Rui Rio e o "novo PSD"
Rui Rio, desaparecido em combate desde que venceu a eleição interna há mais de um mês, ressurgirá hoje na sessão inaugural do congresso do PSD.
Chega envolto numa névoa de interrogações.
Trará ele ideias inovadoras? Conseguirá "regenerar o partido", como prometem os seus mais firmes apoiantes e vem advogando há anos o seu principal ideólogo, Pacheco Pereira?
Da recente campanha eleitoral, ressaltaram três pontos do pensamento do novo presidente do PSD:
- Abertura à formação de um bloco central, prontificando-se a viabilizar um novo governo socialista que possa dispensar o apoio parlamentar de comunistas e bloquistas;
- Deslocação do PSD do centro-direita para o centro-esquerda, em nome da suposta matriz original do partido, abrindo assim espaço à progressão do CDS a nível nacional como já sucedeu nas autárquicas em Lisboa;
- Reafirmação da social-democracia como modelo ideológico do partido, renegando os modelos conservador e liberal, numa altura em que os partidos sociais-democratas estão em regressão em todo o espaço político europeu - como as eleições de 2017 na Holanda, Bulgária, França, Reino Unido, Alemanha, Áustria e República Checa e as eleições parlamentares realizadas no ano anterior em Espanha demonstraram.
Acredito que Rio seja consequente com este pensamento. E como a política vive muito de actos simbólicos, aguardo que aproveite este conclave laranja para anunciar a retirada do PSD do Partido Popular Europeu, que agrupa a família política conservadora, por troca com o Partido Socialista Europeu, que congrega a social-democracia e o trabalhismo representados nas instituições parlamentares de Bruxelas e Estrasburgo.
Com um só gesto, vira o PSD à esquerda, abraça sem reservas a social-democracia como família europeia do partido que agora lidera e começa a preparar terreno para uma futura coligação com o PS.
Os dirigentes visionários comportam-se assim. Dele, confesso, não espero menos que isto.