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Delito de Opinião

Sócrates no lugar certo: o banco dos réus

Doze anos a evitar responder em tribunal

Pedro Correia, 03.07.25

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«Nunca recebi dinheiro de ninguém.»

José Sócrates, 13 de Março de 2017

 

Pela primeira vez em Portugal, um antigo chefe do Governo senta-se no banco dos réus. José Sócrates começa enfim a ser julgado - 12 anos após ter sido indiciado no âmbito da chamada "Operação Marquês". Isto se não houver outro enésimo "incidente processual" destinado a manter tudo em ponto-morto. Pode acontecer: um dos seus advogados já revelou a intenção de invocar a nulidade do julgamento «por alteração substancial de factos». E hoje apressou-se a apresentar um requerimento para pedir a recusa da juíza e dos representantes do Ministério Público. Folhetim em sessões contínuas.

Nada de surpreendente: ao longo destes anos, Sócrates inundou os tribunais com mais de cem recursos, reclamações e incidentes de toda a ordem. O número total pode chegar à centena e meia. E cerca de 300 magistrados acabaram por ter algum contacto com o processo - cifra digna de figurar no Guinness Book.

Manhã cedo, à porta do tribunal onde responderá por 22 crimes de corrupção, branqueamento e fraude fiscal, o homem que liderou o Executivo entre 2005 e 2011 protagonizou novo show mediático, na linha daquele que há dias, em Bruxelas, o levou a anunciar a intenção de processar o Estado português junto do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Naquele tom de "animal feroz" que ainda o caracteriza, atreve-se a dizer que se sente muito incomodado com a «morosidade da justiça portuguesa». Quando ele fez tudo, mesmo tudo, para atrasar a aplicação da justiça com litigância de má fé e a torrente de incidentes processuais que acabaram chumbados na esmagadora maioria. Apostando o mais possível na prescrição dos crimes

É preciso ter uma lata do tamanho da verba ao dispor deste antigo líder socialista para meter o Estado em tribunal.  Logo ele que, como sublinhou o Luís Rosa, «é o maior privilegiado da administração da justiça». Logo ele, que vem fugindo dos tribunais como o diabo da cruz. E que, tendo-se inicialmente apresentado como «um pobre provinciano que andou na política durante uns anos», nunca foi capaz de explicar a proveniência da fortuna acumulada enquanto desempenhava funções públicas - desde a suposta "herança da mãe" que afinal lhe pedia dinheiro por «estar à rasca» até ao enigmático amigo Santos Silva cuja conta bancária parecia um saco sem fundo.

Tal como acontece com muitos compatriotas, acompanho há muito este caso com indisfarçável nojo. Enquanto me questiono cada vez com maior perplexidade: como foi possível este pífio vendedor de ilusões ter permanecido durante seis anos à frente do Governo de Portugal?

 

Leitura complementar:

Como foi possível? (18 de Abril de 2018)

Era rico mas pedia dinheiro (15 de Abril de 2021)

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