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Delito de Opinião

Dias de fé em Ponta Delgada

Ana CB, 08.05.24

Quase nove da noite de uma sexta-feira de Maio em Ponta Delgada. Ao lusco-fusco do dia que chega ao fim, as pessoas que se deslocam pelas ruas da cidade confluem todas para um mesmo local: o Campo de São Francisco. No losango irregular da praça revestida de calçada à portuguesa, onde o basalto negro é mais abundante do que o calcário branco, aglomera-se uma multidão irrequieta e expectante, feita de gente de todas as idades, tamanhos, cores e sotaques. Não é Natal, mas os amigos e conhecidos que se cruzam desejam-se mutuamente as “Boas Festas”. Às 21 horas em ponto, solta-se das gargantas um “aaaaah!” colectivo. Acenderam-se as luzes do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, e o efeito é avassalador. Milhares de lâmpadas coloridas formam volutas, flores, cruzes e outros objectos, num bordado luminoso que quase parece filigrana. Para os novatos neste espectáculo, como eu, a surpresa é grande. Os olhos arregalam-se, empunham-se telemóveis e câmaras fotográficas, tanta beleza tem de ser registada. É o primeiro grande momento das festas em honra do Senhor do Santo Cristo dos Milagres.

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Celebra-se sempre na quinta semana depois da Páscoa e é a maior festa religiosa dos Açores, congregando muitos milhares de devotos na cidade de Ponta Delgada – não só habitantes de São Miguel e das outras ilhas do arquipélago, como também inúmeros emigrantes na América do Norte, que enchem voos charter transatlânticos operados especificamente para esta ocasião e vêm matar saudades das suas origens. Realiza-se há mais de 320 anos e no entanto, facto algo estranho, é uma festa desconhecida para grande parte dos portugueses. Não sendo crente, sinto sempre curiosidade por estas manifestações seculares que fazem parte do tecido cultural de um povo, arreigadas na memória colectiva de cada região e sem perderem a sua força anímica. Decidi-me por isso a ir ver de perto (e viver) estas festas.

 

Quinta-feira: Oferecer flores e visitar o Santo

 

Maio é o mês das flores, mas nesta altura torna-se difícil encontrá-las nas floristas. O motivo é simples: são todas encaminhadas para o Santuário, onde um grande número de voluntárias dá corpo a lindíssimos arranjos florais que vão enfeitar igrejas, varandas, montras e, sobretudo, a capela do Santo e o andor onde será transportada a sua imagem. São sempre oferecidas, pois não há devoto que não queira contribuir para a festa do Senhor Santo Cristo. Acompanhei uma amiga que vive em São Miguel quando foi fazer a sua compra, e a tarefa não se revelou fácil nem rápida. Na loja havia quase mais pessoas do que flores (estou a exagerar, mas só um bocadinho). Jarras brancas orgulhosamente vazias ou com poucos exemplares, floristas de cara fechada, já sem paciência, concentradas no trabalho de montar arranjos ou a tentarem despachar os clientes que não desistiam e não paravam de chegar. Depois de quase uma hora, lá conseguimos sair dali com um molho de cravos vermelhos e brancos, escolhidos entre a parca oferta disponível.

 

A paragem seguinte é no claustro do Convento da Esperança, que integra o Santuário (existe uma congregação de freiras residente). Gordos baldes cinzentos acolhem as flores e verduras que os fiéis vão entregando, enquanto vários grupos de senhoras se afadigam em volta de mesas improvisadas com cavaletes, sobre as quais vão nascendo os arranjos.

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Peregrinamos depois até à Roda, embutida na parede lateral do Convento e que hoje já perdeu a sua função antiga de lugar de depósito dos “expostos” – as crianças entregues para serem criadas nos conventos, por falta de meios ou vontade das famílias. É ali que agora são deixados os donativos, em troca de pequenas recordações do Santuário, e quem oferece flores também tem direito a receber uma lembrança. Finalmente, seguimos para a igreja e vamos espreitar o local onde está resguardado o motivo principal de todo este corrupio: a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres.

A capela fica do lado esquerdo de quem entra, separada da igreja por uma parede de vidro. É comprida, e lá ao fundo quase mais se adivinha do que se vê o busto do Santo Cristo. Os longos metros de chão envernizado estão cobertos por uma passadeira vermelha, e o espaço livre à volta é um mar florido, encabeçado por uma composição avantajada em que as palavras “Ecce Homo”, desenhadas com flores vermelhas, se destacam sobre um leito também feito de flores, só que brancas. Diz a Bíblia que “Ecce Homo” (Eis o Homem) terão sido as palavras pronunciadas por Pôncio Pilatos quando apresentou Jesus de Nazaré – já depois de flagelado – à multidão que iria decidir o seu destino. As representações “Ecce Homo” de Jesus são, por isso, imagens que mostram sofrimento.

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Mas a originalidade maior deste ícone é, quanto a mim, o facto de ser um busto. Em termos de imagens consagradas, não é um tipo de representação escultórica habitual na iconografia cristã (embora sendo comum na pintura). A origem desta imagem de madeira é desconhecida, e em concreto, por via de um estudo realizado em 2019, apenas se sabe que foi esculpida no século XVII. Pese embora as várias lendas tecidas sobre o assunto, a verdade é que se ignora quando ou como ela terá chegado à posse das clarissas de um mosteiro fundado na Caloura em 1523, mais tarde transferido e dividido em duas localizações diferentes: o Convento de Santo André, em Vila Franca do Campo, e o Convento de Nossa Senhora da Esperança, em Ponta Delgada. Foi aqui que Teresa de Jesus tomou o véu de noviça em 1682, e foi aqui que a imagem do Santo Cristo chamou a sua atenção e mais tarde, por influência de uma sua irmã, captou a sua devoção. Bem menos conhecida do que a sua homónima de Calcutá, Madre Teresa d’Anunciada foi a mentora do culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres, e a sua figura é igualmente venerada.

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Sexta-feira: Começa a festa

 

Todo o centro da cidade está engalanado para esta ocasião. Não há montra que não tenha uma imagem devota, e muitas delas revelam-se sofisticadas obras artísticas em torno do tema. As varandas das instituições e grandes empresas vestem-se também a preceito, seja com uma simples colcha ou com um arranjo requintado. Ponta Delgada esmera-se para receber os forasteiros, com ou sem fé.

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Em cada ano, as cerimónias religiosas são lideradas por um bispo ou cardeal diferente. Já desempenharam estas funções figuras do alto clero tão importantes como D. José Tolentino de Mendonça, mais do que um Cardeal Patriarca de Lisboa, bispos do Porto, de Leiria e Fátima, de Florianópolis, da Bermuda e de Providence, o arcebispo de Boston, o Núncio Apostólico em Portugal. Embora o formato se mantenha basicamente o mesmo ano após ano, 2024 trouxe uma novidade: uma missa extra em inglês, no domingo de manhã. A comunidade emigrante já tem muitos não-falantes de português, e há que não desprezar o potencial do turismo religioso. Aliás, o prelado escolhido para presidir às celebrações deste ano foi o bispo católico de Stockton, na Califórnia, filho de pais açorianos mas nascido nos Estados Unidos. Um sinal de apreço pela devoção irredutível que os emigrantes lusos e seus descendentes têm mostrado pelo Senhor Santo Cristo ao longo das últimas décadas.

