vento costuma soprar de norte e adapta-se à circunstância. Não estranha que surjam neblinas matinais, com a certeza de que o sol abrirá após o meio-dia e haverá belas tardes de praia em perspectiva.

Enquanto esperamos, petiscamos. Algo com sabor a mar. E desejamos que estes dias durem para sempre.

Fotos minhas

Instantes em sépia, com capa de muitas cores (2)

Maria Dulce Fernandes, 03.05.19

Agosto já não cheira a Agosto.


O odor que paira no ar traz uma mistura de pó, fumo de escape, lixo, plástico quente, beatas ressequidas, cozinhados gordurentos e transpiração.


Agosto começava em Nandufe com o perfume das estevas, das azedeiras e da hortelã. Cheirava a verde pelas veredas estreitinhas e húmidas que iam da casa até ao rio , passando pelo tanque das lavadeiras onde o cheiro a azul e branco acompanhava o caminho por meio das silvas até à grande balsa feita com madeiras velhas e quatro bidons vermelhos de ferrugem, a cuja passagem os alfaiates moviam apressadamente as patas para fugir de onde o espelho abria em par. O ar era morno e doce , os olhos brilhavam acima dos pomos rosados e o tempo tinha milhares de minutos alegres e preguiçosos.


Agosto acabava em Alvor, com o cheiro a mar, a sal e a sorvete de morango. Os robalos pulavam na lota, o carvão crepitava com fumo almiscarado . O sol quente doirava a pele lentamente , naquele compasso arrastado das tardes de calmaria que convidavam à leitura e à modorra. O mar estava invariavelmente frio com dias de caldo verde, em que a temperatura da água convidava ao demolhe prolongado. Inesquecível o perfume do óleo de coco misturado com azul transparente e límpido.
Já não consigo encontrar o Agosto, nem nos aromas, nem na cor ou no sabor .

Agosto envelheceu mal. Tornou-se obeso, salobro, desagradável até. Agosto sucumbiu aos vícios humanos e embruteceu.

Agosto de 2017: os meus votos

Pedro Correia, 17.09.17

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Figura nacional do mês

Numa prova inédita nas competições desportivas internacionais ao mais alto nível, os 50 km marcha, Inês Henriques subiu ao pódio a 13 de Agosto ao conquistar a medalha de ouro no Campeonato do Mundo disputado em Londres, estabelecendo também um recorde mundial da modalidade. Justo momento de glória para esta atleta de 37 anos, oriunda de Rio Maior. Por uma vez o atletismo superou o futebol nas capas dos jornais.

 

 

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Figura internacional do mês

Virar de página em Angola: José Eduardo dos Santos abandonou enfim a chefia do Estado, após 38 anos em funções. Mas o poder continua a pertencer à cúpula do MPLA, agora confiado ao ministro da Defesa, o general na reserva João Lourenço, vencedor da eleição presidencial de 23 de Agosto, com 61% dos votos. Apesar dos protestos da oposição, que alegou fraude eleitoral, os observadores internacionais avalizaram o escrutínio. Lourenço, de 63 anos, é diplomado em História e aprecia xadrez e equitação.

 

 

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Facto nacional do mês

Os incêndios prosseguiram a sua acção devastadora ao longo do mês de Agosto, confirmando 2018 como um dos piores de sempre em matéria de fogos florestais. Registaram-se 268 fogos num só dia, a 12 de Agosto, mas este máximo foi superado no dia 20, quando houve 304 incêndios simultâneos. O mês chegou ao fim com mais 23,4% de área ardida do que a média dos dez anos anteriores. Até 31 de Agosto tinham ardido 214 mil hectares nas matas, florestas e pomares portugueses.

 

 

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Facto internacional do mês

O terrorismo voltou a fazer vítimas numa grande cidade. Desta vez em Barcelona, a 17 de Agosto, quando um veículo a grande velocidade investiu contra os transeuntes que passeavam numa zona pedonal das Ramblas - o coração turístico e comercial da segunda maior cidade espanhola. Balanço trágico: 16 mortos - incluindo duas portuguesas, avó e neta - e mais de 130 feridos. Os responsáveis foram abatidos horas depois em Cambrils, também na Catalunha, onde preparavam novo atentado, reivindicado pelo Daesh.

 

 

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Frase nacional do mês 

«O Governo fez a maior reforma que a floresta conheceu desde os tempos de D. Dinis.» A 13 de Agosto, enquanto o País ardia e a Assembleia da República permanecia de portas fechadas devido às férias estivais, o ministro da Agricultura achou por bem proferir esta fogosa declaração - elogio em boca própria - numa entrevista à Lusa. D. Dinis, por vários motivos, passou à história. É duvidoso que o mesmo venha a acontecer com Capoulas Santos.

