São rosas, senhor
A táctica do PS em promover o Chega enquadra-se dentro da sua estratégia da manutenção do poder. Esse é um equilíbrio perverso que corrói a saúde da nossa democracia. O PS sabe disso, a táctica é deliberada, mas na sua hierarquia de valores a manutenção do poder abafa toda e qualquer poesia com que nos bombardeiam nos feriados do regime.
No fundo tudo assenta numa lógica de dar o prémio ao bandido. Não tenho tempo, nem quero abusar da paciência de quem lê estas linhas, elencando todos os excessos perpetrados pelos governos liderados por António Costa. Ignorando as fezes mais ralas, todos nos lembramos dos incêndios, Tancos, os inúmeros casos do ministro Cabrita, as golas anti-fogo, a TAP, toda a famiglia PS, o dislate da ministra da Agricultura quando respondia às críticas da CAP, o estado do SNS, da educação, mais recentemente a contratação do quase-assessor Sérgio Figueiredo, e por aí fora.
Há uns dias, o assunto foi a tentativa de apagar as actas de uma comissão parlamentar de forma a que se eliminasse a denúncia da chafurdice ética em que a ministra da Coesão se envolveu.
Dentro da tradição lançada por Pina Moura, segundo o qual a ética era a lei, a ministra Abrunhosa veio ontem tentar defender-se tentando garantir que a mulher de César é séria. Perante o título, e dentro da lógica famigliari socialista, o meu primeiro pensamento foi para que raio de novela se andaria a desenrolar nos Açores, que justificasse tal defesa da honra. Afinal não era nada disso. Pelo que soube todo o texto não passa de uma tentativa de recriar o episódio da Rainha Santa Isabel. O título foi “A mulher de César é séria”, mas podia bem ter sido “São rosas, senhor”. Talvez por falta de fé, ou de jeito, o milagre desta vez não aconteceu. O conflito de interesses é óbvio. Importa lembrar, que este não depende da consubstanciação do abuso ou aproveitamento, mas apenas dessa possibilidade. Mas isso é muita areia para a camioneta de alguns dos nossos governantes. Sim, os mais anónimos são genuinamente básicos e lerdos. Sentem-se protegidos e fazem o que lhes mandam. Outros, mais sofisticados, folgam deliberadamente a rédea, ou o cabresto no caso, aos mais toscos e ordeiros até porque sabem que cada novo abuso é mais uma embalagem de vitaminas que estão a dar ao javardo do Ventura. Que por sua vez, quanto mais forte estiver, mais sólido o PS fica no poder. É um ciclo perverso e vicioso. É uma verdadeira armadilha de que só o discernimento dos portugueses e alguma frescura da oposição nos pode salvar. Se for preciso um milagre, ele que venha, mas pelo menos livrem-nos dos rosas.