Sim, Senhor Ministro (22)
Sir Humphrey Appleby - A ausência de um ministro é uma dádiva do céu. Por uma vez, podemos fazer o trabalho todo como deve ser. Nada de perguntas tolas, nada de ideias brilhantes, nem preocupações com o que possam dizer os jornais. Às vezes, Bernard, penso que o nosso ministro acredita mesmo que não existe se não ler nada acerca dele na imprensa. Aposto consigo que a primeira coisa que ele vai fazer quando aqui entrar é perguntar-nos se a imprensa mencionou o discurso dele em Washington.
Bernard Woolley - Quanto é que aposta?
Sir Humphrey - Uma libra.
Bernard - Aceito. Ele não pergunta, porque já me perguntou. No carro, quando vinha do aeroporto.
Sir Humphrey - [Surpreendido] Muito bem, Bernard. Você está a aprender [entrega-lhe a nota de uma libra]. Vê como a ausência de um ministro é boa?
Bernard - Sim, mas o trabalho acumula-se.
Sir Humphrey - Com uns dias de preparação antes de seguir viagem e as reuniões de balanço após o regresso, conseguimos afastá-lo da gestão corrente durante uma quinzena. Nos seis meses seguintes, sempre que ele se queixar de que não foi informado sobre alguma coisa, podemos dizer-lhe que aconteceu enquanto ele estava fora.
Bernard - Por isso é que há tantas cimeiras externas?
Sir Humphrey - Com certeza. É a única forma de o país funcionar. Concentra-se o poder todo na estrutura do nº 10 [de Downing Street] e manda-se o primeiro-ministro embora. Para as cimeiras da CEE, da NATO, da Comunidade Britânica... E o secretário-geral do gabinete pode enfim dirigir o país como deve ser.