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Delito de Opinião

Sim, Senhor Ministro (5)

Pedro Correia, 28.02.16

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Sir Humphrey Appleby - Bernard, você sabe muito bem que tem de haver uma forma de medir o êxito da administração pública. A British Leyland mede o êxito pela dimensão dos lucros ou, melhor dizendo, mede o falhanço pela dimensão dos prejuízos. Mas nós, na função pública, não temos lucros nem prejuízos. Temos de medir o êxito pela dimensão do nosso pessoal e pelo volume do nosso orçamento. Um organismo grande tem mais êxito do que um pequeno.

Bernard Woolley - Isso quer dizer que o responsável pela Autoridade Regional do Nordeste agiu mal ao economizar tanto?

Sir Humphrey - Claro que sim. Ninguém lhe pediu para fazer isso. Já pensou se todos fizéssemos o mesmo? Se todos começássemos irresponsavelmente a poupar dinheiro público?

Bernard - Mas é isso que o ministro quer...

Sir Humphrey - Os ministros vêm e vão. Duram em média menos de onze meses em funções. O nosso dever é ajudar o ministro  bater-se por mais dinheiro para o ministério, por maior que seja a reacção de pânico que isso lhe provoque.

Bernard - E não o ajudamos a superar o pânico?

Sir Humphrey - Não, não. Ele que fique em pânico. Os políticos apreciam isso, o pânico fá-los sentir activos. Serve-lhes como sucedâneo das concretizações. Só temos de nos certificar de que isso não altera nada.

Bernard - Mas são representantes do povo, democraticamente escolhidos...

Sir Humphrey - Os deputados são escolhidos pelas secções locais dos partidos: 35 homens de gabardina ou 35 mulheres com chapéus ridiculos.

Bernard - Mas o Governo é escolhido de entre os melhores deles...

Sir Humphrey - Bernard, só há 630 deputados. Basta um pouco mais de trezentos para formar governo. Desses trezentos, cem são demasiado velhos e demasiado tontos. Outros cem são demasiado jovens. Sobram cem deputados para preencher cem postos governamentais. Não há escolha. Não houve selecção nem preparação. Temos de ser nós, na administração pública, a fazer o trabalho deles.

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