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Delito de Opinião

Sócrates em tribunal

jpt, 04.07.25

eu 2006.jpg

Isto era eu em 2007, fotografado em Maputo no jardim da casa de um casal muito amigo. Eu tinha um blog desde 2003, mais dedicado a Moçambique. Mas já tinha resmungado sobre uns dislates lusos - era a época de afirmação do entretanto defunto BE. O que logo havia sido suficiente para que um jornalista mariola chamado Rainha me afixasse no "top-ten" da direita blogal, arrolando-me do meio de fascistas, assim mesmo chamados... Imagine-se o meu ar, professor contratado por uma universidade pública moçambicana, ao ver-me na internet emparelhado a uns quaisquer blogs chamados "neofascistas de Arrentela" ou "neonazis de Almeirim". Resmunguei entre palavrões peludos "o pequeno mundo dos esquerdalhos lisboetas, acampados entre o Campo Grande e Campolide" - nem de propósito, quando voltei a Lisboa estava o tal Rainha instalado no prestigiado ICS, ali à Biblioteca Nacional. "Cultos", dizem-se. Enfim...
 
Em 2007, com este ar ainda ligeiramente encanecido e muito menos engelhado, já havia eu lido algumas peças jornalísticas e falado com alguns sérios amigos portugueses. Sabia quem era Sócrates. Sabia que era bem diferente de Soares (& Zenha), Sampaio ou Guterres, alguns dos quais haviam recebido o meu voto. Sobre o traste indivíduo fui blogando desde esse então e nos anos subsequentes. E lendo, muito também em blogs - gente até desesperada com o rumo nacional.
 
Mas também muitos defendendo-o, até à última. Na imprensa, nos blogs. Alguns transportando-se destes para a tal imprensa e, depois, para o poder político. E/ou para sinecuras. Costumo simbolizar essa mole com as gentes do blog "Jugular", indefectíveis socratistas alcandorados sobre um pedestal de infinita arrogância (Palmira Silva, Vale de Almeida, Câncio, Galamba, e um enorme etc.).
 
Sócrates lá caiu, deixando o país qual trambolho. Foi para Paris "estudar". Publicou a "sua" tese, posfaciada por Eduardo Lourenço, respeitoso para com o "Senhor Engenheiro José Sócrates" (sic) - trecho nunca abordado na exegese que os académicos do CES e associados ao Mestre fazem. Voltou a Portugal, rumo a Belém: palestrou sobre Rimbaud, pois transformado em erudito. Encetando uma tournée de "cultura", pensada como adequada a um PR. Um antropólogo seu vassalo levou-o ao ISCTE para pavimentar uma qualquer sessão de magister dixit. Etc.
 
Eu já havia regressado à Pátria Amada, e à toca dos Olivais. Assistindo in loco a tudo aquilo: o seu pessoal na imprensa, os veteranos bloguistas (meio então já menos comum), a rapaziada das "redes sociais" (FB, Twitter), os velhos militantes aspergidos dos ares de Bad Münstereifel, os simpatizantes do "dá jeito ser do PS", a malta das autarquias, todos rejubilavam, em frenesim laudatório. E de todos nós, os "outros", avessos ao energúmeno, diziam sermos "ressentidos", "ressabiados". Doentes psicóticos, entenda-se...
 
Entretanto Costa, seu antigo nº 2, tomou a liderança do PS. Logo Ferro Rodrigues, ascendeu a chefe da bancada parlamentar. No seu primeiro discurso nessa condição, e ao invés da anterior direcção partidária, reclamou "o legado de José Sócrates".
 
No dia seguinte a esse discurso parlamentar fui até à tasca do bairro, abanquei na mesa que me albergava naquele meu primeiro Inverno de "torna-viagem", náufrago que estava. A tv estava sintonizada nas "notícias" e logo na primeira rodada percebi que Sócrates havia sido levado até à nossa vizinhança do Parque das Nações, para prestar declarações. Ficámos ali horas, rodadas e mais rodadas, à espera do que iria acontecer. Finalmente lá veio a (ansiada) notícia: o biltre ia dentro! Júbilo, ovação, maior do que a em qualquer futuro golo de Éder!!!
 
Ontem, e até que enfim, Sócrates foi a tribunal - do qual presumo nunca sairá efectivamente condenado. A amada e respeitável democracia é isto: só ele está em tribunal!
 
Mas ela também permite outra dimensão: só ele está em tribunal. Mas em "julgamento" intelectual está toda a imensa tralha dos seus apoiantes, que dele foram indefectíveis: os tontos que "não perceberam"; os complacentes, "pois ele é de esquerda"; os coniventes, os do "sou do PS"; e os cúmplices, essa abjecta corte feita desses santos silva, vital moreira e tantos quejandos.
 
Muitos poderão discordar de mim. Mas terão de concordar numa realidade: eu não sou o quase-viçoso patente nesta fotografia. Já resto escombro, pois vinte anos passaram, 20 anos!!!, desde o evidente início disto.
 
E a responsabilidade disto, deste tanto tempo e de todos os efeitos de entretanto, é mesmo só dos seus apoiantes. Nem vale a pena adjectivá-los.

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