  

 

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Frase internacional do mês 

«É melhor que a Coreia do Norte não faça mais ameaças aos EUA. Vai enfrentar fogo e fúria como o mundo nunca viu.» Estávamos a 8 de Agosto quando o Presidente norte-americano, numa das suas habituais bravatas, falou desta maneira, procurando pôr em sentido o seu homólogo de Pyongyang. Com isto parece ter acirrado ainda mais o regime totalitário de Kim jong-il, agora dotado de armamento nuclear. A península coreana é por estes dias o local mais perigoso do planeta.

Agosto de 2015: os meus votos

Pedro Correia, 08.09.15

Figura nacional do mês

Maria de Belém Roseira  deixou bem claro, a 17 de Agosto, que concorrerá ao Palácio de Belém. Com uma declaração que não deixa lugar a dúvidas: «Apresentarei publicamente a minha candidatura após as eleições legislativas de 4 de Outubro.»

 

Figura internacional do mês

Sérgio Moro, o juiz de Curitiba que lidera as investigações do caso Lava-Jato que já conduziu à prisão diversas figuras dos meios políticos e empresariais, tem-se transformado num herói para milhões de brasileiros.

 

Facto nacional do mês

Polémica dos cartazes do PS: uma senhora lamentava estar "desempregada" há cinco anos" (quando Sócrates ainda governava). Outra dizia-se "desempregada desde 2012". Era tudo falso. E as próprias nem sabiam que tinham sido usadas na propaganda do partido. O facto levou à demissão do director da campanha socialista, Ascenso Simões.

 

Facto internacional do mês

Descoberta macabra numa auto-estrada austríaca, entre Neusiedl e Parndorf, a 27 de Agosto. Um camião vindo da Hungria transportava 71 refugiados mortos por asfixia: 59 homens, oito mulheres e quatro crianças (incluindo um bebé). Foi o episódio mais chocante, neste mês, do drama dos refugiados que têm afluído aos milhares à UE transportados por redes clandestinas. Três búlgaros e um afegão foram entretanto detidos, suspeitos deste crime.

 

Frase nacional do mês

«Bloco Central, só em condições extremas: uma ameaça de invasão de marcianos.» Assim falou António Costa numa entrevista ao semanário Sol, a 21 de Agosto, recusando liminarmente uma aliança pós-eleitoral com o PSD.

 

Frase internacional do mês

«Não pode haver tolerância para quem ponha em causa a dignidade alheia, não pode haver tolerância para quem não se dispõe a auxiliar os outros.» (Angela Merkel num vigoroso discurso contra a xenofobia pronunciado em Hidenau, na Saxónia, a 26 de Agosto)

Agosto: estação pateta?

Pedro Correia, 31.08.14

Estação pateta? Que estação pateta? Há quem goste de apresentar Agosto como o mês supremo da silly season.

Nada mais falso, como em 2014 voltou a comprovar-se.

 

Recapitulemos: decorre um conflito armado entre a Ucrânia e a Rússia por interpostos rebeldes separatistas, um autoproclamado Estado Islâmico promove massacres étnicos e religiosos no Iraque, África sobressalta-se com a epidemia do ébola e Eduardo Campos, candidato à presidência do Brasil, morre num acidente aéreo em plena campanha eleitoral. A imprensa, à escala mundial, deu destaque a tudo isto.

Nada a ver com silly season. Nada mesmo.

 

Mas este Agosto de 2014, repito, não constitui excepção. O oitavo mês do ano é, por tradição, uma época fértil em acontecimentos de máxima relevância. Foi em Agosto (de 1914) que começou a I Guerra Mundial. Foi também em Agosto (de 1939) que Moscovo e Berlim assinaram o pacto que esteve na origem directa da II Guerra Mundial.

Agosto, mês de luto e de lutas. As bombas atómicas destruiram Hiroxima e Nagasáqui neste mês (em 1945). A Revolução Cultural chinesa teve o arranque decisivo em Agosto (de 1966). Os tanques do Pacto de Varsóvia invadiram a Checoslováquia em Agosto (de 1968). E o início da violência no Ulster, em Belfast e Londonerry, ocorreu igualmente em Agosto (de 1969).

O primeiro governo pós-comunista na Polónia tomou posse neste mês, em 1989, exactamente quando o futuro Nobel da Paz Frederik de Klerk iniciava funções como presidente de uma África do Sul em acelerada transição para a era pós-apartheid. No ano seguinte, também em Agosto, Saddam Hussein invadia o Koweit. E Agosto de 1991 foi marcado por um súbito sobressalto em Moscovo: a tentativa frustrada de golpe para derrubar Gorbatchov.