 

Com o trânsito cortado entre o Forte de São Brás e a marina, a avenida marginal enche-se de barraquinhas onde se vende de tudo um pouco, rulotes de fast food e carrinhos de gulodices, carrocéis e tudo o mais que é imprescindível numa festa popular portuguesa. Nas Portas do Mar, uma tenda gigantesca acolhe a iniciativa anual da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, a que dão o nome de Feira Lar Campo e Mar e se prolonga pelo espaço no subsolo do recinto. No piso de cima predomina o artesanato, variado e sobretudo original, enquanto o piso inferior está vocacionado para o comércio e indústria de maior porte. O valor do bilhete de acesso é quase simbólico, pelo que acaba por ser ponto de visita obrigatório e há alturas em que está a abarrotar de gente.

Dependendo da altura do dia e da lentidão do passo, o quilómetro que separa a Feira do Forte de São Brás talvez seja suficiente para abrir o apetite, e quem não gostar de comidas rápidas pode satisfazer a fome num dos restaurantes montados ao abrigo da muralha oeste do Forte. Nem sempre é fácil encontrar mesa, mas não há nada melhor do que umas lapas grelhadas para confortar o estômago e fazer esquecer as dores nos pés.

 

Quando a iluminação nocturna é inaugurada, os edifícios do Santuário, em dias normais singelamente vestidos de branco e cinzento, transformam-se (quase como por milagre) num objecto etéreo, flutuando contra o negrume da noite açoriana. A orgia de luz alastra pelo coreto que ocupa o centro do Campo e pelas ruas adjacentes, adornadas com arcos policromáticos brilhantes. Do lado de fora das portas do Santuário formam-se filas de pessoas ansiosas por verem a imagem do Ecce Homo, ainda resguardada na sua capela. Mais tarde, abre-se o Bazar e ouve-se o concerto executado por uma banda ou filarmónica da ilha de São Miguel. Está cumprida a primeira noite das festas em honra do Senhor do Santo Cristo dos Milagres.

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Sábado: Ver a saída do Senhor Santo Cristo

 

O segundo grande momento das festas é a Procissão da Mudança, no sábado à tarde. Marca a saída da imagem do Senhor Santo Cristo do seu recato no Coro Baixo do Convento, para ser mais tarde acolhida na Igreja de São José. Ambos os edifícios ficam no Campo de São Francisco, separados por 80 metros de rua, mas o traslado irá demorar mais de duas horas e meia.

 

A cerimónia começa quando o provedor da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres bate na Porta Regral do Convento, solicitando a saída do Santo, e termina com o acolhimento da imagem na igreja vizinha, seguido de uma missa. Nesse ínterim, precedido por membros do clero e acólitos, e carregado por membros da Irmandade, o palanquim coberto que transporta a imagem do Senhor Santo Cristo dá a volta ao Campo em passo lento, oferecendo-se à devoção dos vários milhares de pessoas aglomeradas na praça. Tem direito a Guarda de Honra do Exército e a uma salva lançada a partir de um navio da Marinha. Atrás do andor desfilam membros de Irmandades, freiras, uma banda, escuteiros e, fechando o cortejo, todos os leigos que se queiram juntar à procissão, muitos deles carregando círios maiores do que eles próprios.

À noite, a tradição manda comprar rifas no Bazar e passear pelas ruas iluminadas, ou ficar pelo arraial até à hora do fogo-de-artifício. Lançado a partir da Muralha da Doca, é facilmente visível a partir de qualquer ponto da marginal, e prende-nos a atenção durante largos minutos.

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Domingo: A grande procissão

 

No domingo de manhã, volta a azáfama. Nas ruas por onde vai desfilar a procissão da tarde, organizadores e voluntários unem-se para criar passadeiras aromáticas e vistosas, umas feitas de criptoméria, louro e pétalas de flores, outras de aparas de madeira colorida. Os motivos variam, muitos deles dependendo da imaginação de quem patrocina cada troço do trabalho. Sobre a calçada de pedra escura, as cores sobressaem ainda mais, e custa saber que dali a umas horas toda aquela arte será destruída. Custa-me a mim, que estou de fora e sou profana. Para quem constrói estes tapetes, é uma honra saber que irão ser pisados pela procissão em honra do Senhor Santo Cristo.

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O Guião da procissão sai do Santuário às três e meia da tarde, mas duas horas antes já há muita gente acantonada nos passeios do Campo de São Francisco, com o fito de garantirem o melhor lugar para assistirem ao desfile, e de preferência num sítio à sombra. Bancos e cadeiras dobráveis, garrafas de água e snacks fazem parte do equipamento essencial para resistir ao longo período de espera e ao demorado cortejo. Entabulam-se conversas com os vizinhos temporários, permutam-se petiscos, quem está sentado troca por vezes lugar com quem está de pé, uns desejosos de esticar as pernas e outros de as descansar. O ambiente é de descontracção e partilha.

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Foi no ano de 1700 (ou talvez 1698) que se realizou a primeira procissão em honra do Senhor Santo Cristo, organizada por Madre Teresa d’Anunciada para partilhar a sua devoção e para que os fiéis pudessem agradecer os favores e milagres que se considerava serem obra do Santo. A popularidade desta demonstração de fé cresceu com os séculos, e cresceu também a sua magnitude. Actualmente, é a maior procissão da Europa, e uma das mais antigas do mundo. Quem nunca assistiu poderá duvidar da sua grandeza, e eu compreendo. Mesmo estando lá, custa a crer que uma simples imagem de madeira tenha tanta influência e o poder de movimentar um tão grande número de pessoas.

 

Finalmente, por cima do ruído da multidão irrequieta, ouvem-se os acordes do Hino do Senhor Santo Cristo, tocado por uma das dezenas de bandas que participam na procissão. Surge entretanto o Guião, transportado pela Irmandade do Santo Cristo, e depois sucedem-se as bandas – todas tocam o mesmo Hino, e a meio do desfile já estava cansada de o ouvir – alternadas com Irmandades várias, romeiros, crianças vestidas de anjo, freiras e um sem-fim de padres e acólitos (tanto rapazes como raparigas), seguidos de membros do alto clero.

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O longuíssimo cortejo de gente dura mais de uma hora, até que o repicar de sinos substitui a música das bandas, a desvanecer-se na distância. É sinal de que se aproxima o andor do Senhor Santo Cristo dos Milagres, mostrando-se mais uma vez em todo o seu esplendor. Tal como na véspera, está quase completamente coberto de flores, e mal se entrevê o tecido do dossel que protege a imagem. É uma visão em cores quentes, vermelhos e rosas, dourados e amarelos-vivos, numa profusão barroca que vai muito para lá do que é habitual neste tipo de manifestações religiosas.

