Sociedade perfeita
Cristina Ferreira perguntou aos admiradores, que são inúmeros e incluem Sua Excelência o senhor Presidente da República, se calculavam até que horas seria ela capaz de aguentar os saltos altos, ontem.
A notícia é omissa quanto ao momento em que Cristina pôde calçar umas confortáveis pantufas, imagina-se que com pompons, decerto porque havia outra matéria assaz mais preocupante, e que era o inacreditável desplante de se apresentar em público com um cinto da Gucci posto ao contrário.
Fosse eu o responsável em Portugal daquela prestigiada marca e isto teria consequências: como é que se podem impingir aquelas piroseiras às donas de casa que invejam a vida dos famosos se gente de representação põe os gês de cabeça para baixo? Está mal.
O assunto justifica indignação mas como, por indesculpável idiossincrasia, o tema modas, bordados e tretas sortidas não me atrai tanto quanto ao Professor Marcelo, tive a fraqueza de me preocupar com esta denúncia do velho senador Mota Amaral.
O Governo Regional dos Açores quis dirigir-se aos eleitores significando-lhes à superfície umas maravalhas sobre o processo de voto em mobilidade para as próximas regionais de 25 de Outubro, na realidade lembrando o extremoso cuidado que aquele órgão dedica às ovelhas que pastoreia.
Fê-lo, porém, através de mensagem da Autoridade Tributária, porque esta sabe muito bem onde mora toda a gente, e toda a gente lhe presta atenção, não vá vir a caminho uma multa, uma penhora, um aviso, uma ameaça, um abuso, tudo com a garantia, de que a “Autoridade” dispõe, de ser inimputável e inapelável.
Está de parabéns o Governo Regional e os ignotos dirigentes locais da AT (que, incidentalmente, gente excessiva como eu achará que deveriam ser expedidos para a condição de aposentados compulsivos, por manifesta incapacidade para compreenderem os limites da sua função).
De parabéns porque a ideia pode ser aproveitada no plano nacional. Por mim, encararia como uma evolução natural que, com base nas informações que tem sobre despesas com a saúde e a alimentação, a AT prodigalizasse recomendações sobre bons hábitos alimentares e vida sadia. E é claro que outros organismos públicos que se ocupam do bem-estar das populações, e que têm dificuldade em passar as mensagens e preocupações inerentes ao seu múnus, como a “Autoridade” Nacional de Emergência e Protecção Civil e a GNR, também poderiam recorrer aos músculos da AT
Isto como primeiro passo para benefícios fiscais para quem tivesse uma vida exemplar, e castigo para os restantes.
Não podemos recuar no caminho de uma sociedade perfeita.

