Syriza Goldman Sachs radical-chique
Stefanos Kasselakis: a "verdadeira esquerda" na Grécia já não é o que era
O Syriza grego, que há meia dúzia de anos era apontado como o farol capaz de iluminar toda a esquerda radical na Europa, acaba de eleger como líder um ex-alto quadro dirigente da banca internacional: Stefanos Kasselakis, de 35 anos, viveu até há dois meses nos Estados Unidos, onde figurava na folha de pagamentos da famigerada Goldman Sachs - essa mesmo, a que tem sustentado Durão Barroso desde 2017.
Na altura, o Esquerda.Net publicou inflamados artigos noticiando a ligação do antigo primeiro-ministro português ao banco de investimentos. Andam distraídos, os camaradas do jornal digital do Bloco: ainda não vi por lá qualquer referência ao novo timoneiro da "verdadeira esquerda" grega, que eles tanto incensavam e louvavam quando era liderada por Alexis Tsipras. Agora que a Grécia tem «o parlamento mais à direita das últimas décadas», é tema pelo qual se desinteressam.
Tão radical o Syriza era, tão quase-liberal ficou agora com este empresário americanizado do sector financeiro no posto de comando. «É como se a Netflix tivesse entrado, se apoderasse do partido e o convertesse numa série», desabafou ao Guardian o escritor grego Dimitris Psarras, sem conter o espanto. Uma longa viagem, do marxismo-leninismo à Goldman Sachs.
A esquerda radical anda cada vez mais chique. Parece ter sido há longas décadas que o Syriza fazia inundar de júbilo gente subitamente apaixonada pelos vermelhos helénicos como Catarina Martins, Marisa Matias, Isabel Moreira, Ana Gomes, André Freire, Boaventura de Sousa Santos, a escritora Hélia Correia, o pintor Leonel Moura e até a inefável Manuela Ferreira Leite.
Que dirão elas e eles agora?