Entre o avultado património material pertencente ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, há cinco jóias especiais que acompanham a imagem durante estas festas. Para as descrever, aproprio-me das palavras usadas no site oficial do Santuário: “resplendor, encaixado na parte posterior da cabeça; coroa de espinhos, cingida à cabeça; medalhão-relicário, pendurado ao pescoço por uma corda, ocultando a abertura sobre o peito; ceptro, na mão direita; e corda, prendendo os antebraços e as mãos cruzadas. O conjunto destes magníficos exemplares de joalharia portuguesa do século XVIII tem o nome “tesouro do Senhor” e constitui um dos mais belos e valiosos acervos nacionais de joalharia religiosa”. Tanto assim é que, em conjunto com a imagem, foram classificadas pela Assembleia Legislativa dos Açores como “Tesouro Regional” e protegidas por Decreto Legislativo. Entre elas, apenas a corda foi criada durante a vida da Madre Teresa (e refeita em 2020). Todas as outras jóias, embora solicitadas por ela, foram doadas posteriormente.

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E há ainda as capas, motivo de expectativa anual. Oferecidas por devotos, em anos mais recentes sobretudo emigrantes, já são quase 40, e todos os anos é escolhida uma capa diferente para cobrir os ombros do Santo na sua saída em procissão (a das imagens foi oferecida pela Irmandade do Senhor Santo Cristo de Brampton, no Canadá; a de 2024 foi a número 39, executada pelas próprias ofertantes, três senhoras de Ponta Delgada). Confeccionadas em tecidos nobres, bordadas a ouro e por vezes ornamentadas com jóias, são peças requintadíssimas, cujo maior valor, ainda assim, é serem testemunhos de uma devoção profundamente sentida.

 

No meio da parafernália, destaca-se o rosto do Santo, a madeira já carcomida em alguns pontos, o sangue pintado que escorre pelas faces, os olhos escuros contemplando o vazio sob as pálpebras meio descidas. Mais do que sofrimento, parece-me ter uma expressão de serenidade – mas eu vejo a imagem com olhar de profana, não com o coração de devota, e sou claramente uma excepção. À passagem do andor, todos os olhares convergem para a imagem do Senhor Santo Cristo. Ouvem-se palmas, e são muitos os lábios que se movem em oração, talvez pedindo, talvez agradecendo, talvez cumprindo um ritual instintivo.

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Seguem-se-lhe mais membros de Irmandades e mais filarmónicas, dignitários do Governo Regional e de outros organismos oficiais, representantes das Forças Armadas, das autarquias e das forças de segurança. Depois de ainda mais uma banda, quatro escuteiras abrem a ala das mulheres de negro – algumas estão mesmo de luto, outras cumprem promessas. E só então chega finalmente a vez dos restantes fiéis, que engrossam a procissão com mais uns bons milhares de almas. Há quem tenha vestido o seu melhor “fato de domingo”, e quem vá de ténis; uns levam círios, outros crianças ao colo; há quem tire os sapatos e prossiga de meias, ou mesmo descalço. Neste desfile democrático qualquer pessoa pode participar, e o único requisito é ter fé.

O fumo e o barulho de morteiros indicam que o andor desfila em frente ao Forte de São Brás. Depois de deixar o Campo de São Francisco, o cortejo faz um périplo pelas ruas mais antigas da cidade. Mimetizando a rota da procissão original, passa pelas igrejas e conventos mais importantes do centro histórico de Ponta Delgada, regressando ao adro do Santuário cinco horas depois de ter começado, numa prova de resistência que só mesmo a forte devoção (e uma razoável forma física) consegue fazer superar. Depois das últimas despedidas, já perto das dez da noite, a imagem do Senhor Santo Cristo recolhe à sua capela, de onde só voltará a sair um ano mais tarde.

 

A festa não termina aqui. Ainda haverá celebrações eucarísticas, concertos e arraiais até à quinta-feira seguinte, dia do encerramento das festividades. Apesar de algumas tímidas tentativas, no passado, para reduzir a componente comercial do evento e dar maior relevância à vertente espiritual das festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a verdade é que estes são dias de grande movimento de pessoas em toda a cidade, e de inegável importância económica.

 

Mesmo entre os crentes, as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres não são tão famosas quanto outras manifestações religiosas no nosso país. O peso da insularidade continua a ser grande, por muito que estejamos numa “aldeia global” e apesar da recentemente adquirida popularidade dos Açores. No entanto, e se outro mérito não tivessem, conseguem a proeza de chamar a si vários milhares de pessoas espalhadas por todo o mundo, unindo-as numa mesma devoção e sob um único manto: o da fé numa imagem religiosa. É obra!

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Referências consultadas online:
 
Website oficial do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres
 
Hélio Nuno Soares – Os promotores de uma devoção no séc. XVIII: o Senhor Santo Cristo de Ponta Delgada. Revista da FLUP. Porto. IV Série. Vol. 12 nº 1. 2022. 85-106
 
Açoriano Oriental. Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres 2015
 
(Post já publicado no blogue Viajar Porque Sim)

Pensamento da semana

Pedro Correia, 11.02.24

O PS passou toda a campanha eleitoral açoriana a agitar o papão do Chega, jogando a carta do medo, em vez de apresentar as suas propostas alternativas para governar o arquipélago. A estratégia saiu-lhe furada: dos dez mil novos eleitores que votaram neste escrutínio insular, em comparação com o de 2020, apenas 300 confiaram no partido do punho fechado. Os restantes tiveram outras opções - incluindo o Chega, que bem pode agradecer aos socialistas a propaganda que lhe fizeram.

Balanço: o PS recua três pontos percentuais nos Açores, perde dois deputados na Assembleia Legislativa Regional (desce de 25 para 23) e fica muito mais longe de uma solução governativa. Pior: vê desta vez o PSD - que concorreu coligado com CDS e PPM - vencer ali a primeira eleição desde o remoto ano de 1992, triunfando em seis das nove ilhas e 13 dos 19 concelhos. Há quatro anos o partido laranja só chegou ao poder formando uma geringonça à moda de Ponta Delgada.

Agora dirigentes nacionais, como Francisco Assis, já declaram que os socialistas têm a obrigação democrática de viabilizar, pela abstenção, o Executivo liderado por José Manuel Bolieiro, que à partida necessita de três deputados (elegeu 26 em 57) para fazer passar programa e orçamento na assembleia regional. Se assim for, isolam o Chega, que neste escrutínio subiu de dois para cinco lugares - enquanto o BE perdeu um, a IL e o PAN mantiveram cada qual o seu representante e os comunistas continuam excluídos do parlamento açoriano.

Serve isto de prelúdio ao que pode acontecer daqui a pouco mais de um mês a nível nacional? Talvez sim. É esperar para ver.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO DE OPINIÃO durante toda a semana

A derrota das sondagens

Legislativas 2024 (6)

Pedro Correia, 10.02.24

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Expresso, 30 de Dezembro de 2021

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Expresso, 28 de Janeiro de 2022

Vamos passar mais uma campanha eleitoral a ouvir falar de sondagens. De manhã à noite, de forma seguidista. Sem nunca haver uma perspectiva crítica destas pesquisas de opinião que induzem tanta gente em erro e espalham desinformação. Com base em amostras muito reduzidas e pouco representativas dos eleitores, talvez porque o dinheiro para as pagar não dê para mais. 