Em 2008 houve uma guerra no Cáucaso entre a Rússia e a Geórgia, atentados terroristas no Xinjiang, os mais concorridos jogos olímpicos de sempre e um brutal acidente aéreo em Madrid com 154 mortos.

 

Houve mais – muito mais. Roosevelt e Churchill assinaram a Carta do Atlântico em Agosto de 1941. Um ano depois, no mesmo mês, o exército alemão chegava a Estalinegrado. Em Agosto de 1944, iniciou-se o heróico levantamento de Varsóvia. Agosto de 1961 ficou tristemente célebre pela edificação do Muro de Berlim. Também em Agosto, Richard Nixon abandonou a presidência dos Estados Unidos (1974), foi assinada a Acta de Helsínquia (1975), deu-se a rebelião negra no Soweto (1976), ocorreu a grande greve dos estaleiros de Gdansk que acelerou o fim do comunismo na Polónia (1980), foi assinado o acordo sino-britânico sobre o futuro de Hong Kong (1984).

Agosto foi o mês em que se tornaram independentes vários países. Alguns exemplos: Índia (1947), Chipre (1960), Jamaica (1962), Lituânia e Azerbaijão (1991). A concessão do direito de voto às mulheres nos Estados Unidos também aconteceu em Agosto (de 1920), tal como a elevação do Havai a estado norte-americano (em 1959).

Em Agosto foram assassinados Lorca (1936), Trostky (1940) e o democrata filipino Benigno Aquino (1983). Em Agosto (de 1954) o presidente brasileiro Getúlio Vargas suicidou-se, com um tiro no coração, no seu gabinete do Palácio do Catete - o que inspirou um excelente romance de Rubem Fonseca. E este mês viu também desaparecer figuras tão díspares como Marilyn Monroe (1962), Ian Fleming (1964), Lindbergh (1974), Fritz Lang (1976), Elvis Presley e Groucho Marx (ambos em 1977), Ingrid Bergman e Henry Fonda (ambos em 1982), Rudolf Hess (1987) e a princesa Diana (1997).

 

Portugal não é excepção à regra. A primeira Constituição republicana, de 1911, foi aprovada em Agosto, mês em que tomaram posse os presidentes Bernardino Machado (1915) e António José de Almeida (1919). Salazar cai da cadeira em Agosto (de 1968). O inconfundível V Governo Provisório, de Vasco Gonçalves, e a sangrenta guerra civil de Timor dominaram a actualidade em Agosto de 1975.

Foi em Agosto que Maria de Lurdes Pintasilgo, primeira mulher à frente de um governo português, tomou posse (1979), que PS e PSD assinaram a primeira revisão constitucional (1982), que o Chiado ardeu (1988) e o general Spínola, primeiro Chefe do Estado pós-25 de Abril, faleceu (1996).

E quem se esquece do escaldante mês de Agosto de 2004, com o arranque do frágil executivo de Santana Lopes, enquanto o PS mergulhava na crise que conduziu à troca de Ferro Rodrigues por José Sócrates?

Neste mesmo Agosto de 2014 assistimos à derrocada definitiva do Banco Espírito Santo e a uma inédita campanha interna socialista para designar o candidato do partido às próximas legislativas.

Por favor, não voltem a falar na Estação Pateta. Agosto é tudo menos isso.

Como é diferente o país de Agosto

Pedro Correia, 13.08.13

 

Zapo pelos canais de notícias, por estes dias, e não encontro nenhum dos comentadores televisivos que ainda há bem pouco prediziam as maiores desgraças neste país assolado pela crise. Onde está a douta eminência que no pretérito Inverno sentenciava que "a crise do sistema político português pode fazer o poder cair na rua até ao Verão"? Onde foi parar aquela alma perturbada que proclamava com solene gravidade há pouco mais de um mês: "Estamos perante uma crise política de dimensões colossais, a nível de Portugal e da Europa." E o que será daquela voz tremebunda que em Julho assegurava aos assustados compatriotas: "Há uma situação de manifesta irregularidade no funcionamento das instituições"?

A banhos, dizem-me.

Foram todas a banhos - a douta eminência, a alma perturbada, a voz tremebunda estarão neste preciso momento a estender a toalha ao sol enquanto douram as requintadas epidermes. Durante todo o mês de Agosto, o país terá de resignar-se à ausência destas sumidades. Apesar da crise. Apesar do iminente segundo resgate que já anteviam em directo nas pantalhas. Apesar da provável saída de Portugal do euro, que tiveram o desassombro de profetizar. Apesar da possível fragmentação da pobre União Europeia, como não se coibiram de prever em tom caviloso. Apesar dos tumultos nas ruas que consideraram ser tão fatalmente inevitáveis como o Outono suceder ao Verão.

