Sobre o manifesto (1)
Li finalmente o manifesto de que tanto se fala. Para encurtar razões, digo desde já que sobre o assunto subscrevo o essencial do que escreveram os dois directores de jornais especializados em temas económicos.
«Na vida, por vezes, queremos seguir um caminho e acabamos a actuar de tal maneira que seguimos na direcção oposta. Acabamos a ter o que não queríamos. É o caso do Manifesto dos 70 de apelo à "preparação da reestruturação da dívida". Se o que fizeram – até mais do que aquilo que escreveram - tivesse tido algum impacto europeu, a esta hora estaríamos mais longe de conseguir aliviar o peso da dívida pública» , escreve Helena Garrido no Jornal de Negócios.
Mas a minha reacção perante este documento, mais do que de rejeição, é sobretudo de estupefacção. Por verificar que entre os 70 signatários figuram algumas das personalidades que permaneceram mais tempo em funções governativas nas últimas quatro décadas em Portugal. Incluindo três ex-responsáveis da pasta ministerial das Finanças.
Consulto os meus arquivos. E concluo que estas três personalidades desempenharam funções governativas em 12 dos 19 executivos que se sucederam no nosso país desde o 25 de Abril de 1974. Perfazendo, no seu conjunto, 20 anos e dois meses de actividade no Executivo.
É tocante vê-las dar este salto. Da permanência no Conselho de Ministros ao assento etéreo nas pantalhas televisivas, passando pela elaboração de manifestos em que desdizem hoje o que disseram ontem, com o conta-quilómetros a zero, transfiguradas em treinadoras de bancada.
Como se não tivessem a mais remota responsabilidade pelo estado a que isto chegou.