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Delito de Opinião

Rotina matinal

Joana Nave, 30.03.22

Naquela manhã sombria, Alice acordou sobressaltada ouvindo fortes rajadas de vento investindo contra os vidros do quarto onde dormia. Tinha tido uma noite agitada, repleta de sonhos surrealistas com rostos conhecidos. Espreguiçou-se lentamente, fazendo estalar todas as vértebras até à nuca, soltou dois bocejos e esgueirou-se para fora da cama. Os pés tocaram o tapete macio e procuraram com pouca precisão os chinelos. O Trovão tinha-os arrastado para junto da secretária, onde encontrou também os óculos. Vestiu um casaco de malha que usava como agasalho e foi lavar a cara para ver se espantava o sono. A água fria soube-lhe bem, massajou com as pontas dos dedos embebidas em hidratante o rosto limpo, escovou os dentes e o cabelo, e foi até à zona da cozinha preparar um café. O aroma do café forte, acabado de fazer, despertou-lhe todos os sentidos. Inspirou profundamente, fechando os olhos para saborear melhor aquele doce momento. Com a chávena de café numa mão e um livro noutra, foi até junto da janela que dava para o jardim e sentou-se no cadeirão. O Trovão apareceu a abanar a cauda e sentou-se aos seus pés. Alice olhou lá para fora, viu as árvores que dançavam com o vento, as folhas verdes que acompanhavam a dança, os pássaros recolhidos nos ninhos, e o sol tímido que espreitava no horizonte, tentando rasgar as nuvens espessas que o cobriam, para tomar o lugar da lua. Esta é uma manhã perfeita, pensou, e mergulhou os olhos nas páginas que pulsavam no seu colo, ávidas de a transportar para um mundo de fantasia.

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