Ligamos as televisões e deparamos com amenidades. A esplanada da moda, a praia ideal, o passeio imperdível, a música mais em voga, as romarias campestres, os artesãos das aldeias, as iguarias inigualáveis. Retalhos de um discurso jornalístico que, à míngua da agenda política e sindical, transmite a ilusão de estarmos num país onde não sucede nada. O país de Agosto, antagónico daquele que as mesmíssimas televisões nos mostraram de Janeiro a Julho.

Em Setembro, vão-se as amenidades e regressam as sumidades. Mais bronzeadas, mais anafadas e ainda mais empenhadas em fazer soar o trovão do apocalipse. Levanta-se a toalha da areia, voltam a ouvir-se de novo frases como estas, ao ritmo de um thriller em sessões contínuas: "Portugal atravessa uma crise da qual muito dificilmente sobreviverá"; "Isto chegou ao fundo dos fundos"; "Assistimos ao apodrecimento das instituições".

Mal posso esperar.

Esposende

Rui Rocha, 27.08.11

 

Há lugares que parecem feitos para os adoradores do sol. Não é o caso de Esposende. Aqui, celebra-se o vento. É ele o grande organizador dos dias de Verão. É a permanência do vento que nos dá tempo para saborear a pequena cidade. Em tantos dias, é impossível estar na praia. Não são horas perdidas. Praticamente com um pé no Cávado e outro no Atlântico, abrigo-me no Café da Foz, numa plácida disputa entre a contemplação de uma das mais belas paisagens de Portugal e o afago daquele livro que guardei todo um ano para o poder ler naquele exacto momento. É também ali que a angústia do dia-a-dia, por momentos, me toma. Mas, logo  na Foz do Cávado, é a calma que contemplo. Está tanto vento. Esse é o meu sossego. Tenho tempo. O vento, o vento. É com ele que chegam as recordações do dia em que o meu pai correu meia praia, e eu com ele, atrás de um guarda-sol desgovernado que a nortada teimava em levar para longe de nós. Já então a vida lhe fugia. E as de mergulhos gelados envoltos em nevoeiro. Com os ossos a doerem da cabeça aos pés. E da toalha tão morna que a minha mãe me estendia. A mesma que ainda estende quando preciso e que lhe devolvo sempre encharcada. Aqui a maresia entra-nos pelos olhos dentro. Será por isso que os tenho marejados. Será por isso que peço uma cerveja. Não porque o calor imponha a sede. Mas, porque preciso de retomar o fio do tempo. E o livro que guardei todo um ano para ler aqui. Talvez ainda não seja este o exacto momento. Há lugares que não são carne nem peixe. Esposende é peixe. Aquele que servem no Forno, na Apúlia. Ou o que hei-de comprar com a Adélia, no mercado, depois de escolhermos, na vendedeira do costume, os pimentos de Padrón de cada sábado. Apetece-me dar o corpo ao manifesto do vento que varre a marginal. Sei que me há-de levar lá bem ao centro, à Marbela ou à Lili. O vento salgado pede um doce. O vento, o vento. Devia ser assim a vida também. A cada pedaço de sal, a garantia de um doce que nos compensasse. Em Esposende, os doces são clarinhas. Percorrer a marginal dá-me tempo. Para lembrar as mãozitas do Dinis quando, na praia mais lá atrás, pegou em areia pela primeira vez. Era então um Dezembro e a areia fugia-lhe por entre os dedos. Esses com que começa, agora adolescente, a agarrar a vida. Essa vida que a Leonor, por agora ainda menina, também há-de agarrar com a mesma alegria com que gritava Zendi sempre que aqui chegávamos. Gosto de os ver dormir nas noites frias de Esposende. Aconchegados, tal como nós, pela sirene do farol. Sei agora que, mais logo, quando adormecerem, será a sirene a anunciar o momento em que vou, finalmente, abrir o livro que guardei um ano inteiro para ler. Exactamente aqui. Em Esposende.

Modo de vida (11)

Adolfo Mesquita Nunes, 22.08.11

Passam 11 meses a pedir por Agosto para terem uma Lisboa vazia, disponível, à espera. Chega Agosto e desfilam a vida social no facebook ao jeito de quem faz check in em todas as sugestões das agendas culturais ou de lazer. Mas basta um dia de chuva para desmascarar tanta falta de amor à cidade.