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Delito de Opinião

Sim, Senhor Ministro (7)

Pedro Correia, 01.03.16

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Sir Humphrey Appleby - Bernard, o ministro ainda não veio?

Bernard Woolley - Não. Está em reunião, no gabinete.

Sir Humphrey - Que reunião é essa?

Bernard - Nada de especial.

Sir Humphrey - Estou a ver... E que reunião foi aquela de ontem?

Bernard - O ministro esteve a rever as respostas que dará às perguntas que lhe chegam do Parlamento.

Sir Humphrey - Mas nessa reunião estiveram secretários-adjuntos e outros subalternos.

Bernard - Só aqueles que lhe fornecem informações.

Sir Humphrey - Bernard, isso tem que acabar já!

Bernard - Porquê?

Sir Humphrey - Acha que o ministro deve começar a dirigir o ministério?!

Bernard - Sim. Por acaso nessa matéria as coisas até estão a correr bastante bem.

Sir Humphrey - Não, Bernard. Quando um ministro começa a dirigir o ministério as coisas não correm nada bem. Pelo contrário, começam a correr mal.

Bernard - Mas não cabe ao ministro dirigir o ministério?

Sir Humphrey - Não. Essa é a nossa função. Ou melhor: é a minha função após 25 anos de experiência na administração pública. Já imaginou o que aconteceria aqui se deixássemos de ser nós a dirigir o ministério?

Bernard - Não. O que é que aconteceria?

Sir Humphrey - Para começar, instalava-se o caos. Depois acontecia algo muito mais grave: haveria inovações, mudanças, discussão pública.

Bernard - Mas o que deve ele fazer então?

Sir Humphrey - Bernard, um ministro tem três funções. Primeira: tornar os nossos actos plausíveis aos olhos do público e do Parlamento - ele é o homem encarregado das relações públicas. Segunda: é o nosso homem no Parlamento, encarregado de fazer passar a nossa legislação. Terceiro: é o nosso ganha-pão - tem de bater-se no Governo pelo dinheiro necessário para fazermos frente às despesas que temos no ministério. O que ele não tem é de reunir-se com secretários-adjuntos!

Bernard - Mas se ele tem tempo disponível...

Sir Humphrey - Se tem, não devia. A culpa é sua: você tem de conseguir que ele não disponha de tempo. Preencha-lhe a agenda: ele devia fazer discursos, fazer visitas, viajar ao estrangeiro, enfrentar crises, emergências, momentos de pânico. Você permite que ele disponha de tempo livre!

Bernard - Ele é que consegue...

Sir Humphrey - Insista em preencher-lhe a agenda.

Bernard - Ele não me deixa.

Sir Humphrey - Não lhe pergunte: faça! Obrigue-o a passar mais tempo num local onde não possa estorvar-nos.

Bernard - Mas onde?

Sir Humphrey - Na Câmara dos Comuns, por exemplo.

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