Sim, Senhor Ministro (19)
Sir Humphrey Appleby - Um bom discurso de um ministro nunca é aquele em que ele fala verdade. É aquele em que ninguém pode provar que mentiu.
Bernard Woolley - O Pete [autor dos discursos do ministro] fez um bom trabalho, mas é possível que tenha aborrecido o auditório.
Sir Humphrey - Claro que aborreceu! Chateou-os mortalmente. Deve ter sido um pavor ter que ouvir aquilo.
Bernard - Mas...
Sir Humphrey - Os discursos dos ministros não se destinam a quem os ouve.
Bernard - Não?
Sir Humphrey - Discursar é só uma formalidade. Para que a imprensa divulgue o que se diz. Não escrevemos textos a pensar num comediante que vai entreter o público... um comediante profissional, pelo menos. O que interessa é que esse discurso diga as coisas certas.
Bernard - Mas tem que ser em público?
Sir Humphrey - Claro que sim. É fundamental. Depois de o discurso ser tornado público, o ministro fica obrigado a defender-nos em todo o lado.
Bernard - Mas ele defende-nos sempre.
Sir Humphrey - Só até certo ponto, Bernard. Quando alguma coisa corre mal, o instinto de um ministro é dizer mal de quem trabalha com ele no ministério. Por isso escrevemos-lhe discursos destinados a prender-lhe as calças ao mastro.
Bernard - Quer dizer que lhe prende a bandeira ao mastro...
Sir Humphrey - Não, prende-lhe as calças. Assim já não pode descer de lá.