Voltou a acontecer, na recente eleição para a Assembleia Regional dos Açores, no passado domingo. Quatro dias antes, a 31 de Janeiro, uma sondagem da Universidade Católica divulgada em parangonas por dois meios de informação estatais (RTP-Antena 1) e pelo jornal Público atribuía a vitória nos Açores ao PS, com 39%, seguindo-se a coligação liderada pelo PSD, com 36%.

Acertou? Nem por sombras. Tiro ao lado, uma vez mais - desta vez com desvio de 9 pontos percentuais nas duas principais forças políticas, invertendo a ordem em que ficaram. O PS perdeu, não ganhou: teve 36% - menos 3 pontos do que a sondagem indicara. E a coligação encabeçada pelo PSD não foi derrotada: subiu mais 6 pontos do que a Católica tinha previsto, alcançando 42%.

 

Um fracasso quase tão clamoroso como o da sondagem do ISCTE para o Expresso que em 28 de Janeiro de 2022, dois dias antes das legislativas que deram vitória a António Costa por maioria absoluta contra Rui Rio, vaticinavam "empate técnico" entre socialistas e sociais-democratas: 35% para as rosas, 33% para as laranjas. 

Não aconteceu nada disto, como sabemos. O PS triunfou por quase 14 pontos percentuais de diferença: 41,4% contra 27,7%. Desmentindo em toda a linha o que ficara escrito não apenas na manchete do semanário publicada 48 horas antes do escrutínio, mas também outra, divulgada a 30 de Dezembro.

«Com a passagem dos anos de hipervalorização mediática dos estudos de opinião, fui ganhando a consciência de que sobre os mesmos não se exerce um módico de reflexão jornalística. Quer sobre o resultado produzido, quer sobre a metodologia e, em especial, sobre o questionário.» Palavras oportunas de Luís Paixão Martins no seu livro Como Mentem as Sondagens.

 

Por mais que estas coisas sucedam, iremos continuar a ouvir horas e horas e horas de peroração nas pantalhas sobre sondagens como se fossem modelos de rigor. Mesmo quando feitas por empresas que já falharam em toda a linha. 

Qualquer semelhança entre isto e jornalismo é mera coincidência. Deviam difundi-las em reality shows, não em telejornais.

A Terra é plana

Pedro Correia, 05.02.24

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«A CDU tem aqui um resultado que não parece tão mau como as sondagens indicavam. A CDU foi o terceiro partido mais eleito entre estes círculos - Flores, São Jorge e Faial. A CDU é um partido fundamental, com muita importância.»

Carmo Afonso (RTP 3, ontem, às 22.32)

 

(O Partido Comunista Português, uma vez mais, não conseguiu eleger qualquer deputado nos Açores: a última vez que isso aconteceu foi em 2012. Flores, São Jorge e Faial são ilhas, mas não formam nenhum "círculo". A CDU nem sequer é partido, excepto na República Federal da Alemanha)

O Estado a que chegámos

Pedro Correia, 04.02.24

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A Comissão Nacional de Eleições tentou silenciar a livre opinião política procurando impor o absurdo "dia de reflexão" - que a Internet e o voto antecipado tornaram ainda mais anacrónico - à campanha já em curso para a Assembleia da República, a pretexto de que hoje se realizam eleições na Região Autónoma dos Açores. E entendeu divulgar tal decisão apenas dois dias antes do tal dia, que passou ontem.

Fez muito bem a Iniciativa Liberal em manter o evento que anunciara, em Lisboa, para a apresentação detalhada do seu programa eleitoral com a presença de candidatos de todo o País. Não foi um desrespeito pela lei: foi uma afirmação de liberdade, sem condicionamentos inaceitáveis, neste ano em que celebramos o 50.º aniversário do 25 de Abril. Era o que faltava suspender-se a política no país inteiro a pretexto de que nos Açores teria forçosamente de ser assim.

O mais extraordinário, nesta ridícula tentativa da CNE de impor 24 horas sem política em todo o território nacional cinco semanas antes das eleições legislativas, é que o mesmo órgão deliberativo havia emitido decisão oposta poucos dias antes, a 17 de Janeiro. Admitindo acções de propaganda eleitoral fora dos Açores na véspera e no dia das regionais no arquipélago.

É o Estado que temos. É o Estado a que chegámos.

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 06.06.22

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A 6 de Junho celebra-se O Dia da Região Autónoma dos Açores

"O Dia dos Açores foi instituído em 1980, destinado a comemorar a açorianidade e a autonomia do arquipélago. É a maior celebração religiosa e cívica dos Açores. A escolha da Segunda-Feira do Espírito Santo (também conhecida por Dia do Bodo ou Dia da Pombinha), isto é a segunda-feira imediatamente após a festa religiosa do Pentecostes, alicerça-se no facto da comemoração do Espírito Santo - em que se entrelaçam as mais nobres tradições cristãs com a celebração da Primavera, da vida, da solidariedade e da esperança -, constituir a principal festividade do povo açoriano.

Formado por pequenas comunidades isoladas durante séculos, o povo dos Açores manteve cultos e práticas profundamente populares, totalmente enraizadas no quotidiano e que, apesar da crescente globalização, mantêm um profundo significado, sendo um dos traços da açorianidade. Entre essas práticas insere-se esta comemoração, cuja vitalidade se alarga a todos os núcleos de açorianos espalhados pelo mundo e se reflecte em celebrações que são tão espontâneas e tão vividas quão intensas".

Nunca fui aos Açores. Tantas vezes planeei, outras tantas adiei. Quem conta de lá, deixa-me gulosa. Pela beleza, pelas gentes, pela comida. É uma falha a colmatar sem falta.

 

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Hoje celebra-se O Dia Mundial da Ortóptica

"Por ser a primeira segunda-feira de Junho, assinala-se o Dia Mundial da Ortóptica. Esta celebração foi criada em 2013 pela Associação Internacional de Ortóptica.

A data pretende ser uma oportunidade para todos os ortoptistas aumentarem a visibilidade da sua profissão e promoverem actividades relacionadas com as suas áreas de desempenho, tanto a nível local como nacional e internacional."

Nunca fui "caixa de óculos" até há cerca de oito anos. Óculos para ler e ver tv, implantes inteaoculares para ver ao longe. Ao contrário da minha família, e segundo o médico, não tenho miopia ou astigmatismo, apenas a vista cansada, talvez porque gosto de ler à noite, ou porque gosto de ver TV, ou porque os laptops e os tablets dão conta da vista, ou porque a idade tem destas coisas.


