Sous les pavés, la plage!
Tal como a Helena, eu, que há dias tinha uma posição neutral nas primárias do PS, começo a desejar ardentemente que António Costa ganhe de vez o partido e liberte Lisboa o mais rapidamente possível das constantes ideias disparatadas que sistematicamente executa, para grande desespero de quem ainda aqui vive (e são cada vez menos). Primeiro, transformou o Marquês de Pombal numa rotunda onde não se consegue circular e os carros ficam sistematicamente parados. Dizem-nos que é para aliviar a poluição, como se os engarrafamentos automóveis numa rotunda não causassem poluição. Depois colocou os sentidos da Avenida da Liberdade de pernas para o ar, recuperando uma ideia de Nuno Abecasis, que deu tão mau resultado nessa época, que ele nem sequer voltou a recandidatar-se à Câmara. Como bem disse então Gonçalo Ribeiro Telles, em Lisboa tinha deixado de ser possível ensinar as crianças a atravessar a rua. Finalmente, António Costa despachou a recolha do lixo para as freguesias, passando essa recolha a ser irregular, o que deixa as ruas num estado lastimável.
Mas claro que tudo isto são preocupações prosaicas, para quem pensa com romantismo constantemente em ideias cada vez mais absurdas para Lisboa. Assim, como não poderia deixar de ser vamos regressar a Maio de 1968, e ao slogan Sous les pavés, la plage! Vai haver assim uma "praia urbana bem no coração de Lisboa", com "sol, água, areia e muita animação". O coração de Lisboa, imagine-se, é o lindíssimo jardim do Torel, com uma das vistas mais fascinantes da capital, que vai ser assim inundado de areia e água, para que alguns possam chapinhar, a que se vai associar o ruído estridente de foliões, perturbando o sossego dos visitantes do jardim. Tenho a certeza de que o coração de Lisboa, que já está entupido com a má circulação e os resíduos nas artérias, vai pura e simplesmente estoirar com esta nova agressão. Que mal fizeram a António Costa os cidadãos de Lisboa para ele lhes fazer isto?