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Delito de Opinião

Da idolatria

Pedro Correia, 28.02.25

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Os comentadores da direita extremista - como se verifica nas caixas de comentários do DELITO - expressam um ódio à Europa liberal em tudo idêntico ao da esquerda mais extremista.

Ódio que tem hoje farol e guia: Donald Trump, cem por cento descendente de europeus, filho de imigrantes de segunda geração e neto de quatro avós que não tiveram o inglês como língua materna. *

 

Este ódio visceral está expresso numa frase debitada anteontem pelo novo-velho inquilino da Casa Branca, com a elegância que o caracteriza e a arrepiante ignorância histórica de que dá mostras quotidianas: «A UE foi criada para lixar os EUA.»

Mas este assumido anti-europeu e "pacifista" belicoso que acaba de declarar guerra comercial à União Europeia impondo taxas draconianas à importação de produtos aqui produzidos (prejudicando também Portugal), num ataque despudorado aos princípios liberais, vive no lado de lá do oceano.

Pode dar-se ao luxo de tratar inimigos como aliados e aliados como inimigos. É, aliás, o que tem feito desde o primeiro dia do seu novo mandato.

 

Os fanáticos apoiantes dele cá do burgo beneficiam da democracia liberal europeia (o sistema político mais invejado do mundo), mas escrevem como se odiassem Portugal. E como se desejassem viver na terra do Tio Sam.

Azar deles: o falso pacifista, filho e neto de imigrantes, declarou guerra também à imigração. Nenhum destes membros tugas do seu clube de fãs seria hoje admitido como residente nos EUA. Para não contaminarem a "Terra Prometida".

Terão de aplaudir o Bonaparte de Mar-a-Lago à distância.

Coitados, deve ser penoso. Idolatram quem os rejeita - a eles, ao país onde nasceram, ao continente onde residem.

 

* Trump assinou hoje um decreto impondo o inglês como idioma oficial dos EUA, facto inédito na história do país, independente há quase 250 anos. Freud talvez explique.

Os hereges

Pedro Correia, 08.01.25

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Quando oiço por aí falar em "desertor", ou leio palavras como "fugitivo" ou "foragido" a propósito de treinadores que mudaram de clube, questiono-me se os adeptos da bola quererão falar de Ruben Amorim ou de Rui Borges.

Seja o visado quem for, estão errados.

Na sexta à noite, em Guimarães, o novo técnico leonino recém-contratado pelo Sporting vindo da cidade-berço foi recebido com gritos (e tarjas) a chamarem-lhe "traidor". Nestas alturas verifico a enorme semelhança que pode haver entre um clube de futebol e uma seita religiosa - com os seus fiéis, os seus anátemas, os seus hereges. "Traidores", "desertores", "renegados" e expressões do género são típicas de seitas vocacionadas para espalhar o ódio.

Essa é a parte do futebol que menos me interessa. Aliás, é uma parte do futebol de que não gosto nada.