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Delito de Opinião

Senador Semedo

Pedro Correia, 17.07.18

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Tenho pena que a palavra em Portugal esteja tão abastardada. A palavra senador. Deve ser o único país em que isso acontece.

Se não fosse assim, iniciaria este texto dizendo que João Semedo merecia ter sido senador da República Portuguesa. Um senador a sério, não daqueles que aparecem de ar conspícuo e discurso redondo nas pantalhas, serão após serão, dizendo coisa nenhuma.

 

Acabo de saber da morte - infelizmente já esperada - do activista político, ex-deputado e cidadão João Semedo - que admirei pela sua coerência aos valores em que acreditava, o que lhe valeu perseguições internas no PCP e um recomeço de vida partidária já neste século, integrando o Bloco de Esquerda após ter abandonado as fileiras comunistas. Em nome da cidadania e da liberdade de consciência.

Conheci-o relativamente bem antes da sua incursão no BE, que incluiu uma falhada liderança bicéfala, em devido tempo rectificada. Antes e depois, era movido essencialmente pela noção de serviço público - conceito cada vez menos na moda, soando quase a obsoleto nos tempos que correm - sem ambicionar prebendas ou honrarias.

Podia ter sido quase tudo quanto quisesse - conselheiro de Estado, ministro da Saúde, "líder de opinião" com mais substância do que muitos que pululam por aí. Mas creio que aquilo que verdadeiramente o satisfez foi ser médico. Um simples médico, capaz de gestos e palavras que pudessem curar ou minorar males alheios. Tão apenas isso. Nada menos que isso.

Gostei muito de o conhecer pessoalmente e de ter com ele demoradas conversas que nunca me decepcionaram. Lembro-as agora, enquanto escrevo estas linhas apressadas. E volto ao princípio: João Semedo - homem sem medo - foi um dos nossos senadores. Não com esse título, mas seguramente com esse mérito. E reconduzindo a palavra ao seu genuíno significado: o de máximo servidor público.

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