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Delito de Opinião

Há sempre alguém que diz não

Adolfo Mesquita Nunes

Pedro Correia, 10.11.21

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Vale a pena os políticos terem emoções. E partilhá-las com os cidadãos comuns: é uma forma de exercer pedagogia democrática. A política imune a estados de alma perde a configuração humana, torna-se actividade burocrática sem nervo nem chama, feita de mero cálculo.

Há quem se perpetue na penumbra a aguardar oportunidades, dobrando-se ao peso inelutável das circunstâncias, sem jamais soltar um grito de revolta. E há quem saiba dizer “basta”, traçando linhas de não-retorno. Neste último lote, muito mais restrito, inclui-se Adolfo Miguel Baptista Mesquita Nunes, 43 anos, advogado de profissão e político por vocação. Inscreveu-se no CDS em 1997 – tinha o actual presidente do partido nove anos. Acaba de devolver o cartão de militante, quase um quarto de século depois, por imperativo de consciência.

O texto que publicou sábado passado numa rede social, justificando o fim do vínculo partidário, merece reflexão atenta. Por contrariar a tendência dominante nestes dias de progressiva compressão do pensamento crítico em nome de afinidades tribais. Quando sectarismos de diversos matizes andam à solta, este ex-vice-presidente do CDS vem lembrar-nos que nada é tão relevante na política como o apego à liberdade. Mais do que conveniências eleitorais, mais do que tacticismos de ocasião, muito mais do que a disciplina sem sentido imposta pelo poder de turno – tão frágil e contingente como todos os poderes.

«Como é possível que o CDS aceite que uma direcção retire aos militantes o direito de escolher o seu líder e a sua estratégia; e que o faça num Conselho Nacional ilegalmente convocado e ignorando as decisões do órgão jurisdicional do partido; e ainda para mais para manter uma direcção cujo mandato termina em Janeiro? Este não foi o partido em que me filiei. O CDS transformou-se noutra coisa. É legítimo que o faça. Assim como é legítimo que eu escolha desfiliar-me agora que essa transformação se cristalizou.»

Não é preciso ler nas entrelinhas: o texto fala por si. Subscrito por quem integrou em 2011 um dos melhores grupos parlamentares de que há memória no hemiciclo de São Bento e foi um dinâmico secretário de Estado do Turismo quando rumou da Assembleia da República ao Governo, dois anos mais tarde. Assumindo o pensamento liberal numa sigla que sempre acolheu várias sensibilidades do hemisfério direito sem perder identidade. Desfigurar este património não desvirtua apenas o CDS, um dos emblemas fundadores da democracia portuguesa: também empobrece o nosso quadro partidário.

Depois dele, novas saídas foram anunciadas, incluindo a de outro ex-vice-presidente, António Pires de Lima. Os danos reputacionais são óbvios para o Largo do Caldas enquanto a questão fundamental subsiste entre as paredes da sede partidária: é possível justificar entorses à legitimidade interna e purgas ideológicas em nome da pureza doutrinária ou de hipotéticos ganhos eleitorais? Claro que não. Fatalmente, outras demissões irão seguir-se. Poucos mas puros costumava ser lema da esquerda leninista, não da democracia-cristã.

 

Texto publicado no semanário Novo

O melhor candidato do CDS

Pedro Correia, 25.01.20

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Menciono-o com declaração de interesses: sou amigo dele. Para mim, o melhor candidato à sucessão de Assunção Cristas seria ele, o Adolfo Mesquita Nunes. Capaz de alargar as fronteiras do partido, hoje muito estreitas. De lhe dar consistência ideológica, sem rumo errante. E de começar a construir uma verdadeira alternativa de futuro na área política não-socialista e não-comunista em Portugal. Fazendo uma oposição firme, fundamentada e frontal ao Executivo pós-geringonça.

Infelizmente, há cinco candidatos à presidência do CDS - tantos como os deputados que lhe restam na Assembleia da República - mas o Adolfo não é um deles. O que diz muito sobre o rumo do partido no momento actual.

Ao fundo da sala, cada vez mais satisfeito com esta falta de alternativa à sua direita, António Costa continua a sorrir.