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No dia 6 de Junho celebra-se O Dia da Língua Russa

"Em 2010, a ONU instituiu o Dia Internacional da Língua Russa, uma das suas seis línguas oficiais de trabalho (a par do Árabe, do Chinês, do Espanhol, do Francês e do Inglês), a ser celebrado a 6 de Junho. Esta data foi escolhida para divulgar o russo como um dos dez idiomas mais falados no mundo e homenagear o criador do padrão clássico da língua literária russa, o “Camões Russo”, o grande poeta nacional Aleksandr Serguéievitch Púchkin que se tornou a personificação da cultura russa, cujo aniversário se comemora neste dia."

A língua russa pode ser áspera quando ouvida, mas foi em russo que alguns dos melhores romances do mundo foram escritos. Quando lá estive nos anos 80, levei um livrinho que falava sobre Moscovo e Leninegrado e tinha no final algumas páginas com as expressões mais importantes para o dia a dia escritas no nosso alfabeto, com transcrição fonética e em cirílico. Usei todos os dias no trivial, mas mais para entender o que estava escrito no metro, na estação de comboios, nos museus. Por vezes era gratificante fazer-me entender. Um motorista de táxi ao perceber que éramos portugueses e ficando feliz com a gratificação, gritou em plenos pulmões "Eusébio! Benfica!". Nunca se pode ficar aborrecido quando Portugal é reconhecido em russo!

Moreira das proclamações

José Meireles Graça, 17.11.20

Jorge Moreira da Silva, um homem aberto, moderno, cosmopolita, inovador e arejado, na opinião do próprio, publica um artigo de opinião no Público onde, fremente de virtuosa indignação, acha mal que o seu colega José Manuel Bolieiro, cuja “competência” sublinha, tenha feito um acordo com O Chega!. “Não se fazem acordos com partidos xenófobos, racistas, extremistas e populistas. Com partidos que, por ignorância ou perversidade moral, propalam propostas incompatíveis com a dignidade humana. Ponto!”, exclama, e eu até tremi de comoção – este Moreira sabe como tanger as cordas dos nossos mais lídimos sentimentos, vou ali beber um chá de camomila e comer um bocadinho de tofu com queijo das ilhas para me acalmar.

Não sou nem adepto nem advogado do Chega! – não preciso de versões exacerbadas e oportunistas de vários tipos de asneirol que já tinham o seu cantinho no meu partido, que acolhe, e bem, muitas capelas.

Sucede porém que almas simples como a minha gostam das coisas bem explicadinhas. E este discurso escuteiral suscita-me várias questões, a começar pela curiosidade de saber quem é este prócere do PSD, cujo nome me era familiar.

Era, e com razão: Já em tempos tropecei neste empresário do ramo das tretas ecológicas, e sobre ele bordei considerações da maior pertinência, que estão aqui. Um passado ominoso, é o caso de dizer.

Depois, acha que o Chega! é uma data de coisas que será ou não (os próprios, se acham que a carapuça não lhes serve, que se defendam, se entenderem que o que diz Jorge vale a pena refutar) mas deve ter pouca confiança em Bolieiro, no PSD e CDS locais e no acordo. Porque toda a gente envolvida neste negócio deve saber o que lhe convém, que é apear o PS, e é precisa muita falta de confiança para imaginar que o Chega!, parceiro minoritário, está em condições de cobrar um preço que democratas não possam pagar.

Jorge “… recorda que em 2015 deu voz à primeira reação oficial da PaF na noite eleitoral defendendo que ‘quem ganha governa’ e que mantém a posição contra as coligações ‘negativas para derrubar o governo liderado pelo partido mais votado…” 

Olha que bem. E como o tal governo feito por quem ganhou não conseguiria governar porque não aprovaria coisa alguma, seria necessário acreditar que o eleitorado, em novas eleições, corrigiria o torto, dando a maioria absoluta a quem não a deu dias antes, e castigando o partido proscrito com quem ninguém quisesse fazer acordos. Isto, com o PCP, sobre o qual, tirando os comunistas, ninguém tem ilusões, talvez tivesse pernas para andar (deixo de lado as implicações constitucionais, que não são as mesmas para o governo do país e o das ilhas). Mas com o Chega!? Não me parece.

O homem acredita nisto. Já eu acho que quem nisto acredita é aventureiro, Jorginho que tenha lá paciência. E como, na prática, o PS não deixará, com entusiasmo, de encarar com a maior simpatia estes pontos de vista, cabe lembrar a afirmação cínica de Salazar: em política, o que parece é.

Os cínicos, às vezes, têm razão.

Reacções e falta de memória

João Pedro Pimenta, 11.11.20
O acordo para viabilizar o novo executivo açoriano trouxe à memória a constituição da "geringonça" e o precedente que causou. Ou antes, devia ter trazido.
 
Por um lado, temos o nosso primeiro-ministro, arquitecto da geringonça, o homem que permitiu todo este novo desenho parlamentar, que tirou sentido ao voto útil ao fazer acordos com os que até aí eram inimigos de longa data e de natureza completamente diferente, a criticar o PSD e a referir-se a "linhas vermelhas". Mas a questão em 2015 não era a de que se não houvesse geringonça "a direita ficaria no poder"? E isso implicava atravessar inhas literalmente vermelhas para fazer tratados com os seus velhos inimigos (por vezes mais do que advesários)? Então...
 
Por outro lado, temos um abaixo-assinado de um conjunto de pessoas de alguma forma ligadas ao centro direita que critica os acordos com direitas "iliberais". Os subscritores já foram mimoseados nas redes sociais com os habituais insultos do cardápio - "direita fofinha", "direita de que a esquerda gosta", "cobardes", "pusilânimes", etc. Ora isso lembra muito o tipo de remoques que socialistas como Francisco Assis ou Sérgio Sousa Pinto ouviram por se oporem à geringonça e avisarem com que esquerdas estavam a assinar. Lembram-se dos "traidores", "neoliberais do PS" e "vendidos à direita" que lhes atiravam? É que alguns dos que então os aplaudiam (até havia o jargão "Assis, salva o país") viraram-se agora indignados contra a "direita de que a esquerda gosta".
 

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É fantástico ver como a falta de memória gera os oportunismos mais descarados. E também tem o seu quê de divertido.

Sociedade perfeita

José Meireles Graça, 14.10.20

Cristina Ferreira perguntou aos admiradores, que são inúmeros e incluem Sua Excelência o senhor Presidente da República, se calculavam até que horas seria ela capaz de aguentar os saltos altos, ontem.

A notícia é omissa quanto ao momento em que Cristina pôde calçar umas confortáveis pantufas, imagina-se que com pompons, decerto porque havia outra matéria assaz mais preocupante, e que era o inacreditável desplante de se apresentar em público com um cinto da Gucci posto ao contrário.

Fosse eu o responsável em Portugal daquela prestigiada marca e isto teria consequências: como é que se podem impingir aquelas piroseiras às donas de casa que invejam a vida dos famosos se gente de representação põe os gês de cabeça para baixo? Está mal.

O assunto justifica indignação mas como, por indesculpável idiossincrasia, o tema modas, bordados e tretas sortidas não me atrai tanto quanto ao Professor Marcelo, tive a fraqueza de me preocupar com esta denúncia do velho senador Mota Amaral.

