Sim, Senhor Ministro (30)
Sir Humphrey Appleby, secretário-geral vitalício do ministério dos Assuntos Administrativos - [Falando numa reunião de trabalho com os secretários-gerais de outros ministérios] O meu ministro está decidido a abrir os quadros do ministério a 25% de mulheres.
Sir Arnold Robinson, secretário-permanente do gabinete do Primeiro-Ministro - Parece-me correcto que homens e mulheres sejam tratados em pé de igualdade. E julgo que todos concordamos, em princípio, com esse desígnio.
[Vozes de concordância à volta da mesa, onde só há homens]
Secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros - Sou inteiramente a favor. Tem de haver discriminação positiva a favor das mulheres. Mas não resultaria nos Negócios Estrangeiros, obviamente. Não podíamos enviar embaixadoras a países muçulmanos. A maior parte dos países do Terceiro Mundo, ao contrário de nós, não está evoluída na questão dos direitos das mulheres. Mas aprovo o princípio.
Secretário-geral do Ministério da Administração Interna - Também sou favorável. Necessitamos de um toque feminino: as mulheres tratam alguns problemas melhor que os homens. Mas devemos abrir uma excepção no meu ministério: as mulheres não servem para dirigir prisões nem corporações policiais. E provavelmente nem quereriam desempenhar essas tarefas.
Sir Arnold - Mas concorda com o princípio?
Secretário-geral do Ministério da Administração Interna - Sem a menor dúvida.
Secretário-geral do Ministério da Defesa - Na Defesa, o mesmo - com tantos almirantes e generais. Além disso uma mulher não pode chefiar os serviços secretos...
Sir Humphrey - M tornar-se-ia F...
Sir Arnold - A Defesa é coisa para homens. Tal como a Indústria e o Emprego - com tantos dirigentes sindicais. E a Saúde, John?
Secretário-geral do Ministério da Saúde - Temos as mulheres representadas quase ao mais alto nível. Mas, claro, não podem ser secretárias-gerais porque são médicas e não sei se estariam à altura... Sublinho, no entanto, que 80% do nosso pessoal de escritório e 99% da dactilografia é composto por mulheres. Não as tratamos muito mal, pois não? E, em princípio, concedo que cheguem ao topo do ministério.
Sir Arnold - Muito bem. Acho que a opinião global é favorável aos direitos das mulheres.
Sir Humphrey - Quanto à questão das quotas, francamente, sou contra. Na minha perspectiva, devemos promover sempre o homem mais capaz, independentemente do sexo.
Sir Arnold - Em conclusão, compete-vos influenciar os respectivos ministros de modo a que se oponham à inclusão de mulheres nos ministérios. Isto sem prejuízo da adopção genérica do princípio da igualdade de oportunidades.