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Delito de Opinião

Rio & Rangel

jpt, 11.11.21

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Está o PSD em compita interna, a menos de 3 meses de eleições legislativas. Talvez não seja o melhor momento para tal iniciativa, mas dever-se-á às ondas de choque provocadas pela derrota dos partidos de esquerda nas recentes autárquicas e à imposição (apressada?) do presidente da República. A decisão sobre o próximo presidente do PSD compete aos seus militantes mas, como é óbvio, acaba por nos interessar a todos, se acreditarmos - como será normal - que algo influenciará os próximos resultados eleitorais e a próxima configuração de poder governamental. Já o botei aqui, independentemente das virtudes políticas (e pessoais) que Rui Rio tenha não encontro, nem no círculo dos meus conhecimentos nem no amplexo imprensa/redes sociais, locutores que exprimam entusiasmo pela sua actuação. Algo que não será razão suficiente para nele descrer - até porque depende exclusivamente deste meu pessoal ponto de (tomada) de vista - mas que será um pouco descoroçoante para quem espere uma "vaga de fundo" eleitoral. Enfim, para mim - que nem sequer votei PSD nas últimas legislativas - parece-me que ao longo destes anos Rio não conseguiu afirmar-se individualmente como líder de uma alternativa à governação de António Costa, nem terá conseguido catapultar o seu partido como alternativa colectiva - quem são as actuais figuras gradas daquele partido, que políticas sectoriais ali se defende, que documentos (abrangentes e súmulas) têm publicado, que "seminários/colóquios/congressos" temáticos têm desenvolvido, etc? Com que forças sociais (também ditos "grupos de pressão") têm abertamente debatido? Que reformas propõem, que status quo entendem inamovível? Em suma, que projecto substantivo para o país defendem (para além do "patois" para cabeçalhos de imprensa) que justifique a mudança governativa, para além daquilo que o eleitor comum possa presumir, na sua desinformada candura? Dito isto, também sobre Rangel não se pode dizer que se saiba muito mais - para além da já referida presumível expectativa assente nos historiais dos partidos. É certo que não lidera um partido há um punhado de anos, como Rio, e que há quase uma década está algo afastado da política interna, dado o seu cargo de eurodeputado, o que justificará muito mais do que em Rio o desconhecer-se-lhe tanto um discurso individual abrangente como a inexistência de um trabalho de coordenação (e até de liderança) de uma colectiva reflexão sobre o país. Para mais, e no meu caso, não tenho acompanhado a sua carreira política - como referi notei-o com atenção apenas há cerca de um ano e meio quando teve um conjunto de declarações e acções parlamentares muito pertinentes e aquilatadas sobre o conflito no Cabo Delgado, em Moçambique.

Botei este longo intróito para justificar o meu cenho franzido, e algo distraído, diante da actual situação do maior partido da oposição. Atitude que nem será de espantar, dado não ser nem militante, nem simpatizante nem mesmo eleitor habitual do PSD (partido no qual votei em 1999. E no qual teria votado em 2001, 2009 e 2011 se não fosse então epígono do actual presidente da República, inscrito numa cidade e residindo numa outra, no meu caso bem longínqua, cerca de 11 000 kms). Espero apenas que possam os militantes do PSD escolher o melhor possível para a participação optimizada desse grande partido democrático no processo político português, ainda para mais quando se anuncia uma crise económica internacional, que talvez venha a depauperar o nosso algo distraído país.

Nesse sentido fico estupefacto quando leio as recentes declarações de Rio. Anunciara há dois ou três dias que não fará campanha interna na corrida eleitoral do partido. E agora, julgo que ontem, a apenas dois meses e meio das eleições legislativas, afirma ao país que o seu opositor Rangel "não está preparado para ser primeiro-ministro", algo que num partido com aspirações governamentais é um evidente "depois de mim, o dilúvio". Para além de contradizerem completamente o tal anúncio de inexistência de campanha interna que Rio fez na véspera, estas declarações feitas num partido da dimensão do PSD são letais, demonstram uma total falta de solidariedade interna, de conjugação partidária. E vêm do seu próprio presidente! Diante de uma coisa destas, do minar do caminho do próprio partido, não consigo perceber como é que haverá militantes do PSD que se conjuguem com Rio, tão "despreparado para ser presidente de partido" assim se mostra. Mas também o digo, diante disto, destas declarações entre gente que se conhece, e muito, não percebo como é que nós, eleitores comuns fora dos partidos, poderemos confiar em tais gentes, embrenhados em tal forma de fazer política. Como confiar em Rangel se o seu próprio presidente dele diz isto? Enfim, se Rio assim, tão rasteiro, e se Rangel assim tão "impreparado", o melhor é mesmo elegermos deputados de outros partidos... Está aí um cardápio à disposição, a cada um como cada qual...

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