O Governo Regional dos Açores quis dirigir-se aos eleitores significando-lhes à superfície umas maravalhas sobre o processo de voto em mobilidade para as próximas regionais de 25 de Outubro, na realidade lembrando o extremoso cuidado que aquele órgão dedica às ovelhas que pastoreia.

Fê-lo, porém, através de mensagem da Autoridade Tributária, porque esta sabe muito bem onde mora toda a gente, e toda a gente lhe presta atenção, não vá vir a caminho uma multa, uma penhora, um aviso, uma ameaça, um abuso, tudo com a garantia, de que a “Autoridade” dispõe, de ser inimputável e inapelável.

Está de parabéns o Governo Regional e os ignotos dirigentes locais da AT (que, incidentalmente, gente excessiva como eu achará que deveriam ser expedidos para a condição de aposentados compulsivos, por manifesta incapacidade para compreenderem os limites da sua função).

De parabéns porque a ideia pode ser aproveitada no plano nacional. Por mim, encararia como uma evolução natural que, com base nas informações que tem sobre despesas com a saúde e a alimentação, a AT prodigalizasse recomendações sobre bons hábitos alimentares e vida sadia. E é claro que outros organismos públicos que se ocupam do bem-estar das populações, e que têm dificuldade em passar as mensagens e preocupações inerentes ao seu múnus, como a “Autoridade” Nacional de Emergência e Protecção Civil e a GNR, também poderiam recorrer aos músculos da AT

Isto como primeiro passo para benefícios fiscais para quem tivesse uma vida exemplar, e castigo para os restantes.

Não podemos recuar no caminho de uma sociedade perfeita.

Férias sem testes nem máscaras

Pedro Correia, 13.08.20

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Praia de Burgau

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Na praia do Camilo

 

Enfim "desconfinado" (um dos nossos habituais eufemismos em jeito português suave), escolhi local de férias.

Dei prioridade aos Açores: quero conhecer a ilha de Santa Maria, antigo sonho meu, reforçado pela leitura recente de Crime em Ponta Delgada, romance (que recomendo) do meu amigo Francisco José Viegas. Azar: logo se lembrou o Governo Regional presidido pelo socialista Vasco Cordeiro de decretar testes obrigatórios ao novo coronavírus a todos os passageiros desembarcados do continente. Alguns destes supostos "empestados" chegaram a permanecer três dias compulsivamente encerrados em quartos de hotel em Ponta Delgada, sem possibilidade de rumar a outras ilhas, enquanto aguardavam os resultados dos testes.

Mudei de planos. E olhei então para a Madeira, mais concretamente para Porto Santo - onde existe uma das cinco ou seis mais belas praias portuguesas. Só lá estive uma vez, há mais de uma década: seria a ocasião ideal para regressar. Mas também aqui tudo se alterou: o Governo Regional presidido pelo social-democrata Miguel Albuquerque lembrou-se então de decretar o uso obrigatório da máscara nos espaços públicos do território insular, incluindo os que desfrutamos ao ar livre. Alguém com um módico bom senso vai de férias para andar o tempo todo de máscara arriscando pagar multas de 30 euros por ser visto sem ela? Não conheço ninguém, com excepção do Presidente da República, mesmo que tal medida - nunca aplicada no continente - suscite polémica entre os constitucionalistas.

 

Desisti, portanto. Vim para o Algarve, sem testes nem máscara ao ar livre. Um Algarve muito mais "desconfinado" do que o de 2019. Com muito menos turistas estrangeiros, alguns quase de todo ausentes - como os ingleses, os norte-americanos ou os canadianos. Mas, até por isso, com preços mais convidativos e mais espaço para manter distância física (não "distanciamento social", expressão absurda, que não é nem jamais pode ser regra sanitária) em relação a vizinhos de hotel, de apartamento, de praia ou de piscina. 

Fixei-me em Lagos. E tenho andado pelas praias das imediações, com destaque para a belíssima Burgau, que nos sugere um recorte da costa adriática. Mas também a praia do Camilo, com restaurante acoplado. E, claro, a icónica Meia Praia, onde há sempre lugar para todos - é de uma extensão só comparável a Montegordo ou ao quase vizinho Alvor.

Isto sim, é "desconfinamento". Enquanto o senhor Cordeiro e o senhor Albuquerque, regedores das ilhas, desesperam com falta de turistas, incluindo os continentais: só podem queixar-se deles mesmos. Que lhes faça bom proveito.

 

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Lagos ao anoitecer

Insegurança e desconfiança

Pedro Correia, 06.07.20

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O Presidente da República, que já se tinha deslocado duas vezes aos Açores, em Janeiro e Junho, prometendo regressar em Agosto, dignou-se enfim dar um saltinho à Madeira. Talvez estimulado pelo facto de o social-democrata Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional madeirense, lhe ter chamado «bengala do Governo» e admitido concorrer contra ele daqui a seis meses, na próxima eleição para o Palácio de Belém.

Antes da terceira visita ao arquipélago liderado pelo socialista Vasco Cordeiro, Marcelo Rebelo de Sousa lá se dignou picar o ponto na Madeira, numa espécie de toccata e fuga que nem durou 24 horas na ilha descoberta por Gonçalves Zarco. Além de aplacar os ânimos de Albuquerque, que poderia contribuir para lhe reduzir a ansiada fasquia dos 70% na reeleição prevista para Janeiro, o Presidente terá procurado transmitir mensagens de «segurança e confiança» no combate ao Covid-19 em solo madeirense. Para encontrarem eco nos telediários do Reino Unido, que acaba de excluir o nosso país dos "corredores turísticos" deste Verão devido ao aparente insucesso português no combate à pandemia - notícia desastrosa sobretudo para regiões como o Algarve e a própria Madeira, onde os britânicos representam 17,9% das dormidas turísticas.

Iniciativa meritória, a de Marcelo. Duvido muito, no entanto, que obtenha sucesso. Imagino como o verá um inglês médio que observe as imagens dele no Funchal, falando às pessoas na rua sem nunca abandonar a máscara e forçando os demais membros da comitiva a comportarem-se da mesma forma para não parecer mal. Quem entre nós, se fôssemos britânicos, se sentiria seguro e confiante para fazer férias num sítio destes?

Mr. Lamb, I presume

Pedro Correia, 04.06.20

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Se há político que goza de "boa imprensa" em Portugal é o presidente da Região Autónoma dos Açores. Caso assim não fosse, Vasco Cordeiro teria recebido um ensurdecedor coro de críticas. Por ter praticado o acto político mais condenável desde que vivemos sob o signo da pandemia. Refiro-me à decisão de forçar todos os passageiros desembarcados no arquipélago a duas semanas de encerramento compulsivo num quarto de hotel escolhido pelo Governo regional.

