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Delito de Opinião

Resistência em alemão (6)

Cristina Torrão, 07.01.23

Kurt Huber

Kurt Huber com Rosa Branca.jpg

Wikimedia

Kurt Ivo Theodor Huber nasceu a 24 de Outubro de 1893 em Chur, na Suíça, mas a sua família emigrou para Estugarda, era ele ainda criança. Depois da morte do pai, na altura em que Kurt acabou o liceu, a mãe foi com os filhos para Munique. Kurt Huber formou-se em Musicologia e Filosofia na Universidade Ludwig-Maximilian, tendo, mais tarde, concluído igualmente o curso de Psicologia.

Em 1926, começou a leccionar Filosofia nessa Universidade, ao mesmo tempo que se dedicava à pesquisa da música folclórica e tradicional alemã, tornando-se especialista neste ramo. Em 1937, passou a ter a seu cargo o departamento de Música Folclórica do Instituto de Musicologia de Berlim. Um ano mais tarde, porém, o regime nazi recusou-lhe um lugar de Professor na Universidade da capital. O pretexto seriam mazelas físicas, nomeadamente, uma paralisia parcial na face, consequência da difteria de que sofrera em criança. Razões políticas estariam, contudo, na origem da recusa, pois havia denúncias a apontá-lo muito ligado ao Catolicismo e com tendência para criticar o Partido Nazi.

Kurt Huber era um nacionalista conservador, mas, ao mesmo tempo, opositor de Hitler, na medida em que rejeitava a guerra e a conquista de território como métodos de elevar a nação alemã. As suas críticas em relação ao Führer tinham já chegado aos ouvidos dos mais altos quadros académicos e o regime mantinha-o debaixo de olho.

Desiludido, Kurt Huber regressou a Munique e retomou as aulas de Filosofia, na Universidade Ludwig-Maximilian. Numa nova avaliação do regime, a 18 de Janeiro de 1940, é considerado “duvidoso”, mas não “caso perdido”. Talvez por isso ele ingresse no Partido Nazi, em Abril desse ano, conseguindo, finalmente, tornar-se Professor Catedrático.

Nas suas aulas, porém, não deixou de lançar, de vez em quando, comentários irónicos ou depreciativos em relação ao regime. Isso mesmo notou Sophie Scholl, que, em 1942, ingressou na Universidade Ludwig-Maximilian, a fim de estudar Filosofia e Biologia. O irmão Hans frequentava o curso de Medicina, assim como Alexander Schmorell, Christoph Probst e Willi Graf, os fundadores do grupo Weiße Rose. Animados por Sophie, assistiram a algumas aulas de Kurt Huber e logo sentiram ele ser “um deles”, como Hans Scholl confidenciou a Inge, a sua irmã mais velha: «Apesar de já começar a ter brancas, ele é um de nós.»

Kurt Huber foi-se envolvendo com o grupo Weiße Rose, apesar de haver hesitado durante bastante tempo. Por um lado, não acreditava que os panfletos tivessem grande efeito na sociedade alemã, sendo, em proporção, o risco elevado demais. Por outro, na sua mente conservadora, não lhe agradava o esquerdismo do grupo, chegou mesmo a apelidá-lo de comunista. No entanto, concordou em fazer a revisão do quinto panfleto, escrito por Hans Scholl e Alexander Schmorell, acrescentando-lhe frases de sua autoria. Participou igualmente na redacção do sexto panfleto, o último que o grupo distribuiu, pois os irmãos Scholl foram descobertos a fazê-lo, a 18 de Fevereiro de 1943. Kurt Huber foi preso a 27 desse mês, já Hans, Sophie e Christoph Probst tinham sido executados. Em sua defesa, perante o tribunal que o condenou à morte, a 19 de Abril de 1943, o Professor disse:

«As minhas acções e intenções serão justificadas no inevitável curso da História; acredito firmemente nisso. Deus permitirá o desabrochar, no meu próprio povo, da força interior que reivindicará os meus feitos. Fiz aquilo que a minha voz interior me ditou» (tradução minha, do inglês).

Kurt Huber foi executado pela guilhotina a 13 de Julho de 1943.

Kurt Huber - placa homenagem LMU.jpg

Pormenor da placa de homenagem a Kurt Huber na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique

Hans Scholl, Sophie Scholl, Alexander Schmorell, Christoph Probst, Willi Graf e o Professor Kurt Huber foram os seis que pagaram com a vida o envolvimento no grupo Rosa Branca. Outros colaboradores e colaboradoras foram condenados a penas de prisão entre um e dez anos.

Weiße Rose.jpg

Homenagem ao grupo Weiße Rose na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique

Haveremos de ser, para sempre, o povo odiado e rejeitado pelo resto do mundo?

(„Sollen wir auf ewig das von aller Welt gehasste und ausgestossene Volk sein?“)

Frase contida no quinto folheto distribuído pelo grupo Weiße Rose.

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