Sobre Israel aqui
Nunca me dediquei a leituras detalhadas sobre a temática Israel, pois nunca me foi assunto prioritário. Nem mesmo apenas relevante. Nunca visitei a região - o mais perto que cheguei foi Chipre... A minha atenção sobre temas internacionais, que não é profissional, ancorou-se noutros sítios, noutros continentes. Pouco sei sobre a história daquela área, e pouco sei sobre as últimas décadas, as do pós-II Guerra Mundial, as do estabelecimento do país Israel, e de vários outros vizinhos... E o estado crónico daquele conflito - do qual fui vendo notícias desde a mais tenra idade, pois lembro-me de estar perto do meu avô materno, que morreu aos meus 8 anos, assistindo a Moshe Dayan e Arafat no telejornal - também me convocou a um fastio sobre tudo aquilo.
Escrevo em blogs. É uma escrita amadora. Ou seja, não é remunerada, economica ou estatutariamente. E não tem agenda, nem própria nem, muito menos, encomendada. É diarística, sem intimismos. Escrevo sobre os temas que me interessam, muitas vezes reactivamente, outras vezes radicado nos meus gostos ou no meu quotidiano. Assim sendo é uma escrita irresponsável - ainda que às vezes possa procurar um objectivo (como hoje, no meu blog pessoal proponho aos leitores uma boa prenda natalícia, um recente livro de um bom amigo meu). Mas é irresponsável pois não tem a tal "agenda" - não é militante (ou "activista", como agora se diz) -, não é lucrativa - ninguém me arranja trabalho remunerado através desta verborreia -, e, acima de tudo, porque não é editada. Ou seja, não é publicada num órgão de comunicação social, assim difusamente subordinada a algum tipo de responsabilidade social, de cariz noticioso por exemplo. Em suma, escrevo em blogs sobre o que me apetece. E ninguém tem rigorosamente nada a ver com isso, com o meu cardápio.
Dito tudo isto, é totalmente absurdo que os leitores me venham a cobrar (e a outrem) o não ter escrito sobre um qualquer assunto. Sim, é normal, e até simpático, que os leitores do meu blog, ou do colectivo no qual participo, proponham temas. E/ou perguntem a opinião do bloguista sobre algum assunto. Mas é anormal, e até grotesco, que reclamem que não se escreva sobre determinada matéria. E isso por defeito, entenda-se: por característica essencial... pois trata-se de um blog.
Pior ainda, mais grotesco, quando se invectiva um silêncio quando este inexiste. Nos meus últimos postais - e não só nos meus - há comentários (normalmente anónimos) reclamando, como se defeito digno de opróbrio, o meu silêncio sobre a questão de Israel e Gaza. E fazem-no com acinte. Tendo eu ontem publicado um postal comovido, dado o assassínio de alguém que conheci pessoalmente, amigo de amigos, meu editor durante anos num jornal em Moçambique, recebi comentários desse tipo - até mesmo num postal com esse conteúdo, caramba! Um energúmeno anónimo atreve-se mesmo a dizer que "me fica mal" escrever sobre o assassínio de um conhecido, companheiro, dado que não falo sobre Gaza e suas cercanias. Outros comentadores habituais vão no mesmo rosário.
Ora, e mesmo para além de tudo o que já avancei, desde o vil ataque terrorista do partido fascista Hamas eu deixei aqui quatro postais sobre o assunto: recomendei um excelente e assisado documentário sobre a história da região, transmitido na SIC Notícias, o "A Origem de um Conflito", relevante para evitar interpretações acaloradas sobre tudo aquilo; recomendei a leitura dos livros de Joe Sacco sobre a história e actualidade de Gaza, de indiscutível denúncia daquela situação (e lembrei que até escrevera um texto longo sobre essa abordagem de Sacco); referi a necessidade de tino na tomada de posições favoráveis à causa palestina; e explicitei o meu estupor diante da reacção militar israelita. Ainda assim, no país onde vivi 18 anos, espancam até à morte o meu antigo editor, isto enquanto a polícia abate jovens manifestantes na sequência de umas eleições reconhecidamente aldrabadas, e há aqui energúmenos, vis anónimos, que se atrevem a colocar em causa a decência e a legitimidade do que coloco. Devido a não escrever sobre o que eles querem, a não dizer o que eles querem...
Avanço então duas ideias: a primeira é sobre que penso sobre a actual situação em Israel, não para julgar a história mas para pensar presente e futuro. Está explícito nas declarações do vice-chanceler alemão Robert Habeck e do primeiro-ministro britânico Rishi Sunak (no seu segundo filme a partir dos 4 minutos...)