Privação ilegal de liberdade, ferindo de modo chocante a Constituição da República. Ainda por cima discriminando cidadãos nacionais, pois a partir de 8 de Março o Executivo passou a financiar a quarentena apenas quando aplicada aos residentes habituais na Região. Decisão felizmente revertida graças à intervenção de uma juíza em funções no Tribunal Judicial de Ponta Delgada, que deferiu um pedido de habeas corpus interposto pelo advogado de um desses cidadãos.

Corajosa magistrada, corajoso advogado, corajoso cidadão. Nenhum se vergou à prepotência de Cordeiro.

 

"Uma vitória da cidadania", lhe chamei aqui. Em contraste com o pesado silêncio do Presidente da República, tão loquaz noutras ocasiões, ou do seu representante nos Açores. E contrastando igualmente com o expectável silêncio do primeiro-ministro, correligionário do líder açoriano, e até dos próprios partidos da oposição - o que, tratando-se do PSD, também não surpreende.

No seu blogue, o constitucionalista Vital Moreira, insuspeito de antipatias políticas face ao líder socialista dos Açores, deixou claro o seu pensamento quanto à quarentena obrigatória num quarto de hotel transformado em cela prisional: «Tal medida, tomada ao abrigo da lei regional de protecção civil, traduz-se numa violação grosseira da liberdade pessoal, pelo que só poderia ser excepcionalmente tomada em regime de estado de sítio ou de estado de emergência, que só pode se declarado pelo PR, com aprovação da AR.»

 

Apesar disto, Vasco Cordeiro manteve a boa aura na generalidade da imprensa: a maioria dos órgãos de informação nem se referiu ao assunto. Na mesma linha, nem parecem estranhar que o líder açoriano deturpe com aparente indiferença e talvez até algum orgulho o nome da própria Região a que preside, trocando Açores por "Azores" no endereço electrónico oficial do Executivo. Como se governasse Porto Rico ou a Samoa Americana, em vez de uma parcela inalienável do Estado português.

Caso para alguém o interpelar nestes termos, quando o vir: «Mr. Lamb, I presume.» Ele certamente reagirá com uma sonora gargalhada. Isto anda tudo ligado, como dizia o outro.

Uma vitória da cidadania

Pedro Correia, 17.05.20

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Tribunal de Ponta Delgada

 

Passo por aqui só para louvar uma vitória da cidadania neste tempo de acelerada compressão de direitos, liberdades e garantias em que muitos confundem a utilização de máscara por imperativo sanitário com o uso de açaimo ou mordaça. Como se a legalidade democrática estivesse de quarentena.

 

Refiro-me à corajosa decisão da juíza de turno no Tribunal Judicial de Ponta Delgada que aprovou o habeas corpus a um cidadão português, confrontado em território português com uma medida de confinamento ilegal, mais chocante ainda por vir com chancela oficial a pretexto do combate à pandemia. Considerando que esta quarentena viola a liberdade individual - conforme determina o artigo 27.º da Constituição, que consagra o direito à liberdade e à segurança. Segundo este artigo, o confinamento compulsivo sob pretexto sanitário só pode abranger o «portador de anomalia psíquica em estabelecimento terapêutico adequado, decretado ou confirmado por autoridade judicial competente».

Louvo esta magistrada, e o advogado Pedro Gomes, que desafiou o poder político insular ao invocar o habeas corpus, e naturalmente também o cidadão que se sentiu lesado e accionou os direitos constitucionais que lhe assistem. E que nos assistem a todos, é bom que não esqueçamos. Mesmo em tempo de Covid-19.

Direi até: sobretudo em tempo de Covid-19.

 

Acontece que o Governo açoriano tinha imposto a 14 de Março uma quarentena obrigatória a quem desembarcasse em São Miguel, forçando estes cidadãos à reclusão numa unidade hoteleira de Ponta Delgada. Mas sem possibilidade sequer de abandonarem o quarto de hotel durante 15 dias.

Se isto já seria absolutamente contestável, pior foi a decisão posterior do Executivo liderado por Vasco Cordeiro de assumir as despesas deste confinamento para todos os residentes na região enquanto os restantes portugueses - com residência no continente - se viam obrigados a pagar do seu bolso este encerramento compulsivo num quarto de hotel que não escolheram. Em flagrante e grosseira violação do direito à igualdade consagrado no nosso texto constitucional.

 

Vem agora o Tribunal de Ponta Delgada considerar ilegal estas medidas. 

Cordeiro foi obrigado a acatar o veredicto judicial, mas protestou, admoestando a juíza em tom de inaceitável descortesia institucional, procurando novamente refugiar-se no combate ao coronavírus para justificar esta prepotência: «Estamos perante um duro revés na estratégia regional de combate a esta doença cujas consequências não se circunscrevem ao risco para a saúde e potencialmente para a vida dos açorianos.»

 

A uma decisão inaceitável, seguem-se palavras inadequadas. Só lamento, em tudo isto, o silêncio do Presidente da República e do seu representante na região autónoma, além do aparente alheamento da Provedora de Justiça, a quem o caso havia sido igualmente remetido.

Se a partir de agora se pronunciarem, já será tarde. De qualquer modo, mais vale tarde que nunca.

As ligações insulares da Líbia

João Pedro Pimenta, 30.03.18
O suposto patrocínio de Muammar Kadhafi e do regime líbio à campanha presidencial de 2007 de Nicolas Sarkozy, que levaram à detenção deste há poucos dias,  não é exactamente uma novidade nem um rumor esquecido. Já tinha sido publicitada várias vezes, a começar pelo filho do próprio ditador da Líbia durante o levantamento no país, quando a França liderou a intervenção militar externa que seria decisiva para a queda do "regime verde" e para os acontecimentos que se seguiram. 
 
A ser verdade não sei quais as razões deste patrocínio financeiro a Sarkozy, mas por certo seria para obter quaisquer objectivos financeiros ou estratégicos da parte da França. De resto, Kadhafi nunca deixou de se imiscuir nos assuntos dos outros países de forma diversa. Na sua versão mais recente fazia-o através de recursos económicos proporcionados pelo petróleo líbio, como os interesses que tinha em empresas italianas como a FIAT, ou até em clubes de futebol. Mas nas primeiras décadas, o coronel esteve envolvido em  quase todos os conflitos envolvendo terrorismo e rebelião. Do IRA à ETA, passando por todas as organizações palestinianas e estando por trás de grandes atentados dos anos oitenta, como a explosão do avião sobre Lockerbie, ou estreitamente ligado aos grandes terroristas da época, como Carlos, O Chacal, ou Abu Nidal, Kadhafi não perdia uma. E quando não tinha uma organização terrorista ou ma causa subversiva para apoiar, procurava-as. Um artigo recente de Rui Tavares conta-nos que o ditador líbio, numa reunião da Organização dos Estados Africanos, exigira a "liberdade da colónia africana da Madeira, ocupada por Portugal", dizendo o mesmo das Canárias. Se a esta ainda podia fazer referências aos guanches, o povo autóctone pré-espanhol, já dificilmente veríamos os madeirenses a querer ser libertados por Kadhafi. 

