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Delito de Opinião

Tá tudo bem

Paulo Sousa, 22.05.20

A indiferença com que o país lidou com a recente atribuição de subsídios à comunicação social é uma das características do povo do nosso país. Foi exactamente essa indiferença que explica os 48 anos de ditadura passados sem grandes sobressaltos públicos, assim como a falta de comoção gerada por muitos outros acontecimentos bem mais recentes. Cá é assim, mas podia ser bem pior. Vamos andando, como é vulgar responder a quem nos pergunta se está tudo bem. Como se alguma vez fosse possível estar tudo bem. Claro que nunca está tudo bem, mas por automatismo anuímos dizendo que cá vamos andando, devagarinho, com a cabeça entre as orelhas. Ser português é também ir andando, mesmo sem saber bem para onde.

São estas águas mornas que propiciam os equilíbrios mornos, aqueles em que mais facilmente se limam as esquinas do que se vergam hábitos. Mesmo que as esquinas sejam as dos princípios nobres da república e das democracias liberais. Não há impossíveis, como bem resumiu António Costa. Tudo é negociável, e por isso tudo tem um preço, até a imprensa.

Pouco a pouco, orçamento após orçamento, ano após ano, pagamento de favor após pagamento de favor, vamos baixando a fasquia da já débil decência do nosso regime.

A forma como estes pagamentos de favores foram apresentados, a sua falta de clareza e de critério assumido, representa apenas mais um degrau que se desceu. Sem qualquer sobressalto ou comoção pública. E isto, embora triste, é normal.

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