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Delito de Opinião

Santos vs Ventura

jpt, 13.01.22

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(Postal para o meu mural de Facebook)

Nesta madrugada li imensas referências ao debate entre o dr. Santos e o prof. Ventura, e muito elogiosas do presidente do CDS. Elogios esses plantados por gente de centro e direita, mas também por gente de esquerda, até personalidades públicas. Todos saudando não só a veemência aposta pelo dr. Rodrigues dos Santos como a cristalina distinção que fez entre uma direita democrática, comungando os "valores civilizacionais democráticos" e uma extrema-direita populista (e fascizante, também se diz), encabeçada pelo prof. Ventura - esse epifenómeno passageiro, como tanto insisto desde que o partido do prof. Rui Tavares, com o conúbio da "imprensa de referência" que lhe é tão simpática bem como ao PS, se quis através dele alavancar aventando escatologias. Tanto assim foi que, ainda enremelado, fui ver a gravação. Do debate ou, melhor dizendo, do embate retirei duas conclusões, uma abrangente e outra eventual: 

1 - Da questão abrangente: li imensas loas de gente de esquerda à democraticidade explicitada pelo presidente do CDS, que a reclamou ancorada no meio século de história do partido - e sabendo-se este como o tradicional partido da direita portuguesa (apesar do seu nome, marcado pelo ambiente ideológico nacional aquando da sua fundação). Dado esse coro de elogios será então de esperar que acabem as patacoadas que tantos botam regularmente (então nos aniversários do 25 de Abril torna-se um "meme") sobre o salazarenta direita, os fascistas do CDS e do PSD, enfim, que finde a constante invectiva demonizadora sobre aqueles (partidos e cidadãos) que não partilham nem ideário nem "imaginário" (como esteve na moda dizer) marxista ou "pós-marxista" (como é agora uso corrente). Que tenham aqueles que usam como escalfeta moral uma "identidade" de esquerda (por mais reaccionários clientelares que, de facto, sejam no exercício de cidadania e na luta pelo leite das respectivas crianças) consciência de que é uma estupidez execrável chamar "fascista" a Passos Coelho, Paulo Portas (ou Merkel, Bento XVI ou aos Borbón), como tanto gostam, e estar agora a saudar o tal "cristalino" apartar que Rodrigues dos Santos fez entre democraticidade doutrinária e a sua ausência. E julgo que alguns dos meus amigos-reais percebem que é deles que me estou a lembrar ("este Zezé está um chato do caraças, envelheceu mal, que o viu e quem o vê..."; "o Zé Teixeira é um ressabiado", "o José Teixeira é um.... fascista", já ouço). 

E para que não se pense que falo do passado, mesmo que recente, recordo que o socialista Ascenso Simões - a quem os académicos de vários centros de investigação e múltiplos intelectuais "decoloniais" tanto apreciarão dadas as suas propostas de teor urbanístico - acabou de fazer uma correlação cultural e moral entre as SS (nazis, para quem se esqueça) e Rui Rio. E é num partido que valoriza esta gentalha que eles se revêm (pelo menos como "facilitador" de subsídios). 

2 - Do eventual (événementiel, para ficar mais elegante): após o elogiado embate Ventura-Santos foi proclamado o KO técnico em favor do aguerrido lutador Santos. Enfim, cada cabeça sua sentença... É certo que Santos esteve bem, ao demarcar-se de codicioso Ventura, mantendo-se assim à distância dos seus lestos "punches". E mandou algumas "bocas" vigorosas, sonantes, tendo até havido "contagens de protecção" após dois ou três dos seus "cruzados" verbais (ficou-me na retina a sua excelente combinação do "desfile de cavalaria"). E, em especial, um impactante "gancho" (a alusão ao atrapalhado capitalista Vieira, de quem o prof. Ventura é, consabidamente, uma criatura), seguido de um poderoso "directo", na alusão à pantomina do catolicismo venturiano, que deixou o oponente encostado às cordas, atordoado e defendendo-se com frustres "jabs" sobre a vida interna do CDS enquanto gritava "maricón" ao adversário, tentando desconcentrá-lo enfurecendo-o. 

De facto Ventura surgiu com alguma petulância, típica do incumbente campeão desta categoria de pesos-leves, subvalorizando o jovem candidato, dono de um menor currículo pois no dealbar de uma carreira, e bastante preterido nas casas de apostas. Ainda assim algo se recompôs, readquiriu algum ritmo. E impôs um "directo", na alusão à participação sportinguista de Santos. Este, que seguia embalado no seu cadinho de golpes, coisa da sua inexperiência juvenil, foi ao tapete - acontecendo "contagem de protecção" -, e devido a golpe que teria sido de fácil defesa, do qual nem se protegeu nem foi assim capaz de ripostar (pois ao contrário do problemático "embrulho" Vieira, sobre a actual presidência de Varandas nada consta de ilegal, apenas uma saudável e louvável participação associativa numa instituição de utilidade pública). E, finalmente, Ventura aplicou, com mestria, um poderoso "uppercut" do qual Santos foi "salvo pelo gongo" no último assalto, naquela questão irrespondida sobre a proposta do CDS relativa à interdição dos responsáveis políticos transitarem para empresas das áreas que tutelaram (o CHEGA propõe um tonitruante impedimento perpétuo, que chama a atenção popular, o CDS uma sabática de dois anos, que ganha simpatia entre "quadros"). 

Mas dado que o combate foi decidido a pontos há que ter em consideração as penalizações. Pois Santos utilizou "golpes baixos" (abaixo da linha de cintura). Isso ao acusar Ventura de estar envolvido em casos de corrupção (tendo ilustrado com uma condenação por declarações, o que é outra coisa), o que é factualmente incorrecto. Será importante para todos aqueles agora laudatórios de centro e de direita, que enchem a boca com o "Estado de Direito", e para todos os de esquerda, que passaram (mais de) uma década a defender as tropelias do governamental PS sob José Sócrates (e com tantos destes actuais governantes e [euro]deputados socialistas), em nome da inexistência de processos, de provas e falando de "cabalas" da ressabiada "direita", apesar das óbvias e consabidas manigâncias socialistas de então, pensem bem se é aceitável este tipo de argumentação pugilista. 

Enfim, o meu voto? Renhida vitória por pontos do incumbente Ventura (a qual espero ter sido qual a de Pirro), devido às penalizações regulamentares sofridas pelo candidato Santos.

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