 

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Mas os líbios, sempre prestes a auxiliar um bom movimento separatista, também olhavam para os Açores, já fora da órbita africana. César Oliveira, antigo deputado e autarca do PS (e pai de Tiago Oliveira, agora muito falado por estar à frente da estrutura que previne os fogos rurais), já desaparecido, conta-nos as suas impressões da Líbia em finais dos anos setenta no seu livro de memórias de 1993, Os Anos Decisivos:

País de um novo-riquismo impressionante e avassalador, a Líbia constituiu (...) a certeza de que representava uma ameaça para a paz e no Norte de África como para o próprio Sul da Europa (...) Um alto dirigente líbio colocou-me a pergunta sobre a posição da UEDS quanto à ala esquerda da FLAMA e da FLA. E como tivéssemos respondido, naturalmente, que não víamos qualquer ala esquerda naqueles movimentos insulares e que, pelo contrário, os víamos como de extrema-direita e politicamente suspeitos, acabaram-se todas as facilidades e tive mesmo dificuldades em obter o bilhete de avião  para Lisboa, via Roma. 
 
Claro que o apoio a tais movimentos não passou de intenções, discursos e perguntas. Mas revela bem até que ponto aquele excêntrico regime líbio interferia ou procurava interferir nos assuntos dos outros países. Daí que não possa deixar de me rir quando ainda ouço inúmeras indignações A invasão e "violação da soberania da Líbia." Não que não tivesse acontecido, que aquilo não tenha redundado num caos e que a morte de Kadhafi e outros não seja condenável. Mas se houve país que se imiscuiu nos assuntos alheios, com consequências trágicas, a Líbia é o melhor exemplo, assim como Kadhafi é o responsável por inúmeras mortes e conflitos. Aplicou-se, de novo, a velha teoria de que quem com ferros mata...

A reacção contra o independentismo em Portugal e Espanha.

Luís Menezes Leitão, 03.11.17

Para mostrar bem a diferença entre Portugal e Espanha, cabe comparar o tratamento dado pelo Estado espanhol aos independentistas catalães com o que o Estado português deu aos independentistas açorianos. Em 1991 José de Almeida, o líder da FLA foi julgado no Tribunal da Boa Hora pelo crime de tentar obter a independência dos Açores. Acabou absolvido, considerando o Tribunal que num Estado democrático ninguém pode impedir um cidadão de defender livremente as suas convicções. Os juízes espanhóis bem que podiam olhar para o exemplo de Portugal.

Do Pico

Francisca Prieto, 21.07.17

Há uns quantos dias que fazes tenções de te sentar a escrever sobre as gentes do Pico. Mas não tens conseguido baixar o volume do que se passa à tua volta de forma a estruturar o que trouxeste debaixo da pele.

Quando começaste as tuas primeiras viagens, preferiste lugares longínquos, sempre na ideia de que os Açores era um destino para visitar na meia idade.

Hoje, ainda que muitos dias te sintas uma miúda, tens essa meia idade. Talvez tenha sido por isso que foste finalmente aos Açores. Mas o que não podias prever era que antes da meia idade e antes de teres calcorreado mundo, nunca irias conseguir perceber a Ilha do Pico. Nunca terias um aperto a disparar do coração para a garganta de tanto que tu, que não percebes nada de ilhas, que não tinhas qualquer interesse em ver baleias e que queres lá saber de rocha vulcânica, sentes que aquele recanto do mundo faz parte de ti.

Nunca poderias imaginar que o azul cerrado do Atlântico, que te entra pelos olhos a cada curva da estrada e que se mistura com os muretes negros que acondicionam a vinha, te levariam de volta à simplicidade da tua essência.

Ficas a saber histórias de baleeiros, desses homens que por valentia, galhardia e fome, se atiravam ao mar em botes para levar um punhado de dólares para casa. Ficas a saber que o terreno da ilha era tão árido e rochoso que não havia forma de cultivar os alimentos mais essenciais. Percebes, mais uma vez, a fome. Ficas a saber que se importou terra do Faial para distribuir pela base rochosa e plantar vinha. Que se fizeram pequenos rectângulos de rocha vulcânica em redor da vinha para proteger as uvas do vento e da humidade. Que hoje, esse engenho de sobrevivência, que tornou a paisagem estarrecedora, é património da UNESCO. Que o vinho é diferente de qualquer outro que tenhas experimentado porque te escorrega pela garganta e te deixa no palato um rasto a sal idêntico ao que levas no corpo depois de um dia a mergulhar

Descobres a estrada do meio da ilha, debruada a hortenses de todas as cores, que tens de partilhar com manadas de vacas que não conhecem sinais de trânsito.

A montanha é omnipresente e tens vontade de a subir, mas ainda não calhou embarcares nessa aventura.

Deitas-te à noite com a chinfrineira dos cagarros, sabendo que mesmo ali defronte moram baleias, golfinhos e tubarões.

E sabes, sem perceber exactamente porquê, que tudo aquilo passará irremediavelmente a fazer parte de ti.

 

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Polémica Fracturante na Fajã de Baixo

Francisca Prieto, 05.09.16

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Transcrevo as letras pequenas da notícia que apresenta o tema mais fracturante da actualidade da Fajã de Baixo, na Ilha de São Miguel:

Presidente da Casa do Povo da Fajã de Baixo acusa o director da Casa de Saúde de São Miguel "de se apropriar" da realização do Festival da Sopa, que há 18 anos tem lugar na freguesia, numa iniciativa da instituição particular de solidariedade social.

Senhor Director da Casa de Saúde, não tem vergonha? Se quer protagonismo, faça favor de promover um Festival do Ananás, uma Barrigada de Pão de Massa Sovada, uma Tertúlia de Queijo de São Jorge. Deixe lá a malta da sopa dar à colherada em paz. Afinal, já o fazem há 18 anos. É uma maioridade, caramba.

Era só o que faltava...

Sérgio de Almeida Correia, 24.12.15

A simples perspectiva de haver coisas nos Açores que reeditam os maus hábitos da Madeira, aproximando a governação socialista da de Alberto João Jardim, tira-me do sério. Com tudo o que já aconteceu seria bom que as coisas ficassem em pratos limpos. Limpos e transparentes. Ninguém está disponível para daqui a uns tempos cobrir os buracos do anticiclone.  

O comentário da semana

Pedro Correia, 21.10.12

 

«Os censos de 2011 dizem que os Açores têm 246.746 habitantes, dizem também que 44.201 têm menos de 14 anos, se considerarmos que a média de nascimentos anual é sensivelmente igual. Poderíamos dizer que com menos de 18 anos existem cerca de 53.673 habitantes, ora retirando os habitantes não votantes à população total teríamos grosso modo o total de inscritos para as eleições, cerca de 193.073. As listas utilizadas para eleições dizem que estavam inscritos 225.112 votantes, podemos assegurar com alguma certeza que existem cerca de 32.000 inscritos a mais nas listas de eleitores. Não sei a quem convém deturpar os valores da abstenção, ou se será só preguiça.»

 
Do nosso leitor João Trabuco. A propósito deste meu texto.