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Delito de Opinião

Sessenta anos de paz e progresso

Pedro Correia, 25.03.17

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 Assinatura dos tratados de Roma, em 25 de Março de 1957

 

A Europa, como construção política, tem hoje má imprensa: é moda bater-lhe e são raros os seus defensores no espaço mediático. Mas, se pensarmos bem, nunca foi diferente: em 25 de Março de 1957, os tratados de Roma receberam mil manifestações de cepticismo e vinte mil profecias apocalípticas. À esquerda e à direita nunca faltaram detractores bem sonoros do projecto sonhado por Jean Monnet, Konrad Adenauer, Paul-Henri Spaak, Robert Schuman e Alcide de Gasperi. Acusaram-nos de tudo - de imperialistas a vende-pátrias.

E no entanto, por mais que a vozearia impeça a reflexão, o balanço só pode ser positivo. A Comunidade Económica Europeia nasceu ancorada no eixo franco-alemão para impedir o ressurgimento de novas guerras no Velho Continente. Em sete décadas, entre 1871 e 1945, três conflitos bélicos nasceram precisamente da histórica rivalidade entre alemães e franceses. A unidade europeia, sem trombetas utópicas nem hinos soberanistas, batalhou pela paz, precisamente contra a "inexorável marcha da história" que alguns anteviam pejada de novas guerras.

 

Faz hoje 60 anos, estadistas oriundos de seis nações - Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo - estabeleceram um pacto supranacional que ditou o maior período de paz, progresso e prosperidade num continente ferido por mais de um milénio de ferozes carnificinas, mortíferas epidemias e devastadoras fomes. Devemos isso àqueles prudentes homens vestidos de cinzento que não hesitaram em abdicar de parcelas da sacrossanta soberania nacional para selarem um destino visionário no espaço do planeta que os viu nascer.

Hoje a Europa é um gigante económico, financeiro, comercial e diplomático - invejado como nenhum outro. Está na vanguarda do desenvolvimento tecnológico e dos direitos civis. E não se limita a salvaguardar as expectativas de vida dos seus cidadãos: constitui uma referência permanente para os habitantes de outros continentes, que a procuram em fluxos crescentes e a reivindicam como fonte inspiradora. Fugindo das guerras, das epidemias e da fome que os nossos antepassados aqui conheceram nos séculos e nas décadas anteriores à celebração dos tratados de Roma.

 

Se os pais fundadores da CEE - hoje União Europeia - cá regressassem, ficariam certamente orgulhosos ao verem as ramificações concretas do seu projecto. A moeda única, a livre circulação de pessoas e bens, a justiça comunitária, programas de livre intercâmbio de estudantes, o reconhecimento dos direitos das minorias, o crescimento imparável do rendimento médio e o aumento da esperança de vida, entre muitas outras conquistas.

E no entanto, 60 anos depois, a construção europeia continua a ter má imprensa. Prosseguem as proclamações apocalípticas sobre o seu destino. Os seus detractores mediáticos à esquerda e à direita enrouquecem de tanto gritar contra a "oligarquia que esmaga a vontade dos povos" ou os "assassinos de nações soberanas" que vivem entrincheirados em Paris, Bruxelas ou Berlim.

Nada que não se visse ou ouvisse em 1957. Há coisas que nunca mudam.

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