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Delito de Opinião

So long, captain Tom

Pedro Correia, 03.02.21

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Morreu o capitão Tom Moore. Aos cem anos, após ter vencido a última batalha da sua vida.

Militar jubilado, podia ter-se mantido no conforto de casa ignorando o sofrimento alheio, indiferente aos males do mundo. Ou até engrossar as brigadas negacionistas, formadas por guerreiros de sofá.

Mas não: mal a pandemia chegou ao Reino Unido, em 2020, entendeu que ainda havia tempo para prestar um último serviço à comunidade. Na Primavera passada, angariou uma pequena fortuna aos serviços de saúde britânicos no combate à pandemia, lutando como podia: dando voltas lentamente ao jardim da sua casa, com o andarilho que lhe permitia dar um passo vagaroso após outro.

 

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Foi uma maratona muito pessoal. Começou com a intenção de reunir mil libras, mas logo cresceu graças ao impacto mediático da iniciativa. Cada volta que o velho capitão ia dando era acompanhada com carinho e emoção por milhões de britânicos, que contribuíram para o esforço financeiro. Concluídas cem voltas, Tom Moore tinha conseguido angariar 39 milhões de libras (o equivalente a 44,2 milhões de euros) no combate ao Covid-19. 

Quando completou o centenário, a 30 de Abril de 2020, atribuíram-lhe o título de coronel honorário do Reino Unido. Nesse dia recebeu 125 mil cartas e postais de parabéns: tornara-se uma celebridade num mundo tão carente de heróis.

A 17 de Julho, Isabel II distinguiu-o como cavaleiro no Castelo de Windsor. Ele compareceu trajado a rigor, com as medalhas ganhas em serviço, e um largo sorriso no rosto, prova evidente da sua jovialidade. «Se me ajoelhar [perante a Rainha] nunca mais me consigo levantar», declarou, de pulsos firmados no andarilho. 

 

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Mesmo frágil, mesmo muito idoso, mesmo caminhando com manifesta dificuldade, este veterano da II Guerra Mundial soube ser um homem inteiro até ao fim. Combatendo o coronavírus como pôde.

Fazendo muito mais do que quase todos - sem lamentos, sem lamúrias, sem choraminguices. Sem o menor vestígio de ódio.

Dando-nos a todos uma vibrante lição de vida. 

 

Vingativo e traiçoeiro, o Covid-19 atirou-o enfim para uma cama de hospital da qual o intrépido combatente já não saiu com vida: morreu ontem, após 48 horas de internamento.

Para seu epitáfio adequa-se a célebre frase que Hemingway inscreveu n' O Velho e o Mar: «Um homem pode ser destruído mas não vencido.»

So long, captain Tom. 

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