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O caso de Lula traz à tona o lado mais perverso da fixação de uma certa esquerda em elevar seres humanos banais, ou muito pior do que isso, à categoria de santinhos milagreiros. Ao confundir as políticas com quem as executa, desistindo de discutir o valor intrínseco daquelas para exacerbar os feitos extraordinários do ícone endeusado, modelo de virtudes inesgotáveis, protagonista de feitos épicos e heróicos, essa esquerda promove o seu envenenamento quando o campeão da democracia, o ás de trunfo dos desfavorecidos, o cavaleiro incansável das causas dos oprimidos, acaba por revelar-se um sacaninha de primeira ordem. O problema é que essa propensão iconoclasta não é apenas um sinal de infantilidade intrínseca ou de uma visão pueril da realidade. É, mais do que isso, um sinal de desconforto e inadaptação do adn revolucionário próprio dessa esquerda à essência do ecossistema democrático. Não admira, portanto, que o PT brasileiro, exemplar acabado dessa visão do mundo, avance agora para uma solução (fazer Lula ministro para lhe assegurar uma via não de imunidade mas de real impunidade) que representa um profundíssimo golpe nas instituições democráticas do Brasil.