Sinal fechado
Hoje estava a ouvir música e passou a minha versão preferida de Sinal Fechado de Chico Buarque, gravada num concerto ao vivo com Maria Bethânia (todo o álbum é fantástico). Mais que no original, esta versão, encurtada, dá a noção clara da urgência da letra e da forma como tratamos certas relações. Na era de Facebook, e-mail, skype e tantos outras redes sociais, a música continua a ressoar com intensidade. Algumas das pessoas com quem mais me relaciono no Facebook não serão aquelas que mais pensaria em visitar quando vou a Portugal, mesmo que tenha saudades delas. São pessoas que me alegraria ver, encontrar para beber um café e saber alguma coisa mais deles. Se "pegar(am) o lugar no futuro", como vai o "sono tranquilo", mesmo que por apenas alguns minutos.
Sei no entanto que, mesmo que não seja vão, que possa reencontrar essas pessoas, será num quase equivalente de num sinal fechado, com a pressa, "alma dos nossos negócios", num momento em se "anda a cem" (mil?). A maior probabilidade, no entanto, é que se os voltar a ver, eles acabem por se "sumi(r) na poeira das ruas" (ou dos electrões). A realidade é que, de todas as pessoas que terei conhecido ao longo da minha vida, mesmo daquelas com quem terei partilhado pedaços mais pessoais, mais ou menos íntimos, com quem terei partilhado experiências, vivências ou lições, das pessoas que ficaram com algo de mim, por ínfimo que terá sido, a realidade mesmo é que provavelmente não as voltarei a ver.
São pessoas que levam uma parte de mim com elas para o resto das suas vidas, talvez a partilhem com outros, completamente inconscientes disso, seja essa parte boa ou má. E eu farei o mesmo. Sem as ver. E fico feliz que assim seja, porque por muito que não as volte a ver, fizeram parte da minha vida, fizeram parte de momentos bons ou maus, ou bons e maus. E eu delas.
E, quem sabe, pode ser que um sinal fechado, ou o seu equivalente, as traga até mim, ou a mim a elas. Antes de eu "beber alguma coisa rapidamente" terei a possibilidade de lhes dizer:
"- Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
- Por favor, não esqueça, não esqueça...
- Adeus!
- Adeus!
- Adeus!"