Leitura recomendada

Pedro Correia, 30.11.18

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A peça de capa da edição desta semana da revista Sábado, que nos traz uma surpreendente revelação pela pena de Maria Henrique Espada: os milhões gastos pelo Governo de Salazar para promover a imagem de Portugal nos EUA, nas décadas de 50 e 60. Vários jornais aceitaram de bom grado este bónus financeiro, começando pelo New York Times

 

A excelente entrevista do nosso Adolfo - apresentado como "carismático vice-presidente do CDS" - ao diário espanhol El Mundo. Começando pelo título: «No podemos ceder ante proyectos que mitigan la libertad». Eis outra frase que merece destaque: «Não gosto do identitarismo da esquerda populista nem do contra-identitarismo da direita populista.»

Sobre a "peça", suspensórios e a História

João Villalobos, 23.03.18

É óbvio que Adolfo Mesquita Nunes só poderia responder com a ironia e o savoir-faire que se lhe conhece à inanidade proferida por Fernando Rosas. Rosas é um cromo perigoso. À medida em que outros melhores do que ele foram falecendo, tornou-se - através de um caminho das pedras mediático - porta-voz de uma pseudo-realidade passada que nunca aconteceu. O PC despreza-o. Perdeu inúmeros compagnons de route pelo caminho que o abandonaram, em particular entre os anos 70 e 80, e tornou-se um divulgador de fake news sobre o que passou quando era novo e já poucos se recordam. Agora, decidiu falar de modernidade e criticar um político que assumiu a sua opção sexual. Ele - Fernando - lá saberá o que faz, porque o faz e etc. Quanto a mim, o Adolfo tem toda a razão. Não fazendo subir o senhor Rosas até ao palanque do debate inteligente, foquemo-nos nos suspensórios. E, já agora, também no título que acompanha este cartaz; "As peças que acompanham a História". A peça já é conhecida. Se ele a acompanha, à História? Tenho sérias dúvidas. Quanto a que contributos deu, dará ou tira a essa "História", isso, um dia, ainda será objecto de tese. 

 

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Fez a diferença mas tenho pena

Sérgio de Almeida Correia, 26.12.15

"Aos 38 anos, presidiu ao maior aumento do turismo em Portugal. Só que não gostou da política. Não se candidatou a uma carreira de ócio como deputado e, quando o Governo caiu, voltou alegremente à sua profissão." - Vasco Pulido Valente, Público, 26/12/2015

 

Não discuto os méritos do "maior aumento do turismo em Portugal", mas tenho a noção de que foi um dos poucos que sobressaíram e foi capaz de fazer diferente, sem golpadas nem aldrabices, fazendo alguma coisa de jeito em prol do País. Tinha uma carreira e uma vida fora do partido, não dependia da política e podia entrar e sair sem se tornar dependente. Tinha tudo para poder prosseguir e continuar a fazer a diferença num parlamento cinzentão, oligárquico e aparelhístico. Optou por desistir da política activa e abdicou de uma carreira parlamentar. Compreendo perfeitamente a sua opção, pois provavelmente teria feito a mesmíssima coisa. Mas por não haver gente com o seu desprendimento na política, gente que escolhe os seus próprios suspensórios e aventais, é que o país está como está e tem tido os políticos que conhecemos. Ele e José Ribeiro e Castro são duas baixas de vulto no CDS/PP e no paupérrimo panorama da vida política nacional. Boa sorte, Adolfo. E volta quando puderes.

Um abraço colectivo ao Adolfo

André Couto, 31.01.13

Sou politicamente insuspeito no elogio ao nosso Adolfo Mesquita Nunes, a quem hoje foi entregue a Secretaria de Estado do Turismo. Estou certo que todos neste espaço, autores e leitores, lhe damos a maior força, certos de que estará à altura de tão nobre desafio.
A aposta no Turismo por parte do Governo tem sido curta e, diga-se, por parte da oposição as críticas têm sido estilo calças pelos tornozelos. Não é preciso, no entanto, ser visionário, para perceber que este pode ser um sector chave na recuperação económica do País, através da geração de emprego e captação de investimento. Até a aparente sazonalidade deste sector pode ser contornada, Portugal não é só um País de praias, havendo todo um outro País a divulgar...
O Adolfo Mesquita Nunes sabe isto melhor que nós. Este é um dia feliz, porque alguém indubitavelmente competente foi designado para o Governo.